ESPANHA: DEMOCRACIA CONTRA Democracia

Estado de Direito faz Aprisionamentos por Razões políticas

António Justo

No contencioso entre Madrid e Barcelona não se está a fazer uso do Direito contra infracções criminais, o que se está a dar é política contra política! O Governo democraticamente eleito de Madrid, não quer resolver assuntos políticos no foro político; Mariano Rajoy prefere comprometer o direito, mandando prender 8 Conselheiros do governo da Catalunha democraticamente eleito! Carles Puigdemont com outros quatro políticos encontram-se “refugiados” na Bélgica; estes foram agora visitados por 200 autarcas catalães apoiantes. O assunto é demasiado complexo e triste para todos, não podendo ser resolvido com uma simples opinião do pró ou do contra. Aqui seria mais adequada uma posição mais conforme à mentalidade católica portuguesa do “não só…, mas também”! (Em caso extremo, ora-se pelo réu!…)

Autoritarismos, precipitações dos dois lados e a falta de diálogo criam situações embaraçosas para todos. Rivalidades e nacionalismos encontram aqui uma manjedoura abarrotada; também na Bélgica!

Enfim, democracia contra democracia! E o povo que as pague! Na secura da governação as ruas enchem-se de povo a passear a democracia, na sombra da paisagem. Tudo quer, tudo acusa, mas a culpa é do verão.

Carles Puigdemont cometeu erros, (ao ser inflexível e podendo ter recorrido a eleições numa população de 7 milhões); por outro lado a maneira como Madrid reage é autoritária, não é democrática.

A democracia que conhecemos, nunca pode partir de uma posição de poder “soberano”, ela é de si limitada por ser um sistema repartido e viver de interesses agrupados num jogo de eleitos contra eleitos. Não é democrático tentar resolver questões políticas com medidas penais; Mariano Rajoy não pode aprisionar milhões de pessoas nem os seus representantes.

Também a EU não se encontra preparada para conflitos semelhantes aos da Catalunha e, embora a Catalunha seja favorável à EU, a Bruxelas não se comportou bem ao tomar partido pelo governo de Madrid, muito embora dizendo que aquilo era um assunto interno de Espanha.

O centralismo facilita a governação, mas tem que estar consciente que a sua força se dá à custa do empobrecimento dos mais fracos e das regiões. Daí a necessidade de cautela para que as diferentes forças não acordem para a violência.

Mariano Rajoy tem de renunciar à prisão dos políticos catalães e terá de se abrir no sentido de fortalecer a autonomia (exemplo Tirol) catalã na mesa das conversações. Agora trata-se de arranjar maneira como tirar as sardinhas das brasas.

O argumento do cumprimento da lei é insuficiente porque a lei assemelha-se a uma cama que depende de quem a faz e de quem se deita nela! Até 2012 Barcelona estava contente e até lá também se observava a lei; foi um erro do Tribunal Constitucional de então ter reduzido os direitos de autonomia da Catalunha que se sente discriminada também em relação ao país Basco.

Na guerra civil de Espanha (1936-1939) os catalães combateram ao lado dos republicanos contra os nacionalistas, lutaram contra Franco porque receavam então perder direitos autónomos.  Com a victória de Franco foi estabelecido um Estado centralista.

Mão dura só pode levar a extremismos e ao uso da violência. A Catalunha tem uma memória de muitos séculos que também deve ser respeitada enquanto o povo o desejar.

 

António da Cunha Duarte Justo

 

ANTISSEMITISMO – UM CARCINOMA ALIMENTADO PELO PRECONCEITO E PELA INVEJA

Judeus preocupados com o crescente Antissemitismo na Europa

 

António Justo

O antissemitismo é irmão do racismo; ambos têm de comum o ódio e o desdém pelo outro.

Segundo estudos feitos recentemente, o crescente antissemitismo estará em relação com o aumento dos muçulmanos nas metrópoles da Europa. Antissemitismo, como racismo, é um fenómeno muito complexo com muitas causas e explicações; ele surge, sobretudo em tempos de crise, quando se procura desesperadamente fazer um diagnóstico dela. O mal encontra-se na cabeça e no coração das pessoas; a solução é defrontarem-se os problemas e não as pessoas.

No mundo há 14, 2 milhões de Judeus. Em 1990 o número de judeus na França era de 518.000 e em 2016 era de 467.000. Em 2005 viviam 108.289 judeus na Alemanha e em 2016 viviam 98.594.

Em Portugal fala-se de “30% dos Portugueses descende de Judeus“,  mas o número de portugueses que se confessam praticantes da religião judaica, são cerca de “2.500, havendo certamente os que vivem o seu judaísmo confinado ao lar; a maioria são os sefarditas que são maioritários e os asquenazitas; quanto às correntes a maioria é ortodoxa, havendo uma pequena comunidade progressista em Lisboa, e grupos de oração da corrente conservadora (Masorti) em Sintra e Almada” (como responde Filipe de Freitas Leal, à pergunta que lhe fiz) . No Brasil há cerca de 100.000 judeus.

Judeus a sair da França, da Alemanha e de alguns países europeus devido ao antissemitismo

Muitos judeus temem pela sua segurança e ao sentirem-se ameaçados, optam por tornar-se invisíveis (deixam de trazer a kipá – gorra circular, com o significado de humildade perante Deus) e outros emigram para Israel, o que deixa muita pena nos países onde se encontram porque constituem uma comunidade integrada e que sobressai pelo seu trabalho em benefício de toda a sociedade.

Na Alemanha a revista “Berlin Judeu” passou a ser entregue em envelope neutro, para que os assinantes não sejam identificados e a probabilidade de inimizades não cresça. Depois das demonstrações em Berlim 2014, contra a guerra de Gaza e do atentado de Paris, muitos judeus sentem-se ameaçados. O Conselho Central dos Judeus na Alemanha adverte que: esconder-se não é o melhor caminho, mas que talvez não seja bom trazer a kipá em bairros com elevada percentagem de muçulmanos. Observa-se um crescente antissemitismo nos jovens muçulmanos.

O historiador Michael Wolffsohn menciona os resultados de uma pesquisa de 2016 sobre preconceitos contra judeus onde se verifica que 18% dos alemães e 56% dos muçulmanos, na Alemanha, têm preconceitos contra judeus e na França a quota é de 20% de população geral e 63% dos muçulmanos.

O director do Conselho Central dos Judeus na Alemanha diz no Süddeutsche Zeitung: “O antissemitismo faz parte da educação de algumas famílias muçulmanas. Através de gerações é transmitida às crianças, por todo o lado, a sensação de que os muçulmanos são reprimidos em todo o mundo por culpa dos judeus “. Welt am Sontag, também cita: “Muitas dessas pessoas que vieram para a Alemanha, vêm de países onde o ódio aos judeus e a hostilidade a Israel são razões de Estado”.

As teorias da conspiração de que os judeus governam o mundo é outra forma indirecta de antijudaismo. De facto, cria-se a impressão que se teria de aniquilar Israel para que não haja anti-judaismo.

O jornalista alemão Jakob Augstein concretiza: “Antissemitismo congrega ódio, racismo, teorias da conspiração e esoterismo”.

Reúne-se tudo numa só coisa; o ódio que une, é uma constante histórica intercontinental que se repete. Esconde-se no jogo de um “sim… mas” (p.ex.: o que os extremistas fazem é mau … mas os americanos estão na base!…).  Também há outras argumentações sem lógica, mas que estabilizam a indiferença e o antissemitismo; identificar o Estado de Israel com o judaísmo. O acoplamento das ideias “política do governo” de Israel com os Judeus é inadmissível. Israel serve de pretexto para o antissemitismo ser globalizado. 

 Uma política do olhar desviado tem facilitado o aumento alarmante do antissemitismo e da xenofobia na Europa. O interesse das classes dirigentes em não se defrontarem com os problemas e a tolerância de espaços livres à direita e à esquerda possibilitam viveiros de intolerância e de violência. O tema antissemitismo e xenofobia dividem a sociedade e é instrumentalizado para fins politiqueiros.

Torna-se insuportável a hipocrisia com que se combatem gestos e frases dos Nazis e não se ligue ao ódio cultivado e justificado a partir de uma instituição religiosa que age do centro da sociedade com frases sagradas fomentadoras do racismo e da exclusão e onde se equipara os judeus a “macacos e porcos” (Sura 5:60 no Corão). O problema está no facto de as frases do Corão não estarem sujeitas à análise histórico-crítica, sendo por isso de tomar à letra.

Mal da cultura que, em vez de deixar o amor e a compreensão como herança, deixa o ódio para os vindouros.

O povo judeu é dos mais pequenos do mundo, mas aquele que mais contribuiu e contribui para o desenvolvimento do mundo.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,