Encerramento do Consulado – Comunicado aos Órgãos de Informação


Conselho Consultivo junto do Posto Consular de Portugal em Frankfurt

Zeppelinallee 15,  60325 Frankfurt am Main

C/o António da Cunha Duarte Justo

Porta-voz do Conselho Consultivo

Tel.: 00049 561 407783,

Correio electrónico: a.c.justo@unitybox.de



Comunicado aos Órgãos de Informação

Acção de recolha de assinaturas contra o encerramento do posto consular de Frankfurt

O Conselho Consultivo junto do Vice-Consulado de Portugal em Frankfurt decidiu, entre outras medidas, organizar uma campanha de abaixo-assinados, já em curso desde o dia 3 de Outubro, contra o encerramento do Vice-consulado de Frankfurt.


Neste sentido pretende-se, em Novembro, enviar uma delegação de conselheiros a Lisboa, para proceder à entrega das listas ao Senhor Presidente da República. Desejamos mover sua Excelência o Presidente a intervir na revisão da decisão, dado este Vice-consulado ser o terceiro maior da Alemanha e além de abranger três estados federados, servir bem os 30.000 portugueses. Está situado numa zona económico-financeira da Alemanha privilegiada e é o principal eixo de ligações internacionais. Este posto consular poderia ser também implementado no sentido duma estratégia de diplomacia económica portuguesa mais alargada.


O Vice-consulado recebeu ordens para rescindir o contrato de arrendamento nos finais de Setembro para poder encerrar as instalações e fechar os serviços até fins de Dezembro.


Estamos agradecidos pela solidariedade manifestada por Conselheiros das Comunidades Portuguesas e pela FAPA em apoiar a nossa acção.


Atendendo a dados objectivos de serviço e de interesse para os portugueses e para Portugal, estamos convencidos de que o senhor Ministro Dr. Paulo Portas foi mal aconselhado para tomar tal decisão.

Com pedido de divulgação e difusão


Os meus melhores cumprimentos


António da Cunha Duarte Justo

Porta-voz do Conselho Consultivo

Mãe Desconsulada dirige-se aos Meios de Comunicação

Protesto contra o Encerramento do Consulado de Frankfurt

António Justo

Uma mãe de Frankfurt sente-se desiludida e revoltada contra a decisão de enceramento do consulado e apela à razão organizativa e de poupança do Governo para que reveja a sua posição tomada contra os 30.000 portugueses da região.

Aqui o seu importante apelo:

“Foi com bastante admiração que constatei que o vice-consulado de Francoforte irá ser encerrado nos finais de Dezembro.

Irá ser, sim senhor!

É um ato passivo, já que activamente nunca teria havido razão plausível para que tal aconteça. Que motivos poderiam ser alegados para encerrar uma casa que não só serve uma numerosa comunidade portuguesa, como ainda representa Portugal numa vasta região no centro da Europa, procurada por tantos?

Ainda que ciente da necessidade urgente de economizar, riscar do mapa postos com funções imprescindíveis não é, certamente, a solução adequada. Se temos de prescindir, então que o façamos colectivamente. Procuremos soluções acertadas, ouvindo os intervenientes, sem simplesmente optar pelas “passivas”!

Que explicação darei eu aos meus filhos, por exemplo, quando tiver futuramente de os “arrastar” a minimamente 200 quilómetros de distância (só a ida) para poder tratar de assuntos relacionados com o país que tanto tento manter na sua memória, para que o elo continue a ser forte e aguente mais do que as idas de férias? Como vou conseguir convencê-los de que o vice-consulado foi encerrado, mas o país não lhes voltou as costas? Como vou argumentar, para que possam continuar a acreditar  que a identidade é a única pátria da qual nunca podemos ser exilados? Que apoio lhes vou poder dar nesse sentido? Como vou cumprir essa minha obrigação de mãe, se com o encerramento do vice-consulado me estão a roubar um valioso bastião?

Já nem sei se é tristeza, revolta ou desilusão aquilo que sinto…

Sempre fomos bem recebidos, acolhidos com os nossos problemas, no agora vice-consulado e no antigamente consulado, em Francoforte.

Sempre contámos com o consolo do consulado. A região do vale do Meno e do Reno é uma das mais atractivas da Alemanha. Francoforte é uma cidade cosmopolita, na qual mais de noventa países mantêm a sua representação. Para nós, vivendo fora de Portugal, a supressão destes minúsculos retalhos representam enormes buracos na manta que nos aquece e protege.

Talvez estes argumentos sejam difíceis de entender para quem vive em Portugal. Sabemos que há, no país, muitos “pequenos” a fazerem grandes sacrifícios  (e infelizmente poucos “grandes” a fazerem pequenos !)   mas temos todo o direito – e até o dever – de exigir mais transparência nas decisões que, caso sejam justas, podem ser compreendidas e, posteriormente, aceites.

Mas assim, não! Encerra-se porque temos de “apertar o cinto”! No pescoço?!?

Sei, porque lido há dezenas de anos com jovens portugueses, e não são só de origem portuguesa, que muitos se vão ver obrigados a optar pela nacionalidade alemã porque todos os atos oficiais marcantes – o nascimento, o casamento, as eleições,… – vão estar a uma distância tal que a maior parte não vai conseguir conjugar com a vida acelerada de trabalho intenso.

Economizar não é riscar do mapa, mas sim reestruturar recursos, aproveitar potencialidades já estabelecidas, fazer alterações que necessariamente atingem sempre alguns, claro, mas que não privilegiam uns (quase sempre os mesmos ! ) em detrimento de outros (também quase sempre os mesmos…).
Já sei se é tristeza, revolta ou desilusão.

É revolta!!

Quando temos vinte rebuçados para distribuir por dez crianças, elas sabem bem que cada uma receberá dois; nunca nos passaria pela cabeça distribuir os vinte rebuçados por cinco das crianças, entregando quatro a cada uma delas, e deixar as outras sem nada. Será que há alguém que desconheça ou já tenha esquecido esta operação de matemática tão simples? Talvez porque, lamentavelmente desenraizado, perdeu tudo o que tinha de criança em si…

Ou então porque já comeu rebuçados demais!!!

Francoforte, 17 de Outubro de 2011

Esta mãe sente-se arbitrariamente desconsulada sabendo que nenhuma razão objectiva de racionalização de serviços nem de poupança podia levar o governo a virar as costas a 30.000 portugueses, quando, para arrecadar o que tenciona poupar na Alemanha com o encerramento do vice-consulado de Frankfurt, haveria muitas outras alternativas sem castigar utentes dos serviços portugueses na Alemanha. Uma delas seria reduzir um dos três consulados da Alemanha a Vice-consulado. O que se poupa num cônsul chegaria certamente para se manter um vice-consulado.

Esta mãe identificar-se-ia, “se quem de direito estivesse disposto a explicar, em conversa com os envolvidos e/ou seus representantes, as razões plausíveis para o encerramento”. A sua alta consciência civil e de responsabilidade levou-a a este protesto público, sentindo-se assim “ aliviada com aquela sensação do dever cumprido”. Resta à imprensa cumprir o seu, para que Portugal se endireite e levante para adquirir a dignidade que lhe é devida!

Consequentemente resultaria uma discussão pública (fórum) em que representantes do governo e dos afectados se reunissem para manter os serviços e conseguir poupar ainda mais dinheiro aqui na Alemanha.

António da Cunha Duarte Justo

Conselheiro Consultivo do Vice-consulado de Frankfurt

antoniocunhajusto@googlemail.com

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COM O PECADO NASCEU A CULTURA

A ruptura é o princípio do progresso

António Justo

O cinismo hodierno quer-se branquear apresentando o pecado como algo fora de moda e que o reconhecê-lo constituiria um acto opressor. Pensa que ao destruir a consciência da culpa se livra dela. Vê no Deus criador um velho desmancha-prazeres. Por isso faz guerra a Deus no equívoco de que acabando com Ele acabam com a culpa, com o mal. Ainda acredita, com Rousseau, que o Homem no seu estado natural é bom e que só a cultura o estragou e corrompeu. “O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe” , dizia ele. Esta visão corresponde à atitude regressiva de Adão que, depois de seguir o acto racional da companheira Eva, teve remorsos e para evitar o incómodo do medo quis desculpar-se para voltar à “visão beatífica” animal de que gozava antes de seguir a racionalidade de Eva. Revela-se imaturo para assumir a coragem da culpa, aquela que o tornou Homem.


Sem culpa/dívida não temos homem nem cultura. A culpa torna-se numa dívida à vida transmitida e quem acordou o Homem para a cultura foi Eva, através dum acto proibido. Por isso o parceiro ainda sonâmbulo terá que a seguir sempre, na esperança duma natureza desperta. O Homem no estado natural não passaria do tempo em que era hominídeo, sem cortar o cordão umbilical com a natureza. Ignora o salto do animal irracional para o animal racional, na alegoria de Eva, que ao distanciar-se da natureza se descobriu como ser diferente do ambiente que a circundava. Ao descobrir-se diferente reconheceu o criador que a projecta para lá do horizonte da mãe terra e a ajuda a evoluir e a distanciar-se da irmandade hominídea para a reconhecer e seguir o próprio caminho. Já não lhe chega o tecto das estrelas sobre a cabeça; à imagem do criador que criou a terra, o Homem cria a cultura e com ela um tecto metafísico que o distingue dos irmãos animais e o ajuda a orientar-se nela. A natureza precisa duma atmosfera que a protege e o Homem precisa duma metafísica que lhe dá perspectiva. Como o Sol no céu da natura assim Deus no céu da cultura. O Verbo criou o mundo e o Homem criou a palavra, seu horizonte. Todos falam mas no falar é que se distinguem. No que entendemos sobre a natureza e as coisas é que está a diferença. Esta identifica-nos mas não é suficiente para nos definir; implica a outra parte de nós que é a diferença que nos torna diferentes. Fatal é o facto da teoria da evolução se ficar pela diferenciação. Aqui parece que Rousseau não compreendeu que a maldade/culpa humana é natural, que não é mais que a dívida da razão à natureza irracional. A tarefa está em reconhecer natura e cultura como metáfora, como a chance de, com elas, nos tornarmos nós com o todo.


Hoje reconhecemos a dependência mútua do bem e do mal que fazemos. O cristianismo aponta para  o aparente hiato entre natura e cultura que se realiza na irmanação de espírito e matéria na encarnação. Tem sempre presente a relação eu-tu-nós, não se limitando ao eu e ao outro. No cristianismo, pecado é a perturbação da relação com Deus, isto é a perturbação da relação comunitária do eu-tu-nós. A crença em Deus é uma procura dele, o direccionar-se do embrião humano para o ser em botão. A verdade acontece na procura e não no saber. Este serve só a individuação, como se viu em Eva. O problema da árvore do conhecimento do bem e do mal, penso que estará no facto de só se terem ficado pela dicotomia do saber. Ao comer da maça (da razão) descobrem-se nus, abrem os olhos. A proibição acentua a liberdade de poder transgredir. A História da cultura humana passa a ser um processo contínuo de tentativa e erro numa dinâmica de procura-tentativa-erro-decisão e assim por diante. Deus criou o mundo e o homem e com este criou a cultura e com ela a sua perspectiva. Em Adão e Eva encontra-se a “pré-história” e a “história” na passagem do inconsciente para o consciente. A criança é desculpada (vive de graça, não peca, não tem culpa) enquanto não comer do fruto proibido, enquanto não alcançar o” uso da razão”. Em Eva a humanidade alcança a consciência de indivíduo. Esta experiência é dura como podemos ler nos Géneses, porque a individualidade da pessoa se reconhece na desobediência a Deus, na dívida do indivíduo ao todo. A consciência do “pecado original” pressupõe a visão realista do ser humano e da natureza, uma natureza na tensão de saber-se separada para se poder unir.


Com Caim a humanidade alcança um outro grau de consciência, a consciência do poder. Também este estado de consciência é doloroso e associado à culpa porque se adquire à custa do assassínio de seu irmão Abel.  Se um progresso humano acontece no distanciamento de Deus o progresso social dá-se na culpa de se afirmar à custa do irmão. Caim (agricultor) desenvolve a consciência de ser político reconhecendo os conflitos de interesses entre os seus interesses de agricultor e os interesses de Abel  (pastor) e o mundo da mãe. Para se afirmar na sociedade rural e pastorícia, age egoisticamente matando o irmão Abel.


O pecado original (rebelião contra Deus – consciência da individuação) de Adão e Eva associa-se, depois, ao desenvolvimento da consciência de sociedade, o pecado social (político) de Caim e Abel (rebelião contra o Irmão, contra o grupo social). O Homem sente-se de princípio condicionado ao mal ao pecado/culpa. Para ser ele corta a relação com Deus e depois dessolidariza-se socialmente matando o irmão e consequentemente abandonando a mãe. O progresso pressupõe o abandono do seio materno e da tradição que o protegia; deixa de ser uma comunidade solidária. Daí o seu sentimento de culpa. Perde a inocência de pertencer a um todo harmonioso e indivisível. A inveja leva-o a assumir o poder. Culpa é uma dívida à vida transmitida. A razão procura dar um sentido ao caos. Para isso divide e separa para distinguir e afirmar-se.


O pecado é uma estrada para a verdade


A religião honesta não ameaça porque sabe que o que se encontra dentro também se encontra fora. Reconhece na pessoa que o último juiz está nela, para os cristãos na sua natura de Cristo. O afirmar da luz não justifica a negação da sombra nem vice-versa. O Sol no seu trajecto (movimento que ele provoca fora dele – na sua periferia) implica a noite. Do Sol surgiu a noite dos seres, a sua sombra; esta é mais que a sua (dele) expressão, mais que o brilho que dele reflecte.


As estações do ano constituem uma parábola da vida revelada no livro (tempo) da vida. Sem as purgações (a tempestade e a escuridão) do Outono e do Inverno, sem o descanso que a noite dá ao dia, a vida desapareceria tal como as cores no branco. Somos mais que força direccionada. Toda a comunidade, toda a instituição tem um conteúdo (valores, experiência) a transmitir através duma pedagogia, duma didáctica. Identificar o conteúdo com a pedagogia seria equívoco ou maldade.


Já o apóstolo Paulo dizia “Oh feliz culpa” alertando assim as pessoas para os bons frutos a colher do erro. O erro é a estrada para a verdade. A religião estimula a consciência a procurar e quer questionar para na espiritualidade experimentar o inefável.


O espírito crítico é muito importante para todo o desenvolvimento desde que se aplique para nós o mesmo critério que se aplica para os outros, desde que integrado num processo de responsabilidade. O adolescente tem a impressão que os pais (a religião) proíbem tudo. Este sentimento está ao serviço da sua individuação e sem ele não se tornaria adulto. Uma imperfeição não justifica a outra, mas, no mundo feito de imperfeições, é legítima a aspiração a uma imperfeição mais adequada. Problemático seria se o adolescente, para se afirmar, tivesse de rejeitar os pais. Na arena pública digladiam-se embriagados da própria razão. Tudo na fuga à culpa que liberta. Tudo peca contra o outro. Ninguém se confessa.


Verdade e falsidade são dois polos do mesmo problema que passam pela opinião, pela percepção intelectual. Os livros sagrados procuram expressar experiências de vida e do sagrado em letras, num código de regras, como se vê nos dez mandamentos. Revelam também o perigo que as normas também têm, o perigo de esconderem horizontes novos. “O Homem não foi feito para o Sábado, mas o Sábado para o Homem”, advertia o Mestre de Nazaré.


Há que ter em conta a realidade do pecado e da culpa não se fixando nele. O facto da jerarquia eclesiástica ser constituída por pessoas (limitadas) não nos isenta das próprias limitações na crítica ou louvor que façamos. (Abstenho-me de referir aqui os pecados da instituição Igreja porque esta já é o bombo da festa dos de má consciência e de grupos intolerantes organizados que dominam a praça pública). O óptimo é inimigo do bom; ele tornaria a vida insuportável e negá-la-ia. Verdade é que sem partidos não há democracia por muito imperfeitos e repartidos que estes se encontrem e por muito inteiros que a perfeição os queira.

As instituições, como o indivíduo, correm o risco de, ao fugirem do perigo, caírem na armadilha do medo ou de abusarem da sua situação. O medo não está na religião mas no sistema sensorial do cérebro, no sistema mais arcaico do cérebro. Ao contrário, a oração e a meditação mobilizam reservas cerebrais libertadoras dos medos artificiais. O erro, o mal são elementos essenciais à evolução e ao desenvolvimento. (A tarefa do consciente será descobrir jogos que o contorne sem o provocar). O Criador embutiu alguns erros na natureza para podermos fazer o mal quando fazemos o certo…

Só vemos o que os nossos olhos permitem ver; o que é grave é identificarmos o que se vê com a realidade como se esta não fosse mais ampla. Deus definiu-se como o “tornar-se” e nós, “feitos à sua imagem” se nos definimos só como “o ser” (a crosta) limitamo-nos a ser a tinta da palavra escrita mas não a Palavra/acontecer.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo,  Pedagogo e Jornalista

antoniocunhajusto@googlemail.com

Da Primavera Árabe sobressai o Extremismo no Egipto


Junta Militar governante interessada na Desestabilização

No Egipto, Cairo, foram assassinados 20 cristãos coptas. Domingo à noite demonstravam contra um ataque incendiário a uma Igreja efectuado por muçulmanos na região de Assuão. Os cristãos responsabilizam bandidos islamistas e pessoal do exército pela escalação de demonstrantes e contra demonstrantes.

A junta militar governante do Egipto está interessada no conflito entre muçulmanos e coptas. Há acusações que afirmam que a junta militar incita os ataques aos cristãos. A desestabilização do país interessa especialmente aos militares, que não querem perder os seus privilégios. O adiamento das eleições parlamentares previstas em Novembro constitui uma ameaça aos privilégios dos militares e aos familiares de Mubarak. Em nome da desestabilização as forças militares ganham peso como factor de ordem. O ataque incendiário à Igreja de Assuão terá sido efectuado com a aprovação do governador muçulmano da região.

Segundo informação da organização dos Direitos Humanos „Egyptian Union for Human Rights“ depois da queda de Mubarak já fugiram do país 100.000 cristãos.

No Egipto há 74 milhões de muçulmanos e quase 9 milhões de cristãos coptas. No mundo há 15 milhões de coptas. Com a islamização a partir de 640 foram-se reduzindo até à sua expressão actual. A História de discriminação e perseguição parece dar razão a quem usa da espada para se impor e não apenas da palavra.

Como advertiam conhecedores da política muçulmana, a primavera árabe, embora expressasse um desejo legítimo, não podia passar dum desejo pio. Para haver democratização são precisas forças mínimas de individuação contrariadoras do colectivismo e do dirigismo.

Infelizmente não há ninguém no mundo e nas religiões que não faça erros. Há porém uma diferença entre erro e assassinatos em massa.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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Um Dia Santo para a Natureza para os Animais e Plantas – O PAPA E A ECOLOGIA

O PAPA E A ECOLOGIA

Um Dia Santo para a Natureza para os Animais e Plantas

António Justo

Na parte final do seu discurso no Parlamento alemão, Bento XVI referiu-se também ao movimento ecológico surgido na Alemanha, especialmente, a partir dos anos Setenta, afirmando que o ambientalismo “foi e continua a ser, um grito que anela por ar fresco, um grito que não se pode ignorar nem acantonar”. O papa com a ideia de não deixar acantonar o movimento ecológico num partido (Os Verdes) ou grupo do mercado quer que se ultrapasse uma visão antagónica do preto e do vermelho para uma visão dum verde que suporte todas as cores do arco-íris sobre ele. A lei da complementaridade na biosfera e nos ecossistemas culturais pressupõe um equilíbrio de relações entre todos os elementos e não a ditadura da economia (lucro exagerado) que ao destruir a natureza destrói também a pessoa. Requer-se uma mudança radical de mentalidade, uma consciência ecológica e humana que transcenda os guetos das ideologias.


Se no alvorecer da humanidade e no seu afirmar-se, o Homem, então em reduzido número, lutava por dominar a natureza, hoje que a explora e põe em perigo, tem que, como sua parte integrante, tornar-se seu protector assumindo a responsabilidade do Criador. De facto, hoje observam-se dois grandes buracos de ozónio: um na biosfera natural e outro nos ecossistemas culturais. O ar e a cultura, cada vez se intoxicam mais, correndo em abundância o veneno na água e na divulgação pública. Hoje, por vezes, tem-se a impressão de vivermos em tempos apocalípticos, do não há pai, salve-se quem puder.


Em tom brincalhão, o Pontífice fez um aparte, no discurso, dizendo que não estava ali a fazer propaganda por nenhum partido. Certamente não queria ficar como o papa verde! De facto o partido OS VERDES com 68 deputados num parlamento de 620 surgiu da defesa da ecologia. Com este louvor talvez o Papa queira estimular a Alemanha a continuar no seu estado pioneiro de empenho ecológico no contexto das nações e de ter sido a maior sociedade industrial a ter determinado o abandono da energia atómica para passar a investir em energias não poluentes e renováveis, como a eólica e solar. Isto tem como consequência a transição de investimento e transformação tecnológica e de investigação.


Não chega pintar de Verde as Fachadas das Fábricas e das Ideologias

Depois continuou: “A importância da ecologia é agora indiscutível. Devemos ouvir a linguagem da natureza e responder-lhe coerentemente. Mas quero ainda enfrentar decididamente um ponto que, hoje, como ontem, é largamente descurado: existe também uma ecologia do homem. Também o homem possui uma natureza, que deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece. O homem não é apenas uma liberdade que se cria por si própria. O homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza, e a sua vontade é justa quando ele escuta a natureza, respeita-a e quando se aceita a si mesmo por aquilo que é e que não se criou por si mesmo. Assim mesmo, e só assim, é que se realiza a verdadeira liberdade humana”. Critica-se assim a monocultura agrária e de espírito em via. A Biodiversidade dentro do ecossistema humano e natural pressupõe uma dimensão não só horizontal mas também vertical; pressupõe um horizonte aberto a tudo e a todos numa consciência da lei da complementaridade a nível de ecossistemas naturais, culturais, ideológicos e o respeito de uns pelos outros. A terra é de todos e de tudo; todos somos terra e nos tornamos terra.


O ambientalismo sério começa cá por casa, por cada um de nós (mudança de hábitos de consumo, de alimentação; um motivo de cada pessoa e não apenas de sistemas a afirmarem-se uns contra os outros. Não é preciso seguir a bandeira dum ecossocialismo nem dum ecocapitalismo. Os dois não apontam para a solução; fazem uso duma filosofia do contra em benefício da própria clientela não querendo, na discussão, aplicar a lei da complementaridade, que reina na natureza, ao relacionamento da vida social e ideológica: o que se reconhece no ecossistema natural nega-se no ecossistema cultural e na relação das ideologias umas com as outras. O neoliberalismo domina tanto os estados capitalistas como os socialistas. É cómodo encostar-se ao socialismo ou ao capitalismo quando a solução do problema terá de começar pela mudança de mentalidades das pessoas e por uma consciência da complementaridade das estruturas, todas elas deficitárias e até agora manipuladoras da cultura e das suas clientelas. Não chega pintar de verde as fachadas das nossas fábricas e das nossas ideologias. Muitos ouvem o alarme da natureza e o protesto de muitas pessoas e aproveitam-se da ingenuidade ou egoísmo de pessoas para melhor fazer o seu negócio, a propaganda da sua organização contra outras (na continuidade do mesmo espírito que levou à exploração da natureza: divide e impera). A solução não virá de ideologias mas duma luta supra-ideológica, dum movimento dos movimentos que está por nascer.


É possível um novo mundo, a mudança da civilização. O comércio tem vivido dum mundo fragmentado e da tentativa de mecanizar/automatizar a pessoa em contínua corrida sem segurança.

A ganância do lucro e o oportunismo impedem uma revisão equilibrada dos sistemas. A pessoa é reduzida a indivíduo e a mera força de trabalho, a mero produto. A ganância do lucro manterá a crise cultural, económica e ecológica da civilização. Não chega encontrar a causa do que se vê mas também a sua finalidade.


É necessário desenvolver uma tecnologia da libertação, correspondente a uma nova consciência. A natureza é rica, pobre é o espírito duma economia e tecnologia explorador. O crescimento económico justo e o desenvolvimento social pressupõem uma sintonia no respeito pela natureza e pela dignidade humana.


Os países ricos enriqueceram no desrespeito da natureza e na destruição dos biótopos em favor das monoculturas. Os países em via de desenvolvimento são tentados a seguir este mau exemplo. No Brasil entre outras organizações que se levantam contra a destruição da natureza, os bispos brasileiros têm-se insurgido contra a destruição da natureza que mata 100 pessoas por ano e leva a população rural a fugir para as cidades. A comunidade mundial terá de se tornar solidária com estas populações insurgindo-se contra a destruição de biótopos e ecossistemas naturais destas regiões. O sistema económico que actua a nível global chegou com o seu latim ao fim. Provocou um desequilíbrio entre meio ambiente e produção, entre emprego e desemprego, entre rico e pobre.


Bento XVI diz que o desastre que se observa na terra e na sociedade é consequência do desastre espiritual e cultural humano. A terra apenas se deixa contagiar pela doença do Homem. A natureza é parte de nós e nela encontramos o outro.

Já antes tinha chamado a atenção para a necessidade de mudança de mentalidade no sentido de Francisco de Assis, afirmando: “É fascinante em Francisco a sua rejeição resoluta ao mundo de bens e o seu amor não afectado pela criação, pelos pássaros, pelos peixes, pelo fogo, pela água, pela terra. Ele aparece como o padroeiro dos ecologistas, como o líder do protesto contra uma ideologia que se concentra apenas na produção e crescimento, como o advogado da vida simples.”


Francisco queria o jardim Terra não só como lugar para a agricultura para animais de pecuária mas para todos os seres, para os irmãos “as flores do campo e os lírios do vale” (Cant2,1), queria a natureza como lugar para toda a criatura poder viver em irmandade desde o “irmão burro” às “ irmãs flores”. E Bento XVI complementa: “O respeito para com as pessoas e o respeito para com a natureza pertencem juntos, mas ambos só podem prosperar e, finalmente, encontrar o seu nível, se respeitarmos o criador e sua criação nas pessoas e na natureza.”


Dignidade humana e da Natureza em relação de interdependência

Em comunhão de alma com a natureza, na qual corre a mesma seiva/sangue e se manifestam as mesmas diferenças como na sociedade humana, estamos chamados a fazer brilhar nela também o nosso sol, o sol do amor. Com o manto verde das suas plantas, a natureza alimenta o nosso respirar oferecendo-nos o oxigénio e juntando o seu respirar ao nosso. Também nós temos algo para lhe dar: o manto do espírito. Deus criou a natura e o homem criou a cultura, para, em conjunto, colaborarem no projecto do mistério a caminho. A força do sol e do vento com a ajuda da água conseguiram fazer da rocha dura campos férteis e fecundos. Nós pelo contrário, com a alma em erosão, estamos a contribuir para a desertificação da alma humana e do mundo. A natureza sofre enquanto o Homem não arredar caminho. A maneira como tratamos os animais é pior que a atitude de Caim contra seu irmão, representante duma outra cultura.


Da fé num Deus criador e pai surgiu a ideia da dignidade humana e dos direitos humanos. Do mesmo princípio se deixa deduzir o respeito por todas as criaturas, pela natureza inteira, obra do mesmo criador. O Papa não se cansava de repetir “onde Deus está, lá está futuro”. Por isso precisamos dum dia santo para a natureza e não apenas dum feriado dela. Temos vivido do que se tem roubado à dignidade humana e aos animais, encontrando-se agora a natureza inteira a sofrer.


A Bíblia quer que também os animais tenham um dia santo, ao afirmar que também eles não devem trabalhar ao sábado e também a terra precisa dum ano sabático. A civilização tem atraiçoado a natureza ao degradar o Homem para objecto de produção e consumo amarrando-o à fábrica e ao shopping. O espírito que tem dominado a exploração do Homem pelo homem domina na exploração da natureza pelo Homem. Ao profanarmos o Homem profanamos a natureza também.


Os animais encontram-se encurralados em campos de concentração indignos do homem e do animal. É-lhes roubado o seu espaço vital como se também eles não tivessem direito a um ambiente digno. A terra é mãe de todos. As plantas não cortaram o cordão umbilical com ela mas sofrem as consequências da depravação humana; o animal homem, seu filho pródigo, esquece que ela é não só sua substância mas seu chão também.


Nela saltitam as nossas paixões e voam sonhos como andorinhas. Meus pensamentos não são mais que seus pássaros a voar. Como eu, também a planta, o animal, a raiz tem seus sonhos, a sua esperança. O Homem continua a violar a fecundidade da terra e depois admira-se que ela reaja magoada.


Na teologia da trindade e encarnação podemos encontrar um modelo de pensamento e acção que transcende a objectivação de tudo o que é ser para os integrar na sua relação complementar. Assim espírito e matéria unem-se num processo actual e teleológico, o espírito torna-se terra para nela se divinizar e ressuscitar. Como a natura segue a orientação do Sol assim a cultura terá de descobrir o seu sentido a caminho da transcendência. Teilhard de Chardin fala do percurso do Alfa para o Omega e do Cristo cósmico que resume o caminho e a aspiração da natureza e do Homem.


Há várias portas de acesso à Realidade, possibilitando cada qual uma panorâmica diferente da mesma: a natureza, a fé, a razão. Quanto mais abertura e mais chaves tivermos mais larga será a panorâmica da nossa visão.


António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

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