Sócrates à frente do Socialismo Português contra a Defesa dos Cristãos


A Fracção da Chanceler alemã quer que se assinale a Perseguição aos Cristãos

António Justo

Depois do falhanço dos ministros dos negócios estrangeiros da União Europeia (EU), a Fracção da União (CDU e CSU) no Parlamento alemão em Berlim exigiu da EU uma declaração comum pela liberdade religiosa em que se manifeste explicitamente a perseguição dos cristãos. Estes constituem, hoje, o grupo mais acossado e com mais vítimas da perseguição religiosa.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros, dos 27 Estados da União Europeia, não tinham conseguido uma declaração comum, devido ao boicote dos ministros dos negócios estrangeiros de Portugal, Espanha, Irlanda, Luxemburgo e Chipre!

Em Portugal, os partidos não põem na ordem do dia assuntos como este. Em muitas matérias, actuam, sem discussão, à socapa do povo e parecem todos interessados numa desintegração social. Toda a nação parece marchar ao ritmo da música duma esquerda vaga que se encontra acantonada nos organismos do Estado.

Um centro direita, traumatizado ainda pelo 25 de Abril, não interfere em muitos assuntos relevantes para a nação, como é o caso da política escolar e cultural, deixando aos outros o remo! O povo é entretido com políticas opiniosas partidárias ou com assuntos políticos do dia-a-dia governativo sem que haja lugar para análises profundas da realidade nem previsões sérias para o futuro.

Com os movimentos republicanos, a ideologia maçónica e um bolchevismo subreptício procuram relegar os assuntos religiosos para o foro privado, encarando-os como estorvo ao fomento do seu domínio. Por outro lado, a má consciência dos grupos secularistas enriquecidos com os roubos dos bens da Igreja aquando da instituição da República manteve um ressentimento das novas forças nascentes que passaram a viver já não em torno do trono e do Altar mas como parasitas em torno dos órgãos do Estado.

Os barões de ontem enriquecidos à custa dos bens da Igreja são os Boys de hoje encostados aos bens do Estado.

O jacobinismo e o clericalismo, que não se encontra nas sociedades nórdicas, fenómeno típico de sociedades latinas, em Portugal, foram integrados nas organizações secretas e partidárias e seus ciclos intelectuais. Não se trata de viver da afirmação ou da negação de Deus; trata-se é de criar as melhores condições para que o Homem viva bem, independentemente dos seus credos e posições políticas.

Esquecem-se que há muito tempo nos encontramos a caminho da luta entre as culturas. Facto é que o socialismo é o maior apoiante dum islão cada vez mais agressivo em relação ao Ocidente. O equilíbrio secularização-religião encontra-se em perigo, pelo facto de secularistas irresponsáveis apoiarem o obscurantismo religioso árabe, e depreciarem sistematicamente o cristianismo, o que com o tempo fomentará extremismos religiosos também entre nós. Esquecem que foi este meio cultural cristão que fomentou e possibilitou a aplicação da democracia muito embora depauperada. Descuram que as ideologias políticas passam mas a religião não passará. Seria inteligente operar neste meio, de modo a possibilitar uma melhor praxis religiosa no sentido do reconhecimento recíproco. Uma política superficial oculta ao povo os próximos conflitos mundiais que se darão a nível religioso e cultural!

Prescindimos duma república de jacobinos como dispensámos uma sociedade teocrática. Ambas impedem a prática da cidadania responsável. O cultivo do ressentimento e da intolerância a partir da tribuna do Estado é ilegítimo e despreza a cultura do povo. Uma estratégia de destruição de valores cristãos, em via, é irresponsável, porque serrotam no galho em que se encontram e prejudicam o povo português, por razões ideológicas.

No contexto europeu, o jacobinismo anticristão instalado em órgãos do Poder é especialmente notório em Portugal e na Espanha!

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com


Papel da Europa e da USA no Egipto


Um Egipto tornado Beduíno adiará sempre a sua Situação

António Justo

O Ocidente movimenta-se entre “política real” e moral. Por um lado apoia regimes ditatoriais e, por outro, apoia a oposição a eles. Censura, tortura e ataques aos direitos humanos são tolerados na sequência de interesses que parecem legítimos: assegurar a estabilidade em lugares estratégicos, e assim possibilitar a liberdade de comércio e transporte para abastecimento internacional de matérias-primas, como é o caso do canal do Suez no Egipto.


O Ocidente tem quatro interesses vitais nesta zona: o petróleo, a segurança do Estado de Israel, as vias do comércio e as razões geoestratégicas. Neste emaranhado de tão altos interesses aceita-se tudo o que fomenta a estabilidade institucional da região, sem olhar a meios e aos problemas da população.


Os jornalistas, através do que, no dia-a-dia, nos informam, mostram que não têm a mínima ideia do que se passa no interior destes povos nem da filosofia estrutural básica que os rege. Por isso se encontram agora perplexos. À margem da vida do povo, só falavam de Israelitas e palestinianos.


Muitos aplaudem o movimento de libertação, o que é naturalmente agradável de ver. A questão imediata fundamental do povo não é essencialmente a liberdade mas primeiramente o comer!

O Ocidente desejar-se-ia um desenvolvimento do Egipto num processo em direcção à democracia, como o da Turquia. Estabilidade é a alma do negócio e o negócio de alguns floresce especialmente em regimes ditatoriais, mais abertos às armas do que ao bem e à opinião do povo.


Assim, têm seguido uma política hipócrita apoiando os regimes até que eles caiam de podres. Apoiam o corrupto presidente Marsai no Afeganistão, o terrível presidente Zordari do Paquistão, a arábia saudita que envenena o islão e até o terrorista Gaddafi na Líbia. Um outro aspecto da política ocidental, em relação aos árabes, é a consciência de só poderem escolher entre Satanás e Belzebu e tudo o que fazem, na perspectiva árabe, ser” falso ou errado”, como diz o perito da região, Henryk Broder.


“Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Sem uma táctica entre “moral” e “política real” esta zona, já há muito, seria um inferno vivo e o melhor palco para a preparação da terceira guerra mundial. Daqui o medo da Europa perante o armamento nuclear do Irão. Em caso de conflito a Europa estaria logo em guerra.


Uma boa estratégia, a longo prazo, seria fazer do Mediterrâneo um “lago” que une povos amigos prósperos. Para isso a mais-valia dum povo em relação ao outro não pode continuar a basear-se na competição e na exploração. Exploradores fomentam exploração tal como insurrectos fomentam insurreição. Uma política orientada para a resolução de problemas pressuporia que o Ocidente renunciasse à sua expansão económica agressiva e os árabes ao seu imperialismo agressivo através da religião e consequente opressão do ser humano. Uma sociedade que só exige sacrifício e sujeição do cidadão, não pode subsistir em termos históricos. A crise mostra a necessidade de um projecto civilizacional baseado na convivência solidária e no bem-estar dum cidadão realizado. Uma civilização adiantada como a ocidental deveria estar consciente de que a especulação no sector alimentar constitui um atentado permanente contra o povo e contra a paz. Também aqui a EU e a USA pecam por omissão. Sob a pressão de lobbies do mercado legislam sobre a medida da fruta que a fruta deve ter e sobre a curvatura da banana, para impedir que os pequenos agricultores concorram no mercado enquanto medidas defensoras do humanismo são deitadas ao desprezo. Os grandes produtores agrícolas deixam de produzir produtos alimentares para produzirem óleo de colza para a indústria automóvel. Em consequência, especialmente na África, o preço dos alimentos essenciais torna-se insuportável.


As crises internacionais poderiam tornar-se na maior oportunidade para se organizar uma economia não baseada no princípio da selecção mas da colaboração. Vai sendo tempo de o déspota da criação começar a ocupar um lugar de responsabilidade na criação e na evolução para merecer tornar-se o “rei da criação”. Cada povo possibilita e cria a sua situação, tal como as espécies nos diferentes biótopos.



Os árabes são os autores do próprio drama. Estes povos, mais habituados ao comércio do que à produção, como adolescentes sempre em rebeldia contra os pais, culpam o estrangeiro e os antigos colonizadores pela sua miséria actual; não utilizam os próprios recursos e riquezas na promoção intelectual do povo demasiado amarrado à religião. Assim, as elites limpam a má consciência da própria inactividade e exploração. Em vez da queixa contínua e do complexo de mártir, que cultivam, terão de crescer na responsabilidade social e aparecer, para passarem a exigir também ao Ocidente mais responsabilidade nas relações comerciais e económicas.


O movimento popular é bom mas o busílis está no facto de os que depois assumem o poder nunca serem os benfeitores do povo, mas sim os que melhor se aproveitam da situação.


Neste momento, o dilema dos políticos ocidentais é o receio de ver no governo alguém com quem não se possa contar. Um ataque a Israel desencadearia uma guerra mundial, no caso do Irão ter armas nucleares. Todos têm interesse que na Europa o preço do petróleo não chegue tão depressa aos 3 euros por litro. Por outro lado este negócio, até agora rendoso para o Ocidente, impede que este se dedique com maior eficiência na promoção de energias alternativas e de tecnologias mais eficientes do que as que temos.


O destino árabe está intimamente ligado ao da Europa. O ocidente encontra-se a caminho da desestabilização. Os chineses, por enquanto, fazem o negócio mesmo com o diabo mas não se intrometem na vida política interna do país.


O Egipto será obrigado a fazer alguns retoques na Constituição, mas os poderes continuarão nas mãos dos mesmos. Em geral, o povo árabe, sempre na perspectiva dum oásis fora dele, fomenta os chefes da caravana que, em nome do grupo, obrigam o indivíduo a seguir em fila sem sair do alinhamento, seja ele qual for. Um tal sistema é renitente à democracia e mais ainda aos direitos do indivíduo. No deserto só se salva o grupo, não há lugar para salvação individual. Assim quem se apodera do grupo, esse é sempre o salvador, independentemente do seu humanismo. Este povo terá de discutir, seriamente, a sua situação para se decidir por continuar beduíno ou tornar-se sedentário! O Egipto, para se reencontrar, terá de redefinir a sua identidade nacional, que não se deixa definir apenas pelos seus últimos 1.390 anos de História.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

EGIPTO A CAMINHO DUM ISLAMISMO EXACERBADO?


O Povo acordado torna os Governantes insignificantes

António Justo

Às vezes o simples esvoaçar duma borboleta faz mudar o mundo. Na Tunísia um académico, sem esperança de emprego, vendia hortaliças na rua com um carrito para ir sobrevivendo. As autoridades apreenderam-lhe o carro, levaram-no para a esquadra e esbofetearam-no. Desesperado e ferido na sua honra, suicidou-se. O povo que sentia na pele as dificuldades e a angústia daquele jovem levantou-se contra a opressão dos governantes. A consequência imediata foi mais de 200 mortos e o governo em fuga.


A esperança corre pelas ruas; desta vez em causa própria e não apenas contra um Ocidente sempre mau. O seu motivo de revolta é a fome. Especuladores de produtos alimentares tinham aumentado os preços em 50% revelando, deste modo, as elites com um bando de ladrões. O grito de liberdade dum povo oprimido, no corpo e no espírito, espalha-se por todo o Norte de África muçulmano.


Entretanto, no Egipto, os tumultos provocaram 11 mortos e mais de 900 feridos. O povo é quem arrisca a vida e quem luta pelo direito a uma ordem mais justa. Quem mais ordena são os outros!


O Irão, satisfeito, espera que o mundo islâmico siga nas suas pegadas, vendo a agitação egípcia como “uma onda do acordar islâmico”. Em Gaza, os extremistas já se sentem fortalecidos. Na Jordânia o rei demitiu o governo.


Nas ruas do Cairo chegou-se a juntar um milhão de pessoas e as demonstrações continuam a manifestar a presença popular. Como em tudo, o problema está no conflito da defesa de diferentes interesses e na acção de agências e sociedades secretas que se aproveitam do povo para os seus objectivos. Entretanto, as autoridades procuram atiçar a raiva do povo contra os jornalistas estrangeiros, também para melhor controlar a informação.


O que ajuda a evitar extremismos é a autoridade e profissionalidade de que gozam os militares egípcios no seio do povo e que em tempos de crise têm estado, tradicionalmente, a seu lado, sempre atentos, como na Turquia e no Paquistão à consciência popular.


Por todo o lado, quando o povo acorda os grandes tornam-se insignificantes e os peritos dos poderes estabelecidos ficam desorientados.


O Egipto não consegue alimentar uma população de 80 milhões; apenas teria capacidade para alimentar 10 milhões, tendo o povo de contentar-se, para viver, com um euro por dia. Desemprego, pobreza, patriarcado obrigam a juventude estudada a manifestar-se e a movimentar as massas contra sistemas de repressão que atingem a sua maior expressão em regimes africanos islâmicos. Seria óbvia a construção dum novo Estado, duma nova ordem social e duma nova ordem religiosa. Regentes duma economia na ruína, onde grassa a corrupção, sabem que estômagos vazios não procuram democracia, o que querem é pão. Uma certa euforia de dançarinos da liberdade deveria ter em conta que  países muçulmanos são governados autoritariamente no espírito da religião.


A experiência no Irão onde depois da revolução (força da esquerda e religiosa unidas) se funda uma república islâmica: Também o caso do Iraque é testemunho de que uma revolução agora em via, na mão de grupos religiosos, não promete muito, numa perspectiva ocidental. Até agora as revoluções têm estado ao serviço do islamismo exacerbado.

O povo levanta-se, o que é de admirar e louvar. As suas legítimas aspirações à democracia e modernização esbarram sempre contra a verdade dum livro único e a realidade duma rede de mesquitas que regula a vida individual do cidadão até ao pormenor. Por outro lado, a experiência da História, tem dado razão aos imanes na sua luta contra a democracia e  no emprego da violência, ad intra e ad extra,  no seu processo de expansão, muito embora sob o preço de manter um povo rebanho.


Uma república ainda mais islamista do que a actual irá criar grandes problemas a Israel e ao mundo Ocidental. Um tal governo não respeitaria o Tratado de Paz com Israel, a não ser que a fome os obrigue a ceder a compromissos. De notar que o Egipto é o único regime islâmico com tratado de paz com Israel.


Enquanto a polícia se manifesta fiel a Mubarak e ao seu partido apoiante NDP, os militares manifestam-se abertos às exigências populares. O Ocidente advoga uma mudança de regime ordenada para o país não cair no caos. O carrossel dos nomes possíveis para a formação duma presidência provisória passa por Mohamed El Baradei, Amr Muhamed Mussa, Osmar Suleiman e, ultimamente, Farouk Sultan.


No mundo islâmico, quem se declara contra o Ocidente, contra Israel e por Alá tem sempre boas chances de constituir governo, o que torna a questão mais complicada, numa perspectiva internacional.


Segundo um inquérito em Israel, 65% dos israelitas contam com consequências negativas para Israel no caso de Mubarack cair, o que certamente acontecerá. 59% contam com o agravamento da república islâmica.


Os “Irmãos Muçulmanos” querem um Estado mais islâmico


Os “irmãos muçulmanos” – movimento islâmico sunita fundado em 1928 – surgiu com o objectivo de se concentrar na religião e nos valores islâmicos; a nível político pretendia instituir uma ordem islâmica e insurgir-se contra o domínio estrangeiro. A organização Hamas em Gaza é uma sua filial.


O seu sucesso deve-se ao facto de se empenharem na construção de instituições sociais e mesquitas e, por outro lado, representarem a fronte contra a influência estrangeira (na altura contra os ingleses) e a organização do combate, mesmo violento, ao domínio dos potentados islâmicos que oprimam o povo e não sirvam “o verdadeiro islão”. Desde 1980 procuram a mudança através da participação nas eleições. O seu objectivo é estabelecer um estado islâmico; de notar que o Egipto é já um Estado islâmico.


Opõem-se a um presidente de transição (Suleiman) que seria necessário para se preparar uma nova constituição a ser votada pelo povo nos próximos meses. Nos últimos momentos propõem Farouk Sultan para tal cargo.


Segundo especialistas, os “irmãos muçulmanos”, nas eleições alcançarão entre 20 a 30% dos votos.


A insurreição quer acabar com um passado para começarem com outro. A herança é pesada mas dar-se-á na continuidade da sujeição e opressão, enquanto não se der uma reforma do Islão, a nível de Alcorão e do corpo de leis Hadiz.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com



OPINIÃO E REALIDADE – IDEIA E VERDADE


A Vida não engana, as ideias é que nos enganam! (3)

António Justo

A nossa opinião traz a cor dos nossos óculos. É monocromática, enquanto a realidade tem todas as cores do arco-íris. Com as lentes do nosso pensamento configuramos o mundo, a nossa maneira de ser, a nossa opinião e mentalidade. Além disso, usamos uma matriz de percepção selectiva, dirigida para a realidade apreendida como objecto e não como sujeito (ser em processo). A natureza dá-nos assim, para nos individuarmos, a possibilidade de ver a sua fluência transformada em camada de gelo, e assim nos podermos deslocar nela sem vertigens. Assim da órbita do pensamento criamos uma realidade virtual só para nós, separando-nos da natureza tal como a Lua se separou da Terra.


Fixados no movimento de rotação em volta de nós mesmos (do nosso ego) não pressentimos que estamos enquadrados em outros movimentos e forças, que fazemos parte duma Realidade complexa sob a força centrípeta dum Sol material e espiritual. Tal como o Sol continua a ser parte imperceptível da matéria até ao seu mínimo átomo, assim o Espírito faz parte do nosso corpo até às profundidades da nossa alma. O sol brilha na natureza como a intelig1ência no Homem. Como o Sol dá vida à natureza também o Espírito no Homem poderia dar maior brilho e honra à natureza humana, animal e vegetal.


Afirmar-se ou definir-se pela própria posição estática, pelo seu ponto de vista, é tão perigoso como se a Terra se afirmasse sem o Sol. O próprio ponto de encontro de si mesmo na própria rotação pressupõe a existência de outras órbitas e forças de transacção, a existência do outro, como parte também ela formadora da própria identidade. Para entrarmos em nós pressupõe-se então a distanciação de nós mesmos no outro, na outra parte que nos forma e alarga. Alarga não só na perspectiva do sistema mas no sentido metafísico como o entende Heidegger em “Ser e Tempo” ao distinguir entre “as coisas do mundo” e o “Ser”, entre o nosso ser ôntico e ontológico.


Geralmente vive-se da fixação na ilusão da própria visão longe da Realidade que não se deixa reduzir aos canais do pensamento mas acontece na dinâmica do sempre novo, sempre diferente. A ideia é abstracção, uma paisagem da vida a partir da janela da nossa pessoa, condicionada ao nosso saber e sentir. Não vemos a realidade, interpretámo-la através da janela distante dos nossos sentidos. Somos tradutores dum texto comum em que as letras todas correm lá no profundo de cada um de nós e simultaneamente em toda a realidade.


Longe da vida e à caça de vivências, ficamos presos nas laçadas das nossas opiniões. Confundimos a realidade e a verdade profunda com as condutas de acesso a ela: as condutas das opiniões e concepções, os pipelines das civilizações ou as maneiras de ver em voga. A vida torna-se no negativo (filme) da realidade. Na velocidade da dança e na riqueza superelegante da roupagem torna-se difícil descobrir o rosto da vida. A vida não engana, o que engana é a vertigem das ideias! Em vez de identificar o pensamento com a realidade, será óbvio reconhecer no sistema de pensamento um sistema de abordagem e de condução, no cruzamento de outras órbitas. Para evitar a frustração do próprio engano e do engano dos outros, há que descer à profundidade do ser onde a vida corre como ribeiro imperceptível na floresta da realidade. No mais íntimo de nós mesmos, não só na rota das órbitas, encontramos o mesmo Sol que procuramos lá fora. A opinião é uma pobre membrana aberta à osmose do ser todo que é a Verdade! Nestas condições, passo a ser todo na complementaridade do eu – tu – nós.

António da Cunha Duarte Justo

Pedagogo e teólogo

antoniocunhajusto@google.com


A criatividade segue o Interesse


A Vida não engana, as ideias é que nos enganam! (2)


António Justo

As ideias circulam à volta das nossas preocupações como as abelhas à volta do favo. Não chega tomar consciência das próprias ideias e sentimentos. A disposição está na base das nossas vivências. Não somos enganados pela vida mas pelas ideias que fazemos dela. Para irmos buscar as soluções à fonte da intuição necessita-se de calma para passar os muros do ego. Este produz muitas ideias e sentimentos com que nos identificamos e a que nos agarramos, mas, frequentemente, não passam de ruído, de roupagem. O tesouro de cada um é mais que a roupagem que o encobre. O tesouro da criatividade encontra-se enterrado no campo da vida, como revela o evangelho. Encontram-se muitos talentos enterrados em nós, à espera de descoberta enquanto dançamos a dança dos outros sem descobrir a harmonia da orquestra do nosso interior. A verdadeira intuição dá-se no fluxo da criatividade, lá onde tudo flúi (panta rei), onde tudo é movimento e mudança. Aqui, no âmago de nós mesmos, descobrimos o que é importante para nós e para os outros. Uma vez descoberto aquilo que é importante para nós, a criatividade em nós vai desenvolver respostas e métodos de realizarmos o que descobrimos. A criatividade ao dar resposta ao que é importante para nós premeia-nos com a sensação do sentido realizado.


A pessoa, para quem é importante ser amada, desenvolve todas as formas da criatividade que a levam a ser amada. Para quem é importante a comida, desenvolverá formas de criatividade especiais na arte de cozinhar, criando receitas novas, etc. O sistema do nosso pensamento pode enganar mas a alma não. A criatividade segue o interesse. Trata-se de descobrir se somos nós que fazemos experiências ou se as experiências nos fazem a nós.


É muito importante habituar-nos a escutar e ouvir o sábio que temos dentro de nós, escutar o coração e a razão. O coração tem razões que a razão não vê, dizia Pascal. Neste caso a decisão estará mais perto da verdade. Em questões de diálogo, podemos, então, embarcar com o outro sem o perigo de o aprisionarmos ao nosso lago ou de nos deixarmos arrastar nas suas águas.


A vida é uma grande aventura, aberta em todos os sentidos. O nosso interesse é que determina o roteiro. No mar da vida há muita gente ao sabor das ondas sem timão nem vela porque não descobriu o seu interesse, a sua meta! Para o conseguirmos será preciso transpor as encostas das ideias e sentimentos para se alcançar novas perspectivas. Se queremos ir e ver mais longe há que confiar na visão que vem da intuição, de sentimentos que se alimentam também de dimensões para lá do tridimensional espácio-temporal. Nela se encontra a parte com o todo, se encontra o Alfa com o Ómega; o mar irmana-se com o monte, na nascença do rio. Aqui começa o mistério da relação e do encontro que se expressa na visão cristã, da Realidade como relação tríade.


Na intuição sentimentos e ideias submetem-se a um processo semelhante ao da larva no casulo, que perde a sua forma exterior para se tornar em borboleta! Nela flúi a gratidão e a compaixão que nos identifica e une.


Compaixão e gratidão impedem a enxurrada dos sentimentos formando como que uma espécie de GPS interior. Em vez de nos fixarmos nas curvas da estrada e nos diferentes letreiros (ideias e sentimentos leves) concentramo-nos na condução que leva à meta. A vida é bela, é encontrar-se a caminho na peregrinação universal!


A vida não engana, quem engana são as ideias e, por vezes, certos sentimentos embrulhados nas dobras do pensamento!


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@google.com