QUARTA-FEIRA DE CINZAS – Começo da Quaresma


À Descoberta do Infinito em Nós

António da Cunha Duarte Justo

Com o dia de hoje (Quarta-feira de cinzas), os cristãos começam a época da quaresma, um tempo especial de Jejum e abstinência durante 40 dias. Trata-se de aprofundar a dimensão espiritual da pessoa.

Durante este tempo muitos cristãos não comem carne ou privam-se de algo em favor de alguém necessitado.

Não se trata de renunciar por renunciar a alguma coisa. A finalidade do jejum e abstinência é possibilitar uma experiência de alma especial, uma experiência de interioridade espiritual. Muitos são sufocados pelas experiências de fora sem lugar para a própria experiência, por se encontrarem sempre a correr. Na auto-estrada da vida precisamos de pousadas para satisfazer as necessidades corporais e espirituais.

Geralmente andamos longe de nós mesmos, apesar das doenças que surgem a bater-nos à porta, a chamar-nos a atenção para pararmos e mudarmos o sentido da vida.

A prática do jejum e abstinência destina-se a adquirir a experiência espiritual da proximidade de si mesmo, da proximidade de Deus. O jejum pelo jejum pode reduzir-se apenas a um acto de disciplina, que não nos aproxima nem nos afasta de Deus, pode talvez num primeiro momento levar à auto-observação. A vida é para ser vivida profundamente em todas as suas diferentes dimensões.

Muitos escolhem a semana antes da Páscoa par jejuar intensivamente. Não se trata de experimentar a fome mas de a superar de modo a que o corpo reduza o seu consumo ao mínimo e assim disponibilizar energias especiais que favorecem a experiência espiritual. Esta precisa dum ambiente recatado e de silêncio.

As pessoas não são obrigadas a jejuar. Têm a oportunidade de o fazer. Podem reduzir as turbinas da velocidade ao mínimo. Além da experiência interior verifica-se que se consegue viver com menos e que isto faz bem à saúde corporal e espiritual.

O mundo do consumo traz-nos sempre a trote, desviando-nos do essencial, da felicidade, que é relação. A Páscoa é o símbolo dum objectivo e dum estado de vida na realização da felicidade. Quem tem um objectivo chega a algum lado, doutro modo perde-se pelo caminho ou mantem-se na roda do Hamster.

O jejum consequente levita o corpo e dá espaço ao espírito. O jejum também tem regras a que se deve estar atento para não se prejudicar o corpo.

O tempo da quaresma destina-se também a reencontrar os ideais da vida. O que se tem a mais pode ser deixado para os que têm a menos.

Antonio da Cunha Duarte Justo

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CALOIROS – PADRINHOS – PRAXES – ESPÍRITO ACADÉMICO


Ritualização e Institucionalização da Vaidade à custa do Subordinado

António da Cunha Duarte Justo

Tenho um amigo estrangeiro que frequentou dois semestres de estudos numa Universidade portuguesa e sofreu muito na “Semana de recepção ao caloiro”(1).  Veio desencantado da Praxe Académica (2) e do meio. A sua imagem de Portugal sofreu muito por causa de um certo “espírito reinante na universidade”. Pelos vistos, na universidade que frequentou, reina um espírito rude e uma certa arrogância de classe! O pobre não sabia que “mato não é para ovelhas”!

A vida universitária marca o estudante numa fase importante da vida e deixa geralmente grandes laços de amizade entre os companheiros de estudos. É uma fase da vida especial! Nas praxes estudantis, a cumplicidade de actores na mesma acção, embora, por vezes, problemática, vincula uns e outros no sentido de formar identidades. O ritual académico, por vezes barbárico, revela-se num grande factor de integração. As cerimónias em torno do caloiro, além de promoverem o conhecimento de uns e outros, favorecem os que estão sempre onde querem estar. Ajudam a mitigar a eventual distância de professores e a possível dureza da vida académica. Dão oportunidade à festa da vida!

A prática da Praxe chega a tornar-se num cavalo de batalha entre conservadores e progressistas. Como sempre, a ideologia entorna a vida. Importante é manter a tradição, ilibando-a de extremismos de atitudes, sem matar a tensão, a criatividade de cada geração.

Práticas de humilhação do caloiro, demasiada importância dada ao traje e alusões directamente apelativas ao sexo e à bebedeira, deveriam ser banidas dos rituais; doutra maneira dão razão aos anti-praxe académica. Esta tem a sua explicação histórica e possui o valor psicológico e sociológico que tem; nao legitima porém a humilhação nem a violência. Por vezes parecem impor-se aqueles que se aproveitam da praxe para se armarem em praxadores da afirmação pela diferença e pelo direito prepotente de quem se encontra à frente: um mau exercício para homens e mulheres que um dia mais tarde assumirão responsabilidade na sociedade. Apostar em valores como o respeito pelo traje, o exercício do poder, a importância devida ao facto de se estar à frente, não honram a classe.

A dignidade humana, a distinção no agir académico não podem contemporizar com atitudes ordinárias e rebaixantes, atitudes de mau gosto ou mesmo fomentadoras do sadismo e do narcisismo, doença muito cultivada em Portugal.

As boas vindas aos estudantes mais novos e a ajuda à sua informação e integração no meio académico pode ser alcançada com acções lúdicas desinibidas e rituais específicos. Mas fazê-los correr em cuecas, e submetê-los a certos ritos haka haka (Haca é conhecida como performance de intimidação no início dos jogos) e outros actos ainda menos apetitosos, desvirtua o espírito académico em prepotência neurótica rebaixadora. O argumento de que ajuda a quebrar o gelo inicial não justifica os métodos empregados para tal. Também nada há a opor aos padrinhos desde que eivados do espírito de servir e não de espírito mafioso. Doutro modo a Universidade em vez dum lugar de trabalho e de democracia torna-se na promotora de grupos de solidariedade limitada, em exemplo de tirania.

Esta pedagogia do privilégio académico, de uns dominarem sobre os outros, acentua a cultura da diferença e do posicionamento. Acentua-se e ritualiza-se a posição do superior e do inferior. O poder é aqui experimentado como abuso de hierarquias e não como autoridade.

Dá-se uma forma iniciática à hierarquização da prepotência, arrogância do “doutor” sobre o caloiro, o zé-povinho. A justificação da lei da “Dura praxis, sed praxis” predestina esta classe doutoral de maneira fatídica à legitimação da violência física e psicológica dos de cima contra os de baixo (dos doutores contra os caloiros). O direito de estado antepõe-se à lei e aos direitos da pessoa.

Portugal é um país extremamente assimétrico. O ranço da História foi conservado nas universidades e transmitido por sociedades secretas e organizações afins. A consciência disso deveria responsabilizar a Universidade que contribui, na prática, (resssalvem-se exemplos dignos), para a ritualização e institucionalização da humilhação sub-reptícia que se expressa num sentimento de superioridade à custa do subordinado.

Uma capa de estudante não só serve para encobrir misérias, muitas vezes encobre instintos primários e atitudes irreflectidas que relegam o caloiro para o domínio da animalidade (besta). O caloiro aprende de maneira ritual instintiva que os direitos dependem e vêm dos manda-chuvas de cima. O valor não está nele mas na sua capa e nas relações a estabelecer! O mesmo sente no ar a mãezinha quando, na queima das fitas, vê o seu filho passear a importância de “doutor”. Não se pretende, aqui, ser-se contra as tradições académicas, trata-se é de as domesticar e sublimar.

O estudante português, muitas vezes, está habituado a ser pago pelos paizinhos, não tendo experiência de trabalhos em cafés, restaurantes, padarias, como acontece, em grande parte dos estudantes na Alemanha, que assim dão um contributo para a sua manutenção e experimentam a vida real, aprendendo, na prática, a considerar, como colegas, os que ganham 5 ou 6 euros à hora!

A raiz de certos problemas comuns a uma certa elite portuguesa já se pode observar num meio académico artificial. Muitos paizinhos esfalfam-se para poderem manter os meninos e meninas a estudar sem que estes se tornem conscientes da realidade da vida! Uma sociedade assimétrica, em que uma parte não sabe da outra, corre o perigo de continuar a ser cimentada na artificialidade da honra gratuita favorecedora do parasitismo e do comodismo das nossas elites.

António da Cunha Duarte Justo

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(1)      Designa-se caloiro o estudante do primeiro ano de universidade.

(2)      Praxe são tradições, usos e costumes especiais académicos; têm grande relevo como ritos iniciáticos para integrar os caloiros na vida académica; estes trazem sangue novo e nova vida ao mundo académico. Estas tradições da Universidade de Coimbra (por ex. queima das fitas) são assumidas por outras academias, com variantes específicas.

KADHAFI SERÁ O VENCEDOR DA GUERRA CIVIL


O Povo europeu irá pagar caro a sua má Política

António Justo

Os perdedores deste conflito são já claros: a Europa, a população líbia e a civilização. O Estado cairá nas mãos do diabo ou de Belzebu. Desde que o Islão acordou, quem perderá será o Ocidente e as populações maometanas, como tem acontecido nas guerras com as suas populações!


O Ocidente perde em todo o caso. Perde, se apoiar as tribos rebeldes do Leste líbio, porque assim ajudará o extremismo muçulmano a estabelecer-se na Líbia e não só. O Leste, onde a resistência contra Kadhafi se expressa com vigor, é também o centro de recrutamento do terrorismo internacional de Al-Qaida. A Europa perde com o acolhimento de refugiados (que terá de aceitar por razões humanitárias) pois estes irão engrossar os herméticos guetos muçulmanos na Europa, facilitando-lhes assim a sua estratégia de guerrilha, a partir da sociedade europeia. A Europa perderá também ao reprimir as forças de Kadhafi; este ver-se-á obrigado a incendiar os centros petrolíferos. A Europa perderá também no caso de Gadhafi ganhar a guerra civil, porque este não aceitará mais ser o bastião da Europa, em terra líbia, contra refugiados e terrorismo de Al-Qaida. Quem terá vantagens com a guerra civil será o islamismo extremista. Já se pode prever a guerra civil como na Somália.

NÚVENS NEGRAS LÍBIAS VERSUS EUROPA

Um raio de sol tardio roçou as margens africanas do Mediterrâneo. Uma Primavera no Outono, que, apesar de tudo, faz pulsar corações amantes de liberdade. Nas águas líbias o vermelho dum pôr de sol triste mistura-se com nuvens sombrias a toldar o Mediterrâneo.


Kadhafi lança bombas sobre a população. 150.000 líbios encontram-se em fuga. A liga para os Direitos Humanos(FIDH) fala de 3.000 mortos na Líbia até hoje. Kadhafi será acusado no Tribunal Internacional (IStGH) por crimes cometidos contra a humanidade.


Alguns cabecilhas da zona rebelde do Leste da Síria que antes eram contra a intervenção internacional pedem agora apoio militar internacional para que se proíbam os voos aéreos militares sobre a Líbia. A cedência a tal pedido significaria um ataque à soberania dum Estado e o apoio à oposição com consequências e responsabilidades logísticas semelhantes às do Kosovo. Se a UNO ou o Conselho de Segurança determinar a proibição de voos militares na Líbia, aceita implicitamente o próximo passo para a força internacional intervir. No caso de Kadhafi usar aviões militares, transgride a regra legitimando assim a intervenção internacional tal como aconteceu contra a Sérvia em 1992/93.


Agora que a Líbia quer tomar o destino nas suas mãos já os países fortes se preocupam, querendo até intervir, como se já não tivessem interferido antes. A realização dum tal intento, só revelaria que se não aprendeu nada da História, e que se continuaria a colonização camuflada sob o manto duma dupla moral de humanismo e de interesses económicos. Uma intervenção internacional na Líbia corresponderia mais uma vez ao adiamento da História. A colonização externa impediu a colonização interna da luta entre tribos e serviu-se da rivalidade entre as tribos para conseguir trunfos.


O primeiro passo a dar para a Paz terá de ser a Nível de Filosofias e de Povos

O mundo moderno ocidental – sedentário – nunca compreendeu o mundo árabe – nómada, nem este compreende aquele. São duas formas de estar no mundo: Duas filosofias, duas antropologias, duas sociologias e duas religiões! Depois das invasões dos povos bárbaros, que com o tempo se sedentarizaram, a Europa apenas tinha tido, no seu seio, a experiência cigana, que nunca tomou a sério. Também não tem tomando a sério a cultura árabe interpretando-a mal, projectando nela desejos de libertação não realizada. A sede europeia de dinheiro tem-na levado a negar-se a si mesma e assim impedido também o desenvolvimento dum islão europeu; um islão sedentário.


Embora o mundo ocidental não queira ouvir a sua mensagem, o povo do Magrebe é claro nas suas aspirações. Diz que não quer “nem ocidente nem oriente”; quer ser ele, só ele e a sua cultura! Um povo em marcha não se contenta com a perspectiva do paraíso, quer um futuro mais luminoso com empregos e sem fome, e este encontra-se na “terra prometida”, na Europa. Aqui cai o maná do céu, muito dele trazido pelos ventos vindo de África.


A sua insatisfação, consigo mesmos, com os seus líderes, com o estrangeiro, é natural, numa civilização tipo nómada, entregue às forças da natureza, dada à inércia, cativa de si mesma, explorada pelos próprios líderes e por estrangeiros a eles unidos, vivendo sempre na miragem de encontrar um oásis, um lugar onde colocar uma tenda..


Neste momento a hora da população não é mais que a hora da rua, até que novos tiranos ocupem o Estado e façam dele a sua tenda. Há muita gente boa no Ocidente que vê as manifestações da rua como expressão dum desejo de liberdade. Esta porém será uma liberdade cativa. Os ocidentais, habituados a viver em paisagens culturais lameirentas, junto aos rios, não têm a mínima ideia do que são as paisagens da alma dos povos do deserto e da realidade que expressam!


Esta civilização sustentada por rivalidades tribais, dirigida por déspotas, controlada por “irmandades” e unificada sob uma matriz religiosa omnipotente, não deixa espaço para a autonomia individual e, consequentemente, não tem espaço para a cidadania; quando muito, tem lugar para o homem crente.

Daí a sua impossibilidade momentânea de produzir cidadãos e de gerar “povo” no sentido ocidental. (De notar que também o Ocidente se encontra ainda a princípio duma caminhada que possibilite o crescermos juntos). Ao povo árabe, falta-lhe o sentir sedentário no seu ideário, falta-lhe a experiência de que religião se quer “como o sal na comida”; Sal a mais estraga tudo, torna tudo intragável. Falta-lhe a consciência de “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.


Enquanto a civilização árabe não reconhecer factor geográfico do seu antigo pensar, o seu povo continuará, a ser vítima. Continuará a não ser povo, continuará apenas a ser população a viver na /da queixa. Enquanto continuarem a construir as tendas do gueto onde chegam não se encontram preparados para passarem da mentalidade nómada para a mentalidade sedentária. Só depois de experimentarem a fertilidade da mãe terra estarão preparados para aceitar a mulher para então se tornarem Povo e não ser apenas a população de Maomé guiada por “patriarcas”!.


António da Cunha Duarte Justo

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Povo Alemão dá bom Exemplo ao obrigar o seu Ministro a demitir-se


ZU GUTTENBERG TEM A “POUCA SORTE” DE NÃO VIVER MAIS A SUL

António Justo

O Ministro alemão da defesa zu Guttenberg demitiu-se do cargo de ministro e anunciou renunciar a todos os mandados políticos que tinha, em consequência de se ter descoberto que ele, quando fez a sua promoção de doutoramento, copiou passagens sem citar as fontes. Apesar do ministro ser continuamente bombardeado pelos Media e pela oposição, continuava a ser o político estrela do povo alemão.

A consciência da nação não o podia suportar mais no poder. Vê-se que a democracia neste caso funcionou, embora com atraso. Embora o ministro se agarrasse ao lugar, o Estado teve força suficiente para o não deixar abusar do poder e levou-o a demitir-se. A Alemanha ainda parece acreditar que os políticos não devem mentir.

O atraso na demissão explica-se pelo facto de zu Guttenberg transmitir na sua apresentação uma figura moderna de político activo e resoluto que podia brilhar em público. Isto era bom para a coligação governamental CDU/CSU/FDP mas mau para a oposição, SPD, Verdes e Die Linke, que de momento não têm pessoa equivalente que leve o povo atrás dela.

Zu Guttenberg granjeou a sua popularidade, junto do povo e dos militares, logo, ao assumir a pasta de ministro da defesa, empregando o termo de “ guerra no Afeganistão”,  não aceitando a designação eufemística de” intervenção militar”, como a política prezava até então em dizer. Também se opôs ao subsídio pelo Estado a empresas na falência, ao contrário de sua chefe Merkel.

As elites da nação não podiam aceitar a mentira no seu meio (apesar da hipocrisia que nestes meios possa reinar!). O ministro caiu porque também os doutores viam o grau de Doutor vulgarizado e também, pelo facto da honra da universidade ser posta em causa. 61.000 Cientistas tinham assinado uma carta enviada à chanceler alemã afirmando que a Alemanha não pode manter zu Guttenberg no governo porque nesse caso sofreria “a Alemanha como lugar da ciência e sofreria a credibilidade da Alemanha como país das ideias”.

Estava em causa a imagem da Alemanha, do governo, do exército, do partido e da ciência. Um exemplo estimulante! O caso também revel que, ao lado de muitas mazelas que esta sociedade possa ter, neste país, os políticos não são os donos nem chega a retórica para se justificarem.

Pior que o plágio do ministro alemão terá sido o processo de aquisição da licenciatura de PM português Sócrates.

Também desta vez foi a Internet quem denunciou o caso do plagiato no doutoramento. Uma sociedade cada vez mais atenta!

António da Cunha Duarte Justo

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PRÓXIMO DESAFIO: OS REFUGIADOS


Não há Vítimas! Somos todos Criminosos!

António Justo

Na Idade Média, a Europa construía as muralhas em torno das suas cidades para se defender dos povos bárbaros invasores. Hoje fecha as suas fronteiras para impedir os fugitivos da pobreza e da perseguição. Se então os bárbaros brutalizavam a cultura e as populações por onde passavam, o mesmo não se dá com os novos “bárbaros”. A Europa actual só defende o seu bem-estar. Em vez de fomentar uma nova política para criar perspectivas nos países pobres da emigração, queixa-se da iminente invasão.

A Europa constrói muralhas para impedir que os pobres se sentem à sua mesa; e os pobres árabes que vêm constroem as suas muralhas culturais tornando-se impermeáveis aos outros. Cada um olha o próximo do mirante do seu orgulho. Muralha contra muralha. Lutadores dum lado e lutadores do outro. Tudo berra e reclama mas sem razão. Cada um se afirma contra o outro, cada um a seu nível, ou com palavras, ou com armas, ou com a opinião. São muros cerrados, feitos de culpa e de razão; tudo a lutar na mesma construção.

Os refugiados políticos e económicos não atacam por atacar; apenas fogem à perseguição de regimes barbáricos por nós apoiados. Uma vez cá precisam também eles dos seus guetos cerrados com minaretes bem altos para, para lá do muro, saciarem o longe da saudade.

Os melhores braços necessários para o enriquecimento do país saem sem possibilidade de trabalho para passarem a viver da assistência social.

Que política caricata! Em breve virão pedir asilo os apoiantes de Kadhafi. E nós, humanitários, iremos receber os perseguidores dos movimentos de libertação. Exploradores da exploração e exploradores da população, de mãos dadas, entre embargo e desembargo, na injustiça se dão!

Isto mostra a complexidade da política de asilo e revela a necessidade duma nova política de apoio aos pobres e aos perseguidos nos seus países. Uma política de fomento às bases contra toda a exploração.

Doutro modo, continuaremos a política hipócrita ajudando, política e economicamente, os exploradores para podermos explorar mais à vontade.

O ano passado, apesar do controlo das fronteiras líbias por Kadhafi, o fluxo de refugiados continuou e morreram 500 pessoas afogadas ao tentar atravessar o Mediterrâneo. A Líbia é usada como país de trânsito por perseguidos na Eritreia e no Sudão e também por fugitivos da pobreza e da opressão. O ano passado a Itália acolheu 6.000 refugiados, a Alemanha 41.000 e a Suécia 30.000.

Peritos apresentam o crescimento da população africana como o factor principal do empobrecimento.

A União Europeia treme perante o surto de analfabetos (só o Egipto tem cerca de 30% de analfabetos) e pobres que por isso saem duma pobreza para entrar noutra (pobres da assistência social). O ministro alemão das finanças, Schäuble, já deu a ideia de se criar uma cooperação de migração circular em que fugitivos sejam acolhidos por cerca de três a quatro anos, lhes seja ensinada uma profissão e depois voltem ao país para o fomentarem.

Enquanto continuamos a apoiar ditadores, centenas de milhares fugirão à fome e à opressão (exemplo do Sudão). O problema maior é que só foge quem pode, quem pode arrecadar alguns milhares de Dólares para entregar às organizações transportadoras. De facto, fugitivos pagam milhares de dólares a bandos organizados que lhes possibilitam a saída para a Europa.

Na Europa deparam com uma sociedade, momentaneamente refractária pelo facto dos pobres de cá se verem em concorrência com os de lá.

A Europa, apesar das suas contradições, terá que continuar a funcionar como lugar da misericórdia e da solidariedade, terá que entrar em colaboração económica com os países pobres, com a promoção de projectos económico e parcerias e com Fundações que fomentem a cultura popular e democrática a partir das bases. Precisa-se de solidariedade especialmente com o povo e não apenas com as instituições.

Naturalmente, não pode ser negado que a experiência europeia com migrantes de cultura árabe tem sido má; Nos últimos 60 anos de estadia não se conseguiu a integração. O problema é quase insolúvel porque são dois sistemas culturais por enquanto incompatíveis. Se os ocidentais aspiram à hegemonia económica os árabes e turcos aspiram à hegemonia cultural. No meio desta realidade a xenofobia crescerá. Aqui não há vítimas, somos todos criminosos.

Uma nova política de refugiados terá que saber combinar razão e misericórdia. Também tem ser claro que fomentar democracia significa tornar as fronteiras mais abertas.

Necessita-se duma política humanitária e de solidariedade com base em critérios humanos cristãos. Buscamos as riquezas do petróleo e as preciosidades do solo, mas, em contrapartida, deveríamos deixar algo visível para o povo, sempre que os políticos o não façam: construção de escolas, pontes, pequenas empresas, iniciativas populares de ajudá-los a ajudar-se, organização de mesas redondas.… Uma política que reserva a um sector a exploração e ao outro o benfazejo é perversa. Uma economia humana e democrática terá que dizer a e b ao mesmo tempo, não se reservando para si a exploração do homem pelo homem deixando a caridade ao Estado, às igrejas e outras instituições filantrópicas. Se colocarmos democracia e direitos humanos no centro da política e da economia surgirá automaticamente uma nova ordem, sensível à questão da culpa e da justiça. A desculpa de que ditadores são suportados pelo povo transfere a ética para uma situação abstracta e anti-humana. Num futuro de consciência mais desenvolvida, as empresas económicas terão de criar centros de formação escolar e profissional e outros apoios sociais e culturais ao povo, nas zonas onde se radicam e actuam. Esta seria a melhor política de fomento. Doutro modo continuará a política a não querer saber o que a economia e as finanças causam.

António da Cunha Duarte Justo

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