Política Partidária Tóxica na Alemanha
A Alemanha enfrenta uma crescente crise social e política, impulsionada pela criminalidade associada a refugiados islâmicos, pela insatisfação popular com as políticas de refugiados, pela guerra na Ucrânia e pela polarização partidária. A Alemanha encontra-se na mudança apontando para o poente da razão, da lógica, da arte e da vida que criou e com ela também a Europa que perdeu a noção do centro da sua gravidade geográfica e a bússola cultural que lhe deu o ser…
Neste artigo procuro examinar alguns fatores que contribuem para esse cenário, incluindo ataques violentos, a resposta política inadequada e o impacto na sociedade alemã.
Há factos reais de hábitos desagradáveis e de criminalidade a que as populações (alemães e também estrangeiras) não estavam habituadas no seu dia a dia da vida social e lhes cria um sentimento de insegurança e de desprotecção por parte do Estado (tudo isto se agravou grandemente depois da política de portas abertas da Alemanha aos refugiados iniciada em 2015: por isso alcunham Merkel de primeira “chanceler verde“ e também por ter determinado a extinção das centrais atómicas de energia!).
Os últimos ataques violentos obrigaram os partidos, na atual campanha eleitoral, a não ignorar o tema da imigração de refugiados.
O ataque com faca em Aschaffenburg (26.01.2025), de que resultou na morte de uma criança e um adulto.
O ataque ao Mercado de Natal em Magdeburgo (20.12.2024), com três mortos e 299 feridos, incluindo 68 em estado grave. O assassino tinha uma presença significativa nas redes sociais, com 43.000 seguidores e 121.000 tweets publicados.
Os dados estatísticos sobre crimes com armas brancas são alarmantes: apenas na Renânia do Norte-Vestfália, em 2023, houve 15 mortes e em toda a Alemanha 8.951 casos de lesões corporais graves.
A incapacidade dos partidos governamentais de lidar com as questões do choque de culturas tem desorientado a sociedade que em reflexo de autodefesa tem fortalecido a extrema-direita, representada pelo partido AfD, que agora conta com cerca de 20% de apoio; este é um fenómeno comum em toda a EU porque o cartel partidário e ideológico tem sido posto acima dos interesses das populações e dos estados.
Aumenta o medo e o sentimento anti-estrangeiro entre a população. A vida noturna tornou-se particularmente perigosa para as mulheres, refletindo uma sensação generalizada de insegurança. Exigiu-se demasiado das populações locais que viram os seus hábitos serem suplantados pelos islâmicos. A desorientação e desassossego das populações deve-se ao arrogante desmantelamento sistemático da própria identidade e consciência; desmantelamento este implementado pela esquerda woke que tem muita influência e poder em pontos fulcrais da sociedade e dos governos (em coligação e no parlamento impõem ou bloqueiam medidas razoáveis; a nível social conseguiram até fazer tabu da palavra identidade).
A maioria dos alemães exige reformas na política de refugiados, mas os partidos de esquerda (Verdes e SPD) têm bloqueado mudanças na política de refugiados e por último a necessária colaboração com a CDU na elaboração da lei da limitação de refugiados, e por outro lado acusam-na de alinhamento com a extrema-direita (AfD). Esta posição dos Verdes e SPD é percepcionada como arrogante (por ter levado a CDU à situação de colaborar com a AfD constituída como tabu), por não respeitar a vontade das maiorias e se sentir senhora da democracia.
A recusa dos Verdes e do SPD em cooperar com a CDU na elaboração de leis para limitar a imigração provoca uma polarização partidária muito grave. A iniciativa de Merz clarificou que a esquerda é unânime em não querer resolver as preocupações da população. No parlamento constatou-se uma desconexão entre os partidos de esquerda e a vontade popular. Harald Martenstein comenta em Welt am Sonntag: “Se o SPD e os Verdes não gostam do povo, não seria correcto se procurassem outro povo, no espírito de Bert Brecht?”.
Penso, porém, que os partidos do arco do poder mesmo depois das eleições continuarão a ser os mais fortes por terem também o apoio dos meios de comunicação; mesmo no caso da constituição de um governo minoritário os actores do arco serão servidos.
A deputada do Partido Verde, Katrin Göring-Eckardt, minimizou a conexão entre refugiados e problemas cotidianos, gerando críticas. Parece desconhecer o próprio povo e a situação em que a Alemanha se encontra.
A tática dos Verdes e do SPD de manter leis ineficazes e oferecer respostas superficiais. De facto, quando se encontram no governo condicionam os parceiros a deixarem as leis em “estado de coma” e prestam serviço de lábios em eventos de atentados.
O chanceler Scholz anunciou uma “viragem do tempo”, mas o foco tem sido no aumento do militarismo, em vez de abordar questões sociais urgentes.
A conjuntura atual revela tudo inseguro. Há uma parte irónica e contraditória na política alemã.
O dia 1º de maio, feriado nacional instituído pelos nazistas, é mantido apesar da lógica de Verdes e SPD de rejeitar colaborar com um partido que associam indevidamente ao regime nazista tal como não se pode associar a esquerda ao estalinismo.
O movimento “Avós contra a Direita” reflete a polarização extrema no debate político quando propriamente defende a expatriação da direita; esquerda e direita perdem a razão ao protestarem de maneira tão extrema a ponto de se negarem radicalmente uma à outra: seria o caso de inverter o ditado e dizer: Casa onde há demasiado pão, todos ralham e ninguém tem razão!
A Alemanha enfrenta uma crise multifacetada, marcada por violência, insegurança e polarização política que exacerba as divisões sociais. Para restaurar a confiança pública, é essencial que as lideranças políticas adotem uma abordagem mais colaborativa e pragmática, priorizando a segurança, a saúde e o bem-estar dos cidadãos.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo