O que a Terra não dá promete a Ideologia
António Justo
Kar Lagerfeld designou refugiados que fogem para a Alemanha como os “piores inimigos” dos judeus. Esta é uma declaração polarizadora e demasiado abrangente, como se o grupo de refugiados fosse homogéneo e com uma intenção comum. A generalização ou coletivização, seja do que for, atua fora da realidade…
Antissemitismo encontra-se em todos os grupos da sociedade. Com o seu exagero, Lagerfeld chama a atenção para o problema do antissemitismo que é real e mais presente em grupos religiosos e tradições que se definem e afirmam pelo contra. Infelizmente a sociedade só reage a extremos embora a perseguição não leve a lado nenhum. A Comissão de peritos do Governo Federal chegou à conclusão que na Alemanha há 40% de antissemitas.
“Encantar Flores – Aniquilar Sionistas”, lê-se num cartaz de uma manifestação anti-israelita no Al-Quds-Tag em Berlin ; um dos cartazes era ostentado por uma “inocente” e sorridente muçulmana. Em manifestações pró-palestinenses na Alemanha também se tem observado cartazes com a incitação “Hamas, Hamás! Judeus no gás!”. Antissemitismo que se manifesta tão descaradamente em público é sintoma grave de que no abdómen da sociedade já há demasiados gases e que a sociedade se encontra doente. Porque é que em Neukölln jovens se tornam em pregadores do ódio contra judeus ? O que a terra não dá promete a ideologia surgindo a miragens doutras terras (1)!
A autopunição alemã favorece o antijudaismo ao tolerar a intolerância, por vezes, manifestada às descaradas, como acontece, quando o dia feriado da unidade alemã é aproveitado por organizações de mesquitas na Alemanha para ser declarado e festejado por muçulmanos como o dia das mesquitas (A iniciativa de mesquitas abertas teria sentido se estas propagassem a abertura das famílias muçulmanas a hóspedes alemães!)
Em via está uma “nova fronte antissemítica formada por islamistas, esquerda antissemítica e machismo de direita”. A queimada de bandeiras de Israel em Berlim é mais um sintoma da tolerância da intolerância na praça pública.
Os manifestantes querem desconhecer também a agressividade de grupos palestinenses contra Israel e condenar apenas os actos violentos de Israel contra o Hamas; a opinião pública europeia encontra-se demasiadamente formatada no preconceito contra os judeus devido à falta dos Media que informem nas mesmas proporções sobre os actos violentos da parte palestinense. Não se fala de campo de futebol como arsenal na zona palestinense, nem de crianças usadas como escudo, de escolas e mesquitas a educar para o ódio e para o uso de armas nem da negação ao povo judaico a ter um país onde possa viver maioritariamente.
Por vezes, os Palestinenses são usados, por grupos radicais, como meio de politização para tentar explicar os problemas de hoje. Nota-se uma certa inibição em defender judeus com o medo de se dar razão ao governo de Israel, mas a mesma cautela não se nota em relação à política palestinense do Hamas. As televisões, em vez de mostrarem também a educação sistemática para a brutalidade e para o ressentimento entre parte da população palestinense, limita-se a apresentar crianças que sofrem e choram.
A investigação do parlamento alemão mostra que o antissemitismo cotidiano é, na opinião dos entrevistados, uma categoria “diariamente relevante”. Os concidadãos judeus chegam até a ser responsabilizados pelo nacionalismo e pela política de Israel(em certos meios muçulmanos, “sionistas” é o mesmo que judeus!).
Uma transportadora aérea do Kuwait nega-se a transportar passageiro pelo simples facto de ser judeu. A Liga Árabe ainda não se distanciou do desejo expressado de querer ver Israel desaparecer no mar. Judeus vêem-se obrigados a fugir da Algéria onde são vistos como inimigos do Estado.
Pretende-se que os cidadãos judeus não acreditem na própria nação nem no símbolo da sua cultura que é Jerusalém. Trata-se aqui de sermos solidários com as pessoas sem termos a necessidade de sermos solidário com os “cabeça dura” do poder que utiliza a religião como meio para os seus objectivos imperialistas. Na falta de debates diferenciados a sociedade evita encarar o problema em todas as suas facetas preferindo refugiar-se na crítica ou no louvor de uns ou de outros.
Winston Churchill dizia: “muitos alimentam o crocodilo, na esperança de serem os últimos a serem comidos”. O medo é revestido com o manto do respeito cultural para evitar debater-se com o agressor! O medo fortalece a farsa que o cinismo do politicamente correcto nos dita e leva a confundir o agressor com o agredido. A psicologização da alma do criminoso, na sua consequência, deveria acabar com as prisões.
Embora parte da população queira viver sem ser incomodada, com os problemas dos outros, é necessário alertá-la para os problemas sociais em via para evitar as guerras de amanhã.
O melhor é ajudar, seguindo o exemplo de Aristides de Sousa Mendes que na Segunda Guerra Mundial salvou cerca de 30 mil pessoas de várias nacionalidades, incluindo 10.000 judeus. Hoje com a nossa palavra e exemplo também podemos ajudar a salvar vidas.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
- Um passo na direcção da solução seria criar mais perspectivas para os jovens muçulmanos para que não se vejam obrigados a sentir-se como turcos ou árabes e, de sua parte, deixem de viver sobretudo à sombra das mesquitas. Os imames, em vez de serem enviados rotativamente da Turquia, deveriam ser formados na Alemanha na perspectiva de um islão moderno e respeitador da liberdade da pessoa e de outras culturas. A sociedade acolhedora também não deveria tolerar a sua falta dos alunos à escola, nem o agredir polícias, como se vai tornando moda; na perspectiva da integração, as crianças muçulmanas terão que frequentar jardins infantis interculturais e as famílias muçulmanas, como tais, abrirem-se ao contacto familiar intercultural.