E os Políticos fazem Guerra
António Justo
Todos os povos querem paz mas os políticos fazem guerra. Os governantes encontram-se no poder para realizar os desejos do povo. Os desejos do povo são paz e justiça como se depreende não só dos desejos individuais do cidadão como dos ajuntamentos de massas que demonstram nesse sentido.
Facto é que políticos não respeitam os desejos do seu povo. Em nome do Estado e do Povo fazem a guerra.
À primeira vista o cidadão é bom e a instituição é má. Assim a responsabilidade seria anónima e a guerra uma necessidade da estrutura institucional. Na verdade a responsabilidade está no cidadão governante e no cidadão tolerante. Ao leme das instituições porém não parecem estar os cidadãos normais mas os mais doentes! Deste modo o cidadão normal pode suportar melhor (e até combater) a vista da sua sombra no governante.
Os estados europeus, embora com paz à superfície do seu interior mandam os seus soldados para o Afeganistão para defenderem a sua fronteira lá longe. O argumento de que os terroristas talibans desestabilizariam as democracias ocidentais parece ter algo de fundamento atendendo à solidariedade islâmica que não se distancia deles. Ou será que a guerra é justificada pelos possíveis 1600 biliões de toneladas de petróleo e gás, que se encontram na região até ao mar Cáspio? O Ocidente, para assegurar a passagem dos oleodutos através do Paquistão e do Afeganistão precisa da guerra para adquirir terreno seguro!…
Não haverá estratégias mais económicas e mais humanas de distribuir as riquezas de forma mais equitativa entre os cidadãos e as nações? O mundo moderno, tão futurista e progressista em superficialidades, mantém-se extremamente retrógrado no que respeita ao essencial: a opressão interna do cidadão e a agressão bélica externa. A continuar assim os nossos ministros da defesa terão de se nomear ministros da guerra? Nada justifica a violência seja ela no Afeganistão, no Iraque ou na América a 9/11. Embora ninguém pergunte pelo sofrimento que fica nas vítimas e familiares, permanece nalguns a dignidade da inocência de se ser simples pessoa a questionar-nos. Na hora dos criminosos não resta tempo para as massas porem luto pelos mortos nem para chorarem a sorte dos oprimidos.
Depois dum século com 2 milhões de assassinados pelo regime turco, 6 milhões pelo nacional-socialismo de Hitler, de 25 milhões pelo ditador Estaline na Rússia, e de 75 milhões de assassinados na China sob Mao, o mundo ainda não aprendeu a distanciar-se dos seus psicopatas. Pelo contrário estes encontram sempre admiradores e fãs. Os tribunais internacionais não têm calibre para semelhantes assassinos. Basta-lhes ser vencedores e toda a barbaridade fica justificada. Para os da mó de baixo não há tribunais de apelação!…
Antes os dominadores faziam guerras em nome de religiões e em nome de estados. Hoje uns desculpam a guerra com a pertença à NATO e outros com a defesa de integridades hegemónicas. O povo é embrulhado com argumentos que procuram legitimar agressões ao serviço dos que vivem à custa da opressão, da guerra e da agressão. Estes encontram-se em todas as nações, sistemas e ideologias.
Estes são também os 20% que possuem 80% do produto da humanidade, enquanto que 80% da população mundial tem de sobreviver com 20% da produção. E tudo isto acontece num mundo que se crê civilizado e democrático com os seus paleativos de igualdade, fraternidade e liberdade.
No meio deste mundo maluco e hipócrita muitos cidadãos, impotentes mas não resignados, parecem só encontrar lugar numa comunidade de sentimento de ser sem estar, num espaço existencial para lá da terra, da política e da religião.
António da Cunha Duarte Justo
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