MUDANÇA: MÉXICO PARA A ESQUERDA E BRASIL PARA A DIREITA

Na ressaca da Crise a Insatisfação elege a Oposição

 

Tal como no Brasil, também no México houve uma grande mudança, só que nos sentido partidário contrário.

Enquanto, no Brasil (28.10), Bolsonaro derrotou o governo de esquerda com 55,13%; no México, nas votações de 1 de julho, López Obrador derrotou a direita com 53,3% dos votos.

Os dois líderes adquiriram resultados semelhantes. Os dois catalisaram o mal-estar gerado pelos abusos da governação. Andrés Manuel López Obrador (AMLO) declarou oposição ao neoliberalismo e Bolsonaro declara guerra à corrupção.

 

Um fenómeno interessante que se pode verificar nos meios de comunicação social europeus é a diferente reacção em relação às eleições do direitista Bolsonaro e do esquerdista López Obrador!

 

Naturalmente, o que é bom para um país não significa que possa ser solução para o outro.

 

O México tem 129 milhões de habitantes, dos quais 53,4 milhões são pobres. Em 1917 registaram-se no México 29.168 homicídios. À conta dos grupos traficantes de drogas foram 25 mil assassinatos.

Enquanto os países continuarem a privilegiar as finanças à custa da desestima do trabalho e do trabalhador; enquanto o subemprego bem como a imigração continuarem a funcionar como reserva barata à disposição da exploração e do grande capital; enquanto grande parte do povo continuar a funcionar como serviçal de uma democracia que se diz social; enquanto a corrupção e ordenados monstruosos de alguns poucos for adquirido à custa da miséria do ordenado de muitos; enquanto os governos menos poderosos se contentam em agir como subempreiteiros servindo os grandes à custa do povo e da nação, tudo pouco mais é que uma dança cínica e macabra em dia de enganos.

Isto é o que acontece de maneira velada em Portugal e em especial na américa latina.

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

ABSOLVIÇÃO DE CRISTÃ PELO SUPREMO TRIBUNAL SUSPENSA DEVIDO A PROTESTOS DE RUA

Atestado de Falência do “Direito” que regula o Estado

António Justo

Depois de nove anos de prisão de Asia Bibi, acusada de blasfêmia, a Suprema Corte do Paquistão absolveu a cristã da pena de morte por crime de blasfêmia e ordenou sua libertação; isto na sequência de muitas campanhas a nível internacional pedindo a liberdade de Asia Bibi.

Depois de protestas na rua contra a decisão do tribunal supremo, o Governo paquistanês, em conivência com as manifestações da rua, acordou, com os seus representantes, ignorar a jurisprudência.

Estado de direito e cultura muçulmana excluem-se mutuamente, porque o pleno direito é condicionado ao islâmico. Disto só fala gente “non grata” porque é tabu para o pensar politicamente correcto. Para o ocidente, tudo isto é varrido para debaixo do tapete com o argumento de que são apenas extremistas em acção.

O advogado de Asia Bibi, não se encontra seguro no próprio país e por isso já fugiu para o estrangeiro.

A cristã paquistanesa foi acusada de ter ofendido o profeta Maomé. O tribunal achou as alegações de culpa não suficientemente fundamentadas e por isso ordenou a libertação de Asia (51 anos).

Num verão quente, Asia ofereceu água a duas trabalhadoras do campo. As duas muçulmanas não quiseram aceitar a  água (porque a água vindo das mãos de uma cristã era  impura). Perante isto originou-se uma discussão na qual a cristã supostamente terá dito algo ofensivo sobre o profeta Maomé. A mãe de cinco filhos negou sempre a acusação.

Asia e família estão em perigo de vida (alguns especulam que já se encontrará fora do país)!  Mesmo se lhes fosse dado asilo num país ocidental teriam de viver sob uma outra identidade porque o islamismo encontra-se já por todo o lado. Aqui se vê a fraqueza das nossas leis de asilo que acolhe no seu seio precisamente parte da multidão que no Paquistão grita contra pessoas doutra religião ou etnia. O asilo não se enaltece por dar asilo a pessoas fortes que se tenham distinguido na defesa da liberdade e dos direitos do Homem independentemente de etnia ou religião. Dá-se asilo a grupos internos a quem se vendem armas e deste modo acolhem-se muitos radicais islâmicos.

Asia, agora nem na prisão não estará segura.

Em 2011 o governador da província de Punjab foi assassinado pelos seus próprios guarda-costas por ter criticado a lei da blasfémia. Dois meses depois foi também assassinada a ministra das minorias paquistanesas por ter intervindo na defesa da cristã.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

BOLSONARO GANHOU PARA ALEGRIA DE UNS E TRISTEZA DE OUTROS

A Luta é grande porque o Brasil promete muito

Por António Justo

Depois de 14 anos no governo, o Partido dos Trabalhadores tem de passar o poder para Jair Bolsonaro (PSL) que no dia 28.10. obteve 55,13% dos votos válidos (57,7 milhões de votos) e Fernando Haddad (PT) 44,87% dos votos, (47,03 milhões de votos).

Como se constata, as forças de interesses, num sistema democrático, alternam-se ciclicamente como é natural em democracia. Bolsonaro utilizou dois tipos de rectórica: o discurso abrasado e guerreiro contra a esquerda e a imprensa, no Facebbok e agora, como vencedor, usa um discurso mais conciliador nas emissoras da TV. Na política concreta a alegria passa depressa, o que perdura de seguida é a realidade triste do povo.

Na consequência da eleição de Bolsonaro, a Esquerda vai sofrer, também, pelos erros que fez durante 16 anos de governo, e a Igreja católica por não o ter apoiado. Bolsonaro tinha-se referido depreciativamente à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) chamando-a “banda podre da Igreja Católica”. Esta que se tem colocado ao lado dos índios, dos pobres e da reforma agrária vê-se agora difamada por quem está interessado em fomentar o capitalismo liberal.  Esta Igreja ao lado dos pobres vê-se polemizada também por seitas interessadas no poder, que apoiaram declaradamente Bolsonaro, como é o caso da “Igreja Universal”.

É lamentável que muita da esquerda moderada se deixe levar pela agenda da extrema esquerda, no seu programa anticristão, e não reconheça o esforço da Igreja católica brasileira, na dedicação aos pobres e com a teologia da libertação.  Quem ataca Deus nega o povo; a esperança não relega a vida para o futuro, a verdadeira Esperança vive agora, produzindo já futuro.

Quem nega o direito de existência ou legitimação séria a um grupo, pelo simples facto de ser religioso ou católico, não se deve admirar vendo depois surgir seitas cristãs, interessadas, também elas, no domínio político e deste modo a tornarem-se a sua concorrência. Os extremismos a que se chegou no nosso palco cultural ocidental preparam o solo para seitas religiosas acordarem e sentirem o cheiro do poder; então a agitação ganhará terreno e os atuais partidos passarão a sofrer com a concorrência que provocaram.  A inteligência destes secularistas deveria chegar a reconhecer isso como natural; para isso basta-lhes a experiência do atuar de grupos islâmicos que usam a sua religião política para justificar a sua intervenção. O pior que poderia acontecer seria o fortalecimento de grupos cristãos politizadores da religião, também eles sedentos em participarem do bolo do poder político no Estado. Os seguidores da agenda ligada à “ideologia do género”, no seu radicalismo e na luta contra o cristianismo ao esbanjarem parte dos melhores bens da cultura ocidental, empobrecem o povo, tal como o filho pródigo. Radicalismo fomenta radicalismo! Não se trata aqui de diabolizar um grupo para se afirmar o outro, mas de trabalharem uns e outros no sentido de um equilíbrio. O extremismo ou a consciência dos ultras expressa-se também na maneira fácil como se designa um grupo de extremista. A exclusão que criticam praticam-na eles também. O meio termo suporta os extremos e por isso é mais forte.

Por outro lado, é compreensível a impaciência da esquerda radical da América latina e da Europa que não quer aceitar uma realidade que contraria a sua agenda de luta cultural. Reagem, como meninos mimados por uma imprensa do sistema que favorece o seu discurso. Por isso os mais espertos empenham-se na difamação dos media virtuais (como o Facebook), onde, em parte, domina o discurso popular emotivo e espontâneo (isto enquanto os interesses organizados não estabelecerem, também nestes meios, o seu controlo). A esquerda radical sente a areia a fugir-lhe debaixo dos pés, por toda a parte, e como são activistas, não suportam passar muito tempo a lamber as feridas, porque a luta pelo poder, além de dar satisfação, é também o seu pão.

É triste ouvirem-se vozes, de muitos boçais da verdade e de donos da opinião dos outros, a quererem denegrir o povo brasileiro, por, desta vez, ter votado na “esperança” de melhorar um país que tem grande peso na América Latina.

Depois de tanto delírio no Brasil e na Europa, durante a campanha eleitoral, em que, entre outros, muitos cães de guarda das ideologias se esfalfaram, vai sendo tempo de se entrar na normalidade do dia-a-dia e de cada um regressar à sua loja, seja ela mais ou menos esquerdista ou mais ou menos direitista! A luta de uns contra os outros, não ajuda ninguém.

Bolsonaro é polarizador, mas ele ganhou contra o poder comunista enfraquecendo assim a agenda cultural socialista que vê contrapor-se-lhe o poder dos conservadores e isso é o que movimenta tanto fervor nas discussões. Em termos de luta, de que a esquerda revolucionária é perita, teria a direita muito a aprender, não fosse ela tão acomodada ao status quo!…

Nos meios de comunicação virtual lêem-se, frequentemente expressões indignas e depreciadoras sobre os eleitores brasileiros. E por sua vez, nos meios de comunicação social séria fala-se dos democratas PT e do extremista da direita Bolsonaro. Onde está a isenção? Se se fala do extremismo de direita porque não se fala do extremismo do PT? Ou não será que a base de orientação da opinião pública torce pela esquerda e esconde o seu extremismo lavando-se na critica ao outro?

Respeite-se o voto do povo brasileiro e dê-se a oportunidade a Bolsonaro de mostrar o que vale, após passados cem dias do seu governo. Então a conversa será mais objectiva porque referida a factos concretos e não a possíveis especulações nem à conjura de medos. O medo está normalmente ao serviço dos poderosos e dos que pretendem o poder, por isso estes fomentam o medo deste ou daquele, disto ou daquilo.  Ao poder interessa-lhe é a caça ao voto.

O Brasil inteiro é feito de uns e de outros! Que cada um regue a sua planta é natural, o que seria mal é se, cada qual, tentasse cortar as raízes da planta do adversário. Talvez um dia, quando percebermos que a realidade completa é feita de complementaridades e que a visão dela é apenas um dos pontos de vista, então passaremos a regar também a planta do vizinho para, como povo e como nação, podermos crescer e progredir qualitativamente. Esta atitude poderia substituir o princípio da luta exclusiva como meio de alcançar liberdade.

Nestas eleições os dois candidatos à presidência eram candidatos representantes de forças extremistas. Portanto, não seria inteligente afirmar-se “satanás” ou “Belzebu” porque o cum quibus da situação é que quem afirma aferrenhadamente um, fica automaticamente na pele do outro.

O desejo do povo é pão, paz, honestidade e união nacional! Importante é uma nova política dentro dos trâmites democráticos em benefício do bem-comum de todo o cidadão. De resto, os erros de uns tornam-se em oportunidade para os outros e, na hora da necessidade, – e ela expressa-se em todas as eleições – o povo não pode pensar porque a fome é que manda.

Um bom princípio é respeitar os outros, mesmo que sua opinião contrarie a minha. Em termos cristãos, cada um é livre de escolher o partido da sua inclinação política porque o imperativo categórico do cristão é a pessoa e a sua consciência individual soberana e livre, no empenho pelo bem de todos. Quanto mais cristãos sem medo se encontrarem nos diferentes partidos, talvez estes ganhem mais humanidade, mais humildade e a cultura mais diálogo, para isso os cristãos terão de tornar-se mais cristãos. Naturalmente o ser cristão ou o pertencer a este ou àquele partido não iliba ninguém do erro, porque antes de sermos crentes ou partidários somos principalmente seres humanos e, de momento, a sociedade parece desenvolver-se mais para o radicalismo do homo homini lupus. Quando chegarmos a tal extremo, então a “troika” oligárquica da ideologia e do capital consolar-se-á, porque, nesse caso, a lei substituirá a moral e o governo de uns poucos confortar-se-á com os rebanhos nos seus latifúndios.

António da Cunha Duarte Justo, Pegadas do tempo