Política simbólica ou de Apelo ao Espírito de Sacrifício
António Justo
Os portugueses na Alemanha vêem-se confrontados com uma política portuguesa de emigração reduzida à simbologia e ao apelo ao espírito de sacrifício dos portugueses. Uma política para pobres mas que se permite funcionários ricos. Esta política para inglês ver tem-se vindo a piorar a partir de 1997. A Administração portuguesa, fecha-se nela mesma apenas virada para a resolução de problemas burocrático, intra muros.
Embaixadores e Cônsules parecem ilesos ao bem e ao mal que acontece, não se preocupando com o que sucede ou deixa de suceder. São como os três macacos japoneses que não vêem, não ouvem nem falam. Em relação à comunidade portuguesa foi o escândalo do Ensino de Português (EPE) que desacreditou políticos e administração portuguesa. A nível de serviços sociais foi a transferência do Conselheiro Matos, desaparecendo, com a sua saída, uma certa presença da embaixada do meio das associações portuguesas. A Embaixada de Portugal encontra-se desapercebida no mundo português migrante. Além dumas informações de actividades culturais nada mais sai cá para fora. Portugal continua encerrado nos corredores das suas instituições vendo se reduzido aos fluxos da migração. O associativismo é, duma maneira geral, muitíssimo carente. Depois da era das associações ligadas às missões e à Caritas motivadas pela escola e pela necessidade de apoio inicial e pelo desejo de matar saudades em torno da mesa e da dança, a partir dos anos noventa, assiste-se a um desmoronamento atendendo a que outras necessidades preocupam a nova geração em desfavor da cultura. Naturalmente que se encontram também honrosas excepções. Desde sempre faltou o apoio administrativo e técnico aos dirigentes das associações. Estas tornaram-se em agremiações ad hoc e num caso ou noutro em torno dalgum partido ou iniciativa económica.
O país e os cinco milhões de portugueses espalhados pelo mundo mereceriam mais que uma política simbólica também visível em mensagens e apelos aos portugueses em festas natalícias e outras tal como em apregoações virtuais. As instituições encontram-se muito distantes das pessoas e muitas vezes o trabalho burocrático não permite convívio. O problema, mais que do estatuto da instituição (Consulado, Vice-consulado ou Escritório consular) está no empenho e dinâmica dos funcionários; se são pessoas que visitam regularmente as comunidades ou se o fazem, apenas nalguma festividade. O trabalho burocrático parece ser de tal ordem que não deixa forças disponíveis para o contacto directo com a comunidade nem margem para ideias criativas. O povo, instintivamente trabalhador, é, também cá fora, administrado por dirigentes sem conceitos nem estratégias definidas. Estes, desligados de tudo e de todos, não precisam de prestar contas a ninguém; esgotam-se nos actos das suas liturgias. Enlevados na fragrância do seu incenso conseguem assim afastar-se dos odores do redil. O problema não é de dinheiro; o problema vem de cima; está na falta de pessoal de cúpulas carente de competência, carácter e vontade. É a tradicional “apagada e vil tristeza” dum país que se permite dirigentes “sem rei nem roque nem o diabo que os toque”. Uma elite mediana que se limita a administrar a miséria.
Não há estratégia nem logística administrativa na equação e resolução dos problemas consulares e associativos. O povo encontra-se abandonado a ele mesmo conduzido apenas pelas necessidades mais imediatas de sobrevivência. Atendendo a que os portugueses, a partir da segunda geração, se integram na comunidade envolvente, permanece o problema dos que chegam e dos mais idosos. Os consulados não se encontram vocacionados nem equipados com pessoal para um serviço directo à comunidade. O investimento estatal não atinge os objectivos compatíveis com o interesse nacional.
A devisa do povo é: “quem nao chora não mama” e a devisa do homem de estado e da administraço é quem não gatinha não chega a subir aos miradouros do Estado.
António da Cunha Duarte Justo
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