Plebiscito suíço – O Exemplo da Posição do Povo europeu em Relação aos Imigrantes

UNIÃO EUROPEIA ABORRECIDA COM A VOTAÇÃO SUÍÇA REDUTORA  DA IMIGRAÇÃO

António Justo

O único país verdadeiramente democrático do mundo cria dificuldades às democracias representativas da EU.

50,3% dos suíços votaram pela redução/controlo da imigração.(68% na região de língua italiana, 52% na região de língua alemã e 41,5% na região de língua francesa). De notar que a votação não tem a ver com a cor partidária dado a percentagem das cidades dominadas pela esquerda (vermelhos e verdes) não se distinguir das outras. As associações de gestão económica reagiram com medo das consequências duma política que determine uma imigração demasiado regulada. Os empresários estão interessados na qualidade dos empregados e consequentemente na escolha de empregados nacionais e do estrangeiro. 56% da exportação Suíça é para a EU. Por outro lado, sob a perspectiva de países exportadores de emigrantes torna-se mais injusta ainda a economia de um país que só aceite imigração qualificada.

Em 2013 imigraram para a Suíça 85.000 pessoas; um país em que a população estrangeira atingiu já 23,6% da população, é natural que a discussão seja diferente da de uma Alemanha, com 8% de população estrangeira.

Uma EU do Mercado dos Especuladores e dos Valores sociais

No negócio com os imigrantes, a nação e o patronato ganham mas também há grupos sociais que sofrem sob a concorrência. Na Suíça o povo é o barómetro do estado da Nação e da economia. Nos outros países da EU a situação é diferente porque quem determina o poder público é a burocracia e os diferentes grupos de interesse. A decisão dos suíços é democrática e por isso incontestável para democratas. A EU quer porém que a Suíça, através de desvios legais, não respeite a vontade do povo.

Com a questionação da livre circulação de pessoas, dá-se uma renacionalização dos interesses. Os suíços não querem perder a soberania nacional; querem permanecer uma democracia independente; resistem a ser uma província da EU; o problema fundamental aqui é a questão de competências: quem manda em casa, Bruxelas ou a nação; para mais os suíços verificam que a EU não cumpre algumas medidas referente a ela mesma (dívidas não além de 3%).

A restrição da imigração viria tocar principalmente os interesses dos povos vizinhos, Alemanha, Itália e França. Na Suíça trabalham 300.000 alemães com contrato permanente, não sendo abrangidos por nova eventual regulamentação; o mesmo já se não diria para os 270.000 estrangeiros fronteiriças que se deslocam diariamente à Suíça para trabalhar. Os estrangeiros têm medo que a nova regulamentação venha a ter preferência pelos suíços e só aceite estrangeiros no caso de lugares de trabalho disponíveis.

A maior proximidade entre povo e política tem as suas vantagens e o seu preço. Com plebiscitos predomina a vontade do povo enquanto nas democracias representativas predominam os interesses de grupos. Vantagem: a Suíça é uma verdadeira democracia em que o povo controla o parlamento e diz o que pensa aos políticos; desvantagem: às vezes poderá vencer o sentimento sobre a razão.

Por trás da discussão pública internacional nota-se o medo dos políticos europeus porque sabem que o seu povo não decidiria diferentemente do povo suíço e as suas posições em Bruxelas seriam questionadas se dependentes de plebiscitos nacionais; a nível de nação, há, por outro lado, os que beneficiam directamente da imigração e o povo simples não tão beneficiado pelo sistema e que sofre mais a concorrência directa dos imigrantes. Estes deixam-se orientar mais pelomedo vendo com bons olhos a limitação da imigração a contingentes; também é ele quem sofre mais com a desregulação laboral e as reduções nas redes sociais em via. Certos grupos da camada social média europeia têm constatado que, com o crescimento da imigração, a vida se tem tornado mais insegura nas cidades e a criminalidade aumentado; por outro lado têm medo dos grupos que não se integram, vendo surgir nas cidades uma sociedade islâmica paralela. O povo, que estava habituado a sair à rua sem se preocupar, tem agora medo de ser agredido sem qualquer motivo. Se viessem todos bem e a todos corresse bem a vida, certamente não haveria tentativas de explicações mono-causais dos fenómenos que assolam a sociedades europeias. O povo nota a degradação de uma sociedade sem saber o porquê e, naturalmente, procura ver as causas nas coisas mais imediatas; por outro lado sofre a pressão da opinião correcta que não admite um tom crítico em relação a estrangeiros. Assim se uma pessoa fizer a afirmação objectiva de que no último ano apenas um quinto dos emigrantes turcos que vieram para a Alemanha vieram à procura de trabalho, isto já pode ser considerado como atitude xenófoba.  Embora eu seja estrangeiro não posso fechar os olhos aos factos nem limitar-me a uma observação mono-causal dos factos.

Embora a EU se baseie na livre circulação de capital, serviços e pessoas, muitos vêem na livre circulação de pessoas uma construção falhada, tal como a do Euro. Embora o alargamento da EU para a Bulgária e Roménia beneficie a posição da Alemanha, também ela geme porque, só nos últimos anos, houve, relativamente a estes dois países, uma subida de 300% a receberem apoio social; na Alemanha, cada vez é mais forte o medo de uma imigração para os sistemas sociais. De facto o tribunal alemão decretou que uma família espanhola imigrada que não encontrou trabalho tivesse direito a assistência social o que corresponde para os quatro membros de família a 1033€ por mês sem terem ainda contribuído para os serviços sociais. No meio de tudo isto que ganha é a Alemanha que consegue manter a produção no seu país e ainda é premiada com imigrantes qualificados que a enriquecem à custa do empobrecimento demográfico dos países de envio.

Os políticos da União Europeia estão sob choque com os resultados da votação do povo suíço. Uma Europa habituada a fazer leis a nível de Estado, sem consultar o povo e em que a maioria do próprio povo se identifica com os resultados do plebiscito suíço, tem razão para se tornar inquieta. Os políticos têm medo das ondas que a decisão Suíça irá causar nas próprias populações; isto obriga os políticos a reflectir sobre as consequências da liberdade de circulação na EU. A EU foi construída com pés de barro. Na EU, nos últimos 10-15 anos, tem-se assistido a uma transferência de dinheiros das bases para as cúpulas. Os estados fortes querem uma concorrência aberta e global também a nível de pessoas porque melhor servem os seus objectivos nos seus pontos fulcrais da economia e de compensação da fraca natalidade (os mais jovens irão manter as pensões dos mais velhos). Na Alemanha um imigrante permanece em média 22 anos, o tempo em que é mais produtivo. Sempre foi um facto que as regiões onde o desenvolvimento é maior, sempre atraem as pessoas. Uma EU a querer ser construída em torno de valores éticos e sociais não pode construir um sistema europeu em que os países do núcleo vivam do roubo da juventude dos países da periferia, em vez de criar lugares de trabalho também na periferia.

O povo suíço determinou por plebiscito, dentro de três anos, limitar da imigração. A Suíça não é membro da EU mas tem o estatuto de associado desde 1999. A liberdade de circulação de pessoas concede o direito de viver e de trabalhar livremente nos Estados da Suíça e da EU, desde que tenha um emprego, trabalho independente ou meios suficientes para subsistir.

António da Cunha Duarte Justo

Jornalista livre e independente

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Emigrante: Um Recurso político e económico desperdiçado

A Conotação negativa do Emigrante

Na Penumbra de Portugal o Cheiro a Povo não faz mal

António Justo

Num país exportador de” recursos humanos” e em que a vida económica é muito enriquecida pelo contributo dos emigrantes, não parece lógico haver preconceitos contra os emigrantes.

Um certo preconceito conotou a palavra emigrante de algo “negativo”, algo com cheiro a província, a povo, a tradição, a fado, e a folclore! Observa-se aqui um fenómeno paralelo ao que se iniciou com o 25 de Abril em relação a fado, Fátima e futebol; estas eram palavras que pareciam não ter o cheiro de um curral novo progressivo-burguês. Uma questão já tradicional dentro de um curral que se vai contentando em mudar de nome.

Quem se arma, em Portugal, não aguenta o cheiro a povo e até certas palavras têm que ser lavadas com lixivia para perderem a ocasional má conotação. O inocente da questão está em se resolver os problemas mudando-se as palavras. Hoje, em vez de se dizer Emigrantes prefere dizer-se “Portugueses residentes no estrangeiro”; não é bem por snobismo mas pelo aroma académico com que se quer prendar os novos emigrantes, ou talvez, para não haver confusões entre o velho e o novo! Antigamente o português saía da terra para fazer pela vida, por razões de pobreza e pelo facto de a terra não ter lugar para ele se desenvolver; hoje sai-se da terra à procura duma vida mais digna que a carência da terra não dá. Antes o povo saía de fugida ou imperceptivelmente, hoje sai aplaudido pelos meninos duma política, sem pudor, que o convida a emigrar! O facto é que, ontem como hoje, a emigração faz parte da penumbra de Portugal onde o cheiro a povo não faz mal.

Os tempos mudaram. Antigamente Portugal era nosso, hoje já não é. Hoje somos mundo; temos um Portugal menos português mas mais mundano e bem trajado, numa sociedade de ideias mais penteadas e alinhadas.

Ontem vinha a província à cidade, hoje vai a cidade ao mundo, ficando muita gente já não sob os arcos da ponte mas sob as rodas da máquina. Naturalmente, a saída é uma decisão que não se faz de ânimo leve porque quem sai deixa muito, encontra a soledade e, se voltar, não volta o mesmo.

O Contributo do E/Imigrante não reconhecido na Opinião pública

Não há família portuguesa sem um membro no estrangeiro, sem alguém que não tenha saltado os muros para recuperar a vida digna que parecia nas mãos de outros (os Media referem cerca de quatro milhões e meio de portugueses a viver fora de Portugal)! Os portugueses residentes no estrangeiro são o símbolo da vontade e da aventura, o símbolo de um Portugal onde a nação não dorme. Ontem como hoje, são estes os melhores mensageiros de humanidade a espalhar o património cultural e humano por todo o mundo e a melhorar a qualidade de vida em Portugal.

Segundo relatos oficiais estatísticos de 2006, por cada dez emigrantes portugueses há um imigrante em Portugal. A importância do imigrante é cada vez mais relevante também por contrariar o envelhecimento drástico da sociedade portuguesa. Agora Portugal sente-se de rosto erguido por se contar entre os países importadores de pessoas que procuram uma vida mais digna.

A opinião pública portuguesa ainda teima em ignorar o emigrante, ou em recordá-lo como pessoa simples de mala na mão, com cheiro a bacalhau e a fado churrasco.

Os Media falam e com justiça do contributo dos imigrantes em Portugal mas calam geralmente o contributo dos emigrantes. As freguesias envelhecem e sangram no êxodo da sua gente nova. Noutros tempos e ainda hoje muitos emigrantes funcionam como programas de fomento da terra, como fomentadores do bem-estar, garantidores de biscatos e emprego, de compensadores de assistência social. No sentido de aproximarem costumes e povos tinham também uma função parecida à dos trovadores!Mas, no meio de tudo isto, os bancos são os que mais beneficiam com as remessas tendo em conta o aspecto da sua liquidez e de aplicações.

A diferença de trato de imigrantes e emigrantes, por certos sectores da sociedade, até se torna compreensiva atendendo aos interesses das diversas forças sociais nacionais e à pressão da observação internacional. Enquanto os imigrantes se tornam interessantes para os partidos, na qualidade de possíveis adeptos, e pela sua potencialidade na qualidade de votantes, os emigrantes encontram-se longe, descuidando o voto e não são tão influenciáveis às ondas locais. O grande prodígio da emigração ainda não acordou para o seu poder. Também as cúpulas dos partidos em Portugal ainda não acordaram para a sua grande missão de intervenção cívica. A Portugal interessaria uma presença partidária, quer de esquerda quer de direita, integrada nas constelações e famílias partidárias dos países de acolhimento! Neste sentido terá de haver uma consciência portuguesa e talvez algumas das verbas desperdiçadas em honorários de embaixadas e consulados pudessem tornar-se mais úteis se aplicadas no fomento da integração dos luso-descendentes na maquinaria do poder dos países de acolhimento. É preciso motivar a juventude a participar nas estruturas dos partidos e nas iniciativas cívicas.

A opinião pública tem um grande défice de informação no que respeita à necessidade de mais informação positiva sobre e/imigração.

A globalização e o transnacionalismo fomentam as migrações, o que pressupõe uma consequente política empenhada na inclusão e também na recepção de imigrantes que não se afirmem pelo gueto. O momento que a Europa atravessa não é fácil para emigrantes nem para imigrantes. Em tempos de recessão, o maior combate a uma economia informal atinge mais duramente uma parte dos imigrantes. Nestas questões é necessário pensar-se a longo prazo: por muita imigração que tenhamos o défice demográfico continuará a ser alarmante.

Voltando ao problema do trato dos emigrantes! Quem vive numa Alemanha pergunta-se: porque é que os emigrantes alemães não têm conotação negativa na sociedade alemã? Também eles saíram para melhorar a vida. Porque é que não se nota neles aquele nosso preconceito burguês do estatuto social como substrato do nosso ser e pensar? Porque é que se pensa no “lá vêm os emigrantes”, que parecem levar tudo na enxurrada, e não nos turistas portugueses a dar vida ao mercado? Porque apostar sempre na diferença pela negativa? O facto de os emigrantes terem a experiências da terra e do estrangeiro torna-os, por vezes, impacientes, indiscretos e ousados, à frente dos balcões dos bancos e dos serviços públicos; isto não deve ser o suficiente para serem olhados de lado! Ou será aquela inveja fina de cara para inglês ver acrescentada de um espírito burguês a roçagar nas almofadas das cadeiras dos nossos locutores?

 

À parte a emigração por razões políticas, torna-se duvidosa uma acentuação epidérmica da diferença da emigração de há 50 anos em relação à de hoje. Isto torna-se caricato e perigoso porque pretende, por um lado, fazer passar um certo snobismo português para um campo impróprio e, por outro lado, desvia a questão dos grandes problemas que estão na base da deslocação de grandes massas migratórias. A emigração, na sua grande maioria, é fruto da má organização de estados, da sua incapacidade económica (pobreza) ou da sua instabilidade política.

Falar de uma Europa sem fronteiras, também revela memória curta. O grande intercâmbio europeu da classe nobre e burguesa até ao século XIX, onde havia grande permuta de cultura, não deveria ser considerado um capítulo à parte. Também então não havia propriamente fronteiras; os interesses das famílias nobres e do clero abatiam-nas! Hoje a ditadura da economia só está interessada na permuta de serviços e dinheiro e despreza a cultura!

 

António da Cunha Duarte Justo

Jornalista Livre e Independente

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Facebook no seu 10° Aniversário

Falta de uma Disciplina escolar sobre os Media

António Justo

Facebook, no seu 10° Aniversário, tornou-se, para 1,23 bilhões de utilizadores, numa rede necessária e importante para a modelação de contactos e comunicação. Observa-se a tendência dos utilizadores para tornar público o que, por vezes, pertenceria à esfera privada.

Os proprietários do Facebook vivem do negócio da propaganda e também da ignorância de utilizadores relativamente às condições de utilização. O Facebook organiza perfis sobre inclinações, necessidades e gostos de cada um dos seus utilizadores, transmitindo, depois, dados específicos de interesse para as firmas que recorrem à propaganda personalizada para venda dos seus produtos.

Google e Facebook encontram-se à frente de qualquer outros provedores das redes digitais devido à quantidade imensa dos seus utilizadores que, por isso mesmo, já as torna atractivas. Facebook afirmou-se perante os concorrentes AOL e Yahoo com uma volume de negócios diário de 7,9 bilhões de dólares em vendas provenientes de Publicidade e de jogos-online, conseguindo apurar um lucro de 1,5 bilhões de dólares. 757 milhões de pessoas usam diariamente o Facebook, e a média de amigos por utilizador são 342; o máximo de amigos permitidos são 5.000.

O Facebook, ao ser uma plataforma comum para as diferentes gerações, também traz os seus inconvenientes; os filhos, por vezes, não se sentem à-vontade numa rede em que os pais também navegam! Há entretanto nichos como Foto-App Snapcht, WhatsApp, Twitter, onde pessoas com interesses semelhantes se podem expressar.

Facebook é um bom instrumento que também pode ser usado para o mal, como mobbing, abuso das informações disponíveis, espionagem, difamação, etc. Isto não constitui argumento para nos afastarmos do Facebook ou da Internet. Importante é saber do proveito que se pode ter de tais redes mas ser consciente dos perigos inerentes ao sistema dos Meios de comunicação social.  

 

Escola na Era da Informação

Precisamos de inserir na escola o ensino sobre Media digital e Media em geral.

Numa era em que os MEDIA determinam grande parte da nossa maneira de pensar e viver, é incompreensível que na escola não haja, logo desde o início, aulas sobre as redes sociais para que os alunos sejam capacitados para o uso e consumo consciente das mesmas.

Precisamos de uma escola que não só nos capacite para nos afirmarmos em sociedade mas que nos advirta para os problemas de quem a controla e orienta. De facto seria sínica uma política de ensino que interfere por um lado na esfera sexual individual, tratando-a a nível escolar até ao pormenor, mas, por outro lado, em questões de formação e de manipulação da opinião nos âmbitos em que ela mesma explora o cidadão se mantenha ausente, não manifestando interesse em tematizar a questão do negócio que se encontra por trás das políticas e monopólios dos Meios de comunicação social. É natural que o Estado não pretenda fomentar o pensar crítico, pois está interessado em cidadãos cordeiros que o sigam e sirvam os próprios interesses mas sem grande capacidade de intervenção. Atendendo a estes pressupostos só, a nível local poderão surgir iniciativas privadas que apoiem as escolas locais na sua missão de instrução.

Vivemos numa sociedade da Informação, pelo que uma escola que não tenha , nos seus planos dos quadros de formação, a realidade dos Media normais e digitais, no aspecto de uso, crítica, busca de identidade e orientação, não prepara para a época em que vivemos!

A vigilância total prevista por George Orwell encontra-se momentaneamente em plena velocidade.

António da Cunha Duarte Justo

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Emigração empacotada em Papel couché

Da Força muscular à Energia cerebral- Colonialismo e Desenvolvimento

António Justo

Ontem era a pobreza da terra e do interior que obrigava a emigrar. Hoje juntou-se-lhe a pobreza das cidades e dos Estados a testemunhar uma EU de política desigual. A emigração das periferias para os centros serve a exploração dos povos ricos sobre os pobres. No tempo em que as máquinas precisavam da força muscular, os países fortes importavam a força muscular humana, hoje que nos encontramos no tempo das tecnologias de ponta, importam as energias cerebrais humanas, sorvendo o pessoal formado à conta dos povos marginais.

A crise na Europa alastra com tal raiva que muita da classe média já se encontra quase no mesmo pé que a baixa antiga. Em nome da nova mobilidade, das pessoas em direcção às máquinas, continua-se a refinada e velha tática de levar as pessoas às máquinas e não as máquinas às pessoas. O sistema da velha colonização mantem-se, evoluiu apenas a fineza! Os países fortes antigos são apelidados de colonizadores, os de hoje dá-se-lhe o meigo nome de desenvolvidos!

A tristeza é grande e ainda se faz propaganda dela! O snobismo, de um Portugal novo-rico, testemunha a falta de patriotismo e de formação, ao estimular, oficialmente, académicos desempregados, a procurar trabalho no estrangeiro. Em 2012 emigraram 120 000 portugueses e em 2013 outros 120 000 num total de 240.000. Destes, 20% tinham um curso superior.A Incompetência do Estado dá sustentabilidade à emigração.

A carência portuguesa actual passa agora a ser empacotada com papel de lustro académico; este deve substituir a miséria do antigo papel de embrulhar bacalhau e salpicões; a nova diáspora distingue-se pela diferença do lustre que deve limitar a vergonha à antiga.

A elite do nosso Estado, como atestam os escritores dos últimos dois séculos, sobressai pela sua situação parasita a viver dos impostos do Estado e das remessas da emigração. A classe política fala agora desavergonhadamente da “nova diáspora” dos emigrantes com estudos, no desdém pelos antigos.

Fala-se da necessidade de se aproveitar “a potencialidade” da “nova diáspora”. Tal é a crueldade dos bastardos da economia, tal é a fome canina que se aproveita das migalhas deixadas pelos portugueses obrigados a sair para o estrangeiro. Portugal nunca deixou de “ tirar partido” das remessas dos emigrantes para cimentar a inércia governamental e a preguiça mental da Assembleia da República.

Quem sai não grita e ainda manda uns milhões! Segundo o Banco de Portugal, as remessas dos emigrantes atingiram, nos cinco primeiros meses de 2013, 1,14 mil milhões de euros, o que correspondeu a uma subida de 9,12%.

Portugal tornou-se num país sem capacidade empreendedora. Na TV e na discussão pública não há lugar para quem produz nem para as firmas de sucesso; a arena pública é ocupada pelos conhecidos sobas dos partidos e por algum boçal mais letrado. Quem berra, fá-lo de estômago bem recheado, continuando a fazer por um Portugal da meia-luz onde a esperteza tenha conjuntura à custa da inteligênciasoterrada na virgindade do povo.

O Português novo-rico perdeu o espírito de risco, o espírito de empreendedor, para viver do espírito de funcionário. A estrutura suporte do pensar português, para lá da fantasia, contenta-se com coisas pequenas que possa controlar, satisfazendo-se a olhar para o resultado que pode ter do que faz. Cada um é módico, contenta-se em ter algumas ovelhas que o admirem ou verga-se a qualquer coisa.

O problema do povo português vem do facto de tudo correr por amor à camisola sem se preocupar com o que ela encobre!

Portugal encontra-se hoje, tal como no século XV e XVI, à frente da civilização. Outrora à frente da expansão e agora à frente do seu colapso.

António da Cunha Duarte Justo

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PADRÕES PORTUGUESES DA EMIGRAÇÃO

 

ANIVERSÁRIOS DAS COMUNIDADES MOTIVO PARA MONUMENTOS DA MEMÓRIA

 

Cinquentenário dos Portugueses na Alemanha

 

António Justo

 

Emigrar é passar a um outro estado, transpor limites, tornar-se acrobata anónimo, a dançar a vida, na linha das fronteiras.

 

Uma data, um acontecimento pode ser uma ocasião para repensar e unir povos ligados pela emigração. A comemoração dos 50 anos dos Portugueses na Alemanha poderia tornar-se num ensejo para reforçar laços e fomentar padrões da memória migrante por toda a parte: França, Suíça, Canadá, USA, Alemanha, etc.. Os emigrantes estão de parabéns pelo que fizeram e fazem por Portugal e pelos países de acolhimento! Porque não deixar maior testemunho desta grande força e obra aos nossos vindouros? Emigrantes são obreiros de futuro, pessoas de vida na mala (https://antonio-justo.eu/?p=2570). Emigrantes não têm lugar no panteão nacional mas deviam tê-lo no santuário da memória colectiva de um povo. Se o povo migrante não toma iniciativa e o não faz, menos poderá esperar que o façam os que beneficiam do nosso trabalho.

 

A celebração  do cinquentenário dos portugueses na Alemanha, ou noutro país, poderia dar oportunidade de se criar uma iniciativa que, com o apoio de patrocinadores, construísse, em Portugal e ou na Alemanha, um monumento dedicado aos emigrantes portugueses. Não seria difícil encontrar alguma terra em Portugal e ou na Alemanha onde as autoridades locais não se mostrassem dispostas a apoiar tal iniciativa. Uma tal iniciativa poderia partir da Comissão organizadora do cinquentenário, das associações, de uma força política, de um Banco, das missões católicas ou de qualquer outra organização e certamente tornar-se-ia um exemplo para as comunidades portuguesas da diáspora em todo o mundo.

 

Novos Padrões da Portugalidade

 

Imaginem os portugueses que todas as comunidades espalhadas pelo mundo concretizavam tal iniciativa! Portugal e o mundo encher-se-iam de Padrões da mais genuína portugalidade. Sim porque aos padrões dos descobrimentos seguir-se-iam os “padrões” da emigração. Estes ficariam por todo o mundo a erguer a voz daquela parte do povo que fica, sem se ver, debaixo da terra, a fazer de alicerce a grandes construções.

 

Trata-se-ia de criar áreas da sensibilidade e de sensibilização de um espaço migrante onde se materializam sensações, aspirações e questionações, de trajectos e projectos de vida, de sentido e não sentido, do Portugal migrante. Nos monumentos aparecemos, recordamos, representamos e comunicamos algo para aqueles que os rodeiam hoje e amanhã.

 

É hora de se criar monumentos quentes fora das estatísticas frias e das conversas burocráticas, monumentos que mostrem vidas, vividas e não vividas, na procura do caminho.

 

Precisamos de monumentos que testemunhem a ausência e a saudade de vida e humanidade. Aquela ausência muitas vezes recolhida no canto da saudade, que se refugia na mala da recordação onde há cartas embrulhadas por lágrimas que as abrem de novo. Nelas o mundo passa ao longe e acena; depois a saudade vai à igreja onde muitas vezes ajoelha para ganhar força e se juntar numa alegria que paira no ar das festas da associação e onde se associa e junta uma voz longínqua de timbre a gaivota que voa no mar de saudade.

 

Celebrações da Aventura do Trabalho e da Honradez

 

Mais que casas da memória dos emigrantes portugueses querem-se “padrões” da recordação, sinais, vestígios, monumentos da aventura, do trabalho e honradez, espalhados entre as cidades e as nações; querem-se bastiões anti-preconceito  e manifestações de  vida compartilhada, de  solidão e ilusão, gerados na vontade de  testemunhar reconciliação. Aquela presença, por onde passamos, quer monumentos pequenos à laia de marcas que sem cair resistam ao tempo, e fiquem como destaques do povo baixo que mantem a lusitanidade e a humanidade universal num contexto popular, já não agressivo de poder. Portugal humilde emigrante, fragmentado nos monumentos quer ver testemunhada a viagem de um povo na procura de si e de alguém que o complete.

 

De nós não fica nada se não deixarmos a dor na pedra gravada como marcos de referência contra o esquecimento de um testemunho diferente em que a arte mantenha a tenção entre o real e a representação. Precisamos de criar corredores de monumentos que se tornem em veículos da lembrança e da humanidade. Não se trata de perpetuar a nostalgia do glorioso passado mas a história de heroísmos vencidos, de pessoas heróicas, sem presente nem passado, num futuro presente. Queremos as ruinas do presente a testemunhar o futuro do passado presente. São monumentos também da dor num vazio presente a lembrar a nossa ausência, a voz do perto, gravada na pedra da distância: o longe da presença ausente na sociedade de origem e de acolhimento. Muitos dos monumentos poderiam ser padrões expressão de gente sem rosto, de gente a passar como a brisa, a lutar contra a entropia e a testemunhar a entropia vigente.

 

O monumento é, como a palavra o diz: um desejo legítimo de quer manter na mente colectiva um fenómeno humano que os vindouros interpretarão. Estes seriam sinais de uma nova mentalidade, monumentos sem segundas intenções a perpetuar a lembrança do destino de povo em benefício de povo e não de ideologia ou de desvarios de poder. Seriam sinais do não poder, sinais da esperança que vive nas sombras do poder. O seu valor legítimo histórico radica não só num período mas também num fenómeno sociológico verídico que se mantem a querer expressar uma história a lembrar valores de povo.

 

Evoco aqui a ideia de padrões porque lembram o granito daquele norte e de vontades fortes e não de poderes estatais ou de pretensões; seriam padrões sem armas nem bandeiras, sem símbolos de poder mas simples recordação de presença na voz da impotência a construir honradez e humanidade.

 

Seria óbvio, e no interesse de uma política da cultura e da memória do Estado português, que órgãos da emigração e repartições da cultura e do MNE considerassem projectos como estes.

António da Cunha Duarte Justo

 

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