Tumultos na Inglaterra – Erupções do Grau Cinco na Escala de Richter
António Justo
Por toda a Europa há sublevações nas camadas fracas da sociedade. Os arroteamentos levados a efeito pelos exploradores do planeta revelam-se destruidores de meio e ambiente, não tanto pela mudança climática originada mas pelo desequilíbrio provocado nos biótopos naturais, culturais e económicos.
Nos bairros pobres das cidades respira-se uma onda de insatisfação, na Bolsa garça a tempestade e na política a incapacidade. As irregularidades climáticas e sociais parecem fazer parte dum mesmo fenómeno: perturbação crónica de identidade na sociedade e no cidadão.
Depois dos tumultos surgidos na Inglaterra, o Primeiro-ministro David Cameron proclamou querer “reparar o colapso moral da sociedade partida”. Como se a tarefa dum povo inteiro pudesse ser resolvida por um governo ou partido!
Esta enxurrada de violência causou a morte a cinco pessoas, provocou prejuízo de milhões de Euros e deixou uma ânsia na sociedade, que se pergunta: onde e quando surgirá o próximo tumulto? Este é certo. Por toda a Europa há tensões, explodindo, aqui e acolá, os problemas sociais provocados por um capitalismo predatório e por uma política “multicultural” ingénua e alienatória.
Tudo consequência de sociedades partidas com posições contraditórias que se afirmam à custa do povo e das instituições dos Estados. Países, sem uma filosofia de Estado coerente e sem tecto metafísico, encontram-se a saque de elites cuja estratégia se reduz a um sistema de competição ideológica e de produtos: mercantilismo guiado por um pragmatismo altivo! A pilhagem torna-se ordem de acção; à disposição encontra-se o povo e a cultura nacional. Para as elites chegam as palavras mágicas, “democracia”, “trabalho”, “competição” e “opinião”. Para dar consistência a estas criam leis e impostos, como substitutos duma ética reguladora da vida. A desintegração progride.
Os exércitos do futuro receberão novas tarefas, como vanguarda da polícia. Esta passará a proteger apenas os interesses dos beneficiados do Estado. O inimigo deixou de estar fora das fronteiras, vivendo agora dentro delas!… O povo tornou-se suspeito para os governantes e já não se sente em casa na própria nação (O seu biótopo natural/cultural é sistematicamente destruído). Tem de estar sempre em estado de alerta como se fosse um apátrida ou um desertor. Os mercenários do turbo-capitalismo e seus acólitos apoderaram-se do seu tecto, não sente dores de consciência pela crescente sociedade precária.
Violência atrai violência
Todo o mundo parece chocado com a brutalidade das imagens que passam na TV e com a incapacidade do Estado para reagir adequadamente. Em vez disso, governo e oposição dão-se as culpas um ao outro, só para distrair o povo da procura de soluções.
À juventude (autóctone e migrante) são roubados o interesse e a vontade. Esta não tem oportunidades, só pode reagir, ao receber um ordenado que não lhe chega para viver ou ao bater às portas do Estado. Os serviços sociais são tão vantajosos como os empregos. A inteligência deu lugar à esperteza!
A integração foi negligenciada. A multicultura tem sido imposta de cima. A máquina de sociólogos e de peritos em criminologia procura descrever o caos em via. Limita-se a explicar o fenómeno porque uma diagnose exacta sobre as causas seria dolorosa para todos, além de exigir a coragem de se ir contra os credos propagados pelos detentores do poder e da opinião.
Na sociedade, domina, cada vez mais, um sentimento de impotência perante as multinacionais do petróleo, da energia e do gás, bem como perante a carga dos impostos impostos pelo Estado, carga esta que tende a asfixiar os trabalhadores e a destruir a classe média, cada vez mais reduzida aos funcionários superiores do Estado e seus detentores.
Um Estado sem competência nem perspectivas só pode fomentar o medo e violência. Os avisos claros duma sociedade doente e em ebulição são claros. Os passados tumultos de França, as revoltas anuais de Maio em Berlin e Hamburgo, e agora os tumultos na Inglaterra são o indício claro duma sociedade em franca autodestruição.
O rastilho já se encontra nas grandes metrópoles. Qualquer faísca os pode acender!
O trabalho de casa que as nações não fizerem hoje ficará para a sociedade de amanhã. Os nossos filhos e netos ver-se-ão obrigados a revoltar-se contra um Estado saqueado, um meio-ambiente destruído, lixo atómico e os destroços duma cultura desalmada.
António da Cunha Duarte Justo