ENSINO VOCACIONAL (PROFISSIONAL) – NAS PEGADAS DO ENSINO DUAL DE MODELO ALEMÃO

O Fomento Ensino Dual dificultaria a política do deita abaixo para poder saltar para cima

Por António Justo

O Estado português investe 4,5% do PIB nacional no ensino enquanto os países da OCDE investem em média 3%; apesar disso e do muito esforço o MEC colhe magros resultados em termos comparativos com outras nações. (1).

Em Portugal, o ensino da via única iniciou-se com a ideologização da sociedade portuguesa do 25 de Abril. Em 1974 o Regime de Abril (III República) extinguiu o ensino técnico e profissional, até então de grande qualidade, e, em grande parte, nas mãos do ensino católico privado. Ainda é conhecida a fama das Oficinas de S. José em Lisboa, do Colégio dos Órfãos no Porto, dos colégios de Izeda e de Vila do Conde e muitas escolas profissionais católicas, espalhadas pelo país que preparavam operários especializados e mestres de nome. O regime de Abril optou pela via única do liceu para todos (2) porque aposta mais na ideia do que na realidade.

Ao contrário do que acontece em Portugal, o ensino, na Alemanha, é estável, os professores são tratados com respeito não sendo incomodados no seu trabalho com intervenções contínuas da burocracia e as escolas não são instabilizadas no seu trabalho de comunidade educativa por um centralismo de estado desgastante e absorvente. O MEC em Portugal obriga o professor a desviar para a burocracia imensas energias que faltam depois para os alunos.

Escolha precoce da Via de Ensino na Alemanha?

Na Alemanha, o ensino é da competência de cada estado federado. Consta de Ensino Básico com quatro anos seguindo-se-lhe o Ensino Secundário de cinco a oito anos. A partir da quarta classe o aluno tem, normalmente, de se decidir por um dos currículos de estudos secundários: via industrial, via comercial ou via liceal: Hauptschule, Realschule e Gymnasium). Para a opção da via a seguir são tomadas muitas medidas acompanhantes de apoio ao aluno e de aconselhamento dos pais.

Parte dos partidos mais à esquerda critica o sistema de ensino alemão porque poderá levar a uma opção precoce da via escolar pelo aluno e considera isto como algo “contra a liberdade individual e igualdade de oportunidade”. Na realidade não se pode chegar a tal extremo porque, normalmente, o aluno é acompanhado de maneira muito individualizada e o sistema permite grande permeabilidade e osmose entre as três vias e os alunos do industrial e do comercial têm acesso às escolas superiores técnicas e à via universitária. Na Alemanha a opção por uma via de caracter mais profissional (comércio ou indústria) não é tão acompanhada de preconceitos de classe como acontece em Portugal.

 

O Sistema Dual alemão do Ensino Vocacional

O sistema dual de educação profissional é seguido na Alemanha, Suíça e Áustria. A dualidade vem do equilíbrio entre qualificação teórica (tempo lectivo escolar) e ensino prático (tempo de prática nas empresas) e que se administra simultaneamente. Deste modo a qualificação, geralmente adquirida depois de três anos, é de alto nível, seja a nível de conhecimentos profissionais teóricos seja a nível de competências práticas.

A política dual do ensino alemão desperta interesse e aplicação nos USA, Inglaterra e até no Brasil (em Portugal resume-se mais a acções de formação ad hoc (colaboração com Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã).

O Ensino Dual, seria, como defendo desde 1980, um óptimo modelo a ser instalado em Portugal (isto pressuporia a formação de parcerias e a implementação de uma política de promoção de todas as empresas com mestres na sua organização e uma descentralização do ensino em favor das regiões (3). As escolas têm contrato com as empresas que oferecem serviço de profissionalização. As empresas com contracto têm benefícios fiscais compensadores do serviço prestado.

O ensino na Alemanha é muito estável não andando ao sabor dos ventos das ideologias nem das modas (isso dá-se, apenas a nível experimental, num ou outro biótopo cultural). Por isso a Alemanha sofreu muito com a harmonização dos cursos universitários segundo o Processo de Bolonha (4).

No ensino secundário é possível passar-se de uma via de ensino para as outras (dependendo isto da média das notas, do aluno e da vontade dos pais). A conclusão do Ensino Secundário Comercial de Nível I (10° ano ou Mittlere Reife) possibilita o seguimento do ensino vocacional (5) dual (profissionalização) no sector administrativo, industrial ou até liceal, ou também seguir o ensino profissional numa Escola Técnica (Fachoberschule) que, uma vez terminada (12° ano), dá acesso imediato ao Ensino superior Politécnico (Fachhochschule) e no caso de fazer mais um ano (12°+1) pode entrar em qualquer faculdade das universidades.

Quanto ao Ensino (diria) Industrial (Hauptschule), uma vez acabado o 9° ano, o aluno pode optar por seguir a Realschule (10° ano comercial) ou por um estudo dual em que frequenta durante três anos o ensino teórico na escola industrial e o ensino prático numa firma especializada na profissão que quer tirar (6).

Quem seguiu o Liceu (a via directa ao ensino académico) termina o ensino liceal Abitur (exame liceal final 13° ano) que possibilita a entrada em qualquer faculdade universitária (Há Estados alemães que tentam encurtar o ensino de 13 para 12 anos para não prejudicarem os alunos alemães em relação aos alunos de outras nações onde o ensino liceal é de 12 anos).

Vantagens e desvantagens

O ensino dual segue um ritmo mais adequado às qualidades intelectuais e às competências práticas do aluno que, ao chegar ao 9° e 10° ano de escolaridade, é confrontado com diferentes vias profissionais de opção já mais específicas (ensino dual industrial e comercial ou ensino liceal se a nota o permitir). Neste sentido os alunos já tiveram de fazer um curto estágio numa empresa antes de terminarem o 9° ou 10° ano. Estes alunos dos diferentes percursos podem escolher os currículos a seguir: ensino liceal ou ensino dual (frequência de metade do tempo semanal na escola e a outra metade no empresa que escolheu (ou ainda numa escola profissional especializada). Para tal é condição ter uma empresa que o aceite para o estudo prático no tipo de profissão de que a empresa disponha (7). A palete de diversificação é imensa com abertura também para os quadros altamente qualificados; o estado despende rios de dinheiro em diferentes modelos de apoio à formação profissional.

O ensino dual também pode apresentar desvantagens segundo se dá na província ou nas grandes cidades onde há mais ofertas de lugar de formação prática por parte das empresas com contratos. Os alunos do ensino dual recebem um reduzido “ordenado” pago pela empresa.

Uma opção por uma política de ensino mais igualitária (ensino de via única) teria o inconveniente de deixar muitos alunos para trás traumatizando-os em questões de repetição e de más notas ou teria como consequência  a diminuição da qualidade do ensino para possibilitar a obtenção de resultados igualitários para todos, vendo-se, por vezes, os professores obrigados a diminuírem o nível de objectivos anuais a atingir por turma para que todos os alunos possam obter resultados satisfatórios. Penso que a crítica da esquerda no que toca à precocidade da escolha e à possibilidade de filtragem social pode ter o seu risco, ao dar-se já a partir do quarto ano de escolaridade; em muitas escolas há o ciclo preparatório de dois anos a seguir ao quarto ano, o que resolve o problema da precocidade na escolha vocacional. Essa objecção torna-se irrelevante ou até inverosímil num assunto tão complexo e muito menos ainda na realidade porque o ensino dual se inicia depois do 9° ou do 10° ano.

Devo dizer que, da experiência que tive directamente em escolas alemãs (das três vias), a escolha do percurso é feito em concordância com os pais. Isto exige das escolas primárias uma maior ligação e relação entre pais e professores. Constato que a formação alemã ao ser mais realista e concreta não deixa tantos alunos na ilusão de um futuro construído em esperanças ideais e igualitárias inatingíveis mesmo numa sociedade pretensa justa. A prática alemã obriga o aluno a deparar-se com a realidade da vida e a tomar opções já aos 15-16 anos; assim os que escolheram a via profissional, quando chegam aos 18-19 anos já aprenderam a trabalhar, tendo um diploma na mão e muita experiência de vida.

Neste sistema há também aqueles que não atingem os objectivos por razões de biografia pessoal e pelo facto de virem de meios não conscientes da realidade que “saber é poder”. O Estado alemão oferece-lhes muitas medidas e alternativas de recuperação, prestando-lhes muito mais apoio do que aos que seguem a via liceal.

As objecções que tenho ouvido em Portugal contra o ensino vocacional dual têm mais a ver com uma mentalidade irrealista e desresponsabilizada, bastante comum em meios de esquerda que em nome do óptimo renunciam ao bom, preferindo uma orientação por uma via que embora igualitária dá menos oportunidades às classes desfavorecidas (abandono escolar ou medidas que muitas vezes levam apenas a empatar o tempo de obrigatoriedade escolar) e obriga os mais inteligentes e voluntariosos (também da camada social em situação mais precária) a uma velocidade de aprendizagem orientada pela mediania baixa. Os representantes do facilitismo, em nome das massas e de um humanismo coitadinho, enganam o povo transmitindo a ideia que a vida se ganha sem enfrentá-la de frente e sem a concorrência. A realidade é que, apesar de muita solidariedade e de compreensão pelos mais débeis, ninguém dá nada a ninguém (vive-se em estado de concorrência) e que a vida exige muito empenho e responsabilidade de cada um, não sendo nenhum paraíso de embalar até aos 18 anos. Isto só simplifica a vida aos políticos, que com a ideia do facilitismo fazem ofertas fáceis ao povo; este encara-se depois com um mundo cão ao despertar bruto para a realidade do mundo laboral sentindo-se então atraiçoado e abandonado vendo-se obrigado a trabalhar a vida inteira em condições inferiores às suas potencialidades por terem sido embalados até aos 18 anos.

A esquerda radical e a FENPROF são contra o sistema dual de ensino alemão apesar de saber que este é o ensino que praticamente dá mais oportunidades também aos socialmente mais débeis, não esquecendo os deficientes (escolas especiais).

A experiência de profissionalização na Alemanha vem já da idade média, tempo em que os artífices se organizavam em ruas (correeiros, ourives, etc.) para transmitirem e defenderem saber e interesses de alta qualificação e concorrência). A riqueza da Alemanha vem do seguimento e aperfeiçoamento contínuo da tradição laboral medieval onde o trabalho manual tem grande prestígio e levou famílias a aperfeiçoarem a sua empresa, durante séculos na mesma família; esta tradição fez da Alemanha uma nação de ponta em quase todos os ramos do saber e como tal a imitar. Doutro modo iremos mancando de ideologia em ideologia sem caminho próprio, procurando imitar projectos deste ou daquele mais aferidos a uma ideologia que ainda não abandonou o complexo de inveja em relação aos que sobem na sociedade (excepção feita para os próprios líderes, os promovidos da classe) e se compreende como tendo o monopólio do saber e da opinião. .

Problema do ensino em Portugal: estar demasiado condicionado por interesses ideológicos e corporativos e branqueamento de notas em benefício do ranking da escola

Pude observar o decurso da política do MEC durante 40 anos constatando uma política de ensino feita em cima dos joelhos e que abandona o ensino a agentes radicais a nível de partidos e sindicatos numa estratégia do deitar abaixo para poder saltar para cima. Uma esquerda esperta tenta tornar-se a mãe da cultura portuguesa apropriando-se, para isso, do sector da educação, que em Portugal parece não precisar de pai. Assiste-se a uma sequência de políticas de ensino baseado em actividades desgarradas. A política de ensino não é equacionada em termos de consenso interpartidário nem aferido às necessidades do país, por isso é dependente de quem é mais esperto e nas conversações de formação de governo que fica com a pasta da Educação. Por estas e por outras o Ensino torna-se por natureza inseguro e, por vezes ao agrado de bandeireiros que se satisfazem com operações ad hoc no terreiro, ao sabor do oportuno.

A OCDE vai dando orientações de aferimentos do ensino e aprendizagem para os Estados a nível internacional mas sem a eficiência pretendida e até com efeitos catastróficos porque provoca no MEC e nas direcções das escolas a preocupação de, para ficarem bem nas estatísticas, branquearem as notas através dos Conselhos de Turma, que, muitas vezes, mudam as notas dadas pelos professores, “como se estas fossem rebuçados”, para as escolas subirem no ranking nacional e internacional. O aluno nestas condições passa a não ser o centro dos interesses mas sim a fama da escola.

A missão de garantir a oportunidade de aprendizagens inclusivas para todos os alunos pressuporia um trabalho sério de inclusão das escolas e das empresas de cada região, condição que presumiria primeiramente a libertação do jacobinismo de Estado tão típico de um Portugal republicano autista que considera como concorrência desleal tudo o que se afigure contra o seu monopólio e a sua consciência de que ele é que é bom. Diria o monarquismo formal formatou, de forma petrificada e anacrónica o espírito republicano que traz a sociedade portuguesa à trela.

Falta uma visão real das necessidades do país. Os Programas de ensino e formação profissional, com cursos profissionalizantes, são mais vistos numa perspectiva de reparar as falhas do sistema de ensino de via única, numa intenção de melhorar as notas a nível de estatística. A preocupação é centra-se em evitar o abandono escolar e  o “chumbo nos exames” do que uma preparação séria de cidadãos sérios para a nação. O ensino profissional é mais visto como subsidiário e não como parte integrante e em termos de igualdade como entontece, em grande parte no sistema de ensino na Alemanha.

Uma ancoragem eficiente da formação profissional nos planos de enquadramento e de orientações do quadro do MEC pressuporia a elaboração de um contrato nacional entre Estado e empresas de modo a comprometer as comunidades escolares educativas com as empresas da região onde as escolas se encontram instaladas. O Ensino Dual não favoreceria a política do deitar abaixo para poder saltar para cima. Ele implicaria em primeiro lugar a libertação da estrutura MEC da ideologia e do centralismo autista e autocrático. Esta mentalidade impede o compromisso necessário com as realidades regionais in loco tornado impossível uma estratégia consequente que envolveria a inclusão, de parcerias, ao mesmo nível de olhar, entre o MEC, as autarquias, e as empresas do comércio e da indústria. O factor de maior impedimento à regionalização e democratização do ensino encontra-se no facto de as mentalidades que se encontram a nível dos altos órgãos nacionais se encontrarem repetidos nos oligarcas locais. O problema de Portugal é uma questão de educação e de uma filosofia de ensino ultrapassada e falhada! Em vez de uma concorrência humana e leal facilmente se perdem em atitudes sub-reptícias de inveja e de narcisismo alérgico a qualquer crescimento e competição.

Os interesses do MEC, das diferentes escolas, dos sindicatos e dos pais deveriam centrar-se na formação integral do aluno e na formação de cidadãos livres solidários e responsáveis, , capacitados para formar um Estado responsável em que a defesa de interesses individuais, particulares e comunitários se realizassem no respeito pelas organizações e pelo cidadão, à margem da inveja sub-reptícia de grupos que se afirmam e perpetuam a viver de ideias populistas baratas mas bem regadas pelo parasitismo com o Estado. Todo o sistema de ensino, ao atribuir notas de qualificação fomenta a concorrência e deste modo a injustiça da desigualdade de uma sociedade toda ela feita de desiguais mas que perante a lei não deveriam ser tratados como objectos quer em função da ideologia quer da economia. O resto é controvérsia importante para as elites irem vivendo à custa do povo e dela.

Neste sentido a FENPROF e os partidos em volta dela têm prestado um serviço medíocre a Portugal; em vez de se tornarem num corporativismo promotor da sociedade portuguesa tornam-se num seu mal maior ou menor. Quando Crato foi à Alemanha para tentar ver como funciona o ensino numa sociedade que em questões de economia dá lições a todos os países civilizados, logo em Portugal a FENPROF em representação da esquerda alinhada se levantou falando mal do intuito do ministro e do ensino na Alemanha. Não há ensino perfeito nem justo porque toda a pessoa é desigual e cada sistema ou ideologia que o fundamenta, mais que no Homem, está interessada no negócio com ele, dado as instituições se regularem por interesses e não por relações de amizade.

À Maneira de  de Conclusão

O discurso público da sociedade portuguesa em vez de passar o tempo a ocupar-se superficialmente dos temas que os Média disponibilizam, serviria a sociedade portuguesa se se ocupasse seriamente com temas como: o porquê de um sistema de educação (MEC) centralista alienatório, o porquê de Portugal não se alimentar a si mesmo e de o empresariado não ser suficientemente produtivo, o porquê de um sistema público viver em grande parte à custa dos empréstimos estrangeiros; o porquê da mentalidade que nos leva a tolerar tudo isto e a não levar a sério a corrupção instalada no sistema. Para isso é necessário um sistema de ensino que ensine mais a pensar para poder saber argumentar e não viver do enredo mesquinho de lutas aleatórias de inveja.

A implementação sistemática do Ensino Dual profissional em Portugal inverteria a política económica tradicional do estender a mão e o consequente adiamento popular cultural. O ensino profissional obrigaria a política a não perder os olhos da realidade, porque forçaria o país a conceber um ensino produtivo adaptado às necessidades do país e ao desenvolvimento internacional e não um ensino demasiadamente concebido em termos de assegurar posições ideológicas de interesses de corporações radicadas no Estado.

Atendendo às mãos em que se encontra, o MEC não haverá muito que esperar no que respeita à implementação do ensino dual profissional e à liberdade de ensinar. A máquina do poder está mais interessada em viver do controlar e do decidir sobre os conteúdos, os métodos, o pensar, a moral e os costumes dos portugueses do que em levar Portugal à frente no que toca a maior produtividade e à produção qualificada. A esperança virá de uma nova geração de portugueses menos corrompida menos autista e menos invejosa.

António da Cunha Duarte Justo

ENSINO VOCACIONAL (PROFISSIONAL) – NAS PEGADAS DO ENSINO DUAL DE MODELO ALEMÃO

  • (1) Parto da experiência de quarenta anos docência tida no ensino secundário em Portugal e no ensino secundário e universitário na Alemanha. Temos uma má política e uma má organização do ensino, apesar de muito bom trabalho que se tem feito nas escolas. A política de ensino manca porque tem sido feita em cima do joelho e como tal ao sabor das modas e das aragens políticas que se satisfazem no ver a sua bandeira desfraldada e a ser movida pelas emoções públicas.
  • (2) (https://www.publico.pt/sociedade/noticia/morte-aos-vocacionais-1733657). O MEC, além de assentar numa plataforma de conotação marxista, vive de intelectualices sem natural sentir e é muito determinado por um sindicalismo unilateral empenhado na luta em torno dos ordenados para os professores e em medidas políticas ideológicas (por ex. contra o ensino dual alemão) e não aferidas às necessidades reais dos alunos e do país.
  • (3)O sindicato da FENPROF anafado ao MEC, além de muitas virtudes tem impedido o desenvolvimento plural ao defender uma política contra as escolas católicas, ao declarar-se contra o sistema dual de ensino alemão possibilitador de alta eficiência que se vê no resultado da vida económica e cultural da Alemanha. Aposta na violência revolucionária negadora da discussão que vive bem de slogans como fascismo, imperialismo, capitalismo esquecendo que há muitas variedades neles tal como no slogan marxismo. Estão interessados em serem entendidos pelo povo tal com se faz muitas vezes em textos do jornalismo mais dirigidos à emoção do que ao conhecimento.
  • (4) Reorganização dos estudos superiores em todo o Espaço Europeu. A nova orientação é de caracter mais utilitarista.https://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_de_Bolonha
  • (5) Não acho adequada a designação de “ensino Vocacional” para designar o ensino profissional porque uma criança pode ter uma vocação especial e vê impossível a sua concretização numa profissionalização, por razões alheias à sua vocação (chamamento) e vontade.
  • (6) A diferenciação tripartida do ensino Secundário (com ciclo preparatório) em três vias, ensino industrial, comercial e liceal, faz lembrar o enquadramento do ensino em Portugal no tempo de Salazar.
  • (7) Conheci uma portuguesa que com o 10° ano da escola comercial conseguiu tirar o curso de enfermeira em três anos uma outra só conseguiu ingressar no curso dois anos mais tarde dado haver muitos concorrentes a essa profissionalização.

A PROPÓSITO DA VERDADE E DAS VERDADES NA IRREALIDADE DA POLIS

A Verdade é paciente não ataca nem difama

Por António Justo

A verdade ou é revelada ou é vivida, o resto é crença nalguma forma ou numa perspectiva de vida que, para cada qual, pode ser a sua. Seria auto-engano acreditar num poder todo-poderoso da razão, por muito nobre e prático que ele possa ser.

Todo o saber, seja ele político ou científico é apenas uma forma de discurso. A doutrina é limitada ao intelecto e a Verdade não se deixa reduzir a ele nem à experiência que se tenha dela. Consequentemente a atitude intelectual e prática mais adequada que possamos ter em relação à verdade será de humildade e de respeito e em relação às verdades e opiniões dos outros a melhor postura será de tolerância.

 O intelecto e a experiência são os instrumentos de acesso à verdade/realidade não podendo o instrumento nunca ser identificado com ela. A existência humana tem os seus quês e precisa de crenças e mitos tal como a planta precisa da luz, do calor e da atmosfera que lhe possibilita a sua forma de vida.

A planta não se questiona sobre a existência do Sol, porque o que ela precisa é de luz e de calor; pretender que ela reconheça para lá da luz e do calor também o Sol ultrapassaria as suas necessidades naturais primárias! Deus está para lá da experiência objectiva e ultrapassa a experiência que se possa ter dele, contudo aquilo que nos torna Homem é a referência (relação com) a Ele. Negá-lo seria meter-se num beco sem saída. De facto o beco também tem a sua serventia e quem quiser ir mais além volta para trás, talvez mais enriquecido com a experiência dele.

 Na polis a verdade encontra-se encarcerada na ciência, no partido, na opinião, na lógica, nas promessas e até na devoção. Acontece à verdade o mesmo que sucede à ideia livre ao ser metida na linguagem. A verdade absoluta sem ser categórica só pode ser Deus, aquele “lugar vivo” onde cada ser pode ser ele sem se justificar e assentar os pés para poder caminhar ao sol da vida, e saborear também a sombra da Verdade na opinião. Nesse lugar não precisa de se subordinar sequer a grupos de influência que ditam leis para outros cumprir.

Que seria da diversidade dos biótopos e das plantas se não houvesse para cada qual o seu raio de verdade! Que seria da cultura e da individuação se não houvesse a verdade do procurar a forma numa maneira própria de estar a caminho de Ser.

Verdade? Tenho a impressão que a Verdade é como o Sol: à medida que nos aproximamos dela mais queimamos as asas do nosso ego; se nos for dado, então sentiremos a dor do abismo entre as alturas do intelecto e a profundeza do coração. No descampado da polis tudo luta por ela, mas antes de chegarmos lá, a cada um a sua, desde que não a use como cacete! Verdadeiro é certamente o caminho no desejo dela! Sim, porque verdade é a liberdade a voar nas alturas do céu mas agradecida e consciente de que o que lhe possibilita a satisfação da vivência das alturas vem da profundidade do coração.

No contexto político, também a veracidade é dinâmica e como tal improvável porque depende do que se torna confiável e o fiável depende também da capacidade de ver, estar e ser; mesmo em relação ao dado factual surge o problema da interpretação que leva ao engano. Cada lógia (cada maneira de olhar) é apenas uma perspectiva necessária mas limitada da verdade/realidade, uma passada na grande caminhada sob os holofotes da Razão e do Coração.

Também penso que a questão está nos olhos e do olhar é que depende, em grande parte, a perspectiva e, dado a verdade (resumida em Deus) ser a-perspectiva, seria questionável querer mandar alguém para o oculista por causa dela! Sim, até porque há pessoas mais inclinadas a ver na perspectiva dos factos e outros na perspectiva do miradouro em que se albergam para observar a paisagem. A partir daí, cada qual se torna num pintor a elaborar a realidade na sua tela, ou um escritor a fazer a sua composição na intenção de a acrescentar ao grande painel da Realidade…

Muitos de nós encontramo-nos, por vezes, perdidos na própria imagem ou absorvidos na composição de imagens sem atendermos às linhas de fuga que dariam maior perspectiva ao panorama da nossa pintura na tela da vida. Os nossos olhos e intenções interferem e delimitam a paisagem e a verdade, não notando por vezes que ao dar-lhes forma as plastificam, confundindo o detalhe com elas, identificando a forma com o conteúdo que não cabe nela.

Se uns têm um olhar mais curvilíneo (emocional subjectivo), outros têm-no mais rectilíneo (racional objectivante) e aí surge o busílis de querer reduzir a realidade à própria linha (não contando ainda com o problema das cores!). Por um lado temos o problema dos instrumentos (razão e experiência) utilizados para definirmos a realidade na finitude e por outro temos o problema de pretendermos com uma visão finita querer identifica-la com o infinito. Querer possuir a verdade é como querer resolver o problema da quadratura do círculo, é como querer meter a transcendência (o círculo) na forma (quadrado) apenas com o instrumento da razão. (1)

A Verdade é inteira mas para ser apreendida pela condição humana, tem de ser repartida em partes (o infinito dividido em partes finitas é transformado em finito através da razão que depois abstrai da parte para o infinito). O escalpelo da razão como instrumento de explicação da realidade/verdade tem um pequeno senão ao arrogar-se poder resolver o problema da quadratura do círculo querendo identificar o quadrado com o círculo, o que é ilegítimo. Querer resolver assim o problema da quadratura do círculo é como recorrer à decomposição de um ser vivo em partes e depois concluir que a soma das partes é o tal ser vivo, não notando que o acto de apresentar a soma das partes, deixa de fora a vida.

Na impossibilidade de possuirmos a Verdade seria lógico juntarmo-nos todos com esquinas e arestas num círculo abraço para darmos mais espaço à forma onde caberá mais verdade.

A perspectiva polar exclusivista do verdadeiro e do falso, da direita e da esquerda, do espírito e da matéria reduz a realidade complexa, a um ponto de vista bidimensional, fazendo dele um caminho para andar mas que peca por não contemplar a verdade da vida. Não notamos ainda que andamos todos a tentar fazer da vida uma linha direita alérgica à vida porque a natureza é toda ela curvilínea

Seria pena querer-se reduzir a realidade multidimensional a uma superfície material bidimensional, ou a uma só perspectiva na linha vertical (mais identitária), na linha horizontal (mais social), ou na linha diagonal (menos monótona). Cada um tem o seu plano de imagem com mais ou menos perspectiva com mais ou menos profundidade… O decisivo é saber-se na convergência e na consciência de que a verdade não se tem, só se vive e experimenta, mas cientes também de que sem contraste não há profundidade. O apelo de Deus, o apelo da Verdade, é tentar descobrir sempre novas maneiras de enxergar o mundo e deste modo contribuir para a sua contínua criação, para a realidade que se encobre no mistério da sua poesia! A verdade é como o amor (2) embora manifesta em cada um ela é inteira.

Para mim a Verdade é Jesus Cristo porque nele se realiza e resume de forma inclusiva a matéria e o espírito. “No princípio era a palavra, a in-formação”, constatava já o evangelista João. “E o Verbo tornou-se carne” sem se deixar reduzir à incarnação!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo

Meditações Irreverentes  in Pegadas do Espírito https://antonio-justo.eu/?p=3667

  • (1) A razão por mais que se esforce nunca poderá meter o infinito no finito, nem o todo na parte (o que demonstra que até a geometria não sobrevive sem o princípio infinito (Deus). Na minha opinião a teologia conseguiu a resolução desse problema através da fórmula trinitária; para tal não chega a razão, necessita-se também da espiritualidade e do coração; esta possibilita a integração da parte no todo e do todo na parte – serve-se porém do mistério de JC.
  • (2) “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” 1 Coríntios 13:4-7.

„A EUROPA NÃO SE PODE TRANSFORMAR NUM PAÍS ÁRABE” DIZ O DALAI LAMA

À Europa falta Autonomia e Independência de Pensamento

Por António Justo

 

Numa entrevista ao jornal alemão FAZ, o Dalai Lama, líder do budismo tibetano, o refugiado mundial mais célebre (1959), defendeu a limitação do acolhimento de refugiados. Sob o ponto de vista moral, “um ser humano a quem a vida corre melhor, tem a responsabilidade de ajudá-los. Por outro lado, entretanto já são demasiados”. “A Europa, por exemplo, a Alemanha, não se pode tornar num país árabe” alerta o Dalai Lama.

É do parecer que os refugiados deveriam ser aceites apenas a título temporário. “O objetivo devia ser o seu retorno para ajudarem na reconstrução de seus próprios países”. Na entrevista o Nobel da paz, também justifica o emprego da violência quando “as circunstâncias são tais que não há escolha e a compaixão é a motivação”.

O Dalai Lama demonstra muita cautela ao dizer que “a Europa não se pode tornar num país árabe” o que significa o mesmo que dizer que a Europa não se deve transformar num país muçulmano. Só que,  se o formulasse desta maneira, teríamos uma discussão que levaria ao fim da macacada, o que se tornaria problemático numa praça pública habituada a viver de macaquinhos no sótão.

O Dalai Lama mostra autonomia de pensamento e esta qualidade é provocante para uma sociedade habituada a seguir um pensamento dividido e alinhado em trincheiras de direita e de esquerda.

Desde os anos 60 o pensamento europeu encontra-se sobretudo  dirigido por políticos, por tribunos populares ou por cientistas de saber sociológico ou por um jornalismo impossibilitado de se orientar  por um códice da imprensa livre e se orienta  pelos credos mais cotados no mercado. Por isso é tão raro o pensamento livre responsável sem que se levante logo alguém com o bastão da moral.

Haverá populistas que apelidarão o Dalai Lama de fascista, de nacionalista, de populista da direita ou com deficiência intelectual, como é costume na praça pública; e isto porque, tal como acontece a quem pense pela própria cabeça, é logo metido numa gaveta em contraposição à opinião educada no sentido de  balbuciar a opinião do polipticamente correcto em voga; também os donos da racionalidade e da verdade depreciarão o Lama pelo simples facto de ele ser um líder religioso. Uma sociedade que abandonou os cinco sentidos e o próprio tecto transcendente, para se orientar apenas por um racionalismo pragmatista e mercantilista continua irreflectidamente a sua marcha decadente.

Facto relevante aqui é o Dalai Lama, de passagem pela Alemanha, questionar a política de portas abertas e de um moralismo justo no foro do individuo só poder ser limitadamente aplicável quando se trata de interesses de instituições ou de estados.

A questão dos refugiados torna-se ainda mais  complicada também devido aos interesses nacionais europeus e de uma Turquia interessada em reter para si os refugiados “bons” e enviar para a Europa os ” casos problemáticos”.

A ideia de “uma estadia passageira para refugiados” contradiz interesses da economia de mercado e da ideologia marxista, interessadas em que haja mais concorrência em todos os sectores da sociedade europeia sejam eles de natureza económica, ou de natureza ideológica e espiritual.

O Dalai Lama motiva assim o repensar uma política europeia de caracter moralista e de interesses meramente ideológicos e económicos. Apela à moral da responsabilidade numa sociedade em que o moralismo do politicamente correcto avassala o espírito europeu universalista autêntico, fazendo-o em nome de uma cultura aberta e de uma tolerância que chega a atingir os limites da estupidez.

Dois exemplos para a política: o Papa Francisco e o Dalai Lama duas vozes que a serem ouvidas levariam a política económica e social à razão

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do tempo

„A EUROPA NÃO SE PODE TRANSFORMAR NUM PAÍS ÁRABE” DIZ O DALAI LAMA

O LOBO E O CORDEIRO

DA LÓGICA DA ARGUMENTAÇÃO SOBRE O ENSINO PÚBLICO E PRIVADO E DE OUTRAS DISCUSSÕES PÚBLICAS

“Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O terreno era inclinado e por isso havia uma correnteza forte. Quando ele levantou a cabeça, avistou um lobo, também bebendo da água.

– Como é que você tem a coragem de sujar a água que eu bebo – disse o lobo, que estava alguns dias sem comer e procurava algum animal apetitoso para matar a fome.

– Senhor – respondeu o cordeiro – não precisa ficar com raiva porque eu não estou sujando nada. Bebo aqui, uns vinte passos mais abaixo, é impossível acontecer o que o senhor está falando.

– Você agita a água – continuou o lobo ameaçador – e sei que você andou falando mal de mim no ano passado.

– Não pode – respondeu o cordeiro – no ano passado eu ainda não tinha nascido.O lobo pensou um pouco e disse:

– Se não foi você foi seu irmão, o que dá no mesmo.

– Eu não tenho irmão – disse o cordeiro – sou filho único.

– Alguém que você conhece, algum outro cordeiro, um pastor ou um dos cães que cuidam do rebanho, e é preciso que eu me vingue. Então ali, dentro do riacho, no fundo da floresta, o lobo saltou sobre o cordeiro, agarrou-o com os dentes e o levou para comer num lugar mais sossegado.”
Jean de La Fontaine

Moral da fábula: A razão do mais forte é sempre a melhor

PORTUGAL INVESTE MAIS NA IDEOLOGIA DO QUE NA ECONOMIA

No rescaldo da luta cultural entre Conservadores liberais e Socialistas radicais

Por António Justo

Em discussão sobre o ensino, Francisco Seixas da Costa defende que “ o ensino público obrigatório seja laico e naturalmente, gratuito” e faz a confissão de que “Entregar crianças que, por lei, deveriam ter um ensino laico a escolas que observam rituais religiosos (católicos ou outros) configura um grave infringimento de uma importante liberdade constitucional, um dos fundamentos basilares da ética republicana”. O senhor Embaixador certamente já se deu conta de eventos e comemorações do Estado laico, muito inocentes, que correspondem a verdadeiros ritos (actos “religiosos” laicos) que podem ser entendidos como festas de ideologias que até se tornam em ritos de endoutrinação.

Os prosélitos da “ética republicana” declaram a Constituição de crença laica em contraposição com o mundo religioso como se a crença laica não fosse, também ela, uma crença e como se ela não sofresse de particularidades e de uma mundivisão própria e outras éticas não tivessem uma concepção de homem e sociedade de visão universal.

Ensino obrigatório sim, mas que o ensino tenha de ser laico, corresponde a fazer prevalecer a confissão ideológica laica sobre outras, num país em que a república e a laicidade se definem em termos de racionalismo, materialismo e esquerdismo. Muitas pessoas meteriam os seus filhos no Ensino Público se este fosse isento, independentemente da sua matriz constitucional de esquerda.  As escolas do estado em 2016 recebem 105.800€ por turma e as escolas com contratos-associação recebem 80.500€.

O estado laico não é eunuco, não é virgem, nem é isento; o povo que o legitima é formado por cidadãos de crença religiosa, de crença laica, de crença agnóstica, de crença ateia e de crença ideológica de direita e de esquerda. O Estado, em vez de disponibilizar um ensino estatal independente e neutro quer ver nas suas escolas um ensino de matriz de confissão laica. A escola do estado não é isenta como pude observar em muitos anos de professor do ensino público. República significa coisa pública, coisa de todos e, como tal, não é compreensível que a ideologia de Abril determine a influência ideológica do ensino, apelando para a Constituição tal como na política do ensino no regime de Salazar.

 Neste texto darei a impressão de colocar o primado da liberdade individual sobre a comunidade, embora esteja convencido de que a liberdade só acontece na relação interpessoal criadora de comunidade: uma comunidade educativa em que professores e alunos são sujeitos aprendizes.

Com a pressuposta “ética republicana”, o senhor embaixador considerada tal moral como algo absoluto, um puré obrigatório e como tal subsidiado desde que mastigado pela boca do Estado. Quem tiver dentes ou quiser outros a mastigar o seu puré que recorram ao ensino privado secular e ao ensino privado religioso mas pagando tudo do próprio bolso.

A tal ética republicana quer ver reservado para ela o privilégio de ser financiada por todo o cidadão. Isto é discriminação obrigando a ideologia republicana a ser privilegiada, e assim a ver a sua ideologia considerada pública e como tal com o direito (só ela) aos dinheiros públicos. Identificam a sua ética republicana com uma filosofia ética de Estado à imagem das caducas repúblicas comunistas que vendem como universal e pública a sua ideologia de pensar oficial. Um esquema de pensamento e de monopólio para a república equivalente ao que criticam nos antigos estados monárquicos.

A chefe de governo Margaret Thatcher já constatava: “Jamais esqueçam que não existe dinheiro público. Todo o dinheiro arrecadado pelo governo é tirado do orçamento doméstico, da mesa das famílias”.

O senhor embaixador anda mal informado sobre as escolas católicas; há escolas cristãs que até têm espaço para oração para muçulmanos. Conheço indianos que frequentaram escolas católicas até na Índia e continuaram Hindus. As escolas católicas têm fama e por isso são procuradas por hindus, muçulmanos; até socialistas não fanáticos inscrevem seus filhos nelas porque sabem que são respeitados na sua ideologia, outros preferem ensino privado secular  de acordo com a sua coloração ideológica.

Testemunho pessoal

Eu próprio, fui professor de uma escola privada católica em Lisboa e tinha um dos melhores alunos de fé judia; quando ele atingiu os doze anos  fui convidado para a sua festa Bar Mitzvá na sinagoga de Lisboa; no colégio católico ninguém era obrigado a frequentar a missa; também o ano escolar era aberto com uma missa mas ninguém era controlado. Nas escolas católicas que conheço não há endoutrinação, ou, quando muito tanta como nas escolas públicas: o que há é uma visão integral da pessoa que não se deixa reduzir a uma ideologia. A comunidade educativa e o seu regulamento concreto interno são regrados pelo estatuto da escola e pelos representantes de pais, de professores e de alunos.

Conheço escolas com contrato, uma delas que conheço sob responsabilidade da Igreja e ela consegue, dado ser apoiada, promover os filhos dos pobres ao mesmo nível que são promovidos os “filhos de papá e de mamã”!

Conheço também ensino privado nas mãos dos salesianos, de alta qualidade para filhos de pobres, ricos e ciganos. Muitos salesianos ensinam ao lado de outros professores nas suas escolas sem reterem para eles o fruto do seu trabalho; são pessoas cristãs humanistas não inquinadas pelo preconceito. Eu mesmo cheguei a dar aulas em duas escolas dos salesianos, nunca me veio sequer à cabeça se o aluno era pobre ou rico cristão ou não cristão; trabalhava 27 horas lectivas por semana, enquanto os  colegas de fora, não salesianos leccionavam o horário oficial de 22 tempos lectivos. Aos fins de semana dedicava-me ao trabalho pastoral. Muitíddima criança pobre conseguia aqui uma educação integral e esmerada tal como outros que podiam pagar. Havia um ensino de excelência para todos! O que os salesianos poupavam vivendo numa comunidade (verdadeiro comunismo) era investido em favor dos alunos. Devido a muitas experiências que tive de crianças abandonadas e até filhas de prostitutas que através dos salesianos conseguiram estudar e depois seguir estudos tecnológicos e universitários e alcançar uma vida integrada na sociedade, sou, por experiência positiva um defensor do ensino privado católico. Além disso sou defensor da liberdade desde que ela reverta em favor do indivíduo e da comunidade no respeito recíproco.

O grande problema hoje é a desorientação humana,  o capitalismo liberal e o relativismo. Pena é que a esquerda radical seja sempre contra a igreja católica e em todo o lugar em que se encontra siga uma luta estratégica contra ela, sob o principal motor da maçonaria; isto obriga à perda de tempo e energia na defesa da parte quando as energias seriam mais bem empregues num esforço de colaboração e complementação ao serviço do aluno, ao serviço do todo.

Tenho três filhos que frequentaram escolas cristãs e escolas do estado e tenho um que frequentou só escolas do estado. O Estado alemão subsidia a Escola privada, embora também ele seja republicano; na Alemanha, em geral, a República orienta-se mais pelo bem comum, pela economia e pela cultura com uma forma de estar plural e não tão dependente de uma ideologia tão vincada e jacobina nem tão proferida publicamente; não está dependente da ideologia republicana de tipo francês, ao contrário do que acontece com Portugal com elites influentes copiadoras e servidoras das ideologias republicanas de matriz francesa.

Embora muito consciente de todas as formas de ensino, estou contente com o ensino público do Estado e com o do Privado. O ensino privado coloca mais importância no desenvolvimento da personalidade individual e no respeito pelas suas potencialidades. Na Alemanha, devido ao cofinanciamento do ensino privado as escolas privadas são mais baratas que em Portugal. E por isso mais acessíveis à camada social desprotegida.

O ensino católico como o de todas as instituições terá também defeitos mas a imagem de catolicismo que a esquerda radical parece ter, parece sofrer da conotação republicana de cunho maçónico dos inícios da república e julga, predominantemente com pressupostos escuros, tudo o que é católico; naturalmente parece tratar-se aqui de um ressentimento recíproco que foi semeado por Marquês de Pombal e estruturado na República. Há que abraçar-nos para que o povo não continue a pagar as favas pela falta de entendimento e de compreensão.

Absolutismo da Matriz ideológica republicana?

Seria interessante se o senhor embaixador definisse o que entende por “ética republicana”… Porque há-de ser a ética republicana superior a outras éticas onde a liberdade e o respeito pela pessoa e a solidariedade social não são apenas teoria? Porque há-de a matriz republicana e dos grupos que se apoderam do Estado, ter o privilégio de impor a sua confissão/matriz como doutrina sub-reptícia de Estado e vê-la reconhecida como monopólio privilegiado e subsidiado pela nação e financiada pelo Estado? O Estado laico terá de ser mais isento, mais qualitativo, menos ideológico para melhor servir todo o cidadão na qualidade de pessoa e de grupos e assim as pessoas não se virem obrigadas a terem de tirar os filhos das suas escolas.

A constituição religiosa católica defende o direito à liberdade religiosa e ao respeito por toda a pessoa, e isto é praticado; excepções sempre haverá, tal como há escolas do Estado em que a ideologia de esquerda é mais vincada que noutras. Não conheço ensino religioso nas escolas por onde passei (não vivemos nas arábias!), conheci sim o ensino científico acompanhado de aulas de moral e religião e nas escolas católicas não há missionação nem proselitismo ao contrário do que acontece nesta nossa discussão.

A lógica de “ética republicana” apresentada conduz a um beco sem saída; porque no seu entender deveriam seguir todos a ética republicana, como se essa fosse o Corão republicano para toda a nação. Ao cidadão basta-lhe a Constituição, passível de muitas interpretações, embora a Constituição portuguesa tenha ainda muitos ressaibos ideológicos.

A Dúvida conduz à Controvérsia e a Controvérsia ao Desenvolvimento

 Os guardiões do republicanismo determinam o pulsar do coração da república (à semelhança do que a religião fazia na governação antiga), pensam não precisarem de se justificar – pensam-se República e querem a República a pensar como eles, querem como monopólio a sua “ética republicana” de que abusam, chegando até a exigir que os outros se justifiquem do que acham injustificável. São tão categóricos que consideram esforço perdido quem defende outras posições. Mas justificar o quê e perante quem? Haverá alguém em posse da verdade? A verdade não se pensa, nem se tem, a verdade acontece, ela é povo!

Será que quem já tem acesso ao cofre já pode descansar dando-se ao luxo de abdicar da dúvida? A dúvida bem fundamentada já se encontra no apóstolo Tomé e é um elemento importante da crença cristã, que possibilitou em grande parte o desenvolvimento da civilização ocidental.

Muitos não querem compreender que Portugal é cada um de nós, seja de crença ateia ou de crença religiosa, de esquerda ou de direita; são todos filhos de Deus e todos queridos por Ele, diria um cristão que se encontre  nas pegadas de Cristo. Uma sociedade com futuro integra todos os cidadãos – o cidadão é o rei – e preocupa-se mais em consumir menos do que produz.

O direito e o dever de aprender é um imperativo natural em todos os Estados civilizados e consequentemente a existência de uma rede pública. Em Portugal, quando só havia a quarta classe como ensino obrigatório já na Alemanha havia, duas gerações atrás, a obrigatoriedade de frequência do 7° ano.

Também hoje o Estado alemão apoia medidas especiais em faculdades de elite para assim poder manter-se à altura da concorrência técnica e do saber a nível internacional. Um certo Portugal produziu uma certa elite que vive bem encostada ao Estado e a uma ideologia republicana antiquada; por isso a economia portuguesa se mostra sempre carente num Estado habituado a viver à mama das remessas emigrantes, do estrangulamento dos investidores pequenos e médios e da mão estendida ao estrangeiro. Temos uma consciência ideológica de clube e não uma consciência de sermos um país orgânico baseado na produção e contributo e da solidariedade da diversidade de cada cidadão e de cada grupo social.

 Persistimos em ser um povo moderno e aberto para inglês ver,com muitos a viver do cantar da cigarra e de lógicas interessadas na defesa da própria cerca! Falta-nos a normalidade do viver porque habituados a ser levados pelo cantar doentio de intelectuais e políticos que perderam o sentido da realidade, do país e da natureza em que vivem!

Creio que, infelizmente, a nossa maior doença, como povo e como elites, é a de vivermos virados para o próprio umbigo! O mundo não começa nem acaba em Portugal, não começa nem acaba numa ideologia. Para não atraiçoarmos Portugal e a lusitanidade temos de voltar ao universalismo e humanismo universal que caracterizava a Escola de Sagres” de um Dom Henrique, de um Vasco da Gama e de um Camões que partilhavam ainda de uma visão cultural universal e de um saber de experiência feito. Portugal não terá hipótese de se desenvolver enquanto a elite política confundir a maneira de estar europeia com a francesa.

O mesmo Estado que se diz laico em relação ao catolicismo subsidia a construção da Mesquita muçulmana em Lisboa e pelos vistos com milhões de euros! Também aqui o nosso Estado laico se mostra interesseiro. A esquerda é a favor da subvenção da Mesquita porque indirectamente subsidia a própria ideologia dado a antropologia muçulmana e o método de governar andar muito perto do ideário maçónico e socialista marxista: quem vale é a doutrina e o grupo de interesse, a pessoa é apenas meio para se atingir um fim! Isto constitui, a longo prazo, um tiro no pé da própria laicidade. Quanto à Mesquita a construir na Mouraria quem deveria negociar seria o grupo muçulmano e o proprietário do terreno.

A escola portuguesa tem produzido muita gente de intelectualidade convencida e ideólogos demasiado finos e altos para poderem descer à realidade do dia-a-dia, num sistema estatal paternalista favorecedor de parasitas; continua a viver da ideia dos novos-ricos dos descobrimentos habituados a viver dos trabalhadores manuais alheios, mas que, no fundo, desprezam por o trabalho sujar as mãos. Por isso Portugal alimenta predominantemente uma elite ideológica de partidários quando precisaria de uma elite económica e de uma elite intelectual não encostada a uma só ideologia. Portugal – um país com um povo de grandes potencialidades – é assim obrigado a marcar passo porque as energias do discurso se esgotam em lutas ideológicas longe dos interesses concretos de uma nação que para ser adulta teria de ser reconciliada e viver menos da cantiga e do fazer para inglês ver!

A geração que parece ser promissora de futuro não se orientará tanto pelo espírito de alternativas mas sim pelo espírito de complementaridades e de inclusão.

 

António da Cunha Duarte Justo

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