EGIPTO PARA ONDE VAIS?

Militares como Força Moderadora

António Justo

A 3 de Julho 2013, Mohamed Morsi, presidente egípcio, foi detido e deposto pelo Exército, encontrando-se agora, talvez na mesma prisão onde se encontra o antigo-Presidente Mubarak, deposto em 2011. Morsi foi vítima do golpe de estado e da própria intolerância contra quem não servisse o radicalismo islâmico.

A revolução árabe levou os extremistas ao poder sob uma aparência democrática. Aqueles que pensavam ser possível um estado moderno com islamistas sentem-se agora frustrados. A Irmandade Muçulmana, apoiante de Morsi reagiu com barricadas e com ataques aos cristãos. Estes (5 a 10% da população) favoreciam um Estado mais tolerante. Na constelação política concreta são os militares que oferecem maior possibilidade de tolerância civil. As forças militares são mais abertas ao diálogo, por razões de formação e por interesses pragmáticos e pessoais; estão mais interessados numa economia que funcione. Os militares pensam em termos de identidade nacional enquanto o povo, que se expressa, pensa mais em termos de solidariedade religiosa (Umma).

O Ocidente não está interessado num islamismo extremista e por isso opta pela hipocrisia de, em nome da democracia, aceitar a eliminação dum governo democraticamente eleito pelo povo islamita. Continua a fingir não saber que o islão mais genuíno é dogmaticamente hegemónico, antidemocrático e alérgico a uma sociologia que não seja a maometana. Como doutrina permite a contradição mas apenas dentro dela. Daí a incompatibilidade entre uma democracia de cunho ocidental que inclui o dentro e o fora no seu sistema e um regime islâmico que se afirma contra o que se encontre fora dele. Por isso a Irmandade Muçulmana e outros radicais islâmicos não são contrariados pelos outros irmãos muçulmanos moderados. O inimigo e o mal consideram-se fora dos muros da sociedade islâmica. Culpados são sempre os de fora. O Ocidente, como representante da modernidade, será sempre tido como cúmplice das desordens nas sociedades islâmicas que se encontram, a nível de doutrina, com 500 anos de atraso em relação às sociedades modernas. Em geral, os partidos ditos democráticos, pouco têm a ver com democracia, dado, para eles, democracia consistir em impor os interesses da maioria governante aos outros. Grupos jovens, mais esclarecidos, devido à Internet, constituirão o Cavalo de Troia, que permitirá desenvolver um espírito crítico dentro do islão.

Encontramo-nos perante uma democracia sui generis, dum lado os radicais islâmicos e do outro, uma aliança problemática de forças da segurança, partidos seculares e da média estatal. Muita da população está do lado dos militares; talvez aqueles de espírito mais democrático, o que parece contraditório mas não o é, numa sociedade ambígua e por isso impossível de analisar por categorias democráticas rotineiras. Uma sociedade baseada em princípios hegemónicos e com o monopólio de Deus não cede direito ao adversário. Por outro lado, os militares sabem que nenhum governo está interessado na reforma das unidades paramilitares nem da polícia. Ao aparato de segurança todo-poderoso opõe-se um extremismo religioso todo-poderoso também. Esta situação relativiza qualquer comentário de jornalistas bem-intencionados e desejosos de democracias gratuitas, à margem do medo. Fala-se impropriamente duma sociedade civil que não existe em estados islâmicos. Existe propriamente a força religiosa e a força militar (Por isso os radicais islâmicos combatem consequentemente a organização de instituições policiais e militares coesas nos estados islâmicos). Fala-se de democracia dum estado que só reconhece súbditos e dum povo que só aceita devotos de Alá. Uma sociedade em que a pessoa não vale por si, mas pelo grupo a que pertence ou pela ideologia que professa, aliena a pessoa, fomenta a inveja, não se desenvolve e cria relações de subjugação, de medo e de conflito. O estado moderno baseado nos direitos individuais do cidadão e na sua liberdade tem-se mostrado incompatível com o islão.

A democracia é sublime e pode ser forte mas os interesses religiosos, políticos e militares (económicos) são mais fortes e têm o poder de obstruir qualquer sublimidade. O diálogo pressupõe a cedência mas onde todos se sentem com Alá na cabeça e a razão na barriga não há lugar para o diálogo nem para a diversidade que a natureza perpetua e defende. A razão e as argumentações políticas, quer a nível interno quer a nível externo, servem, muitas vezes, os interesses obtidos à custa do sangue e da opressão dos mais fracos. Em Estados instáveis, o Ocidente está interessado numa atitude de apoio ao mesmo tempo do governo e da oposição para assim se manterem as portas abertas ao negócio no caso de vencerem uns ou outros. Por isso se apoiam os revoltosos e se toleram os opressores independentemente dos interesses dos povos vítimas da violência.

Intervenções e influências directas de fora revelam-se contraproducentes no processo interno de desenvolvimento político e social que precisam de muito tempo de amadurecimento entre as partes em conflito. O islão tem sido uma cultura belicosa e não descansa enquanto, nas regiões onde chega, não vir tudo reduzido a uma monocultura islâmica. Neste sentido trabalhava o presidente Morsi, em nome duma democracia que o levava a considerar o Egipto como espaço reservado apenas para islamitas. A ditadura religiosa e a ditadura militar têm sido as perspectivas das culturas de cariz muçulmano. O problema não vem das pessoas mas do ideário. A ideologia só reconhece um Deus que não deixa espaço para o Homem nem para a diferença. Daí o seu eterno conflito com tudo o que não seja islâmico.

Os apoiantes do presidente deposto apostam nos mártires radicais islâmicos convictos que o sangue de “mártires” é o melhor combustível na propaganda contra o adversário e assegura, ao mesmo tempo, a solidariedade de radicais dentro e fora do país.

Os “mártires “ da escuridão são os arautos do radicalismo

A emoção, sem o efeito moderador da razão, move as energias escuras. A Irmandade Muçulmana apelou para uma ”sexta-feira de raiva” depois das orações. Quando a religião apela à raiva, o que não farão os raivosos?

A violência interior (a raiva) e a violência externa são expressão consequente da mesma mentalidade e duma filosofia islâmica paradoxa que designa a sua guerra como santa e os assassínios como mártires. Usam cinicamente a palavra mártir, designando como mártir não a vítima da fé mas o assassino que leva consigo outros em nome da sua fé. Dão às energias negativas uma aura de santidade, reduzindo a religião a uma mera estratégia da lei selectiva natural em que o mais forte é que tem razão. O Ocidente esforça-se hipocritamente por um diálogo que a Irmandade Muçulmana e os militares não querem. Condenar a violência exterior sem ter em conta a violência interior (imanente ao sistema) torna-se ingénuo e só serve de desculpa e para adiar a situação. As intervenções do Ocidente no mundo muçulmano revelar-se-ão como erro histórico e prejudicial para o Ocidente. É uma catástrofe o que se passa no Afeganistão, norte de África, Kosovo, etc. No fim só resta povo vítima e cínicos.

O islão, na sua qualidade de religião política, coordena as suas acções a partir das mesquitas nos seus encontros de oração às sextas-feiras. Os fundamentalistas islâmicos são os que se encontram em maior conformidade com o Corão e com a sharia islâmica, como afirmava o mestre islâmico Khomeini. Os Mujahideen (ao serviço da jihad- guerra santa) e os mártires-bomba islâmicos são personalidade de mais-valia na sociedade maometana. O islão encontra-se numa luta cultural dentro das suas fileiras e em disputa com o que não for islâmico. Qatar e Arabia Saudita incentivam economicamente a fundação de califados por todo o mundo.

Uma sociedade munida de ideologia e de armas até aos dentes está interessada na escalação dos conflitos. O golpe militar que queria impedir a ditadura religiosa democrática revela-se também ditador no seu ataque violento contra o acampamento de protesto da Irmandade Muçulmana.

O facto dos militares se apoderarem do poder constitui uma ameaça para outros regimes políticos islâmicos como é o caso da Turquia, Tunísia, etc. Conservadores e extremistas do mundo árabe foram os que mais protestaram contra o golpe de estado. Para países como a Turquia, o país de primeiro-ministro Erdogan, o facto de o Ocidente não ter reagido mais fortemente contra o golpe de estado, constitui uma ameaça dado o Ocidente, no caso de risco, apoiar as forças militares que são mais permeáveis à modernidade pelo facto de constituírem uma casta que usufrui privilegiadamente dos bens terrenos enquanto a maioria dos crentes têm que se contentar com os bens que a fé promete e como não têm nada a perder também só lhes resta defender a própria fé.

Na Alemanha de Hitler as vítimas eram as sinagogas e os judeus, nas sociedades islamistas são as igrejas e os cristãos

Actualmente só haverá a alternativa de escolha entre peste e cólera, entre ditadura militar e ditadura religiosa; das duas é mais suportável a militar. Esta, apesar de tudo, garante um certo pluralismo, e uma certa defesa das minorias.

Segundo informação da conferência dos bispos alemães, no Egipto nas últimas semanas “foram incendiadas e destruídas mais de 40 igrejas cristãs e instalações eclesiásticas, muitos cristãos foram assassinados e muitas das suas lojas saqueadas. Na Alemanha de Hitler as vítimas eram as sinagogas e os judeus, nas sociedades islamistas são vítimas as igrejas e os cristãos.

A irmandade muçulmana está interessada em provocar os cristãos não só por razões de crença e de fé mas para dar a impressão que há uma luta entre religiões e assim mover islamistas no estrangeiro. Tradicionalmente os cristãos coptas apoiam em parte os partidos seculares. Os militares, porém, não empreendem nada na defesa dos cristãos porque deste modo podem justificar as suas investidas contra islamistas e apregoá-las como “luta contra o terror”. Os ataques dos extremistas muçulmanos aos cristãos tornam-se oportunos para o general Abdel Fattah al-Sissi, que assim legitima a sua violência contra a Irmandade Muçulmana (Movimento revolucionário sunita também activo na Síria e no Líbano que desde 1928 usa da violência para conseguir os seus objectivos no sentido de fortalecer o islão como nação universal (Umma). Em geral, os cristãos são vítimas duma parte da sociedade islâmica radical e da outra parte conivente com a violência.

Segundo declarações oficiais até (19.08.2013) morreram “mais de 800 pessoas”.

A ditadura militar será apoiada pelo Ocidente para que a situação se pacifique. A crise não é dos países do norte de África mas do islão. O islão parece não querer sair da era das trevas e em vez de reconhecer os sinais dos tempos endurece ainda mais.

As notícias sobre o mundo árabe estão, por vezes, mais interessadas em transmitir imagens e informações que poupam os revoltosos contra as forças do poder causando no público uma avaliação errada da situação.

António da Cunha Duarte Justo

www.antonio-justo.eu

O Primeiro de Maio

Amigas, amigos, caros leitores
O 1° de Maio cada vez está mais distanciado do trabalhador!
Eles comem tudo e, sem se preocuparem com os interesses dos outros, apoderaram-se das terras, do saber e das instituições. Eles subiram ao Olimpo e mataram também os deuses para, sem escrúpulos, poderem escravizar o ser humano. Onde o Espírito não conta, o Homem torna-se selvagem!
«O que se nos depara é a perspetiva de uma sociedade de trabalhadores sem trabalho, isto é, sem a única atividade que lhes resta». Hanna Arendt
Eles apoderaram-se da terra e do trabalho e criaram uma sociedade onde o trabalho se tornou o único meio de se ser alguém. Quando se chega a este ponto, já a dignidade humana passou!
Apesar de tudo, há muita esperança! O tempo da crise é a época de preparação duma nova era!
Abraço
António Justo

25 de Abril mais um Aborto da Nação – Porquê?

“Mais quero Burro que me leve que Cavalo que me derrube”

UM SISTEMA PARTIDÁRIO GERADOR DE MEDIOCRIDADES

António Justo

“Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube”, é o mote encoberto da classe política portuguesa (e da nação), bem descrita na “ Farsa Inês Pereira “ de Gil Vicente. A classe política prefere ser levada por um povo asno (Pero Marques) do que ter um povo esperto (cavalo) que a controle.O mesmo se poderia dizer do povo.

Inês Pereira é uma moça interesseira e preguiçosa que vive insatisfeita na monotonia do dia-a-dia. Por isso pretende arranjar um marido progressista que a tire da pasmaceira duma vida insignificante. São-lhe apresentados dois pretendentes: Pero Marques (conservador, bom, rico, ingénuo e simplório) e o Escudeiro Brás da Mata (progressista, homem com maneiras, controlador e refinado). A dificuldade de Inês na escolha do marido, vem-lhe do conflito que traz consigo. Nela debatem-se duas mundivisões: a medieval (Pero Marques) e a moderna (Cavaleiro). Inês recusa o primeiro pretendente Pêro Marques, mas ao notar que o Escudeiro Brás da Mata (segundo pretendente) é demasiado exigente e não a honra; Inês, logo que se livra dele, casa com Pero Marques. Este é tão bobo e saloio, que cantando e bailando a leva às costas a um ermo onde ela pode dormir com um falso Ermitão (antigo amigo). Inês Pereira é ajudada por vários personagens, todos eles só estão interessados no negócio com o casamento.

Na Farsa, além do fadário do país na sua luta entre a visão tradicionalista e a visão modernista, reconheço a classe política representada pela protagonista Inês Pereira (oportunista) que trai o marido Pero Marques (povo tradicional) e não sofre as consequências disso. Em Inês podemos reconhecer tanto o rescrito da nação como dos partidos. Inês serve-se da esperteza para granjear a simpatia. A classe política também se tem servido da alcoviteira Lianor Vaz e dos judeus Latão e Vidal (TV, Media, etc.), dos Moços (do partido), dos Ermitãos (maçonaria e interesses internacionalistas, republicanismo mercenário, etc.) e da Mãe (Presidentes da República cúmplices dos jogos da classe política), para se servir a ela e aos seus acólitos.

Uma nação incapaz de integrar nela mesma a terra (conservadorismo) e a ideologia (progressismo) está predestinada a não se encontrar a si mesma e a expressar-se partida. Por isso a sociedade portuguesa não cresce organicamente de maneira continuada. A sua evolução dá-se, aos soluços, de crise em crise, num processo de querer adquirir o perdido nunca alcançado. Isto agravou-se a partir do séc. XIX. A partir daqui a ideologia assume o lugar da terra.

A Nação perdeu o Sentido da Realidade

 “Casa onde falta o pão todos ralham e ninguém tem razão”. A crise financeira portuguesa de 1891, (http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218726298J7kLR2hh1En65AF7.pdf) acompanhada das revoltas republicanas. culminou na abolição da monarquia em 1910. A Carbonária (“defensores da Pátria”), braço direito da maçonaria matara o rei e o infante em nome da defesa dos interesses nacionais e do modernismo, com a mesma ligeireza com que tinha atraiçoado a pátria ao saudar as invasões francesas como libertadoras. A 1ª república acaba também falida no golpe militar de 28 de Maio de 1926, que instala a ditadura militar até 1933. Com a Constituição de 1933, forma-se o “Estado Novo” (regime autoritário com tendências fascistas mas que não assume o fascismo); este entende-se já não como fruto da ideologia mas como tentativa de reabilitar o Estado através do corporativismo económico e social, compreendendo-se como “um Estado pluricontinental e multirracial”. Salazar tenta dar uma nova tarefa ao país: olhar para a terra e defender o ultramar.

A 25 de Abril de 1974 é demitido o regime autoritário de Salazar. A Junta de Salvação Nacional das FMA nomeou como presidente da República o General António de Spínola a 15 de maio de 1974. Segue-se o período anárquico dos revolucionários em torno do PREC (Processo Revolucionário em Curso). Surge o 25 de Novembro de 75 a corrigir um pouco a direcção anárquica com o Presidente da República Ramalho Eanes. A impaciência da liderança partidária e a pressão de “estrangeirados” como Soares, Cunhal, etc., interessadas em arrecadar para si o sol de Abril apressam a tarefa de impor os seus interesses partidários. A 25 de Abril de 1976 a terceira república restabelece o regime democrático, com a nova Constituição de orientação comunista e com as eleições.

Com a derrocada do regime autoritário de Salazar, o 25 de Abril de 1974 restabelece o caracter ideológico da primeira república com muitos avanços a nível de ideias e retrocessos a nível da terra. Portugal desconcilia-se ainda mais e continua a viver na superficialidade de ondas de ideológicas. Para Portugal ser fiel a si mesmo e se reconciliar internamente teria que permitir-se uma discussão séria entre conservadores como Salazar e socialistas como Azedo Gneco; doutro modo seguirá o mau caminho de dupla personalidade (esquizofrenia) à medida dum Mário Soares republicano comunista que depois salva a raposa republicana tornando-se socialista estrangeirado. A tática do seu PS foi difamar e defraudar sistematicamente a direita e a Igreja de maneira a criar na opinião pública num anti-conservadorismo como tinha criado com o anticlericalismo na primeira república (perpetuando uma mentalidade mesquinha do contra, seja ela anticlerical ou anticomunista). Assim um republicanismo jacobino consegue, através dum socialismo estrangeirista vaidoso, impor à nação uma prática cultural extremamente ideológica. Torna tabu tudo o que é conservador esquecendo que uma política séria e dinâmica teria de ter um aspecto conservador e outro progressista como partes integrantes e expressões duma só realidade. Enquanto o país não for capaz de equacionar uma política conservadora e uma política progressista teóricas próprias, auto-conscientes e bem fundamentadas, de origem e convergência nacionais, continuará nas mãos dum internacionalismo para inglês ver.

O país ainda não digeriu a revolução liberal (invasão francesa)! Não conseguindo apaziguar a terra com a sua ideia, vivendo ao rumo de ideologias interesseiras e estrangeiras. Também a primeira república, embora engordada pelos bens Igreja não serviu mais que os interesses dos que a fizeram, fomentando os barões do 5 de Outubro que em 16 anos produziu 39 governo e acabou na bancarrota em 1926. Afinal, o benefício do 25 de Abril foi dar à nação o desenvolvimento que os governos dos países vizinhos, sem o desvio da revolução, deram ao seu povo; caracterizou-se, no seguimento da primeira república, por criar novos barões (os novos ricos) quando o que se esperava era que produzisse cidadãos.

Tal como aconteceu na primeira república, a sociedade portuguesa, em vez de discutir objectivamente a melhor maneira de construir um Portugal solidário independente e de impedir a falência do Estado, é levada a cultivar um discurso partidário em torno duma rectórica de culpas e desculpas geralmente à margem da “coisa pública”. O maior impedimento momentâneo para o desenvolvimento do país encontra-se num estado ocupado a nível de estrutura e inquinado por um discurso unilateral do ou… ou… Neste sentido, o desinteresse da nova geração pelos seus pais, que ocupam a opinião política e pública, só poderá ser de benefício para a nação para o momento em que assumam eles a responsabilidade de dirigir o país.

A sociedade desperdiça-se no partido do contra

A sociedade portuguesa tem vivido dum grande equívoco: o equívoco de identificar os interesses de Portugal com os interesses dos partidos e o equívoco de identificar lógica (rectórica) com a realidade objectiva. 

De facto o que temos é uma nação travada pelas peias dos partidos sempre a mancar atrás do acontecimento e com uma classe política (de conservadores envergonhados e progressistas arrogantes a governar no enclave de Lisboa) a viver da improvisação (Cavaleiro) e a servir de manequim à moda que o estrangeiro produz.

Os que levaram o Estado português à ruina apresentam-se como a solução e, o que é mais grave, Portugal não tem alternativa de escolha: só pode escolher entre maus e piores (aliás uma tendência geral contemporânea!). Neste contexto, também o fenómeno Sócrates não é mais que um sintoma dum Portugal adolescente, melindrado e doentio, dum querer ir ao restaurante sem ter de pagar a conta, dum Portugal Inês Pereira.

Uma cultura democrática, que limita o discurso político à satisfação de adeptos, como se o Estado fosse um relvado onde os políticos jogam o seu jogo perante um povo reduzido a assistência, uma população de claques logo satisfeitas com a perda do clube contrário, desautoriza-se e impossibilita, ao cidadão, a capacidade de referência à realidade. Suficiente parece ser o calor da afronta, pertencer-se ao partido do contra; é-se moderno e sabido na medida em que se tem opinião contra isto ou contra aquilo: contra o governo, contra a Igreja, contra a esquerda, contra a direita, contra a justiça e contra a injustiça… A essência do discurso político e popular parece reduzir-se a duas palavras: ser contra, pertencer aos contras dos contrários. O ser do contra acrítico confere estatura moderna e encobre a ignorância do contra e do contrário. Este espírito de contradição impede a formação duma cultura conservadora crítica séria e profunda e impede também a formação duma cultura progressista crítica séria e aferida ao país. A inveja e a pretensão completam-se…

Um povo é levado ao engano pelos modelos que se lhe apresentam. Só lhe resta a oportunidade de comparação entre os que o sistema político lhes apresenta e estes são reles porque o húmus republicano que os produziu, mais que na ideia, baseia-se num pragmatismo parasitário e oportunista condicionado e condicionante: um sistema de pensamento de matriz partidária.

A República Portuguesa, uma realidade muito enredada e mal feita, (talvez demasiado vergonhosa para poder ser contada nas aulas de História!) só poderá tornar-se frutífera depois dum autoexame crítico sem recalques. Sem o reconhecimento dos erros dos conservadores e dos progressistas, a partir duma grelha da cultura nacional, o país não sairá do ciclo vicioso de extremos pendulares. Fruto de ideologias importadas e mal digeridas, a república, têm conduzido Portugal de insolvência em insolvência, não conseguindo produzir políticos, à altura do povo histórico luso, nem da realidade contemporânea. Herdou da monarquia e da Idade Média os vícios que pretensamente queria combater com a mudança, mas que, de facto, ainda exacerbou ao incorporar as aspirações do “Escudeiro”: nobreza (elite) decadente, aventureira e parasita que vive da trafega do vinho azedado em odres novos!

Portugal na Avalanche do Efeito Decoy

Portugal ainda não terminou a guerra civil. Apenas transformou a guerra civil armada em guerras ideológico-partidárias, numa guerra da cidade contra o campo, do moderno contra o tradicional, do povo contra o povo. Os conflitos armados encontram a sua perpetuação através dos conflitos ideológicos nos partidos numa luta desigual de conservadores intimidados e de progressistas atrevidos.

Na tribuna pública da sociedade portuguesa (TV) reina o discurso partidário e a sociedade não se pode resguardar porque não tem infraestruturas capazes de criar alternativas reais e independentes. Não há grupos de imprensa fortes nem correntes de pensamento de relevância nacional capazes de provocar impacto político que obrigue a nação a reflectir para crescer organicamente. Um Estado ocupado por um sistema de bajulações e de “guetos secretos” pouco mais pode produzir que mediocridades a nível económico, político, cívico e social. Neste sistema, a correspondente ascensão partidária favorece a formação de líderes medianos de espírito mais esperto que inteligente, animais políticos, frutos de influências e jogos; expressam neles mais a esperteza árabe do que a inteligência francesa. Na falta de modelos políticos, económicos e sociais consistentes, Portugal não conhece alternativas aferidas à realidade. Apenas conhece alternativas partidárias, que centram a atenção em modelos particulares inferiores.A República só tem vindo a gerar alternativas atrofiantes. Nenhuma delas tem a qualidade de dominar a outra ou de ser integral. A opinião pública, dado adquirir o conhecimento político através da via demagógica, só é capaz de equacionar os problemas em alternativas binárias partidárias ou na irresponsabilidade de partidos pequenos com ideias luzidias mas não aferidas à realidade portuguesa. Considera como satisfação do seu ideal o servilismo a um partido, quando o ideal passaria por uma terceira via, fruto de uma análise científica fria independente, baseada na realidade, que o sistema impossibilita. Mesmo o povo pensante, aquele que não reduz a sua erudição ao saber acomodado da TV, não é confrontado com uma alternativa real, deixando-se levar pelo efeito Decoy. Assim, o sistema político português não gera alternativas adequadas ao povo e às necessidades da nação. São muitas vezes alternativas copiadas de países também elas decadentes porque baseadas na divisão e na exploração do mais fraco.

No seguimento de quem dá a ideologia e o pão

Lugar-comum das nossas revoluções tem sido o adiar da nação em nome de liberdades coloridas: Tal como elites portuguesas se tinham outrora colocado do lado do invasor napoleónico, também no 25 de Abril, os seguidores do mesmo espírito, se puseram ao lado da União Soviética passando as províncias ultramarinas portuguesas para a influência comunista. Agora, o 25 de abril tropeça na própria ideologia, porque, na realidade “quem dá o pão, dá a criação”. No tempo de D. Manuel o magnânimo, tínhamos os quintos das especiarias, depois o ouro do Brasil, as remessas dos emigrantes e os fundos perdidos. A incapacidade política do país, para acompanhar a nação e a evolução dos tempos, leva-a a viver num estado esquizofrénico (de personalidade fendida). Os egos dos partidos têm sido construídos à custa do povo e contra o ego da nação.

Gil Vicente, quando escreveu a farsa de Inês Pereira, certamente já previa na política de José Sócrates o Escudeiro Brás da Mata e, na de Passos Coelho, o Pero Marques! Na rotação, de noivado em noivado, Portugal emigra, envelhece e não gera.

O remédio é acordar e redescobrir a lusofonia!

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@gmail.com

www.antonio-justo.eu

 

José Sócrates – um Vendedor moderno de Ilusões velhas

O Filho pródigo regressa à Casa paterna com Aspirações a ser Presidente

 

António Justo

Sócrates é o homem que melhor retrata o estado doentio dum país renitente que se recusa a encarar a realidade em que se encontra para continuar a viver embalado em sonhos e contos da carochinha. A sociedade portuguesa continua a cultivar poleiros como se o cacarejar de galos com penas de modernidade lhe dessem o pão e lhe pudessem compensar o atraso económico. No panorama português continua a não haver alternativa de escolha, a não ser a opção entre o mau e o pior.

 

O Sistema partidário português, num país de adeptos que não de eleitores, não precisa de se preocupar com questões deontológicas, nem com os verdadeiros problemas da nação; vive das victórias partidárias e o desagradável é resolvido pela rectórica e pelos estrangeiros (Troika).

 

Sócrates regressa a Portugal e entra pela porta do cavalo, recebendo um poleiro semanal de destaque no sacrário da nação (TV). Daí pode ditar as suas sentenças e atirar pedras numa nação partidária devota, habituada a comer e calar e a admirar uma argumentação fomentadora de ressentimentos. A argumentação fascina-os, não a realidade nem o objecto da argumentação. Mas por uma questão de justiça para com o povo português terá de ser dito que o que acontece em Portugal já germina, há muito, na Europa e a decadência começa pelos mais fracos.

 

A TV pública, que privilegia os galadores políticos, está consciente de que pode beneficiar e receber, de braços abertos, o seu filho pródigo sem que os seus irmãos fiéis protestem. Aquele abandonou o país depois de o ter conduzido a uma situação desolada; ciente de que o povo tem memória curta, e como esperto “animal político”, aguentou-se em Paris o tempo suficiente para poder descer de paraquedas ao povoado e poder falar da desolação dum país que ele mesmo afundou, ajudado pelos outros partidos. Apesar da bancarrota e da Troika continuam a ter a razão toda; continuam a falar como se fossem libertadores. É um lugar-comum partidário, ignorar a crise económica e cultural, falar mal dos governos e branquear a própria miséria no tempo da oposição. Num país irreal, José Sócrates, com a sua atitude galante, é a melhor Isca que o PS tem também para frustrações e sonhos femininos. Espectadores, que não distinguem entre o brilho do falar e a argumentação seguem, de olhar fixo, mais uma história de embalar crianças.

 

Um país de tanga, com uma TV jacobina à procura de “audiências”, prefere a demagogia gratuita à informação séria paga!

 

A melhor atitude a assumir neste desapropósito, seria o boicote ao programa de Sócrates, e até apagar a televisão; “para quem é bacalhau basta”! O boicote não se deveria dar por razões partidárias mas apenas por uma questão de honra e de respeito por si mesmo e pela nação. Seria ingenuidade pedir responsabilidade à direcção da TV; ela é fruto de interesses mesquinhos e não duma cultura política. De facto, tão culpado é o PS como o PSD por tal desacato.

 

Os interesses individuais são confundidos com os do Estado

“Um político que desiste de puxar pelas energias do seu futuro não está à altura das suas responsabilidades”. No contexto em que Sócrates proferiu esta frase fala como se a defesa dos seus interesses se identificasse com a defesa dos interesses do Estado. E referindo-se ao seu espaço semanal na TV pública como comentador político, a partir do 7 de Abril, disse laconicamente: “Ninguém tem de ter medo”. Como se a sua entronização não fosse um acto partidário inocente numa TV pública sempre partidariamente politizada nem mais uma encenação para um povo que só conhece a realidade política situada entre as frontes dos interesses partidários. Pelo que se constata, Portugal continuará a viver embalado pelo cantar da cigarra a encantar a formiga!

 

É o cúmulo dos cúmulos o que a classe política portuguesa, aninhada nos bastidores da TV pública, se permite. Não é de admirar porque o manancial do grande saber público é a TV. Sócrates, e muitos outros, podem permitir-se fazer o que bem lhes apetecer porque desonraram o povo português a ponto de fazerem do Estado um bordel! O espírito democrático ainda não chegou aos partidos, doutro modo haveria membros que boicotariam tal disparate que só fala mal de Portugal e dos membros dos partidos que se permitem o que em nenhuma nação europeia de respeito se não permitiria.

 

Quando é que o povo regressa de férias para pôr Portugal na linha? Sócrates como comentador na TV pública, é a melhor prova de que Portugal não tem os pressupostos necessários para poder mudar e que a classe política continua a apostar na corrupção e na demagogia. O Bobo tem pele grossa e não nota o que acontece.

 

A cegueira é tanta que até se argumenta que em nome da honestidade e da representação proporcional na TV se deve tratar a todos por igual. Seria porém desonesto pretender-se, em nome da honestidade, falar da desonestidade. O sistema rotativo confirma que a um presidente PSD se sigue um socialista e o povo, sem entender nada do que se passa em Portugal já se cansou de Coelho como antes de Sócrates. Neste cenário, quem melhor que Sócrates para atrair um público feminino com grande poder na votação!

 

Porque nos encontramos num enredo de desonestidades consecutivas, o povo terá de aguentar uma desonestidade rotativa resumida no progresso da continuidade do banal.

 

Naturalmente que cada qual tem direito a honrar e louvar os seus “santos” mas querer, em nome da desonestidade de uns, afirmar o direito à desonestidade dos outros é perversão e deslealdade para com o todo. Esta tem sido uma constante da república.

 

Eles bem sabem que os cães ladram mas a sua caravana passa. O sistema de mafia branca que vive nas entranhas da nossa república tira sempre proveito tanto do sucesso como da bancarrota. O excessivo discurso partidário inquinou a nação. A luta política tira-nos as forças que poderiam ser empregues na defesa de programas objectivos servidores do povo e da nação.

 

Já outrora o povo gritava: soltem Barrabás. E o sábio sermão da montanha diz: “não oponhais resistência ao mau”. Mas o mesmo discurso diz também: “Bem-aventurados os que têm fome e sêde de justiça, porque serão saciados.”

 

António da cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@gmail.com

www.antonio-justo.eu

 

Comunicação Social miserabilista

Informação que apela à Lágrima e ao Sentimento

António Justo

Acabo de regressar de Portugal com uma certa melancolia pela beleza e riqueza dum país que sofre no corpo e na alma como um canino amarrado a uma casota de raposas e predadores. O medo e a raiva assolam um povo a viver cada vez mais na rua, sem poder entrar em casa.

 

O povo ainda anda de pé mas é conduzido pela mão da Troika e de instalados nas diferentes administrações e representações que o conduzem docemente ao curral dos senhores. Muitas pessoas “vivem da mão para a boca” e muitas outras na angústia/revolta perante um Estado que cada vez interfere mais negativamente na sua vida. Apesar da presença de personalidades sociais responsáveis a dignidade humana cada vez é mais ultrajada.

 

Fomenta-se uma mentalidade mafiosa que, a nível de discussão pública, deita achas para a fogueira duma emotividade que ofusca a razão com o fumo de sentimentos difusos que vão da raiva ao desespero e da inveja ao racismo. Um Estado sem rumo próprio segue uma política subterrânea jacobina que ganhou especial expressão em Portugal com as invasões francesas e com o republicanismo.

 

A luz do sol e a alegria de viver encontram-se cada vez mais ensombrados. A falta de esperança leva a dormir e torna-se motivo do não viver.

 

A grande cultura lusa sofre e é depauperada por uma Comunicação Social que fomenta o miserabilismo popular e a leviandade de muitos comentadores cínicos e convencidos que se aproveitam dum certo voyeurismo e de opiniões entumecidas como se opinião e realidade fossem a mesma coisa.

 

Muitos locutores do dia-a-dia agarrados às banalidades noticiosas bombardeiam o povo com ideias, imagens e sentimentos repetitivos lisonjeadores de amigos e desrespeitadores de inimigos. Fomenta-se um pessimismo amedrontador que inibe a própria iniciativa e o espírito de investimento.

 

Como sanguessugas, até os meios de comunicação social nacionais se fixam no negativismo de notícias dirigidas ao sentimento. Quando alguém se enforca logo se juntam os leões e as hienas à volta de imagens e ideias que fomentam a imitação. A TV pública fala de suicídios do foro privado e faz render o peixe, como se se tratasse de suicídios de motivação política realizados dentro da sala do Parlamento. Cultiva-se o extremismo emocional e um voyeurismo que se alonga nos telejornais até às profundezas dos canais de rádio. As coisas são repetidas até à exaustão.

 

Observam-se controlos da ASAE a restaurantes e empresas como se fossem mandatados por estrangeirados sem consciência pela realidade local com um comportamento anti-regionalista ao serviço de interesses centralistas anónimos e antinacionais.

 

Um sistema político servidor de interesses individuais e partidários a nível nacional e de autarquias continua a servir o compadrio da avalanche dos arrivistas criando postos de trabalho na administração quando não há trabalho suficiente para os já empregados. Uma mafia de rosto lavado dos lugares cimeiros de Câmaras e administrações procura desestabilizar os seus subordinados criando um clima de medo, desconfiança e intriga entre os empregados.

 

Arrasta-se o povo para um pessimismo medroso e amedrontador. Num ambiente de tudo contra todos, tudo tem razão, predadores e subjugados; só uma coisa falta: a consciência de responsabilidade nacional.

 

A contestação social mais que objectiva, é, muitas vezes, manipulada por grupos que vivem de mordomias à custa do povo, sejam eles representantes dos trabalhadores ou dos senhores. Um exemplo disto foi a última greve ferroviária que pretende manter bilhetes gratuitos para os familiares dos empregados. Naturalmente que todos os grupos têm direito a defenderem os próprios interesses; o dilema de Portugal é encontrar-se nas mãos duma esquerda intransigente e de senhores e capitalistas sem alma social nem nacional.

 

O último sintoma do estado doentio e depravado de quem tem o dizer em Portugal foi o facto José Sócrates, que deveria estar sob observação judicial, aparecer como candidato a comentador político nos canais da TV pública. Um atrevimento que bradaria aos céus numa sociedade normal! A tal falta de discernimento chegou um povo! A honra dos predadores é legitimada com a desonra da nação. Os interesses partidários afirmam-se mafiosamente sem que haja oposição qualificada. Com esta iniciativa, José Sócrates pretendia aproveitar-se da lorpice da Comunicação Social para se preparar para as presidenciais.

 

No meu belo e inocente país os predadores são os senhores!

 

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@gmail.com

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