A NAÇÃO NA HORA DO ARREPENDIMENTO E DA MUDANÇA

Socratismo no Final de uma Era de “Históricos” e seu Compadrio
A Justiça está a mudar de Atitude – Quando começa a Política?

António Justo
Não se pode ter uma justiça açaimada toda a vida… Mas a boa vontade da Justiça fica de mãos atadas e de olhos vendados, se a Política não tiver boa vontade e coragem de criar legislação bem vedada que não permita fugas para a corrupção.

A doença do socratismo, um misto de distúrbio bipolar e de Bordaline, como durante a sua regência escrevi, é o resultado de um modo de vida individual e nacional generalizado… (A sua repressão sobre jornais, licenciatura, Freeport, destruição das escutas, nacionalização do BNP e influência em todos os outros com excepção do BPI só podia ser efectuada sob influxo de outros ‘Boys’). Quem acusa os Media, de revelarem o que não deviam, vive ainda no mundo socratista, é renitente e não quer evolução. Sem informação política aberta, o público não pode julgar, ou vai julgando conforme o que se lhe vai disponibilizando.

O fenómeno Sócrates foi possível porque as nossas instituições o geraram, porque muitos dos seus comparsas não eram seus amigos mas sim amigos da onça. Não o ajudaram então com a crítica amiga que precisava e agora saem para o adro da nação com o guarda-chuva do “rogai por ele” que não passa de um “rogai por mim” discreto, enquanto, na procissão, o povo continua à chuva.

Chegou a hora de ganhar o pão com honra e com o suor do próprio rosto tal como faz a maioria do povo

Em eras passadas, a burguesia sofria de corrupção passiva enquanto a classe do 25 de Abril e da EU sofre de corrupção activa, mais motivada e fundamentada em ideologias e nas finanças do que no Homem e na economia real. Por isso é uma corrupção ilimitada destruidora da pessoa e das mais venerandas instituições. A corrupção passiva é como as bactérias que podem ser atacadas com antibióticos, a corrupção activa é como os viros, não tem cura, não há antibióticos para tal, alastra se não se isola.

Portugal encontra-se no mar alto; esta não é a hora de se comerem uns aos outros, mas sim de despejar ao mar a carga da corrupção que o sistema leva a bordo. A Justiça parece começar a ganhar coragem. Os partidos precisam de se purificar e o povo necessita de ganhar força para Portugal estar preparado para tomar decisões arrojadas numa altura em que a EU e os USA se preparam para neutralizar a voz da democracia, com a voz dos do grande capital internacional, no acordo em preparação APT ou TTIP. Só um país sério terá autoridade para se opor à corrupção em preparação nos núcleos do poder mundial.

Para quem tudo é relativo, não há verdade que o sustenha, dado a escuridão da mentira passar a cobrir a verdade. A oligarquia política não pode continuar a abusar do Estado de Direito; seguir a marcha até agora percorrida é destrui-lo.

Esta seria a hora do arrependimento e da mudança nos Meios de Comunicação Social

O andor, da história da moral e da política, tem sido transportado por muitos imorais. Como nos finais do império romano, também hoje continua a ser condenado Cícero para se manterem os Catilinas demagogos, os pára-costas dos grandes núcleos do capital internacional que procuram minar a autoridade dos Estados e o poder das democracias. Também os Media têm de se purificar para que os Catilinas desonestos não encontrem amplificação na opinião pública.

Para o jornalista José António Saraiva, director do Jornal SOL, José Sócrates é ‘o Vale e Azevedo da política’; pelo que investigou, José Sócrates controlava o grupo RTP do Estado, influenciava a Controlinvest que inclui o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, a Máxima e a TSF e mantinha “relações estreitas” com a Ongoing detentora do Diário Económico; fez a tentativa de compra do “grupo TVI” que tem a Lux e a Rádio Comercia. “Só fugiam ao controlo do Governo o grupo Imprensa, liderado por Balsemão, e o grupo Cofina, de Paulo Fernandes.” Sócrates tentou fechar o SOL (através do BCP accionista do jornal) que tinha denunciado os casos Freeport, Face Oculta e Tagusparque. Se não fosse a ruína das contas do Estado e a ronda da Troica o homem poderia vir a conseguir tanto poder como Salazar.

Quase não há um jornalismo investigativo e quando o há, como no caso do jornal Sol, recebe insultos e perseguições… No 25 de Abril, jornalistas foram saneados e foram instalados outros conformes ao sistema mas, como se vê, prejudicando o Estado e a nação. Os corruptos do poder contagiaram a TV e outros Media. Como podem pessoas com ordenados corruptos informar objectivamente sobre corruptos e sobre corrupção?

Esta seria a hora do arrependimento e da mudança na política

Tocaram no nervo da nação. Os partidos deviam aproveitar a ocasião para chamar a contas os membros abusadores. Portugal precisa de todos os partidos mas, então, defenda-se o partido mas não a corrupção, nem tão-pouco os seus oportunistas, e os que abusam dele! O que está em causa são as instituições que produzem tais corruptos; quem os defende não quer bem ao partido. Falta visão e capacidade crítica! Se alguém toca nos interesses dos amiguinhos é logo olhado de lado e condenado ao ostracismo. Portugal chegou onde se encontra devido a uma inteligência facciosa condicionada ao oportuno e aos amigos! Um impedimento à mudança está no facto de muitos que beneficiaram do sistema ou do partido dão preferência à amizade dos amigos  procurando defendê-los mesmo à custa dos prejuízos de uma nação, levada à bancarrota por amigos e inimigos. Para uns e outros a nação e o povo não conta.

Precisa-se de uma outra forma socialista de ser e de estar, precisa-se de uma outra forma de ser e de estar da social-democracia e de outros partidos. Urge uma democracia atenta e viva que exorcize os demónios que o regime produziu.

O PS português nunca teve tanto poder na sua mão como na era de Sócrates. Os resultados mostram que em Portugal se torna perigoso um governo de maioria absoluta.

Esta seria a Hora do Arrependimento e da Mudança na Mentalidade do Povo

Um país cego e surdo-mudo, deixou-se iludir e agora sofre de desmame. Depois da bebedeira, encontra-se em ressaca. A ilusão não suporta a desilusão de não poder olhar para a as estrelas que não quer cadentes. Muitos, não interessados no desmame, para desviarem as atenções da droga do próprio partido (à imagem de Soares), querem dar a culpa ao Juiz…. O que é motivo de crítica para uns é motivo de defesa para outros, a corrupção não conhece outras alternativas.

A sabedoria popular revela uma certa propensão para a corrupção, na maneira como, quase com afecto e compreensão, repete: “Quem parte e reparte e não fica com a maior parte, ou é tolo ou não tem arte”; outro provérbio popular do género: “Ladrão que rouba a ladrão tem 100 anos de perdão”. Pelos vistos esta “sabedoria” é ancestral. Uma doença crónica torna-se muito difícil de curar.

No meio de tudo isto, o povo também não pode levantar muito a cabeça dado ter-se comprometido nos desvios de fundos europeus que se destinavam à formação profissional e em que os organizadores dos cursos, elaboravam listas de presenças falsas, com nomes de povo, para, em vez de darem as aulas de formação, arrecadarem o dinheiro sem ter prestado serviço.

Urge superar o estado de uma nação traumatizada, sempre a olhar para o lado com medo de falar, não seja o caso de estar o amigo concorrente perto. A tarefa é séria, embora se não impossível, difícil. Trata-se de restabelecer a dignidade da pessoa, das instituições e do Estado.

António da Cunha Duarte Justo

Jornalista
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O Papa falou à Consciência dos Deputados do Parlamento Europeu

A EU precisa de um Enquadramento que “faça prevalecer a Lei sobre a Tirania do Poder”

António Justo
A Europa encontra-se à disposição de um capitalismo feroz e de ideologias que não respeitam a dignidade humana nem as nações. Neste contexto, Francisco I veio falar à ágora da Europa onde não faltam os vendilhões.

Ontem (25.11.2014), o Papa falou em Bruxelas aos 751 deputados do parlamento europeu que representam mais de 500 milhões de cidadãos.

Referiu-se, indirectamente, ao perigo dos acordos (TTIP) que estão a ser preparados entre a EU e os USA; estes constituem um atropelo aos países membros que passarão a ser economicamente controlados por poderes económicos e burocráticos internacionais sem que o Estado possa intervir. Seria fatal uma dupla moral que traz na boca a solidariedade europeia mas cede às multinacionais privilégios e direitos que deveriam ser inalienáveis do povo. De facto, as democracias encontram-se ameaçadas pela “pressão de interesses multinacionais não universais, que as enfraquecem e transformam em sistemas uniformizadores de poder financeiro ao serviço de impérios desconhecidos. Este é um desafio que hoje vos coloca a história.”

A dignidade humana encontra-se ameaçada pela discriminação e por interesses económicos desmedidos. “Que dignidade é possível sem um quadro jurídico claro, que limite o domínio da força e faça prevalecer a lei sobre a tirania do poder?” Apelou à solidariedade e subsidiariedade.

Uma Europa que obriga os jovens a prepararem-se para o trabalho até aos 18 – 25 anos e deita ao abandono 6 milhões de jovens desempregados, perde o crédito, ao deixá-los à porta da sociedade e da vida, sem trabalho nem perspectiva. Daí, para o Papa, a urgência de se “promover as políticas de emprego” e a necessidade de “ devolver dignidade ao trabalho” pois «quanto mais aumenta o poder dos homens, tanto mais cresce a sua responsabilidade, pessoal e comunitária».

Francisco verifica que a Europa se tornou um continente cansado e envelhecido: : “De vários lados se colhe uma impressão geral de cansaço e envelhecimento, de uma Europa avó que já não é fecunda nem vivaz”. A EU tem vindo a ceder os seus ideais ao “tecnicismo burocrático das instituições”, tem criado estilos de vida caracterizados pela “opulência indiferente ao mundo circunstante”. “O ser humano corre o risco de ser reduzido a mera engrenagem dum mecanismo que o trata como se fosse um bem de consumo a ser utilizado, de modo que a vida – como vemos, infelizmente, com muita frequência –, quando deixa de ser funcional para esse mecanismo, é descartada sem muitas delongas, como no caso dos doentes terminais, dos idosos abandonados e sem cuidados, ou das crianças mortas antes de nascer.”

A Europa está velha porque alberga muitos Junckers, Sócrates e oligarcas sem alma europeia. Francisco I sofre com o desmoronamento duma Europa que, com uma política que endurece na elaboração de regras, não se preocupa seriamente com o futuro, perdendo os seus ideais em favor da burocracia e do mercado. Criticou o pensar consumista e egoísta que se espalha como um nevoeiro pela Europa.

Admoestou os países ricos, criticando o curso de poupança da Troica que castiga especialmente os países do sul, tendo o problema surgido do fomento da flexibilização de um mercado liberal que “não respeita a estabilidade nem a segurança das perspectivas de trabalho”.

Solicitou mais solidariedade com os refugiados. É um escândalo ver-se o Mediterrâneo transformado num cemitério para muitos que procuram refugio. O problema da migração tem de ser resolvido em conjunto questionando assim as Directrizes de Dublin.

“Uma das doenças que, hoje, vejo mais difusa na Europa é a solidão, típica de quem está privado de vínculos”. “Vemo-la particularmente nos idosos, muitas vezes abandonados à sua sorte”, bem como nos “jovens privados de pontos de referência e de oportunidades para o futuro; vemo-la nos numerosos pobres que povoam as nossas cidades; vemo-la no olhar perdido dos imigrantes que vieram para cá à procura de um futuro melhor”. Os deputados também devem: “cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas” e estarem atentos à «cultura do descarte» e do «consumismo exacerbado».

Falou também do abandono a que a política deitou as “minorias religiosas, especialmente cristãs, em várias partes do mundo. Comunidades e pessoas estão a ser objecto de bárbaras violências: expulsas de suas casas e pátrias; vendidas como escravas; mortas, decapitadas, crucificadas e queimadas vivas, sob o silêncio vergonhoso e cúmplice de muitos.”

Apelou para a importância da defesa da ecologia e da natureza de que somos “Guardiões, mas não senhores. Por isso, devemos amá-la e respeitá-la; mas, «ao contrário, somos frequentemente levados pela soberba do domínio, da posse, da manipulação, da exploração”; a par duma ecologia ambiental, é preciso a ecologia humana, feita do respeito pela pessoa.

Resumiu o ideal europeu recorrendo à seguinte imagem: “Um dos mais famosos frescos de Rafael que se encontram no Vaticano representa a chamada Escola de Atenas. No centro, estão Platão e Aristóteles. O primeiro com o dedo apontando para o alto, para o mundo das ideias, poderíamos dizer para o céu; o segundo estende a mão para a frente, para o espectador, para a terra, a realidade concreta. Parece-me uma imagem que descreve bem a Europa e a sua história, feita de encontro permanente entre céu e terra, onde o céu indica a abertura ao transcendente, a Deus, que desde sempre caracterizou o homem europeu, e a terra representa a sua capacidade prática e concreta de enfrentar as situações e os problemas.”

Recordou que o que gera a violência não é a glorificação de Deus, mas o seu esquecimento». Deus preserva-nos do domínio das modas e dos poderes do momento.
Recordou também um autor anónimo do século II que escrevia: «os cristãos são no mundo o que a alma é para o corpo».

Chegou a hora de construirmos juntos a Europa que deve girar, não em torno da economia, mas da sacralidade da pessoa humana e dos valores inalienáveis. Concretizando: precisamos de uma nova geração de políticos e de executivos que não se tornem pastores dos lobos mas que defendam as ovelhas dos lobos!
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
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À procura do Pai no Universo

A Nave espacial Philae com a Sonda Rosetta “acometa” depois de dez Anos

António Justo
A 13.10.2014 a nave Philae acometou, depois de dez anos de viagem, em Tschuri. O cometa desloca-se a grande velocidade, a uma distância de 5000 milhões de km da Terra.

O objectivo do projecto espacial é analisar a composição do núcleo do cometa, a temperatura, e a natureza do seu solo, para, deste modo, se conseguir informações sobre a origem do sistema solar.

A nave de desembarque Philae (1), como o nome indica, revela o esforço por decifrar o texto do universo, numa tentativa de descobrir a origem do cosmo e da vida.

Como pode a técnica do homem (brinquedo dele), por meio dela, descobrir Deus no seu brinquedo que é o Universo?

O projecto é arrojado; é como tentar encontrar o Espírito divino, no provisório do tempo (no corpo morto de Cristo). A intenção é útil e o projecto também, porque, para lá das diferentes velocidades a que andam as inteligências humanas, o facto reúne-nos a todos no encruzamento do espaço e do tempo, naquele entremeio/intervalo, onde começa o nevoeiro interstelar feito de mistério. Aqui, para lá de constelações e opiniões, encontramo-nos todos no início da mesma viagem.

Na experiência do universo, tal como na da ressurreição, o tempo pára, a vida flui, só se ouvindo o ecoar do divino por todo o universo – um eco no coração do Homem a repetir-se na eterna pergunta: Pai, onde estás?

Na repetição desse eco outros ecos se ouvem no receio de uma resposta órfã vinda da técnica para filhos órfãos, na sombra da vida… Os cientistas permanecem presos em campos magnéticos, em distâncias e em conjecturas que partem de um pressuposto próprio. De facto um deus que se pudesse atingir não seria Deus. O que está por trás de tudo isto e tudo puxa e ordena, não lhes interessa. Cada um, cada criatura encontra o que pretende, parece também isto ser uma lei da natureza. O homem moderno corre o perigo de se dissipar no útil e factual perdendo a capacidade de sentir o pulsar de um poder superior na natureza.

Entre Deus e a sua obra corre o fluido do nada calado, a deixar espaço para perguntas a que o acaso ajuda mas não responde. Onde se encontra o eterno tecelão, que, da sua fantasia, fia a vida com os fios duma ordem misteriosa e perturbadora, de tal modo ordenada que se perde a meta e o sentido?

O desamparo do Homem, na procura do Pai (das origens), gira na órbita entre dúvida e convicção. A decifração da vida precisa não só da luz fria da razão mas também do calor da fé. Doutro modo a vida gelaria ou seria reduzida a um pesadelo num palco obscuro que em vão tentaria coar o brilho do Sol.

Neste mundo tudo gira na procura de uma meta! No emaranhado dos movimentos, a fé gera asas que o ateu não tem. A viagem da sonda Rosetta, materializa a fé da ciência na procura dos sinais da vida, tal como a viagem da fé, na procura do sentido do sentido, tenta dar sentido ao sonho que a vida é.

Todos, no mesmo espaço, viajamos em diferentes velocidades e órbitras mas num sentido comum de um céu estrelado com as energias das leis da física, da moral e da razão, tudo alinhado no seguimento das pegadas do mistério no universo. Todos nós, indivíduos e culturas, estamos na nave Philae.

Cada época, cada cultura, cada pessoa tem o seu centro de gravidade – o seu Sol – em torno do qual giram sentimentos e pensamentos que determinam uma acção própria no decorrer do mesmo empreendimento de desenvolvimento e descoberta.

Philae perdeu as forças, esvaziou as baterias depois de dois dias. Resta-lhe esperar pela luz do Sol que lhe carregará as baterias para seguir a viagem da esperança.

Procuramos nos testemunhos da órbitra do tempo o que se encontra fora dessa órbitra. A procura é para o homem o que é para a sonda a velocidade da nave.

Na vivenda do mundo
A nave Philae
Com coragem vai
Em busca do Segredo
Na Sala de Parto
À procura do Pai!
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

(1) Pedra de Roseta é um fragmento, em três línguas, descoberto em 1799 no Egipto e que, juntamente com a descoberta de um outro fragmento, na ilha Philae, possibilitou a decifração dos hieróglifos egípcios.

Sínodo sobre Casamento, Família e Sexualidade

Amor e Sexo são grandes Garantes de Felicidade e Equilíbrio

António Justo
Cerca de 200 padres sinodais estiveram presentes, durante 15 dias, na assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos reunidos em Roma; esta terminou a 19.10. 2014 com um documento final sobre sexualidade, casamento e família. As discussões continuarão nas comunidades locais até encontrarem concretizações no sínodo de Outubro de 2015.

A primeira semana do sínodo esteve subordinada ao tema “ouvir as realidades das famílias da igreja mundial.” Esta foi uma fase muito enriquecedora e aberta onde os bispos apresentaram diferentes perspectivas culturais, políticas e sociais à maneira de um caleidoscópio da igreja universal.

Na segunda semana a preocupação e o medo dominaram as discussões do sínodo, o que motivou o Papa, na sua declaração final, a referir-se às diferentes tentações.

O Relatório final, por eles elaborado, é um documento de trabalho. Teve aprovação com maioria relativa. Insiste na “união indissolúvel entre o homem e a mulher”. Reconhece aos casamentos civis, divorciados e recasados uma participação “de forma incompleta” na vida da Igreja.

Da votação dos documentos fica-se com a impressão que um terço dos bispos é bastante conservador. O documento dá relevo a soluções a partir da perspectiva pastoral.

No final do sínodo, o Papa falou das tentações observadas na assembleia sinodal e na Igreja em geral, ao tratarem os problemas do casamento, família e sexualidade. As tentações referidas são: a)- a tentação dos «tradicionalistas», e também dos intelectualistas (“dos zelantes, dos escrupulosos, dos cautelosos”), é “a tentação do endurecimento hostil, ou seja, o desejo de se fechar dentro daquilo que está escrito (a letra) sem se deixar surpreender por Deus, pelo Deus das surpresas (o espírito) ”; b)- a tentação dos «bonacheiristas», dos temerosos e também dos chamados «progressistas e liberalistas», que se revela na “tentação da bonacheirice destrutiva, que em nome de uma misericórdia enganadora liga as feridas sem antes as curar e medicar; que trata os sintomas e não as causas nem as raízes”; c)- a tentação do deserto, “tentação de transformar a pedra em pão para interromper um jejum prolongado, pesado e doloroso (cf. Lc 4, 1-4) e também de transformar o pão em pedra e lançá-la contra os pecadores, os frágeis e os doentes (cf. Jo 8, 7), ou seja, de o transformar em «fardos insuportáveis» (Lc 10, 27)”; d)- a “tentação de descer da cruz, para contentar as massas…, de ceder ao espírito mundano”; e)- a “tentação de descuidar o «depositum fidei», considerando-se não guardiões mas proprietários e senhores ou, por outro lado, a tentação de descuidar a realidade, recorrendo a uma terminologia minuciosa e uma linguagem burilada, para falar de muitas coisas sem nada dizer!”
Francisco quer uma “Igreja que não se envergonha do irmão caído nem finge que não o vê”. O Papa chama a atenção dos bispos para não ficarem na atitude passiva de receber os tresmalhados; mais que recebê-los é preciso “ir ao seu encontro”.Para quem desejar pode encontrar na rádio vaticana outras informações sobre o sínodo: http://pt.radiovaticana.va/indice.asp?Redasel=11&CategSel=19

A fidelidade conjugal torna-se, cada vez mais, num desafio

No meu entender a fidelidade matrimonial não é lineal; é um valor alto mas não deve dar-se à custa de um cônjuge; há que reflectir bem, quando, na relação conjugal, se chega a uma atitude antagónica causada por doença psíquica objectivadora e interacções insuportáveis, ou como consequência de diferentes e divergentes desenvolvimentos individuais ao longo do tempo. Em certos casos pode tornar-se tão problemático o divórcio como a continuação da fidelidade conjugal… Uma fidelidade morta (tal como um divórcio superficial) pode impedir o desenvolvimento e o renascimento de pessoas. O matrimónio implica, já na sua etimologia, maternidade (mãe, fonte), pressupondo crescimento e desenvolvimento; o desenvolvimento não se pode limitar à geração de filhos.

É bem verdade que, também na noite brilha a Lua, mas essa luz não é, por vezes, suficiente para se reconhecer/realizar o mistério de Cristo, quando as perspectivas dos olhares são inflexivelmente diferentes… Eu não sou só eu com as minhas limitações, sou também aquilo que o outro permite que eu seja numa relação de mutualidade. A luz da fé ilumina a alma mas o corpo pode encontrar-se, por vezes, gelado sem o sol, devido à tormenta do dia.

A máxima bíblica, “O Amado é meu e eu sou dele” (Cântico dos Cânticos 2,16), pressupõe o encontro de almas num espírito humilde e realizado, que só é possível na união através da oração e da leitura espiritual comum (Um encontro a três!) numa atitude de pessoas livres, responsáveis e adultas. A maioria das pessoas subsiste irreflectidamente, também porque a sociedade a obriga a isso. A maioria vive como a água de um rio que segue o leito já preparado sem chegar à consciência do ser da água.

O plano do Papa continua em aberto

A próxima assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos será de 4 a 25 de Outubro de 2015, sob o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Até lá as comunidades paroquiais e episcopais continuarão a discutir o tema no sentido de ser elaborada uma proposta cristã sobre a família.

Uma Igreja em serviço e ao serviço tem de dar erros, atendendo às diferentes situações e perspectivas das comunidades, num globo tão caracterizado pela diferença. ”Quem serve, não traz um colete branco, mas sim um avental. Isto pode ler-se no Evangelho do lava-pés; Jesus usou um avental” dizia o Cardeal Marx. “

É a hora das igrejas locais, das conferências nacionais e dos cristãos discutirem e se pronunciarem na procura de “novos caminhos”. Precisam-se novas discussões no que respeita à fidelidade à Igreja e à abertura aos sinais dos tempos. Não se pode continuar na espectativa, precisam-se respostas concretas; a Igreja não pode ficar fora de jogo em questões de sexualidade, matrimónio e família.

Não adiar o futuro escapando a soluções

A escolha da data da beatificação do Papa Paulo VI, como conclusão do sínodo, recebeu um caracter simbólico especial, deixando em muitos progressistas um sabor amargo, porque Paulo VI é vulgarmente conhecido como o papa da pílula. Foram adiadas conclusões sobre a pastoral familiar. A força dos cardeais conservadores organizados esteve muito activa, já antes do Sínodo, emperravam o desenvolvimento, procurando isolar o papa.

A Igreja continua a ter uma relação conturbada com o sexo. Vai sendo tempo de se admitirem aos sacramentos, pessoas divorciadas, recasadas ou que vivam em coabitação, desde que sejam casos bem fundamentados. Seria de desejar maior celeridade e competência aos bispos na declaração da nulidade de matrimónios.

O ser humano encontra-se em processo de contínuo desenvolvimento pelo que não pode ser reduzido a um teorema intelectual, nem tão-pouco, a sua espiritualidade pessoal ser condicionada à abstenção sexual. Também a espiritualidade dos “eunucos pelo reino de Deus” não seria desvalorizada com a abolição do celibato para os padres seculares. Doutro modo, seria, por um lado, pôr a cultura/espiritualidade em contradição com a natura e, por outro, um acto de irreverência perante a natureza, ao obrigar-se o pároco a não casar, em nome da espiritualidade.

Embora seja verdade que, também devido à disciplina sexual cristã, a posição individual e social da mulher ocidental se desenvolveu e enriqueceu muito, em comparação com o papel da mulher da sociedade muçulmana ou asiática, isto não justifica a superregulamentação da vida sexual de indivíduos e casais. Sem cair na arbitrariedade nem no relativismo, a função da Igreja não é culpabilizar mas desculpabilizar. Seria irresponsável exigir-se uma pessoa qualquer  o seguimento de uma moral superior sem que esta tenha uma infraestrutura consciencial que a suporte. (Um grande problema da Igreja católica hodierna, está no facto de ter uma exigência moral bastante elevada, ao contrário de outras religiões, ou espiritualidades à la carte). Se queremos Homens temos que formar Homens e não apenas seres humanos! Pessoas que se separam merecem um trato mais respeitoso; muito embora a situação matrimonial seja da responsabilidade dos cônjuges, esta, terá que comportar a possibilidade de inocência, pelo menos, de um deles. Seria anacronismo continuar a fixar-se em leis que carecem de “adaptação à nova realidade social” no que respeita à vivência da sexualidade, tal como reconheceu o Vaticano II.

As relações sexuais e interpessoais são de tal ordem complicadas (únicas) que não podem ser resumidas ou encaixilhadas em normas rígidas; a pastoral teria aqui uma palavra competente e privilegiada a dizer… Por vezes, na vida conjugal, surgem situações tão doentias e imutáveis que, a serem mantidas, levariam à negação de um dos parceiros (extremos casos de bipolaridade, de borderline, etc.). O Cristianismo quer liberdade, autonomia e responsabilidade do Homem livre, não podendo exigir de ninguém que se torne num “Cristo”; Ele quer ver o ser humano livre de qualquer cabresto para se tornar capaz da comunidade profunda, baseada naquela liberdade e relação que fez de Jesus o Cristo. Uma fixação teimosa na impossibilidade do divórcio pode, em alguns casos, levar pessoas a terem de passar uma vida a viver ao lado de outras, sem possibilidade de realizarem comunhão.

O códice de conduta não se pode limitar a pequenos retoques cosméticos, se a Igreja quiser continuar a ser uma voz importante no mundo e a constituir orientação também para meios menos afectos à religião. O propósito e o proposto não são fáceis, atendendo ao facto de, mundialmente, pessoas e culturas se encontrarem em diferentes estádios e com díspares velocidades. Atendendo à maioria dos católicos não viver em países europeus nem na América do Norte e, considerando que religiões retrógradas e simplicistas como o Islão entusiasmam espíritos confundidos (simples), não será fácil aos padres sinodais encontrar respostas consensuais para um universo de culturas divergentes.

Temos um ideal que é o resumo de toda a escritura, como refere também Paulo (Rom 13,8-10): o amor a Deus e ao próximo. O cristianismo (e com ele a Igreja) é testemunho e garante do desenvolvimento universal, tal como o foi para a civilização ocidental nos últimos 2.000 anos. O próximo não tem confissão nem parâmetros culturais definidos; esta é a grande inovação do cristianismo.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
www.antonio-justo.eu

UM POVO CULTO NÃO DEVERIA SUPORTAR A TV QUE TEM

Os Poderes contestados de Ontem reúnem-se modernamente nos Canais de TV

Acabo de chegar de Portugal. Uma estadia, na Quinta Outeiro da Luz, muito rica em contactos e em experiências humanas confortantes. O brilho da gente e do clima contrasta com a negrura e a baixeza de muitos programas da TV. Os responsáveis da TV parecem ter a intenção de educar o povo para o mórbido para o acaçapado, quando a sua missão não deveria ser educar mas informar e instruir!

É horripilante o nível das cadeias de TV. O povo continua a ser emburrecido com histórias emocionais de roubos, suicídios, assassínios e quejandas; tudo explorado até à exaustão duma lágrima que turva a inteligência. Notícias, que deveriam ter lugar apenas nos jornais locais, são exploradas pela TV na intenção de fomentar uma consciência ligada ao espírito coitadinho e a instintos primitivos; programas com moderadores, muitas vezes, sem nível, mas democráticos para que a estupidez também encontre representatividade nos canais virados para a sentimentalidade e a negatividade; enfim, uma cultura para mais engordar a plebe. Até o povo sensato parece não notar que está a ser encharcado com imagens e conversas baratas tendentes ao alheamento, numa perspectiva de lavagem do cérebro. Deixa-se levar e até gosta do sentimento satisfeito que o torna cada vez mais na mesma, porque “com papas e bolos se enganam os tolos”. Quanto menos o povo consiga conectar mais facilmente será de levar!

O mais lamentável é que a classe académica e gente bem pensante suportem a banalidade e não proteste contra. Um povo abandonado a feras vestidas de cordeiro e a discursos banais.

Quanto ao discurso político transmitido: uma miséria! Apenas discurso partidário para embalar o zé-povinho! É rara a discussão política objectiva sobre temas e se tal a desoras; o que interessa são os ardinas políticos da praça e todo um enredo em torno do dito e do não dito: uma conversa fiada para desinformar.

Cada partido apresenta-se como uma rampa de salvação vendo a do adversário como a rampa para o inferno. Cada qual com os seus dogmas e conversas intermináveis socorrendo-se da falta de informação factual e de argumentação concreta de um público à deriva, até porque só entende os cabeçalhos e os títulos das notícias. Conversa, só conversa! Porém, a conversa nunca é certa, se deixa espaço para reticências. Numa sociedade quer entupida/autossuficiente quer castigada, falta a informação e o interesse por ela, devido às instituições dos boys que tudo minam e dominam.

Temos de deixar a ilusão de que alguém nos virá salvar. Nós é que temos de nos salvar. O povo português é de memória curta e muitas vezes infantil ao pensar que a alternativa, no tempo de eleições, vem de um outro partido. A República começou empestada de ideologias e oportunismos e continua fiel a esta tradição. A juventude abandona o país; fica o hábito acomodado e autossatisfeito a continuar a má tradição.
Boa noite, Portugal!
António da Cunha Duarte Justo
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