O ALERTA DO POETA ANTÓNIO ALEIXO

Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de Filosofia.
Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que, às vezes, fico pensando
Que a burrice é uma ciência.
P’ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
Sei que pareço um ladrão…
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
Entre leigos ou letrados,
fala só de vez em quando,
que nós, às vezes, calados,
dizemos mais que falando.
Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.
António Aleixo

QUERIDOS AMIGOS E AMIGAS, CAROS LEITORES

Formigas no Frasco – Uma Reflexão

Permitam-me, antes de tudo, dirigir-me a vós com a serenidade que mereceis. Embora os temas que aqui abordo sejam, por vezes, candentes e envoltos nas chamas do debate político, dirijo-me especialmente àqueles que, sensíveis e ponderados, preferem não se deixar consumir pelo fogo das paixões partidárias. É, de facto, lamentável observar como a defesa de um ponto de vista político pode, tantas vezes, transformar-se em motivo de exaltação e desavença. Mais triste ainda é constatar que, na era da informação, somos constantemente bombardeados por narrativas manipuladas, mesmo por veículos que se presumem sérios. Seria uma pena permitir que essa torrente de desinformação — esse lixo que nos é servido como verdade — pusesse em risco os laços que nos unem, seja na família, seja entre amigos.

As elites políticas, aqueles que se reúnem em Bruxelas, Londres ou Washington, não nos levam a sério, nem perguntam se estamos de acordo. Procuram influenciar-nos, sim, mas será que devemos, em contrapartida, dar-lhes a importância que reclamam para si quando grande parte do que nos apresentam é mentira? Ou será mais sensato voltarmos o nosso olhar para o que verdadeiramente importa: o nosso bem-estar físico e emocional, as relações que nutrimos, a harmonia que construímos no nosso quotidiano?

A propósito, recorro a uma imagem de Mark Twain que, embora singela, encerra uma profunda sabedoria. Imaginemos um frasco. Dentro dele, colocamos um grupo de formigas pretas e outro de formigas vermelhas. Inicialmente, cada uma segue o seu caminho, ocupada com as suas tarefas, sem incomodar as outras. Há uma paz frágil, mas palpável. Agora, imaginemos que alguém pega nesse frasco e o agita vigorosamente. O que acontece? As formigas, antes pacíficas, começam a lutar umas contra as outras. O medo, insuflado de fora, desencadeia nelas um instinto de defesa agressiva, transformando-as em inimigas.

Esta metáfora, caros amigos, é um espelho do que vivemos hoje. A política, nas suas múltiplas e enganosas facetas, agita o frasco da nossa sociedade. Mexe com as nossas inseguranças, alimenta os nossos medos, e põe-nos uns contra os outros. E, enquanto nós nos gladiamos, distraídos pela confusão, os que agitam o frasco seguem impunes, alcançando os seus fins, que no contexto em que nos encontramos são maldosos.

Não permitamos que isso aconteça. Deixemos a maldade para eles. Não nos deixemos levar pela agitação do frasco. Em vez disso, cuidemos do nosso bem-estar, das nossas relações, da nossa paz interior. Como as formigas antes de serem perturbadas, busquemos a harmonia possível, mesmo num mundo empenhado em nos dividir.

Com muita estima no sentido da reflexão

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

Desinformação mediática sobre a Reunião Trump-Zelensky

Manipulação na Era da Guerra e da Pandemia 

Recentemente, acompanhei atentamente a reunião na Sala Oval, em Washington, e fiquei impressionado com a forma como a cobertura mediática distorceu o que realmente se passou. A imprensa e a televisão, em vez de relatarem objetivamente as posições defendidas e as atitudes dos participantes, projetaram as suas próprias narrativas e preconceitos sobre o evento. A manipulação informativa transforma indivíduos em vítimas ou vilões, moldando a percepção das massas de acordo com interesses pré-definidos.

Em vez de uma análise crítica e aberta, observa-se uma descontextualização sistemática dos acontecimentos. A informação é frequentemente incompleta e tendenciosa, construindo narrativas convenientes com base em citações selecionadas e imagens cuidadosamente escolhidas. Vivemos num tempo em que as notícias circulam tão rapidamente que não há espaço para o discernimento.

Com a chegada da pandemia da COVID-19, essa desinformação atingiu um novo patamar, levando ao que poderíamos chamar de “pandemice” ou “pandemitis”. O fenómeno gerou um tipo de “síndrome de Estocolmo” coletivo, em que a população parece resignar-se às versões apresentadas pelos grandes meios de comunicação. A sociedade encontra-se hoje dividida entre a informação oficial e a das redes sociais, cada uma com as suas próprias distorções e influências.

No cenário geopolítico, a reunião entre Trump e Zelensky revelou claramente estas disputas narrativas. Zelensky, frustrado por Trump já ter conversado com Putin, insistia para que os EUA reconhecessem a União Europeia como parceiro prioritário nas negociações sobre a guerra na Ucrânia. No entanto, Trump resistia a esse compromisso, consciente de que a UE e Zelensky pareciam mais inclinadas à guerra do que à diplomacia. Para a UE, envolver a NATO no conflito poderia forçar concessões por parte da Rússia. Já para Trump, essa escalada representava um risco de guerra mundial, algo que queria evitar a todo custo.

A NATO, por sua vez, pressionou Zelensky para que dialogasse com Trump, demonstrando certo descontentamento com a abordagem do presidente ucraniano. Enquanto isso, nas redes sociais, o debate reflete um antagonismo absoluto, em que a opinião pública oscila entre apoios incondicionais a Zelensky e a Trump, sem espaço para nuances ou reflexões mais profundas. Os meios de comunicação pública e figurinos políticos contribuem para uma sociedade cada vez mais hostilizada entre si.

Zelensky, que durante anos acreditou no apoio incondicional dos europeus e interessado em envolver a NATO no conflito, encontra-se agora numa posição fragilizada. A melhor saída para a Ucrânia e para a estabilidade europeia talvez esteja na realização de novas eleições. Enquanto isso, as atrocidades cometidas por ambos os lados do conflito ainda vão ser expostas, e as implicações geopolíticas da relação Rússia-EUA tornar-se-ão mais claras no futuro.

Acordos são tratados por diplomatas e depois assinados festivamente pelos presidentes. De resto assistimos a um teatro fora de lugar.

Vivemos tempos confusos, em que a verdade parece menos relevante do que a narrativa que se pretende impor. A realidade é filtrada e distorcida para atender a interesses políticos e estratégicos, e cabe a cada um de nós questionar, refletir e buscar uma compreensão mais profunda antes de aceitar qualquer informação como verdade absoluta.

Uma coisa une Trump e os belicistas europeus: as riquezas da Ucrânia, não para distribuir pelos pobres e pelas famílias dos que morreram na guerra mas para serem distribuídas entre os oligarcas (1).

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do tempo

(1)Citando o deputado ucraniano (Alexander Dubinskij): Atualmente, centenas de pessoas estão presas não por crimes, mas pelas suas convicções políticas. São detidas, rotuladas de agentes russos, torturadas, sujeitas a processos forjados e condenadas a penas pré-redigidas. Os tribunais independentes foram desmantelados, os meios de comunicação suprimidos e as eleições canceladas.

Simultaneamente, a Ucrânia mantém em funcionamento prisões secretas da SBU, onde os indivíduos são ilegalmente detidos e torturados para prestarem os testemunhos desejados. A ONU já documentou a existência de um desses campos de concentração em Kiev, onde cerca de 300 pessoas, incluindo cidadãos americanos, estão detidas desde março de 2022. Esta prisão era gerida diretamente na sede do SBU https://ukraine.un.org/sites/default/files/2024-06/2023-06-27-Ukraine-thematic-report-detention-ENG_0.pdf – parágrafo 116, ler por favor.

Entre os prisioneiros encontrava-se o bloguista americano Gonzalo Lira, que foi detido pelo SBU e aí passou vários dias antes de morrer num centro de detenção de Kharkiv, em dezembro de 2023, na sequência de espancamentos.

https://www.youtube.com/watch?v=9EmtuKXGedY

Abgeordneter des ukrainischen Parlaments: https://x.com/dubinsky_pro/status/1895421091754950700?t=2sQRs7dUZX825WRpe24aEQ

A União Europeia e o Malogrado Encontro Zelensky-Trump

Necessidade de uma Europa mais Latina e menos Anglo-Saxónica

O recente e malogrado encontro entre Volodymyr Zelensky e Donald Trump expôs, mais uma vez, as fragilidades da União Europeia (UE) no cenário geopolítico global. Este episódio poderia ter sido uma oportunidade para a UE refletir sobre o seu papel e estratégia, mas, infelizmente, a cegueira política e a falta de visão própria continuam a dominar. A UE insiste em seguir um caminho que não só a afasta de uma solução ética e equilibrada para os conflitos, como também a mantém refém de uma visão maniqueísta e anglo-saxónica, que pouco contribui para a paz e a estabilidade globais.

A Cegueira da União Europeia e a Aposta na Guerra

A UE, ao apoiar de forma indiferenciada Zelensky e ao insistir numa estratégia belicista, demonstra uma profunda impreparação para lidar com a complexidade do conflito geopolítico atual. A aposta numa única cartada, alinhada com os interesses dos Democratas americanos, revela uma falta de autonomia estratégica e uma submissão a agendas externas. Esta postura não só contribuiu para o agravamento do conflito, como também impediu a UE de assumir um papel mediador e construtivo.

O apoio incondicional a Zelensky e a narrativa simplista de que a guerra começou em 2022 são exemplos de uma visão preconceituosa e reducionista. A UE, ao adotar esta postura, ignora as raízes profundas e multifacetadas do conflito, preferindo uma abordagem emocional e maniqueísta que impede a resolução do problema. Esta cegueira política é, em grande parte, resultado da influência anglo-saxónica, que domina as instituições europeias e impede uma visão mais abrangente e integradora. Encontramo-nos em tempos de reorganização geopolítica que não pode ser reduzida pela EU a uma mera questão de contendas entre a Rússia e a Ucrânia.

A Necessidade de uma Europa Mais Latina e Menos Anglo-Saxónica

Para encontrar um caminho próprio e eficaz, a UE precisa de se libertar da influência anglo-saxónica e abraçar uma visão mais latina. Esta mudança implicaria uma síntese entre razão e emoção, entre diálogo e acção, e uma rejeição da dialética maniqueísta que domina o discurso político actual. A Europa foi outrora grande precisamente pela sua capacidade de integrar diferentes perspetivas e encontrar soluções equilibradas. Hoje, no entanto, parece ter perdido essa capacidade, preferindo seguir agendas externas e adotar posições polarizadas.

A infeliz peça teatral entre Trump e Zelensky poderia ter sido uma lição para a UE. Em vez de seguir cegamente os interesses de uma das partes, a UE deveria ter aproveitado a oportunidade para promover conversações e encontrar uma solução negociada. No entanto, a insistência numa estratégia belicista e a falta de visão própria impediram que isso acontecesse.

O Papel do Cidadão Europeu e a Necessidade de uma Reflexão Ética

O cidadão europeu foi, em grande medida, enganado. A narrativa dominante apresenta o conflito geopolítico como um simples embate entre duas nações, ignorando as complexidades e os interesses externos que o alimentam. Esta visão reducionista não só distorce a realidade, como também impede uma reflexão ética e profunda sobre o conflito.

Na discussão pública, predominam discursos emocionais e polarizados, que pouco contribuem para uma compreensão real do problema. Partidos de direita e esquerda arvoram-se em detentores da verdade, esquecendo que a grandeza da Europa reside na sua capacidade de integrar diferentes perspetivas e encontrar soluções equilibradas. O que falta é uma abordagem que combine cabeça e coração, que encare a situação com racionalidade, mas também com empatia e ética.

A UE precisa urgentemente de mudar de rumo

A UE precisa urgentemente de mudar de rumo e começar por reciclar o lixo ideológico. O destino político da Europa será semelhante ao dos Estados Unidos que passou de socialista para conservador republicano. Para isso a EU terá de deixar de ser uma mera extensão dos interesses anglo-saxónicos e abraçar uma visão mais latina, que valorize o diálogo, a síntese e a integração de diferentes perspetivas. Só assim poderá encontrar um caminho próprio e contribuir para a resolução ética e equilibrada dos conflitos geopolíticos. Ou será que queremos continuar a marcar passo na luta cultural “protestantismo” – “catolicismo” e na pura dialética marxista de caracter maniqueu quando são precisas sínteses.

O encontro malogrado entre Zelensky e Trump deveria servir como um alerta. A UE não pode continuar a apostar numa estratégia belicista e maniqueísta. Em vez disso, deve promover conversações e encontrar soluções negociadas, baseadas numa consciência ética e numa visão abrangente do conflito. O exagerado compromisso entre EU e Ucrânia fecha as portas a conversações amigáveis que seriam proveitosas para todos, a longo prazo. Esperemos que a UE aprenda a lição e encontre, finalmente, o caminho da paz e da estabilidade.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

Política, Ética e os Desafios da Governação no Mundo Contemporâneo

A política, embora idealmente devesse ser guiada pela ética, frequentemente reduz-se a um campo de interesses, onde decisões são tomadas com base em pragmatismo e não em ideais. Exemplos recentes, como a ascensão de Trump e as dinâmicas da União Europeia, ilustram como a moral é muitas vezes instrumentalizada para justificar ações políticas a posteriori, em vez de servir como um guia prévio. Este fenómeno levanta questões sobre a distância entre valores éticos e a realidade política, onde o oportunismo e o moralismo popularizado prevalecem.

A necessidade de limitar o poder para evitar regimes totalitários é evidente. No entanto, hoje enfrentamos um “totalitarismo brando”, influenciado por agendas de cunho marxista e maoista, que se infiltram através de organizações não-governamentais e políticas de cima para baixo. Este cenário exige uma reflexão sobre como equilibrar a autoridade estatal com a liberdade individual.

No contexto global, é crucial reconhecer que países como a China e a Rússia podem necessitar de regimes autoritários em fases intermédias do seu desenvolvimento histórico. Impor valores ocidentais a estas nações, sem considerar as suas particularidades culturais e históricas, pode levar a conflitos internos e desestabilização. A contenção e o respeito pelas trajetórias distintas de cada povo são essenciais para evitar insurreições e promover uma coexistência pacífica no sentido de uma cultura de paz.

A democracia directa, com elementos já praticados na Suíça, surge como uma alternativa interessante face às limitações da democracia partidária. Com o avanço tecnológico, consultas populares como referendos e plebiscitos tornam-se cada vez mais viáveis, permitindo uma maior participação cívica. No entanto, mesmo este sistema não está imune a manipulações, e a estupidez das massas pode ser tão perigosa como a brutalidade dos governantes.

O papel do Estado e da sociedade civil também merece atenção. Enquanto o Vaticano II defende que o Estado não deve absorver todas as funções sociais, a realidade em países como Portugal e na União Europeia mostra uma tendência para contornar a função subsidiária do Estado, relegando o cidadão à condição de mero cliente. A desconstrução da instituição família pelo estado progressista é outro fenómeno preocupante, que merece uma reflexão profunda.

Uma filosofia cristã, baseada na relação e inter-relação pessoal, poderia oferecer uma alternativa ao funcionalismo e ao interesse próprio que dominam a política actual. Esta abordagem exigiria uma consciência individual e social renovada, capaz de equilibrar soberania individual e comunitária.

Em conclusão, a política real é moldada por interesses e dinâmicas sociais e económicas complexas. A aspiração moral de combater a tirania e promover a justiça é legítima, mas carece de instituições capazes de a concretizar. Como bem lembrou Voltaire, “É perigoso ter razão quando o governo está errado”. Num mundo onde a razão de Estado e o maquiavelismo são inevitáveis, a busca por um equilíbrio entre ética e pragmatismo continua a ser um dos maiores desafios da governação contemporânea e certamente futura, a menos que haja uma mudança da consciência no sentido do ser e não apenas do ter.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo