DEMOCRACIA LIVRE NÃO OBRIGA A VOTAR

Nas autárquicas 2021 o “Partido” das abstenções aumentou para 46,35%

O resultado das eleições autárquicas portuguesas 2021 para os 308 municípios e 3092 freguesias de Portugal registou 34,23% dos votantes para o PS, 13,21% para o PPD/PSD, 10,82% para PPD/PSD.CDS-PP, 8,21% para PCP-PEV, 5,54% Grupo Cidadãos, 4,16% Chega, que são os mais votados dentro dos 20 partidos concorrentes (1).

A abstenção atingiu os 46,35% e os votantes em branco cifrou-se em 2,50% e os nulos em 1,58% (2)!

A abstenção e os votos em branco que podem ser considerados de protesto, quando é tão alta enfraquece a democracia e favorece os partidos maioritários; por isso os votos em branco deveriam ter direito a cadeiras vazias no parlamento (para não serem adicionadas aos partidos com mais deputados).

O problema seria maior no momento em que a participação nas eleições fosse inferior a 50%, então passaria propriamente o funcionalismo público e os mais conscientes de interesses a determinarem o governo e os destinos da nação.

Naturalmente, se os cidadãos em vez de se absterem participassem nas eleições com voto em branco, manifestariam uma vontade política declarada e como tal faziam passar a imagem de cidadãos conscientes e responsáveis pelo que fazem.

Vê-se muita gente a criticar o cidadão que não vai às urnas de votos e não participa nas eleições. Esta atitude é naturalmente sentida como uma afronta à democracia, mas tende a ser demasiado dilatada ou cega de um olho.

Condenar o povo não votante mais que um equívoco corresponderia a fazer o jogo partidário porque se centra nas consequências confundindo-as com as causas! Por outro lado, os governantes no seu orçamento também não renunciam ao dinheiro dos contribuintes não votantes, sendo muito do seu dinheiro usado para conceder subsídios e até benefícios!

A abstenção é uma afronta à democracia e favorece os partidos da governação, ela questiona, por outro lado, a deficiente formação política do cidadão feita pelos partidos. Os partidos têm o dever constitucional de formar politicamente a sociedade, recebendo para isso dinheiro do Estado. Em vez de formação política assiste-se mais a propaganda partidária, por vezes, vazia de conteúdos e, quando muito, com objetivos programáticos, mas sem indicação de orçamentos destinados à sua concretização, o que dá a impressão de ser uma venda de ilusões.

O factor ignorância parece importar a todos: governantes e governados! Quem tem poder/saber está consciente que quem não sabe não “peca”, e o não saber importa também aos ignorantes porque lhes é poupado assumir responsabilidade e poupa-lhes o esforço necessário para assumir um espírito analítico/crítico. 

Saber é uma importante componente do poder e, num certo sentido, formar politicamente o cidadão poderia corresponder a torna-lo não só politicamente mais activo e exigente, mas também concorrente político ou mais difícil de governar. Formação política implicaria formar para os interesses como cidadão e como nação que ultrapassariam a soma dos interesses partidários. De resto, o rebanho come a palha que lhe dão!

A democracia deve ser coerente com ela mesma e não obrigar a votar! Todos os eleitores são livres de decidir onde, se, e em quem votar. Naturalmente aqueles que não votam não podem protestar contra o resultado que apoiaram indiretamente ao não votarem porque elegeram não se comprometerem nem se responsabilizarem. Muitos não eleitores, talvez mais economizadores de tempo, pensam conseguir exatamente o que querem sem irem às urnas. Também alguns cidadãos não têm preferência por nenhum dos partidos ou candidatos a concorrer às eleições.

Há motivos que podem justificar a abstenção quer a nível de conceito por defensores da democracia directa, quer a nível prático por desilusão com uma política mais de clientelas do que de serviço ao povo na sua generalidade; atendendo a uma certa manipulação nos meios de comunicação, votar pode, por vezes, não ser muito melhor do que conduzir embriagado. Pelo que se pode observar em Portugal, seria uma ilusão pensar que os políticos estão no poder para representar os interesses do povo; representam os interesses do seu “povo” sendo daí a necessidade da mudança sucessiva de governos uma das consequências lógicas! A Constituição possibilita os regulamentos necessários para permitir uma administração estatal provisória e dá margem ao cidadão para se mover no quadro das circunstâncias que ela determina.

A abstenção a nível de votantes favorece sobretudo o partido que tem mais funcionários e empregados de Estado porque estes estão mais conscientes do que é poder e votam no partido que os beneficia (Daí explicar-se que em Portugal, em vez de haver um horário semanal igual de trabalho na função pública e particular; o Governo de Costa, para ganhar votantes diminuiu o trabalho semanal dos trabalhadores públicos para 35 horas, embora estes em países ricos como a Alemanha tenham de trabalhar 40 horas. Quem paga a benesses partidárias é o povo contribuinte.

Numa sociedade democrática livre, o cidadão deve ser livre de decidir por si próprio se vota ou não. Num escrutínio secreto, ninguém pode ser obrigado a votar.

De resto, Rei fraco, quer Povo fraco!

António CD Justo

Pegadas do Tempo,

  • (1)  https://www.autarquicas2021.mai.gov.pt/resultados/territorio-nacional?fbclid=IwAR0cnNFGYDhRHU43LHSMva-e-VHb2HxAc4_Y0H-zmM74Ouoek_rIUSpJcaA
  • (2)  Segundo estatísticas relativas à população global residencial e à emigrante teriam sido cerca de 36% abstenções dado para as estatísticas relativas às autárquicas só votarem os residentes no território; muitos encontram-se no estrangeiro (e muitos que se encontram na União europeia optam por votam nas autárquicas do país de residência. É natural que os partidos maioritários (beneficiam principalmente com as abstenções, porque, no passado, têm tido um núcleo de eleitores fiéis que possibilitam mais expressão ao partido e possibilidades de coligação.

 

CONFERÊNCIA DE AJUDA AO AFEGANISTÃO

Na Sequência de uma Intervenção e Deserção cega

A situação no Afeganistão é dramática; Segundo a ONU, metade dos 38 milhões dos habitantes do país não têm o suficiente para comer e necessitam urgentemente de alimentos, medicamentos e outros fornecimentos humanitários.  

 Foi convocada uma conferência de ajuda das Nações Unidas ao Afeganistão em Genebra. Os países doadores reunidos a 13.09.2021 já fizeram uma promessa de um montante provisório de 846 milhões de euros. A finalidade dos países doadores é “evitar que as pessoas no Afeganistão passem fome e evitar o colapso dos serviços públicos”.

O Chefe da ONU, Antonio Guterres, manifesta-se contente com os resultados da conferência: “Esta conferência correspondeu plenamente às minhas expectativas em termos de solidariedade com o povo do Afeganistão”.

Difícil será conseguir os mecanismos de ajuda directa ao povo. Dar dinheiro aos talibã para que estes concedam um pouco de direitos às mulheres seria deitar manteiga em focinho de cão e significaria a continuação de uma política do Ocidente, de ingenuidade/conhecimento erróneo e indiferença.

A ajuda tem, realmente, de ser limitada a alimentos, cobertores, vestuário e medicamentos através dos restantes canais da ONU em território afegão.

Conferências internacionais de doadores para o Afeganistão têm sido realizadas repetidamente, em que se recolheram dezenas de biliões de euros para um país predestinado, com outros, a viver dependente da ajuda internacional.

Pelos vistos a ONU terá assegurada, de maneira sustentável, a condição de pedinte, enquanto os interesses de empresas e nações tiverem prioridade perante as necessidades e desejos das populações. Parece trata-se mais de uma política de remediar injustiças e não de uma política de impedir a miséria e a injustiça.

Durante os últimos 10 anos morreram em média, 238.797 pessoas por ano no Afeganistão e o número de nascimentos foi de 1.190.191 anualmente.

Até que ponto estas acções humanitárias não significam também uma estabilização dos Talibã e um apoio aos seus novos amigos China, Rússia e Paquistão, será escrito, posteriormente, numa outra página! A urgência humanitária e a defesa do rosto dos políticos ocidentais desculpam algum erro que possa agora surgir!

As grandes quantidades de ópio que os terroristas têm exportado não parece ser assunto de discussão política nem jornalística e também não tem contribuído para que os talibã se torem mais mansos!…

António CD Justo

Pegadas do Tempo

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR E A DEUS O QUE É DE DEUS

O nó górdio do islão é a união de cultura e religião! E isto é que os políticos ocidentais parece ainda não terem percebido e por isso cometem tantos erros em relação à cultura de cunho árabe e às próprias iniciativas que tomam no sentido da sua emancipação.

O poeta muçulmano, Adonis, diz numa entrevista a El País: “O problema árabe é não ter separado a religião e a política”.  “Não pode haver uma revolução árabe sem uma separação total e radical  entre a religião e a cultura, a sociedade e a política”.

Esta é a realidade que não justifica que se ande a empregar demasiadas forças em soluções ocidentalizadas que teriam de rever a sua estratégia de apoio ao desenvolvimento humano também no que toca à estratégia de emancipação feminina nos estados muçulmanos! Facto é que as afegãs mais emancipadas são agora alvo do ódio dos extremistas.

A luta pela libertação da mulher, num sistema tribal patriarcal, seria talvez mais eficiente se viesse através da humanidade e empenho dos homens, que é preciso motivar! Enquanto a sociedade islâmica não reflectir suficientemente sobre as partes sombrias do Islão (iliteracia, dogmatismo, abdicação da individualidade no grupo, e carência de liberdade), a cultura árabe continuará a ser mal considerada (o que não ajuda ninguém!) e verá o problema humanitário continuado, enquanto em nome da religião, o sistema prosseguir oprimindo indefinidamente a pessoa humana. O povo persa e outras sociedades muçulmanas de origem não árabe e em especial uma elite cultural masculina e feminina a formar-se dentro do islão poderão contribuir para o seu progresso e criar uma nova matriz cultural. Nisto teria mais sentido, que o Ocidente centrasse as suas energias, a longo prazo.

Enquanto o Ocidente se comportar para com a civilização de cunho árabe, como se tem comportado até aqui, os povos islâmicos ver-se-ão obrigados a continuar a sua luta ad extra descurando a reflexão e transformação interna. Certamente a maioria dos muçulmanos já se encontra de consciência e de comportamento mais elevado do que muitos dos princípios maometanos advogam a nível institucional e propagado através das mesquitas.

Uma análise proveitosa para a cultura árabe pressuporia uma reflexão profunda por parte das elites muçulmanas e uma abordagem sem preconceitos por parte dos não islâmicos. O islamismo é uma realidade e tanto a islamofobia, como a islamofilia só ajudam o extremismo.

António CD Justo

Pegadas do tempo

FIM DO MODELO OCIDENTAL

O poeta sírio Adonis (muçulmano exilado em Paris), mostra o fim do modelo Ocidental, no seguinte poema:
“O Oriente fez perguntas infantis
Pedidos de ajuda
Enquanto o Ocidente, era para ele,
Um homem sábio que nunca erra.
Mas o mapa mudou
Agora o mundo está inflamado
E, Oriente como ocidente,
São uma sepultura, um amontoado
De ambas as cinzas”.
Uma boa semana para todos!
Tudo passa! A pessoa, essa vai prevalecendo!
António CD Justo
Pegadas do Tempo

11 DE SETEMBRO 2001 INICIA UMA ÉPOCA SOMBRIA DA HISTÓRIA

Fortalecimento do Terrorismo e do Controlo das populações

No vigésimo aniversário dos atentados às Torres Gémeas e ao Pentágono seria boa altura para uma análise séria sobre as medidas tomadas em nome do terrorismo internacional e o resultado a que conduziram durante os últimos 20 anos!

Resultado decisivo: as populações ocidentais encontram-se sob muito mais vigilância e controlo por parte dos Estados e de grupos multinacionais, do que antes; o terrorismo islâmico aumentou na Europa com a chegada dos refugiados das insurreições criadas em África e no Afeganistão; a democracia é cada vez mais ameaçada. Neste aniversário, as populações sofrem por todo o lado, agora, ao som dos altifalantes dos Talibã que cantam: vencemos, “óh tempo, volta pra trás”!

A armadilha do 11 de Setembro conduziu à intervenção no Afeganistão e às esparrelas do Iraque, da Líbia, da Síria e do Líbano e tudo isto produziu uma situação mundialmente mais instabilizada que nunca.

Com a retirada dos USA e a consequente derrota, é uma boa ocasião para a Europa começar a designar e seguir os próprios caminhos e deixar de andar atrelada aos USA, uma vez que os interesses das partes são tão divergentes. As palavras do Coronel americano Ralph Peters ao dizer que “A estabilidade é o inimigo da América” deveria ser um motivo para a União Europeia e participantes da Nato acordarem. De facto, a União Europeia parecia estar mais interessada em fazer do Afeganistão um Estado do que os USA.

O argumento usado para criar democracias através do poder militar e da ocupação é uma loucura e só pode servir interesses camuflados.

Como chamada de atenção poder-se-ia concluir que autocratas e extremistas se encontram unidos no objectivo comum de desmantelamento dos direitos humanos; concretamente são eles os vencedores.

De facto, os 20 anos de intervenção produziu uma grande perda de direitos civis/humanos no Ocidente e nas regiões onde o Ocidente interveio criou-se mais injustiças e instabilidade política e social.

Não nos resta senão esperar por melhores tempos e como dizia Hegel, o filósofo do idealismo alemão: “A toupeira da história continua a cavar o seu caminho através do túnel em direcção à luz”.

Tudo isto é triste! Às vezes, saber mais confunde e geralmente faz sofrer!

António da CD Justo

Pegadas do Tempo