REFORMAS NA ALEMANHA – GUIA ONLINE PARA REFUGIADOS – PUTIN ACERTOU – FUMADORES

AUMENTO DAS REFORMAS NA ALEMANHA – DESIGUALDADES ENTRE HOMENS E MULHERES E ENTRE ESTE E OESTE

Apesar dos imensos Encargos com os Refugiados a Economia cresce

Por António Justo

Segundo o cálculo do gabinete do governo federal alemão, em 2016 prevê-se um aumento substancial das reformas para os 20,6 milhões de reformados. As contribuições para pensões para 2016 deverão manter-se nos 18,7%.

A pensão terá um aumento, a partir de 1.07.2016, de 4,4 % na zona antiga e de 5 % nos novos Länder (Cf. Relatório do Governo sobre o seguro de pensões: http://www.bundesregierung.de/Content/DE/Artikel/2015/11/2015-11-18-rentenversicherungsbericht.html).

Em 2014, na Alemanha ocidental os homens tiveram uma reforma média de 993 € por mês; na Alemanha oriental (antiga Alemanha socialista) receberam 1074 € por mês. Na Alemanha ocidental as mulheres tinham uma reforma de 707€ e na oriental 968€. A diferença deve-se ao facto de na Alemanha oriental, embora ganhando menos as pessoas trabalharem mais tempo e ao facto de o sistema de reforma beneficiar os alemães orientais numa espécie de compensação da antiga divisão.

Na Alemanha ocidental ao trabalhador, por cada ano de rendimentos anuais descontados são-lhe creditados, em média, na conta de pensões 27,05 €, na Alemanha ocidental são depositados 29,21€ por ano de trabalho.

O relatório sobre pensões, parte do princípio que em 2019 os homens receberão em média 1.133 € de pensão na zona ocidental e 1.239€ na zona oriental, enquanto as mulheres receberão 806€ no ocidente e 1.116 € no oriente.

Apesar das pensões na zona oriental serem mais elevadas o reformado da parte ocidental tem um nível de vida mais elevado que o da antiga zona socialista resultante de outros rendimentos devidos a poupanças ou investimentos que o empregado fez paralelamente aos descontos para o seguro de pensão legal. Assim na zona ocidental um casal aposentado atinge em 2011 um rendimento líquido mensal de uma média de 2.510 € enquanto na oriental apenas chega aos 2.016 €. Na parte oriental 91% dos vencimentos mensais provêm da reforma do regime legal enquanto na ocidental são 58%”. Actualmente o nível da reforma é de 47,5% do rendimento médio atual dos empregados; e daqui a 10 anos a reforma corresponderá a 46% do que ganharão as pessoas com emprego. Atendendo ao decréscimo dos nascimentos, a reforma do regime legal não chegará para assegurar o actual nível de vida dos reformados.

A entrada de grandes contingentes de refugiados jovens poderá contribuir para a estabilização das reformas, uma vez que se encontrem no mercado de trabalho.

Num período em que a Alemanha gasta dez mil milhões com a recepção de refugiados, o governo não poderia deixar os reformados sem um aumento superior ao normal, para conseguir assim obter a compreensão destes para a sua política de fronteiras abertas.

PUTIN ACERTOU – O PRESIDENTE ASSAD FAZ PARTE DA SOLUÇÃO

A História do Iraque e da Líbia deu-lhe razão. O resultado da intervenção americana na região foi catastrófico. Apoiaram os rebeldes contra regimes autoritários estabelecidos, intervieram militarmente e depois abandonaram o terreno às feras. O mesmo está a dar-se no Afeganistão. Derrubaram o presidente Saddam no Iraque sem qualquer plano para o futuro. Agora reina o terror do ISIS. O Ocidente interveio na Líbia derrubando o presidente Gaddafi e o resultado foi ficar tudo mil vezes pior que antes e agora reina o Caos . Parece que não percebem um mínimo da sociologia e antropologia árabe-muçulmana; ou será, a esperança da reconstrução, um programa para a conjuntura económica do ocidente?

Já por tudo isto Putin parece ter razão ao apoiar o presidente Assad. Assim pode assegurar um mínimo de segurança na região. Foi preciso chegar Putin para as potências europeias chegarem à conclusão que afinal Baschar al-Assad é parte da solução.

Putin tem experiência: sabe que uma sociedade autoritária com um fascismo ideológico de base só pode ser governada por regimes autoritários com força suficiente para manter uma certa ordem a desordem ordenada.

FUMADORES – NA ALEMANHA MORREM 121.000 PESSOAS POR ANO EM CONSEQUÊNCIA DO CONSUMO DE TABACO

Na Alemanha morrem 121.000 pessoas por ano em consequência do consumo do tabaco, como refere o Centro Alemão de Pesquiza do Cancro (DKFZ). Isto corresponde, segundo estatísticas, a 13,5% da mortalidade na Alemanha.
O tabaco foi introduzido na Europa pelos portugueses e pelos espanhóis na altura dos Descobrimentos. Em 1573 já se encontrava tabaco plantado num jardim paroquial na Alemanha. Então era usado como rapé. Em 1761 médicos alertam para o cancro do nariz. Em 1904 organizam-se movimentos de resistência contra o tabaco. Em 1964 um Estudo nos USA prova que o tabaco provoca o cancro nos pulmões.
Segundo um estudo na Alemanha o consumo do tabaco tem como consequência encargos para a Comunidade no valor de 80.000 milhões de euros. Um terço dos custos directos provêm das doenças e dois terços (custos indirectos) provêm de absentismo no trabalho e de reformas antecipadas de fumadores. Fumadores perdem 10 anos da sua vida útil esperada. Para mais informações pode consultar www.dkfz.de

O Estudo não diz quantas agressões foram evitadas devido ao consumo do tabaco!

GUIA ONLINE PARA REFUGIADOS

Atendendo ao impacto das diferentes maneiras de comportamento entre os refugiados e as pessoas do país acolhedor, alguns municípios e organizações organizaram guias de bom comportamento para os refugiados. Guia em alemão, árabe, francês, inglês: http://www.refugeeguide.de/
A junta de freguesia de Hardheim, na Alemanha, publicou um aviso ainda mais concreto sobre regras de etiqueta para refugiados. Por exemplo: a fazerem as necessidades nas toiletes e não em jardins nem parques, as embalagens nos supermercados não devem ser abertas antes de se pagar, na Alemanha não se deve fazer barulho a partir das 22 horas para não perturbar os vizinhos; o lixo coloca-se nos caixotes do lixo; é considerado assédio um homem pedir, sem mais, o número de telemóvel ou o contacto de facebook a uma jovem e que também não querem casar. Isto provocou crítica. À primeira vista parece um acto arrogante e até discriminador, se não fossem muitos os casos na realidade do dia-a-dia. Em julho, em Colónia um imame (orientador muçulmano) recusou-se a apertar a mão a uma representante da cidade alegando que ela era uma mulher.

FIM À FORMAÇÃO DOS REBELDES ISLÂMICOS DA SÍRIA PELOS USA

Em lugares discretos dos jornais dá-se magro espaço à notícia do New York Times de que os USA acabam com o treino e formação de rebeldes sírios. Segundo informações governamentais, o programa de 500 milhões de dólares, para treinar os rebeldes, não teve efeito no sentido de melhorar o seu poder combativo pelo que não será prolongado. Foi preciso a Rússia intervir para chegarem a tal conclusão!

A guerra na Síria não é querida pela Síria, é obra e negócio resultante do conflito entre xiitas e sunitas em que se envolvem os USA (Nato) e da Rússia. no apoio ao conflito entre os muçulmanos Sunitas (Arábia Saudita, Turquia…) e os muçulmanos xiitas (Irão e o Presidente sírio). Os USA fazem o seu negócio com o conflito dos sunitas contra os xiitas (a Turquia aproveita a boleia no seu conflito contra os curdos querendo ver o conflito escalado a nível de toda a Nato) e a Rússia faz o seu contra os sunitas apoiando o presidente Sírio e o Irão que quer desestabilizar ainda mais a região para melhor atingir o seu fim de aniquilar Israel e se instalar na região como superpotência também ela com a bomba atómica. Este negócio diabólico será bem pago com a aniquilação da Síria (depois a ser reconstruida pelas firmas russas, americanas e europeias) com a factura já a ser paga nos refugiados e no fomento do terrorismo pelo Irão e pela Arábia Saudita e correspondentes aliados.

António da Cunha Duarte Justo
In Pegadas do Tempo, antonio-justo.eu

COM ANTÓNIO COSTA (PS) DEUS ESCREVE DIREITO POR LINHAS TORTAS

As Linhas direitas de Cavaco Silva levá-lo-ão à Criação de um Governo de Gestão

António Justo
Deus escreve direito por linhas tortas, poder-se-á dizer da viragem política em Portugal. O fim da rotação dos tradicionais partidos no poder que davam continuidade a uma política previsível iniciou-se na Assembleia da República na tarde de 10.11 com a moção de desconfiança PS, BE, PCP e PEV contra o programa de austeridade do Governo, o que provocou a queda dele. A coligação governamental ganhou as eleições mas perdeu a maioria no parlamento.

PS, BE, PCP e PEV chegaram a acordo de chegarem a acordo mas o que é mais certo no acordo é a abertura para o desacordo;  possibilita-se um casamento (para alguns a tempo perdido!) em que o PS (António Costa) pode tornar-se infiel também com os parceiros de governação, mas, atendendo aos bens que a infidelidade do PS traria à parceria governativa este encontraria perdão apesar das pequenas traições e infidelidades que se iniciariam na nova vida conjugal de uma nova governação PS, BE, PCP e PEV .

Quem iria estar muito atento à coligação PS, BE, PCP e PEV seriam os mercados internacionais e Bruxelas que se mostravam, até agora, confiantes no governo de Coelho devido à sua consolidação orçamental que se encontrava no caminho de redução do défice e da dívida mas com uma política de austeridade a ser paga exclusivamente pelo contribuinte português. O Bloco de Esquerda e o PCP perderiam confiança se não fosse exigida a reestruturação da Dívida pública em Bruxelas tal como fez a Grécia.

Na realidade, o que a Constituição portuguesa define e determina na situação em que nos encontramos (eleições ganhas pelos partidos do governo mas por estes não terem alcançado a maioria absoluta e a maioria dos deputados terem provocado a queda do governo) possibilita apenas um governo de gestão até haver novo presidente e consequentemente novas eleições. Temos 6 meses até isso acontecer. Coloco em nota um depoimento qualificado de Pedro Martins sobre a matéria em direito constitucional (1).

O Presidente da República tentará escrever direito pelas linhas tortas da Constituição e por isso, certamente, encarregará Passos Coelho de encabeçar um governo de gestão por seis meses até à eleição do novo Presidente da República. Interessante e mais divertido seria porém se o Presidente optasse por escrever direito por linhas tortas e confirmasse a coligação de esquerda.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

(1)”EFEITOS DA QUEDA ANUNCIADA DO GOVERNO!
A minha formação e especialização académica é na área do Direito da União Europeia, desde o Mestrado ao Doutoramento e daí à Agregação. Mas também conheço a Constituição da República Portuguesa (CRP), cujos parâmetros ensino há muitos anos aos meus alunos de Direito Político, na Licenciatura em Relações Internacionais do ISCSP/Universidade de Lisboa.
É sabido que não há um sistema de escolha direta do Governo. Na solução constitucional é o Presidente da República quem marca o dia das eleições legislativas [artigo 133.º, alínea b), CRP] e tem competência para escolher e nomear o Primeiro-Ministro [artigos 133.º, alínea) e 187.º, n.º 1, CRP], depois de ouvir os partidos políticos, devendo a sua escolha incidir sobre o partido ou os partidos com mais expressivos resultados nas eleições à Assembleia da República, isto é, aqueles sobre os quais recaem mais votos por parte do eleitorado popular. Os restantes membros do Governo são nomeados pelo Presidente da República, sob proposta do Primeiro-Ministro entretanto indigitado (artigo 187.º, n.º 2, CRP). Neste contexto, o Primeiro-Ministro e o Governo estão sujeitos a um duplo sistema de controlo político (artigos 190.º e 191.º, n.º 1, CRP): o Presidente da República e a Assembleia da República.
No quadro normativo descrito, não se exige, em parte alguma, que o Governo tenha uma maioria absoluta para o exercício cabal das suas funções, embora seja do senso comum que quanto maior for a sua representatividade parlamentar, maior será a sua estabilidade governava, por razões evidentes.
Mas se a oposição quiser “abater” o Governo, pode fazê-lo? Mesmo no início do mandato?
De acordo com o sistema de freios e contra-pesos que caracteriza o sistema democrático, em qualquer momento, a Assembleia da República pode ser dissolvida pelo Presidente da República [artigos 133.º, alínea e), e 172.º], do mesmo modo que a Assembleia da República pode demitir o Governo (em qualquer dos casos previstos no artigo 195.º CRP).
E a rejeição do programa do Governo pode levar à sua demissão?
É verdade que sim. A rejeição do programa do Governo, aprovada por uma maioria absoluta dos Deputados em efetividade de funções, tem por consequência inequívoca a demissão do Governo [artigos 192.º e 195.º, n.º 1, alínea d), CRP].
E o que acontece ao Governo demitido?
O Governo demitido deve limitar-se à prática dos atos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos (artigo 186.º, n.º 5, CRP). O que significa que o país não fica sem Governo, nem este órgão de soberania está impossibilitado de assegurar “a gestão dos negócios públicos” do Estado, mesmo com as limitações referidas.
E depois? O que sucede a seguir?
A seguir devem ser convocadas novas eleições legislativas, que permitam ao Presidente da República nomear novo Primeiro-Ministro, sucedendo-se um novo Governo de acordo com os resultados eleitorais expressos nas urnas de voto. Em caso de demissão do Governo, o Primeiro-Ministro cessante só pode ser exonerado na data da nomeação e posse do novo Primeiro-Ministro (artigo 186.º, n.º 5, CRP). Do mesmo modo que os deputados eleitos anteriormente se mantém em funções. De acordo com o texto constitucional, o mandato dos Deputados inicia-se com a primeira reunião da Assembleia da República após eleições e cessa com a primeira reunião APÓS AS ELEIÇÕES SUBSEQUENTES (artigo 153.º CRP).
Sucede, no caso concreto de Portugal que, neste momento não pode ser a Assembleia da República dissolvida, por não terem ainda decorrido seis meses após a sua eleição e, além disso, por nos encontrarmos no lapso de tempo que é abrangido pelo último semestre do mandato do Presidente da República (artigo 172.º, n.º 1, CRP). E, após a sua dissolução, mantém-se o mesmo regime que impõe a necessidade de marcação de eleições democráticas. Como decorre do sistema, a dissolução da Assembleia, quando seja possível, não prejudica a subsistência do mandato dos Deputados até à primeira reunião da Assembleia da República APÓS AS SUBSEQUENTES ELEIÇÕES (artigo 172.º, n.º 3, CRP).
De tudo o que fica dito, conclui-se que a Constituição Portuguesa não contempla qualquer outra saída, como a formação de um Governo de iniciativa presidencial (como erradamente se tem dito) ou a formação de um Governo a partir da oposição, mesmo que represente a maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções, a não ser a da demissão do Governo, seguida da dissolução da Assembleia da República, com a subsequente marcação de eleições legislativas, após o que será nomeado novo Primeiro-Ministro e formado novo Governo, de acordo com os novos resultados eleitorais, mas sempre APÓS AS SUBSEQUENTES ELEIÇÕES, para usar o texto constitucional, que é inequívoco.
Tudo o que vá para além disso constituirá ato político inconstitucional grave que colocará em causa a vigência da atual Constituição e a própria subsistência do Estado de Direito democrático!
Em suma: rejeição do programa do Governo e respetiva demissão, seguida da manutenção do estatuto de Governo de Gestão em exercício de funções, como tal confirmado pelo atual Presidente da República, a que se deverá seguir a marcação de novas eleições legislativas pelo futuro Presidente da República e respeitados os futuros resultados eleitorais, como é apanágio da nossa ainda jovem democracia!!! ” Prof. Dr. Pedro Martins

MÉTODO DA CONTROVÉRSIA E A EXCELÊNCIA ESCOLAR JESUÍTA – REFLEXÃO

Do “Porquê” ao “Para quê” e do “Porquê” do “Porque” e do “Porquê”

António Justo
Conta-se que, certo dia, perguntaram a um sacerdote jesuíta: – Senhor padre. É verdade que um jesuíta responde sempre a uma pergunta com outra pergunta? – E porque não? – Responde o jesuita.

(Depois de 500 anos foi eleito um Pontífice vindo de uma ordem religiosa: o jesuíta Jorge Mario Bergoglio agora Papa Francisco. Como jesuíta não repousa nas respostas, responde a uma pergunta com outra pergunta: um papa, um jesuíta como sinal e programa para a construção da sociedade humana?

O porquê da anedota dirige-se ao intelecto não só com uma preocupação de procurar fundamento (porquê) para a questão, mas também de entender a sua finalidade (para quê) e o meio (com quê).

Uma questionação-resposta, do estilo porquê-porque, correria o perigo de limitar a visão ao intelecto ou a um contexto limitado e limitador. E um “porque” final fecharia a porta de uma realidade que é, por essência, sempre aberta por mais respostas que se encontrem para ela.

Quem se dá satisfeito com a simples resposta (isto é, com o porque) confirma um certo tradicionalismo, afirma apenas o status quo estranho à filosofia cristã… O método ignaciano de questionar a pergunta transcende a visão individualista/situacionista que procura a consolação imediata numa resposta que satisfaça (de um porque… e ponto final); a questionação da pergunta pode parecer controversa mas orienta o desejo para horizontes mais abertos sem calcar as potencialidades individuais e circunstanciais. A pergunta ajuda a ultrapassar o buraco de uma primeira ignorância que a resposta preencheria; ela possibilita a criação de um espaço de silêncio, uma abertura na inteligência (etapa reflexiva) de modo a o silêncio iluminar uma nova resposta depois de um olhar direccionado para outros sentidos ou perspectivas.

A questionação da pergunta possibilita sempre uma abertura ao reconhecimento dos múltiplos sinais da vida numa existência complexa, mais abrangente e que abre a perspectiva para algo que transcenda a situação concreta/circunstância (para o obrar de “Deus” no mistério da vida). A pergunta à pergunta implica também uma purificação do pensamento e tem como consequência a descentralização do ego, dirigindo a ideia também para o outro, para o essencial; o momento do vazio/reflectivo pode possibilitar o salto do ego e do mero circunstancial para o outro, onde, no profundo da ipseidade, a Realidade se reúne e acontece a ponto da pessoa consciente poder falar a partir do interior da Realidade, toda ela feita de complementaridades. Ou, traduzindo em discurso cristão: onde o próprio responde dizendo, já não com o ego de Saulus mas com o eu profundo de Paulo que exclamava: “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”; a este nível expressa-se a consciência do Cristo cósmico de que fala o jesuíta Teilhard de Chardin. Ao consciencializarmo-nos da realidade como a natureza humana de Cristo (resumo do Céu e da Terra) possibilita-se a cristificação individual e do universo num processo da incarnação e ressurreição como todo integrado já não numa dialética do eu-tu mas numa relação trinitária do nós.

Também o papa Francisco só pode ser entendido nesta perspectiva orto-práxica. Não há perguntas tolas, o que pode haver são respostas desvairadas. Bento XVI e Francisco I são dois momentos diferentes do mesmo discurso. Tudo é questionável, só Deus não se questiona porque a sua pergunta/resposta se encontra na natureza e na História e estas encontram-se resumidas no protótipo da realidade toda que é Jesus Cristo (matéria e espírito). Deus é mais que passado presente e futuro; por isso seria unilateral fixar-se só no pensar do passado ou no modo de pensar do presente, poderia dizer um jesuíta. Futuro implica questionar toda a resposta, consciente de que ela faz parte do corpo físico.

O Globalismo do Pensamento jesuíta expressa-se na Utopia do 5° Império – Pombal com a Maçonaria organiza uma Guerra de Morte contra os Jesuítas

A qualidade da pedagogia jesuítica foi marcante nos países da lusofonia. No livro “Gangorra ou História triste” pode constatar-se bem o método jesuítico de educação num episódio descrito por um jesuíta (1) num parágrafo que trata das relações entre espanhóis e índios: Um jesuíta que assistia a um índio maltratado mortalmente pelos espanhóis perguntou ao índio: -“Você prefere ser salvo e ir para o céu, ou recusa a salvação para ir ao inferno?” A essa questão de resposta aparentemente óbvia… o moribundo vermelho responde com outra pergunta: -“existem espanhóis no céu?”. –“Sim, certamente” – responde o jesuíta. –“Para o Inferno”, responde o Índio. O índio colocado numa perspectiva de céu e de inferno não encontrava razões para convicções e deste modo o jesuíta com o seu método coloquial aproveitava para condenar, indirectamente, a governação espanhola. A pergunta abre a possibilidade de alargar o leque de perspectivas e de entrar em relação alargada.

Os Jesuitas nos seus colégios da América do Sul e da Ásia seguiam no ensino superior o modelo de ensino da Universidade de Coimbra e de Évora preferindo o modus parisiensis ao modus italicus: o ensino era gratuito, no secundário estudava-se Gramática, Humanidades e retórica e no Ensino Superior: Artes, Ciências, Dialética, Filosofia e Teologia (2)

Os jesuítas despertavam a desconfiança dos governantes devido à influência política e educativa que tinham e, por, nas colónias, se colocarem ao lado dos indígenas (criticando os colonos). Com o seu relativismo na argumentação, questionador do argumento de autoridade, também frustravam o espírito absolutista dos poderosos da europa; por outro lado tinham demasiado poder causando sombra ao poder laico que se procurava afirmar e institucionalizar contra a influência do poder religioso.

O enciclopedismo e o iluminismo eram de tendências anticatólicas e anti-jesuítas atendendo também a que estes eram os críticos mais sistemáticos do protestantismo. A Reforma religiosa e as guerras de religião levam os Jesuítas a centrarem-se no essencial. Surgidos do espírito da Reforma da Igreja Católica, apostavam na educação para fomentar uma consciência humana não limitada ao religioso nem à ideologia, (Interessante que já o Padre Manuel da Nóbrega queria, no Brasil, incluir escolas para meninas no ensino, mas a Coroa não estava à altura de permitir tal exigência); entendiam-se como pioneiros da utopia na realização da civilização cristã. Tinham um ensino orientado para elites e para cargos do poder. Praticavam a inclusão de culturas, de camadas sociais e de disciplinas… como processo de aprendizagem competitiva tinham exames e debates públicos (3).

Pombal acusava a atuação dos jesuítas com os indígenas do Brasil; segundo ele, os homens brancos eram apresentados aos índios como maus, como mais interessados no ouro do que qualquer coisa e, mais grave, prontos para atrocidades” (4).

A maçonaria, na sua qualidade de iluminismo esotérico, e de organização secreta que considera o próprio preconceito acima de outros preconceitos institucionais, estrutura-se infiltrando-se nas estruturas do Estado e Universidades, procurando controlar as elites, para, deste modo, direccionar os destinos das nações. A maçonaria ganha expressão concreta no déspota iluminado, o Marquês de Pombal. Este aliado à sua família e correligionários difama os jesuítas, persegue-os, nacionaliza os seus bens e expulsa-os do império lusitano, declarando-os como “ímpios e sediciosos”; conseguiu que a inquisição os perseguisse e expulsou-os de Portugal; no ano da sua expulsão (1759) a ordem jesuíta tinha 1698 membros em Portugal. “Em meados do século XVIII os colégios da Companhia de Jesus tinham, no reino, cerca de vinte mil alunos, numa população estimada em três milhões de habitantes… No Brasil, a primeira universidade criada é o Colégio dos Jesuítas da Bahia em 1550. Esta formou o ilustre António Vieira (ideia do 5° império).

A luta maçónica contra a Companhia de Jesus é tão fundamentalista e cruel que só pode ser compreendida na rivalidade dos maçons que queriam conquistar as elites para si seguindo assim uma estratégia elitista de ocupação dos centros de elite a nível de instituições e de ocupação de lugares estratégicos da política. O que a maçonaria e o anticlericalismo pretendiam era aniquilar os jesuítas e o poder da Igreja Católica para os substituírem na influência; o que em parte conseguiram através de um republicanismo jacobino ainda hoje a actuar nas caves da República portuguesa e nos centros de deliberação da UE. A batalha decisiva de Pombal e correligionários era minar o mito de um Portugal ponta de lança da Europa cristã e instituir nas estruturas do estado e nas subestruturas dos partidos uma rede de irmãos da mesma ideologia que atravessa as instituições…

Também o ilustre jesuíta Teilhard de Chardin se refere ao conflito entre secularismo e religião, ente materialismo e espiritualismo: “Aparentemente, a Terra Moderna nasceu de um movimento anti-religioso. O Homem bastando-se a si mesmo. A Razão substituindo-se à Crença. Nossa geração e as duas precedentes quase só ouviram falar de conflito entre Fé e Ciência. A tal ponto que pôde parecer, a certa altura, que esta era decididamente chamada a tomar o lugar daquela. Ora, à medida que a tensão se prolonga, é visivelmente sob uma forma muito diferente de equilíbrio – não eliminação, nem dualidade, mas síntese – que parece haver de se resolver o conflito (5).”

Na pergunta à pergunta relativiza-se a primeira e com a sequência pretende chegar-se à percepção do mistério e ao ser do Homem como processo aberto e à procura numa tentativa de solucionar problemas mediante perguntas e respostas. A Ratio Studiorum dos Jesuitas (1599) incluía a Contenda (debate) que levava à concentração no essencial (6).

Longe dos centros europeus do poder, na américa do sul e no Oriente, a pedagogia e o sistema de argumentação Jesuíta revelaram-se muito profícuos.
No Sermão da Sexagésima, o jesuíta António Vieira expôs o método do discurso: 1. Definir a matéria. 2. Reparti-la. 3. Confirmá-la com a Escritura. 4. Confirmá-la com a razão. 5. Amplificá-la, dando exemplos e respondendo às objeções, aos “argumentos contrários”. 6. Tirar uma conclusão e persuadir, exortar.

A Controvérsia como Método de Descoberta da Verdade

A Controvérsia ou “disputatio”, usada nas universidades medievais, era um método didáctico de disputa ou debate para persuadir e encontrar a verdade (apresentada a tese segue-se a argumentação – a favor ou contra – seguindo-se depois a avaliação em que a divergência será resolvida); era uma aprendizagem baseada na análise das fundamentações e premissas (de caracter dedutivo); a aprendizagem dá-se através da contraposição de conteúdos e de posições opostas (defensores e oponentes); modernamente não se procura a verdade mas sim a firmeza/coerência de um sistema de argumentação em relação a uma determinada tese (método indutivo).

A disputa ou debate controverso era usada para esclarecer questões contenciosas… No cristianismo esta tradição já se encontra documentada no judaísmo na discussão entre Jesus e os Doutores da Lei (Lucas 2:42-51) e nos primórdios da cristandade (Atos 15:2); expressa-se também nas disputas inter-religiosas e entre as diferentes ordens religiosas e nas apologias contra os hereges (7).

Martinho Lutero também fez uso desse costume académico na discussão das teses teológicas e filosóficas, verdadeiros duelos dialéticos orais entre peritos de religiões ou posições diferentes …. Aquando da Dieta de Ratisbona (1541) na disputa entre teólogos católicos e protestantes acordou-se que o único juiz é Jesus Cristo, pelo que “não admitiriam nenhum outro juiz da controvérsia senão Jesus Cristo”. Os Jesuitas deram grande relevo à pedagogia da controvérsia nos tempos modernos.

Também o terceiro dos imperadores mogóis da Índia (1542-1605) iniciou na Índia uma série de debates entre muçulmanos, hindus, jainistas, zoroastristas e jesuítas para discutir a charia.

A controvérsia era uma forma escolástica dura, mas justa de discutir e descobrir verdades em teologia e ciências entre teólogos católicos, judeus e outros: vencia quem tinha os melhores argumentos. Lutero teve várias disputas públicas sobre diferentes dogmas e teses. Os jesuítas revelaram-se os seus mais consequentes adversários.

Controvérsia no diálogo inter-religioso era muito importante na disputa pela verdade; na Idade Média Hispânica, Ramon Llull (1232-1316) testemunha a importância da procura da verdade no texto apologético “Disputatio Raimundi Lulli et Homer Sarraceni”, onde vem narrada a experiência de
Llull num cárcere tunisino, onde este chega a dizer aos sábios muçulmanos que se eles tivessem argumentos suficientes ele se converteria ao Islão.

O discurso casuístico empregado pelos jesuítas nos tratados de moral é questionado por Blaise Pascal nas suas cartas Provinciais (1656-57). Na Carta V, Pascal testemunha a prática discursiva dos tratados morais dos jesuítas criticando-a porque dava espaço ao relativismo e a um certo sufismo que questiona o argumento de autoridade e dá relevo a opiniões prováveis ou opostas. Pascal em Pensées revela-se contra o minimalismo jesuíta que questiona a autoridade moral dos padres antigos que, na perspectiva de argumentação jesuítica, se encontravam mais próximos dos apóstolos mas, por outro lado, mais distanciados da realidade moderna. Pascal insiste acusando os jesuítas de terem propositadamente uma moral dúbia, ora rigorista, ora laxista, com o objectivo de agradarem a todos, e assim governarem todas as consciências. Refere ainda os abusos das doutrinas probabilistas que proporcionam a justificação de todas as infrações. A experiência só pode proporcionar contingências e probabilidades. Segundo os historiadores Giacomo Martina e Ricardo García Villoslada, as Provinciais além de denunciarem muita moral laxista e permissiva de então, iniciam o rótulo negro do jesuitismo e estão na base de grande parte do anticlericalismo dos sécs. XVIII e XIX.

De facto, os maçons, defensores do despotismo iluminado, entraram numa luta ideológica cerrada contra os Jesuítas. O terremoto de Lisboa é acompanhado por um outro grande terremoto, o sismo ideológico, de que o estado e sociedade portuguesa jamais se refizeram: assistimos a um tradicionalismo ancestral autoritário e um modernismo estrangeirado dogmático que se combatem em vez de se complementarem e integrarem; de um lado a ideologia iluminista que arrogantemente se apodera dos órgãos do poder e do outro uma tradição religiosa escura e vítima ou que se considera como tal.

Nietzsche expressa claramente o espírito crítico do tempo em relação à Igreja católica quando diz: “O que é que combatemos no cristianismo? Que ele queira quebrar os fortes, que queira desencorajá-los da sua coragem, explorando as suas más horas e cansaço, querendo transformar a sua orgulhosa segurança em desassossego e remorsos de consciência […] até que os fortes sucumbem sob os excessos de autodesprezo e do auto-mau trato…” (8).

O Advogado do Diabo

Na universidade de Coimbra e depois na de Évora seguia-se a pedagogia da controvérsia que se expressava na defesa pública da tese e noutros rituais académicos, nos tribunais de praxe e na figura do “advogado do Diabo”.

A figura Advogado do Diabo (arte de convencer e persuadir através de argumentação controversa para ter em conta os argumentos contrários) implica uma didáctica académica e uma estratégia retórica numa disputa em que o advogado eclesiástico assumia a posição de oponente (uma posição que não precisa de crer), nomeadamente num processo de canonização defendida pelo advocatus Angeli); deste modo, com o advocatus diaboli, o processo de canonização ganhava maior objectividade factual e consistência. É um método sério para o encontro da verdade e que obstava a convicções preconcebidas (reunião de razão e fé na disputa pela verdade).

O método da controvérsia e do advogado do diabo fortalece a própria argumentação alargando as suas perspectivas, na mesma pessoa falam vários espíritos. Nele processa-se então uma análise crítica das próprias ideias e convicções. Ao preparar um discurso sob diferentes perspectivas este método alarga e aprofunda a própria consciência e reflexão além de formar competências nas formas de argumentar num discurso. A existência de uma teologia no cristianismo (coisa que não acontece no Islão por este se esgotar na jurisprudência) deve-se à preocupação cristã de unir a fé à razão.

PEDAGOGIA IGNACIANA

Como vimos, os jesuítas sempre tiveram grande influência na formação das elites…. O método pedagógico ignaciano implica uma pedagogia da excelência para a fé e para a justiça: serve-se da controvérsia como método de portas abertas para uma realidade a-perspectiva e com diferentes acessos a ela, segundo as “portas” que se utilizam para entrar nela. Os alicerces da sua pedagogia são a reflexão, a experiência e a acção.

A Pedagogia ignaciana centra-se na formação integral da pessoa, coração, inteligência e vontade; integra a reflexão (clarificar a motivação interna do que sou e do que me move e respectivas implicações), a acção (de carácter holístico como prática do amor) e a experiência (conhecer sentindo as coisas por dentro) e as três em contínua interacção. A componente reflexão torna-se essencial pois apela ao significado pessoal e humano da aprendizagem/experiência; implica uma atitude de ser “pessoa para os outros ” dando importância ao contexto e à participação no desenvolvimento colectivo (9).

Tal filosofia envolve uma formação integral orientada para os talentos pessoais com valores comportamentais positivos morais e intelectuais, pressupostos para o crescimento pessoal de maturação humana para melhor servir o outro.

A Ratio Studiorum da Companhia de Jesus fundamenta o conhecimento pessoal e espiritual da pessoa pretendendo uma excelência educativa que tem Jesus Cristo como fim e modelo de vida humana, uma vida partilhada e aberta à liberdade na diferença e diferenciação.

De facto, a essência da vida cristã é relação, como se pode depreender da fórmula ou princípio de toda a realidade resumida no mistério da Trindade. O gene divino em nós torna-nos inquietos na procura do reencontro, na antecipação do futuro. Só me compreendo e realizo na relação com outro, a minha definição e a minha identidade é incompleta sem ele. A própria célula que pareceria solitária não o é porque se encontra numa relação transcendente de tecidos e órgãos…. A verdade encarna, ganha forma dinâmica numa determinada realidade que se expressa como processo.

Também na Alemanha as universidades jesuítas eram centros dos Media destacando-se pela inclusão de várias formas de comunicação, logo desde o início e incluíam as procissões, teatro, canto, segundo o princípio docere et movere (10). Ainda hoje os jesuítas têm grande prestígio e encontram presença relevante nos meios científicos e políticos da Alemanha. O seu ensino é muito exigente: Trata-se de ensinar e mover! Na Alemanha no discurso cultural e público, apesar das lutas da reforma e contra-reforma, não se encontra hoje o espírito jacobino e radical que tem tolhido o génio português, desde que se encostou a um espírito demasiado dialético do iluminismo-liberalismo francês.

António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
In Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

(1) “Gangorra ou História triste” in https://books.google.de/books?id=UkiGv1KTH-sC&pg=PT127&lpg=PT127&dq=O+jesu%C3%ADta+responde+a+uma+pergunta+com+outra+pergunta.&source=bl&ots=1ozsLT6V8w&sig=a0-NVNUOLtzS09z6NqSb1wkzgds&hl=de&sa=X&ved=0CD4Q6AEwBGoVChMI26b_o6qzyAIVIYtyCh0CdAaP#v=onepage&q=O%20jesu%C3%ADta%20responde%20a%20uma%20pergunta%20com%20outra%20pergunta.&f=false
(2) http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf8/ST6/012%20-%20Fernanda%20Santos.pdf
(3) Revista Brasileira de História das Religiões: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub.html
(4) COSTA, Célio Juvenal. A racionalidade jesuítica em tempos de arredondamento do mundo: o Império Português (1540-1599): http://www.historia.uff.br/cantareira/novacantareira/index.php?option=com_content&v ew=article&id=129:osjesuitasnosetecentos-ed6&catid=61:artigos-ed6&Itemid=79
(5) Teilhard de Chardin, em “O Fenómeno Humano”. Segundo Chardin, que defendia o Panenteísmo cósmico, a Terra seria composta de várias camadas esféricas: Barisfera ou núcleo metálico terrestre; Litosfera ou camada de rochas; Hidrosfera ou camada de água; Atmosfera ou camada de ar; Biosfera ou esfera da vida; Noosfera ou esfera do pensamento ou espírito humano: Cristosfera ou âmbito de Cristo.
(6) www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais; http://www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais/st_trab_pdf/pdf_st1/antonietta_nunes_st1.pdf
(7) Catholic Encyclopedia (1913)/Religious Discussions.
(8) Friedrich Nietzsche in Nachlass. KSA 13, 11 [55], p.27 f.
(9) Cf. Arte discursiva: http://www.ruigracio.com/000pdf
(10) Cf. Delectare, movere et docere: http://www.musica.ufmg.br/permusi/port/numeros/17/num17_cap_07.pdf

Dos Vendilhões do Templo de Jerusalém aos Vendilhões de Bruxelas

Entre Fariseus progressistas e Saduceus conservadores

Por António Justo

Situação na Polis outrora e hoje

Os Saduceus (conservadores, acreditam no livre-arbítrio, negavam a existência da alma, de espíritos e de anjos) pertenciam ao alto escalão social e económico da sociedade (aristocracia do Templo) e seguiam estritamente a Tora (Lei); os Fariseus (progressistas acreditavam na liberdade humana mas com influência do destino e na ressurreição dos mortos), fanáticos e “hipócritas” seguiam a Tora e a tradição oral, manipulando as leis no seu interesse e juntavam o poder religioso ao poder político (no Sumo Sacerdote).

Os saduceus eram colaboracionistas dos gregos e dos romanos pelo que eram odiados pelos partidos dos Zelotes. Comportavam-se em relação ao poder ocupante romano de maneira serviçal e oportunista, acatando no Sinédrio (senado) as decisões de Roma.

Muitas das características descritas em relação aos Saduceus e Fariseus encontram-se hoje na política e nos parlamentos nacionais também no que respeita ao poder da UE e ao Grande Sinédrio de Bruxelas.

O Modelo de Sustentabilidade que dá Perenidade ao Desenvolvimento

Parto do princípio, porém, que a sustentabilidade e sobrevivência do povo judeu, deve muito aos Fariseus. Interessante que tanto o Povo Judeu como a Bíblia (Antigo e Novos Testamentos) se tornam em protótipos do desenvolvimento histórico e humano. Em Jesus Cristo podemos reconhecer a integração e conciliação da materialidade/corporalidade e do espírito (divindade) numa só pessoa; por outro lado, o povo judeu mantem também ele na sua existência a tensão e inclusão dos extremos que lhe garante a continuidade através da História. Moral da história: só a integração, do aparentemente polar e contraditório, num processo de inclusão de complementaridades (numa realidade superior para lá das diversas perspectivas), conseguirá dar sustentabilidade à sociedade – missão essa, que o Cristianismo assume na vivência da experiência da Realidade Jesus Cristo na qualidade de comunidade e de pessoa; como realidade relacional e processual aberta, o Cristianismo contem no seu protótipo da Realidade, a fórmula que serve ao mesmo tempo de matriz de indivíduo e sociedade que comporta a antecipação do futuro garantidor de todo o Homem e de toda a comunidade humana na plataforma da divindade suporte de toda a realidade existente e não existente (fórmula trinitária) numa dinâmica do já e ainda não.

Da Ordem natural das Coisas – Polis entre Fariseus, Escrivas e Saduceus

Dado que sem preconceito não se passa ao conceito, há que constatar: no discurso político é muito frequente tropeçar-se com Escribas e Fariseus: uma direita com o rei na barriga e uma esquerda com a rainha; de resto, petulâncias ou rumores intestinais.

Fariseus e saduceus, ontem como hoje, manifestam duas tendências/princípios naturais que dão continuidade a um povo numa dinâmica de preconceitos interactivos das duas partes. O erro da hipocrisia fomentadora do preconceito parece ser o óleo dos veios de transmissão entre o motor (o agente) e o carro (povo) e, como tal, o erro torna-se, a nível factual, numa constante motriz do desenvolvimento histórico.

A ordem natural das coisas dá razão e favorece os detentores do poder ou os que se encontram na sua disputa. Quem não entende isto, em termos de política, está predestinado a ser terreno onde aqueles escavam seus regos para a água deles passar. Lógica da questão: quem não entra fica como o cão à porta e por mais que ladre nunca chega a ter razão (na lógica factual do poder)!

Do mercado da polis – Hipocrisia e Iniquidade

Portugal dá a impressão de andar sempre em campanha eleitoral, sem espaço para discutir nem elaborar programas de governação; parece ser um agregado sociológico de repúblicas (povos) – sem Povo – num arraial antigo, onde ecoam os pregões e os berros.

Quem não tem acções partidárias no mercado da polis resigna, faz da tristeza raiva ou procura consolação na exclamação: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados… também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.” (Mt 23. 27-28)

Tal como nos tempos bíblicos, temos conflitos programados e de que bem vivem os escribas/saduceus e fariseus.

A palavra Fariseus ganhou a conotação de hipócrita e de confessos aparentes. Fariseus e Saduceus/Escribas fazem parte da dialética social e são adversários entre si mas quando se trata de defender os próprios interesses sublevam e dividem o povo para poderem legitimar e manter as estruturas do poder que lhes oferece palco seguro para se afirmarem (manipuladores do povo matam Jesus para depois lavarem as mãos na “inocência do povo” que os legitimou). Inteligentes como serpentes, encontraram e encontram uma estratégia comum que lhes dá segurança na ocupação dos cargos de prestígio da nação e a maioria dos postos no Sinédrio. A inveja e a ganância atiçam-nos uns contra os outros, a ver quem mais come enquanto o povo olha e ladra para enganar a fome.

A ganância humana torna-se apetite desenfreado. Se não fosse o apetite que seria do saborear!… Mas o povo cada vez mais habituado ao fastio vai perdendo o apetite e o caracter, fomentando ainda mais os apetites dos poucos.

O apetite partidário é tanto que chega a não distinguir o que já lhe estreborda do prato. Victor Hugo dizia “em tempo de revolução, cuidado com a primeira cabeça que rola. Ela abre o apetite ao povo”. Por essa razão andará tanta gente à volta de algumas cabeças; o problema delas será nunca se saciarem; por isso se tornam cães de guarda ou feras.

Todos mereceram a crítica do Mestre da Judeia porque adorando ídolos e não Deus mostravam-se como os mais dignos de respeito entre o povo. Uma reflexão pessoal e nacional, para ser salutar a nível de comunidade, deveria passar a considerar a dialética polarizante como mal menor a ser ultrapassado processualmente no serviço de um bem maior que é o todo de tudo em todos. Premissa da relação: o outro que permite identificar-me é o tu que dá consistência à minha ipseidade (eu-tu-nós) que se expressa na relação do eu-tu inclusivo a realizar Jesus Cristo.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

O Dilema da Bipolaridade na Governação de Portugal

Construir um Portugal mais temperado e menos revoltado

Por António Justo
O que une o centro-direita (governo) e o centro-esquerda (PS) são o compromisso com o liberalismo económico e o consequente seguimento do imperativo da desregulação ditada por Bruxelas. Direita e esquerda do arco do poder têm assim o seu centro comum vinculativo (intervenção da EU e do FMI – as obediências orçamentais comuns que não permitem diferenciação de políticas económicas); deste modo os partidos do arco do poder de Portugal abstêm-se praticamente do predicado esquerda ou direita, o que beneficia os outros partidos da esquerda e obriga o PS a grande ginástica na estratégia de chamar as atenções públicas para si e de ocupar o país com discussões táticas sobre as diferentes personalidades e facções do PS; disto vive bem (permite-lhe também absorver desertores de esquerdas mais radicais mas com aspirações a participar concretamente no poder) ocupando a mente dos portugueses já de si perdida em debates não produtivos. O jornalismo também vê assim o seu trabalho simplificado porque para fazer notícia só precisa de andar atrás dos cabeças ou de algum que urine fora do penico.

Cria-se assim uma dinâmica de contínua necessidade de perfilagem dentro e fora do partido. Certamente por isso se movem tanto as ondas das emoções nacionais tendo-se a impressão (a quem viveu no estrangeiro) que Portugal se encontra em contínua campanha eleitoral sem grande tempo para dar suficiente atenção às questões fundamentais da economia e da cultura. Mesmo agora, que deveria ser tempo útil de discussão da negociação de programas para se encontrar compromissos para a governação dos próximos quatro anos, assiste-se, como de costuma, à discussão sobre personalidades partidárias e não sobre temas discutíveis do programa.

O Norte europeu orienta-se por Programas o Sul por Partidos

Os partidos da Alemanha, para defenderem o bem-estar do país, passam muito tempo na discussão e elaboração de programas de governo e na formação de coligações governamentais; isto porque cuidam pelo futuro do país em vez de dividirem a nação nos da manjedoura da direita ou da esquerda. Por isso os partidos alemães preferiram fazer uma grande coligação que preparou responsavelmente um programa de governo que precisou de 80 dias de conversações até chegar ao dia do compromisso; depois passou à governação abandonando a discussão. Na Suécia seis partidos conseguiram elaborar e comprometer-se num programa que é válido até 2022; isto independentemente dos governos que surjam.

Urge ultrapassar a mentalidade política bipolar de um Portugal desde sempre afirmada pelo sistema partidário a viver da polarização. Já vai sendo tempo de construir um Portugal mais temperado menos revoltado. A vida é curta, não olhes para trás senão tropeças nos que se te adiantam.

O problema dos partidos à esquerda do PS (e dos radicais do PS) é quererem continuar a levar uma vida de alto nível à custa do capitalismo liberal pautado pela Zona Euro e no seu interior regalar-se com a satisfação de ideias contraditórias puras e inocentes ou com postos públicos que lhes dão imunidade em relação às ideias que defendem a viver do sistema que criticam mas não solucionando os problemas da pobreza. O Norte europeu rico orienta-se por programas de governo que o tornam rico e o Sul orienta-se por partidos que o mantem no standby ou na pobreza.

O ser humano é um consumidor de histórias e o que o mais distrai são histórias, por isso há tantas que se tornam verdadeiras porque mal contadas…; uma delas: “Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz.” Com isto fomos ensinados a aceitar e justificar a violência do poder. A teoria é bela, o problema só está na prática (Veja-se a saga das personalidades do 25 de Abril e seus discípulos – afirmaram-se contra o capitalismo e à custa dele enriqueceram mantendo a conversa de esquerda para inglês ver e a sapata do povo carente que tudo sustenta).

Uma política partidária responsável deveria constituir uma coligação, pelo menos, dos dois partidos mais votados. Com isso ganhariam, naturalmente, os partidos mais à esquerda mas Portugal ganharia mais ainda. Com uma grande coligação talvez se iniciasse em Portugal uma política e um discurso menos partidário, mais objectivo e mais no sentido de todo o povo português.

Tudo isto contribui para a maneira de ser do nosso país que o nosso Miguel Torga tão bem define:” Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados” e que eu comentaria com as palavras: Somos um grupo de colectividades civis sem a consciência de povo, por isso sempre descontentes e revoltados.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu