Difamação da Religião ou Defesa da Liberdade de Imprensa?

Com o Islão não se brinca
Um caricaturista entre outras caricaturas desenhou a cabeça de Mohammed em forma de bomba com um rastilho, provocando assim uma discussão acesa por todo o lado.
Jyllands-Posten”um jornal dinamarquês que publicou as caricaturas satíricas pediu desculpa depois dos protestos do mundo muçulmano, que reagiu com ameaças verbais e com medidas concretas de boicote aos produtos dinamarqueses.
Caricaturistas e realizadores, artistas, escritores e ideólogos gostam do dialéctico e vivem muitas vezes das ferradelas que dão, do sensacional e do escândalo.
Os defensores radicais da liberdade de imprensa e de opinião pessoal vêem nas ameaças árabes um ataque ao espírito de independência e à liberdade da palavra. Sentem a liberdade de opinião e de imprensa e os direitos individuais ameaçados ao verificarem a reacção do jornal. Defendem com unhas e dentes o princípio democrático da liberdade de opinião que é uma coluna fundamental da nossa cultura. Advogam que em democracia haveria sempre a oportunidade de se discutir sobre a qualidade do apresentado e sobre os limites do respeito, restando a cada um o direito de se defender em tribunal, a única instituição legítima para o exercício do poder. Vêem na cedência, no pedido de desculpa, uma porta aberta ao fundamentalismo islâmico.
Muitos deles estavam habituados a difamar os símbolos cristãos até ao ridículo, sem consequências pelo que diziam ou faziam. Se alguns cristãos levantavam a voz contra tais abusos logo eram apelidados pela opinião publicada de fundamentalistas cristãos. A sociedade estava habituada a não levar nada nem ninguém a sério. Cada pensador livre tinha, por vezes, uma liberdade maluca. Agora admiram-se de haver povos decididos a defender com unhas e dentes as suas “bandeiras” que são expressão da sua identidade e da sua força.
A civilização ocidental, em vez de se perguntar do porquê da convicção da civilização árabe e do porquê da nossa decadência, fica atónita. Facto é que na Europa em certos meios marxistas materialistas e racionalistas na falta de respeito por valores religiosos se discrimina positivamente a religião muçulmana não por convicção mas por interesse e por medo. É sintomático o facto de no Iraque ter havido a semana passada ataques bombistas a igrejas cristãs e haver primeiros programas da televisão que não os registarem sequer. Medo ou “colaboração”? No mundo moderno a perseguição religiosa contra os cristãos é a mais forte e organizada. Todos se calam: Trata-se de cristãos e também a sua cultura está posta à disposição e em parte com a ajuda da apoteose modernista que desde há muito trabalha nesse sentido. Naturalmente que o modernismo, também ele fruto duma ética cristã de valores, contribuiu muito para a purificação da ferrugem instalada em muitas instituições cristãs e indirectamente fomentou a prática de certos valores da ética cristã. Porém vai sendo tempo de a arte se dedicar aos valores que lhe deu o ser e ter mais respeito pela identidade cultural. Ou será que a substituição da religião a arte deverá dar lugar à nova adoração? Não deveria ser assim porque esta é irmã da religião. Os inimigos da religião são também, embora a nível inconsciente, inimigos da arte.
Os defensores duma liberdade de expressão com limites não estão de acordo que seja tudo permitido na arte. Estes argumentam com a ética cristã, da liberdade responsável e da dignidade da pessoa. O limite é a dignidade da pessoa que é inviolável. A liberdade pessoal acaba onde os direitos do outro começam.Facto é que os corifeus do modernismo se aproveitaram da religião e da sua discriminação para fazerem o seu negócio. Na Europa tornou-se moda ferir os sentimentos religiosos dos cristãos atacando e ridicularizando Cristo e Maria sem consequências.
Será que em nome da liberdade conquistada pelo ocidente cristão – a proibição de criticar Mohammed questiona a liberdade de imprensa? Não será que a liberdade de imprensa não terá também outros valores a defender?
A liberdade, o espírito crítico e a dúvida metódica são valores inalienáveis do mundo ocidental. O problema porém começa quando os sentimentos dos outros são feridos brutalmente. Importante é começarmos uma discussão que se não reduza aos direitos individuais mas que se alargue aos direitos e à dignidade da pessoa humana. Aqui haveria pano para mangas e para todos… Na nossa sociedade há demasiado indivíduo e pouco pessoa. Em vez de se atacarem os símbolos religiosos podem-se criticar ideias ou o agir de pessoas e de doutrinas existentes que se podem defender. Os mitos e as religiões devem ser criticadas nas suas ideias e práticas; difamar Cristo, Maria, Mohamed e pessoas pertence a um estilo baixo e arruaceiro. Na salvaguarda do respeito pela dignidade da pessoa e pelas culturas, não faltam aí assuntos onde artistas, jornalistas e estudiosos poderão exercer a sua acção crítica. Isto exige mais esforço no conhecimento do objecto de crítica e não apenas conhecimentos superficiais ou banais, como se constata, cada vez mais, no dia a dia do discurso público. Pode-se apontar também para o perigo islamista sem se recorrer à difamação. Não chega a instrumentalização de tudo e de todos em sentido ideológico.
Muitos intelectuais e políticos chegaram ao extremo de levaram levianamente ao ridículo muitos dos nossos mitos e coisas mais sagradas que ergueram a nossa cultura levando-a ao nível ético que atingiu. Agora vem o Islão com um outro extremo querendo-se intocável, aprisionando a palavra e sem lugar para a ficção reservando-a para o paraíso. Talvez um meio-termo seja uma saída para a nossa civilização. Uma certeza pode ter-se já: o Islão funcionará como grande corrector dos excessos da civilização ocidental. Oxalá (palavra árabe!), não se percam muitos valores que nos caracterizam na cedência a uma ética menos exigente.

António Justo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo

Uma sociedade cada vez mais injusta – Uma política reduzida a oficina de reparações

Idade de Reforma na Alemanha aos 67 Anos

A reforma completa só será possível a partir dos 67 ou depois de 45 anos de seguro aos 65 anos. Isto significa que quem nasceu em 1947 já começa a ter de trabalhar mais ou de se sujeitar a redução na sua reforma. A coligação CDU/SPD tinha determinado pôr a regra a partir de 2035 mas o Ministro para assuntos sociais Müntefering (SPD) conseguiu impor-se no Gabinete de Ministros e antecipar o prazo para 2029. A regra prevê que de 2012 a 2024 a reforma sofra o adiamento de um mês por ano e de 2025 a 2029 o adiamento da idade de reforma será de dois meses por ano. A contribuição para a reforma passará de 19,5% para 19,9% a partir do próximo ano. Certamente que as reacções a esta decisão não serão muitas atendendo à apatia a que a sociedade chegou.
As caixas de reforma foram durante muitos anos postas à pilhagem por políticos irresponsáveis que pagavam as reformas de colonos alemães retornados do leste e de refugiados com os fundos das Caixas de Reforma, mantidas pelas quotas dos sócios. A ajuda do Estado limita-se apenas a uma gota que cai numa pedra quente. Não se fale já das reformas antecipadas à custa da solidariedade das quotas dos trabalhadores. Neste caso o Estado deveria compensar na totalidade, com subvenções provindas dos impostos, os benefícios que concede com a reforma antecipada ou a quem não pagou para a caixa de reforma.
Esta medida, agora tomada, corresponde a uma diminuição substancial na reforma. Isto é injusto atendendo a que por outro lado se segue uma política de emprego dificultadora da criação de lugares de emprego a pessoas com idade a partir dos 50 anos e facilitando, por outro lado, o despedimento aos empregados desta idade. É um escândalo que o erário público, e, neste caso, os contribuintes das Caixas de reforma e os reformados tenham de subsidiar o saneamento do pessoal das firmas que, apesar de grandes ganhos, querem ainda mais à custa dos empregados para poderem investir no estrangeiro, e assim melhor concorrer com os pobres. Esta hipoteca para as gerações do futuro é irresponsável.
Naturalmente que o grande problema está no facto da nossa sociedade se ter tornado egoísta e, consequentemente, se recusar a ter filhos. A família foi explorada e continua a sê-lo. Hoje muitos dos nossos políticos, que seguem o espírito do tempo, ainda não notaram que o nosso problema não é só a falta de distribuição de trabalho e da riqueza mas também a falta de filhos. Limitam a sua acção a correr atrás da economia e as suas preocupações centram-se mais em fomentar uma política em favor de singles e de uniões gay à custa da família procriadora.
Uma sociedade com fraca natalidade chegará ao ponto de um trabalhador ter de pagar quotas para manter dois reformados. Um sistema de reforma equilibrado terá que premiar aqueles que tenham filhos. Assim as famílias com filhos deveriam ser compensadas em termos de reforma.
Há trabalhos em que o desgaste da vida é maior do que noutros. Assim, sabe-se, pela estatística, que um trabalhador vive menos 7 anos do que empregados de outros serviços; também as mulheres vivem, estatisticamente em média, mais 7 anos do que os homens.
Na fantasia dos políticos será fácil arranjar lugares de trabalho para pessoas entre os 60 e os 67 anos. Parece que vivemos numa sociedade maluca em que para se aumentarem os rendimentos das firmas e dos accionistas se despedem pessoas, deixando famílias na dependura.
Empresas anónimas exploram o homem descaradamente e sem remorsos. O turbo-capitalismo orienta-se apenas pelos lucros sempre à procura da caça, da vítima, procurando sempre lugares ou pessoas com ordenados baixos, com menores direitos de trabalhadores e se possível ainda à custa do meio-ambiente e dos subsídios europeus para os países pobres.
O poder das companhias internacionais, com sede nos países ricos serão de tal ordem poderosas que porão em perigo a democracia e em nome da globalização destruirão uma ética de trabalho e uma mundivisão cristã do Homem. Actualmente já se vai tendo a impressão que, em parte, a função dos políticos é andar atrás das empresas internacionais criando-lhe facilidades e depois seguindo-as atrás na reparação dos estragos que causaram. Enfim, uma política reduzida a oficina de reparações. Esta sociedade cada vez se despede mais dos valores cristãos da dignidade humana e do amor ao próximo que se expressava na solidariedade social e que hoje se procura desmiolar. O Homem é visto pelas ideologias como mero sujeito a ser explorado esquecendo-se que o Homem, a caminho, é fim em si mesmo e não pode ser objectivado e explorado em função do proveito e da ganância seja ela capitalista ou ideológica. Tem que se chegar a uma forma de tratamento justo em que todos contribuam para a solidariedade social independentemente de se ser trabalhador, médico, político, funcionário do estado, artista, etc.
Precisa-se uma mentalidade mais humana onde o ordenado máximo não passe de 20 ordenados mínimos, isto é que a partir duma certa quantia se fosse obrigado a disponibilizar o excesso de ganho para fundos sociais, ou sociedades em que cada um poderia criar em benefício sócio-cultural. Assim se fomentaria o mecenato e uma sociedade humana, também ela, baseada na iniciativa e na propriedade privada.

António Justo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo

A Encíclica de Bento XVI – Amor: a Verdadeira Utopia!

Uma encíclica Mística e Política
Como em todos os seus livros também nesta sua primeira encíclica domina a simplicidade, a clareza de espírito e um substrato místico. É um texto humano que toca o mais profundo da pessoa e da sociedade. Deus não é propriedade privada. O encontro com Cristo convida à comunhão, ao abraço com todos os cristãos e com toda a humanidade. Interessante o facto de o papa não usar a forma majestática “nós” mas na pessoal “eu”. É que a relação responsável dá-se no encontro de um eu com um tu! Além disso ele fala para todos os cristãos…
“Deus caritas est” é uma encíclica universal que não se baseia na afirmação do contraste mas da convergência; ele supera a linguagem dialética para acentuar um novo discurso que valoriza a mística. R econcilia o Eros com a Ágape, o corpo com a alma. “O amor entre o homem e a mulher, sobressai como arquétipo (modelo) de amor por excelência”. O amor entre homem e mulher, no qual corpo e alma se tornam inseparáveis na felicidade da união, é o tipo originário do amor. Todas as outras formas de amor são formas desvanecidas do amor. Não é humano separar o amor«Eros», o amor da diferença, o amor inseguro, do amor « ágape », o amor da unidade, o amor de amizade. O papa defende a unidade dos dois. “ O eros quer-nos elevar « em êxtase » para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese…” “Eros e agape – amor ascendente e amor descendente – nunca se deixam separar completamente um do outro”. No amor ágape “o amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a si próprio». Na encíclica não há lugar para a hostilidade ao corpo. Exige uma compreensão global para a relação de pares que está programada para duração e eternidade e não exclui o eros. Ele quer que se inicie uma correcção na realidade da vida.
Este corpo que a igreja sempre considerou como filho pródigo parece entrar agora na Igreja pela porta principal. O Papa restitui a dignidade ao Eros. Ele escreve. “O amor só se torna completo na unidade de homem e mulher (na caminhada conjunta de homem e mulher) ”. Também aqui se abre uma perspectiva à liberdade de casamento dos padres.
Nesta encíclica são abertas, não digo janelas, mas mesmo portas para a teologia e para a pastoral numa óptica importante para a renovação das estruturas da Igreja. Deixa espaço para interpretar e esperar. Teólogos e bispos têm que meter as mãos à obra. Esta é uma encíclica, no espírito evangélico, que recorda o espírito genuíno judaico-cristão dos primeiros tempos da Igreja. Amor a Deus e ao próximo como duas faces da mesma medalha, como inseparáveis, são dois legados específicos bíblicos que devem voltar a estar na base de toda a acção. Desta encíclica não se podem deduzir argumentos nem campanhas contra anti-preservativos ou mesmo contra lésbicas e homossexuais.
Aqui, delineia-se, um programa de governo do seu pontificado que assenta no amor divino e no amor humano como fundamento da fé cristã e da teologia e como fundamento da vida humana. O Papa deslegitima todos os que em nome de Deus fundamentam e pregam o seu ódio e a vingança. Esta Igreja que ao longo da história teve alguns desvios é chamada ao fundamento do amor.
A segunda parte da encíclica torna-se política ao falar do amor a Deus e ao próximo. Defende que a Igreja não pode ser instrumentalizada para lutas políticas nem as suas instituições, que estão ao serviço do Homem, podem ser usados para ideologias. A Igreja, leigos e clérigos, têm o dever de participar na realização duma ordem social justa e de ajudar todas as pessoas em necessidade. É bem claro ao afirmar a distinção e separação entre Estado e Igreja “pertence à estrutura fundamental do cristianismo a distinção entre o que é de César e o que é de Deus”. “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa” “Quem realiza a caridade em nome da Igreja, nunca procurará impor aos outros a fé da Igreja. Sabe que o amor, na sua pureza é gratuidade”.
A construção da justiça é tarefa da política e o Estado que não se oriente pela justiça social iguala um “bando de ladrões”… “A sociedade justa não pode ser obra da Igreja; deve ser realizada pela política. Um Estado, que queira prover a tudo e tudo açambarque, torna-se no fim de contas uma instância burocrática, que não pode assegurar o essencial de que o homem sofredor – todo o homem – tem necessidade: a amorosa dedicação pessoal.”
Na encíclica tornam-se visíveis as virtudes cristãs num humanismo aberto e amplo.
O cristianismo é situacional – é resposta. Esta encíclica revolucionária reconhece iniciativas marxistas válidas mas adverte que a justiça não é possível sem o amor. Também ele defende uma utopia, defende a utopia do amor como a verdadeira utopia. Esta utopia já vai sendo realidade em muitos lugares…
“O bom pastor deve estar radicado na contemplação”. Também aqui se dá um grande passo na direcção da mística. Constitui uma nova acentuação e um apelo aos bispos e padres na concepção do seu ministério. Estes não devem esgotar a sua acção na dogmática, no ensino nem na pastoral. De facto, por vezes, correm o perigo de, na sua acção, serem demasiadamente movidos por ideias e conceitos a que falta por vezes uma espiritualidade. Ele apresenta como prioritário o “dever da caridade como tarefa intrínseca da Igreja inteira e do Bispo na sua diocese”. « Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele »(1 Jo 4, 16).
„O amor tudo vence… cedamos ao amor!…

António Justo
Teólogo

António da Cunha Duarte Justo

Liberdade à la Marx ou à la Bin Laden – Uma Alternativa ?

Chega uma ética de liberdade diplomática e
a verdade do politicamente correcto?

Até parece que já vivemos num mundo virtual! Um jornal dinamarquês publica umas caricaturas e quatro meses depois o mundo resolve reclamar. Foi tanto tempo preciso para os islamistas prepararem a reacção no mundo árabe ou convinha isto na contextuara actual do Irão e dos Palestinianos?
Precisamente aqueles que nas suas sociedades publicam as piores caricaturas contra a EUA, a EU e os Judeus, abalofam-se como se não tivessem telhas de vidro. Não reconhecem o direito de outros estados. Não aceitam a separação de poderes e exigem dos governos uma desculpa como se estes tivessem mão no que sai nos jornais. Neste momento, uma cruzada contra a sociedade livre vem mesmo a matar!… Servem-se os interesses de extremistas dum lado e do outro. Na sua reacção, a sociedade ocidental mostra que já está cansada de tanta liberdade. Esta só interessa à margem, tendo sido predisposta para a libertinagem.
A violência já não escandaliza
Os extremistas seculares e vanguardistas querem uma liberdade à la Marx e os extremistas muçulmanos querem-na à la Bin Laden. Os islamistas ganham mais esta batalha à custa do Islão. Os europeus, pretensamente humanos, não reagem; ou melhor, reagem mal. Um país europeu em que a liberdade era um pregão forte foi difamado e ninguém o defendeu. Todos, atemorizados encolhem-se com declarações à volta da moralidade ou imoralidade de 12 caricaturas. O petróleo e o petro-dolar podem muito. A ofensiva islamista vem mesmo a calhar! Em tempos de terrorismo torna-se cada vez mais necessária uma liberdade controlada!… A violência não escandaliza. Estamos na época do moralismo e da ética de liberdade diplomática e da verdade do politicamente correcto. Os secularistas europeus cedem aos islamistas para mais ferozmente atacarem a sociedade judaico-cristã a quem devem o ser.
A eterna religião e o adorado sexo
Partidários conservadores encontram-se receosos e preocupados com a economia sem predisposição para notar o que se passa. Partidários da esquerda marxista, embora habitualmente façam o seu negócio com moralismos, reservam as suas forças para as gloriosas batalhas do aborto e de quejandos em torno dos órgãos reprodutores.
É estranho que uma esquerda sempre ciosa em combater e difamar o Catolicismo seja agora tão pacífica em relação a reacções islamistas. É costume usarem duas medidas!… Ou será que os seus factores, os extremos ( neste caso Deus e o Sexo) se tocam e prometem imortalidade e poder? Uns extremistas apoderaram-se de O Corão para o instrumentalizarem como sua palavra de Deus. Os outros apoderaram-se da fonte da vida: o sexo, para o seu proselitismo e sobrevivência na controvérsia política.
Numa altura em que se deveriam preocupar em promover a procriação para continuarmos uma sociedade vital capaz de pagar as reformas às próximas gerações, preocupam-se com o sexo como brinquedo querendo distribuir preservativos aos meninos da escola a partir dos 16 anos. Parece que já chegamos à África. Ou será que se trata apenas do aproveitamento de alguns fundos reservados à família, isto é, à família humana?! Enfim, todos têm algo a oferecer: uns oferecem religião e os outros oferecem sexo. Por vezes tem-se a impressão que política e religião são usadas para domínio dos próprios problemas em reacção às próprias falhas de carácter.
Felizmente que entre muçulmanos intelectuais se levantam vozes defensoras dum Islão moderno, contra os islamistas que querem que os muçulmanos readoptem as normas tribais pré-islâmicas em que dominava a lei da vingança e da retaliação. A violência é filha da falta de esperança. Os fanáticos têm Deus nas palavras mas não no coração. Como poderia um Deus ser menos misericordioso que eu e exigir dos seu súbditos que matem os seus filhos, o próximo, quando eu não o faria?
Os radicais dominam a praça pública
A maioria do povo Islão, aquele que não vai para as ruas cometer atrocidades e difamar a própria religião, é pacífica. O mundo islâmico fica em casa. Os radicais possuem a praça pública em toda a parte. Isto mostra que os islamistas têm uma rede bem organizada em todo o mundo sendo capazes de dar expressão à insuflação global. Com as mesquitas estão em condições de agir internacionalmente em todo o lugar. Esta força da base não suporta uma instituição hierárquica com uma cúpula capaz de responsabilidade global. Uma força dos sargentos em que os generais operam discretamente ao longo da sua história. Não há guerra, apenas guerrilha.
É natural que a burguesia dos países islâmicos se sente incomodada com presença militar ocidental nos seus países e com a organização do Ocidente contra o terrorismo islamista. Na base de toda a agressão está a frustração contra o estrangeiro e contra a dominância do Ocidente na política e na economia. Aqui haverá que fazer grandes acertos numa verdadeira política de normalização. É também urgente uma discussão de conteúdos com o Islão. As reacções do mundo ocidental só mostram que não conhecem o Islão. Muita gente fala e nem sequer o livro sagrado muçulmano, o Corão leu. Contenta-se com uma opinião para trazer por casa.
Os intelectuais muçulmanos têm no mundo uma grande responsabilidade para fazerem valer a razão desta maioria que representa a outra realidade do Islão. O fanatismo é fruto da ignorância, doutro modo não agiriam como agem nem difamariam os outros como incrédulos. Não há estado muçulmano nenhum em que as outras religiões sejam tratas com equidade..
No Islão, o suicídio e o assassínio deveriam ser declarados blasfémia. Como é que o assassínio pode conduzir ao paraíso? Os verdadeiros difamadores da religião são os homicidas e os terroristas que actuam com ciladas ou fazendo emboscadas.
Urgente é fazer frente contra a desumanidade, contra a barbaridade na religião em vez de se exigirem desculpas.
O Islão que, por natureza, é anti-secular ao não condenar oficialmente as acções dos islamistas demonstra que o mundo secular, muitas vezes, é mais razoável e mais capaz de gerir possíveis potenciais de agressões que surgem em nome da religião.
Uma cruzada dos direitos humanos seria a resposta da Europa adequada à cruzada islamista contra a liberdade, só que a sua ética o impede. Nestas campanhas os islamistas procuram atemorizar e calar a voz de intelectuais islâmicos críticos. Assim impedem a formação duma atitude crítica que bem seria capaz de contribuir para a modernização da sociedade islâmica e para o seu prestígio
Não se pode sacrificar tudo nem no altar da religião nem no altar da política.

António Justo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo

Terceira Guerra Mundial: A Guerra das Culturas

Fim da Sociedade Aberta
O direito à diferença não pode menosprezar a visão de conjunto, a realidade do todo.
Chega uma bagatela na Dinamarca, uma caricatura atrevida sobre Maomé para que o mundo perca a cabeça. A violência cega não precisa de fundamento, basta-lhe apenas uma oportunidade. Quem é que se deve aqui desculpar no meio de tanto fanatismo? Os europeus não querem ceder os seus valores e o mundo islâmico quer impor os seus. No meio de tudo isto só perdem os honestos de um lado e do outro. Terroristas e extremistas aproveitam a mais pequena coisa para espalhar o seu ódio e incendiar o mundo em nome da religião e de princípios sagrados. Na destruição e no conflito está a sua oportunidade; apostam tudo na bomba do ódio e da vingança. Querem globalizar a agressão e as ideologias, não suportam uma sociedade aberta e livre, querem acabar com a tolerância para instalar uma visão do mundo racista. Jogam com duas medidas. O seu mundo, o estado de Deus inquestionável, o reino do bem querem-no intocável. O que há a mudar, na sua estratégia é o território do mal, o ocidente, o reino decadente do diabo, da culpa. Nos seus países, os cristãos são discriminados e por vezes perseguidos, mas têm que se calar por medo às reacções. Seria fatal se os estados árabes e os grupos revoltosos continuassem a usar a luta religiosa como válvula de escape para a frustração e a insatisfação fruto das injustiças reinantes nos seus sistemas políticos. O seu recurso à religião como único instrumento estabilizador de identidade é muito débil e dá-se à custa do ser humano.
Países como o Irão apoiam descaradamente o terrorismo, a guerrilha. Com as suas palavras e acções dão razão aos que vêm o mundo árabe como agressivo; ao mesmo tempo, facilitam o caminho aos falcões. Enfraquecer a “escalação” deve ser a missão não só dos estados europeus mas também dos estados árabes.
Islamistas declararam guerra ao mundo moderno, à democracia e aos estados árabes que procuram instalar estruturas democráticas sérias. A terceira guerra mundial é uma guerra de guerrilha. Ela já funciona entre o mundo árabe e o mundo ocidental. Esta está cada vez mais presente na consciência do povo e determina cada vezmais o seu comportamento..
Verificam-se paralelos comuns com o embate entre o mundo bárbaro e o império romano. Dum lado, uma sociedade romana decadente com um grande progresso tecnológico e uma estratégia militar superior que atraía os povos vizinhos e do outro lado povos rudes que com a sua vitalidade, convicção e guerrilha dominaram o poder mais forte, espalhando por toda a parte o medo, chegando mesmo a irradiar dos hábitos e da memória daquela civilização aquisições que passaram ao esquecimento.
Declaradamente a presente guerra começou com os actos terroristas de 11 de Setembro em 2001 às torres de Nova Yorque. Esta é uma guerra fatal que se torna cada vez mais presente em todo o mundo e em cada pessoa condicionando políticos e pessoas no seu agir. O medo passou a ser uma realidade constante, anteriormente presente na acção de políticos e empresários atingiu entretanto o espírito de toda a gente. O mundo Islão quer ser considerado tabu não admitindo correcções à sua maneira de estar no mundo. Os extremistas já ganharam a batalha do medo. Querem que o Ocidente se ajoelhe perante o Islão como se na Europa a liberdade de expressão estivesse na mão dos governos. A guerra santa contra o Ocidente encontra-se em marcha, forçada por extremistas em guerra contra o desenvolvimento.
A Religião não é coisa privada
A discussão em torno da questão das caricaturas a Maomé e a correspondente reacção árabe mostram que a ideia da realização duma sociedade secular foi uma utopia peregrina. Também esta porta se encerrou!… Por toda a parte se levanta o Islão contra a liberdade e contra o mundo cristão moderno.
Na Europa a religião e a liberdade andam de mãos dadas. Seria um bom trabalho para as organizações muçulmanas aculturarem o Islão à Europa e assim no contributo para o Islão evitar a guerra das culturas, que de outro modo chegará de maneira brutal. A religião deve ser susceptível de crítica assim como tudo o que tem a ver com o homem e com a sociedade. A sociedade secular, deve respeitar os sentimentos religiosos tal como os adeptos de outros sistemas políticos têm o dever de respeitar a democracia. Há muito que roer na casca das ideologias, das doutrinas, das mundividências e dos mitos. Só assim será possível chegar-se ao seu núcleo e obter uma melhor compreensão das mesmas e da realidade que incorporam. Se é verdade que não deve haver zonas de tabu, também não se deve faltar ao respeito. A sociedade secular tem de aprender a tolerância respeitando os sentimentos religiosos como uma realidade e não reduzir fanaticamente a religião a ópio do povo. A mesma tolerância se exige dos crentes em relação às ideologias. Naturalmente que não se podem tabuizar temas, mas há limites. E os limites da crítica tanto à religião como à democracia são o momento em que estas forem estropiadas ou desfiguradas em função de interesses menos nobres. Em liberdade e em democracia não pode ser tudo permitido. O direito à diferença não pode menosprezar a visão de conjunto, a realidade do todo.
Embora os cristãos não sejam tão sensíveis à crítica, é óbvio o respeito pelos sentimentos religiosos das pessoas. Uma arte que coloca Jesus no cenáculo ao lado duma prostituta quer ridicularizar e difamar. Religião não é coisa privada. A sociedade secularizada tem de tomar em conta que não tem legitimação para impor aos outros os seus mitos e ritos. Têm de reconhecer a realidade e o valor da religião. Na reacção do Islão tornam-se mais patentes certas barbaridades que têm sido injustamente cometidas contra o cristianismo bem como a falta de respeito e os abusos de certos lobbies.
Uma certa elite socialista marxista, que nutre simpatias especiais pelo mundo Islão e aposta no ressentimento contra o cristianismo, deveria pensar bem no que faz, porque poderia sair-lhe o tiro pela culatra. Se é verdade que o Islão lhe está mais próximo na ideia centralista de estado também é verdade que ele fortalecerá certas forças latentes no Ocidente. Um diálogo crítico no respeito é o melhor pressuposto para o desenvolvimento e para o encontro de pessoas e culturas adultas.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo