Acerca dos Bronzeados pela Torreira do Sol de 25 de Abril

No Rescaldo do Discurso sobre a Cruz
O estado de desenvolvimento duma cultura tem a sua origem na religião

Do discurso, além de alguns trovões tempestivos, sempre surgem alguns relâmpagos que ajudam a ver, por momentos, a realidade de sua natureza escura. Os militantes da cruzada contra as cruzes são também eles filhos, filhos pródigos do crucifixo.
Na discussão questiona-se o abuso da administração, que não tem legitimação para, por mero acto administrativo, decidir e consumar actos que a transcendem, que pertencem ao foro do parlamento e dos tribunais. A fidalguia democrática que nos governa não pode passar por cima das instituições! Uma certa elite de estrangeirados, bronzeada na torreira do sol do 25 de Abril, não se pode continuar a comportar como se vivesse em terra maninha. Com o seu à-vontade e auto-suficiência e o seu comportamento autista só prejudicam o verdadeiro progresso do povo.
Chega de atitudes levianas de puberdade tardia. Os problemas que Portugal atravessa são demasiado sérios a nível de economia, de saúde e de educação para se poder continuar, de ánimo leve, cada vez mais na mesma. O Estado deve garantir a autonomia das escolas. Se há alguém com voto na matéria são as associações de pais e de encarregados de educação de cada escola.
Não se põe em causa a argumentação de alguns com a neutralidade pública perante as religiões. A separação entre estado e religião é um apanágio dos países de raízes cristãs: dai a Cesar o que é de César e a Deus o que é de Deus. O que está qui em questão é o processo e o desrespeito pela tradição cristã. As outras religiões não põem em quetão a cruz porque ainda não têm grande implantação em Portugal ou quando muito constituem grupos relativamente reduzidos. O argumento com outras religiões é um argumento de mau pagador, só para desviar…
A neutralidade do Estado quer-se porém não só em relação à religião mas também em relação à contra-religião. Não deve confundir-se Estado laico com Estado laicista; neutralidade com intolerância. Sem respeito não há tolerância. O laicismo quer-se instalar no Estado como Estado confessional anti-religião servindo-se de „ataques bombistas“ querendo obrigar um povo religioso à laicidade. Querem a sua fé política no centro, no público e a religião só tolerada como coisa só privada.O paganismo secular apregoado por racionalistas e por marxistas materialistas tem um cunho jacobino dogmático sempre em campanha contra tudo o que tenha sabor cristão. É pena o desperdício de suas energias que poderiam ser dirigidas constructivamente no desenvolvimento da civilização ocidental e na revalorização e redescoberta dos seus valores. Estranho é que muitos dos críticos do cristianismo ou do seu folclore sejam pessoas que vivem do sistema e do povo…
O respeito pelos valores da diferença não é respeitador quando despreza ou se dá à custa dos próprios valores. Pelo facto de eu receber em casa a visita dum esquimó, o respeito pela sua cultura não me pode levar a pôr a minha esposa à disposição do hóspede, como será hábito na sua cultura. Muita boa gente inconsciente anda por aí a oferecer a sua alma, a pôr a „sua esposa“ à disposição. Perdoai-lhes porque não sabem o que fazem. Vivem do do dia a dia, só do pão.
Sob a bandeira dum estado laico, de laivos dum socialismo materialista, muitos protegidos armam-se em grandes contra o valor cultural nacional em favor dum internacionalismo desalmado. Inimigos camuflados da liberdade querem é destruir. Muitos vivem da guerrilha contra a maioria, alimentam-se da polémica e das zangas.
Em nome da liberdade usam a armadilha da opinião privada imposta. Não podem ver cruzes nas escolas mas aceitam com bons olhos e querem cartazes sexistas nas salas de aula. Não lhes chega que em muitos textos escolares esteja subjacente a desmontagem de certos valores culturais e tudo sob a capa do multiculturalismo ou do modernismo. Tomam o crucifixo como concorrente dos seus símbolos materialistas, dum punho cerrado, duma cruz foice-martelo, etc.. Querem criar vazios culturais onde possam incubar o paganismo e a superstição. Crentes pela negativa querem provocar para depois terem razão. Querem o paganismo politeista onde impera a lei natural, a lei do oportuno, a lei do mais forte.
Não se trata aqui de defender os interesses de negócio com o aquém ou com o além. O que se aqui questiona e o que aqui está em causa é a destruição paulatina da identidade de um povo, de uma nação. A boa intenção não chega. Muita gente quer um povo com uma identidade esquizofrénica, dividida. Seres equivocados confundem retórica com realidade. A realidade é que Portugal teve a sua expressão mais autêntica e mais produtiva da sua história nas épocas em que a sua identidade não se questionava e se definia sob o estandarte da cruz. Os tempos de maiores crises foram aqueles em que grupos oportunos se encostavam a Castela, à França ou à Rússia. Não se trata aqui de defender o status quo mas de procurar distinguir entre o acidental e o essencial em cada época histórica, num processo de integração e não de desagregação. Não importa aqui defender um ideologia seja ela a mais camuflada, trata-se de nos reconhecermos como pessoas e como comunidades, de um eu aberto e livre no discernimento e diferenciação dos espíritos, na construcção duma comunidade adulta com tantas religiões como as pessoas e com tantos partidos como os cidadãos. Já é tempo de Portugal viver desencostado e passar a ser consciente de que o preço do encosto é a própria dignidade. Não se pode continuar a assistir à privatização da cultura portuguesa, levada a efeito por deleitantes moralistas, sem uma discussão profunda e isenta. Não é suficiente que, um diparate cometido por um país considerado mais adiantado, já seja razão suficiente para que alguns iluminados irreflectidos ou alguns devotos do espírito do tempo se sintam legitimados a exigir que Portugal cometa os mesmos disparates.
O Estado na impotência de fugir ao ditado da economia internacional e no seguimento da política europeia cede à tentação de querer marcar presença desviando as atenções dos portugueses para questões polémicas como o aborto, a homossexualide ou o afastamento duns paus em cruz das escolas. Este é um discurso fácil e saloio, sem base científica, nem necessidade real, propício para levantar animosidades, proselitismos de luta, como se estes constituíssem os reais problemas da nação. Esta é uma maneira simplista e simplória de se marcar presença no povo. Isto porém não passa de masturbação, hoje com grande mercado. A incapacidade duma reflexão profunda sobre as grandes questões portuguesas, sobre a necessidade de se remodelar o ensino e as escolas leva os responsáveis a transferirem o seu teatro para outras arenas, para assim melhor poderem espetar as suas bandeirilhas no lombo do povo.
O estado de desenvolvimento duma cultura tem a sua origem na religião. A decadência dum povo começa com a decadência da religião. Não fosse o ser humano um ser religioso: ser religioso pela afirmativa ou pela negativa. Naturalmente que a religião, em termos quantitativos, quer-se tal como o sal na comida.
Naturalmente que a vida é mais complexa do que parece! É da essência da cruz termos de assumir a nossa e a dos outros. Ela questiona-me a mim, a ti e a nós.

António Justo
Teólogo e pedagogo
Email: a.c.justo@t-online.de

António da Cunha Duarte Justo
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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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