Acerca dos Bronzeados pela Torreira do Sol de 25 de Abril

No Rescaldo do Discurso sobre a Cruz
O estado de desenvolvimento duma cultura tem a sua origem na religião

Do discurso, além de alguns trovões tempestivos, sempre surgem alguns relâmpagos que ajudam a ver, por momentos, a realidade de sua natureza escura. Os militantes da cruzada contra as cruzes são também eles filhos, filhos pródigos do crucifixo.
Na discussão questiona-se o abuso da administração, que não tem legitimação para, por mero acto administrativo, decidir e consumar actos que a transcendem, que pertencem ao foro do parlamento e dos tribunais. A fidalguia democrática que nos governa não pode passar por cima das instituições! Uma certa elite de estrangeirados, bronzeada na torreira do sol do 25 de Abril, não se pode continuar a comportar como se vivesse em terra maninha. Com o seu à-vontade e auto-suficiência e o seu comportamento autista só prejudicam o verdadeiro progresso do povo.
Chega de atitudes levianas de puberdade tardia. Os problemas que Portugal atravessa são demasiado sérios a nível de economia, de saúde e de educação para se poder continuar, de ánimo leve, cada vez mais na mesma. O Estado deve garantir a autonomia das escolas. Se há alguém com voto na matéria são as associações de pais e de encarregados de educação de cada escola.
Não se põe em causa a argumentação de alguns com a neutralidade pública perante as religiões. A separação entre estado e religião é um apanágio dos países de raízes cristãs: dai a Cesar o que é de César e a Deus o que é de Deus. O que está qui em questão é o processo e o desrespeito pela tradição cristã. As outras religiões não põem em quetão a cruz porque ainda não têm grande implantação em Portugal ou quando muito constituem grupos relativamente reduzidos. O argumento com outras religiões é um argumento de mau pagador, só para desviar…
A neutralidade do Estado quer-se porém não só em relação à religião mas também em relação à contra-religião. Não deve confundir-se Estado laico com Estado laicista; neutralidade com intolerância. Sem respeito não há tolerância. O laicismo quer-se instalar no Estado como Estado confessional anti-religião servindo-se de „ataques bombistas“ querendo obrigar um povo religioso à laicidade. Querem a sua fé política no centro, no público e a religião só tolerada como coisa só privada.O paganismo secular apregoado por racionalistas e por marxistas materialistas tem um cunho jacobino dogmático sempre em campanha contra tudo o que tenha sabor cristão. É pena o desperdício de suas energias que poderiam ser dirigidas constructivamente no desenvolvimento da civilização ocidental e na revalorização e redescoberta dos seus valores. Estranho é que muitos dos críticos do cristianismo ou do seu folclore sejam pessoas que vivem do sistema e do povo…
O respeito pelos valores da diferença não é respeitador quando despreza ou se dá à custa dos próprios valores. Pelo facto de eu receber em casa a visita dum esquimó, o respeito pela sua cultura não me pode levar a pôr a minha esposa à disposição do hóspede, como será hábito na sua cultura. Muita boa gente inconsciente anda por aí a oferecer a sua alma, a pôr a „sua esposa“ à disposição. Perdoai-lhes porque não sabem o que fazem. Vivem do do dia a dia, só do pão.
Sob a bandeira dum estado laico, de laivos dum socialismo materialista, muitos protegidos armam-se em grandes contra o valor cultural nacional em favor dum internacionalismo desalmado. Inimigos camuflados da liberdade querem é destruir. Muitos vivem da guerrilha contra a maioria, alimentam-se da polémica e das zangas.
Em nome da liberdade usam a armadilha da opinião privada imposta. Não podem ver cruzes nas escolas mas aceitam com bons olhos e querem cartazes sexistas nas salas de aula. Não lhes chega que em muitos textos escolares esteja subjacente a desmontagem de certos valores culturais e tudo sob a capa do multiculturalismo ou do modernismo. Tomam o crucifixo como concorrente dos seus símbolos materialistas, dum punho cerrado, duma cruz foice-martelo, etc.. Querem criar vazios culturais onde possam incubar o paganismo e a superstição. Crentes pela negativa querem provocar para depois terem razão. Querem o paganismo politeista onde impera a lei natural, a lei do oportuno, a lei do mais forte.
Não se trata aqui de defender os interesses de negócio com o aquém ou com o além. O que se aqui questiona e o que aqui está em causa é a destruição paulatina da identidade de um povo, de uma nação. A boa intenção não chega. Muita gente quer um povo com uma identidade esquizofrénica, dividida. Seres equivocados confundem retórica com realidade. A realidade é que Portugal teve a sua expressão mais autêntica e mais produtiva da sua história nas épocas em que a sua identidade não se questionava e se definia sob o estandarte da cruz. Os tempos de maiores crises foram aqueles em que grupos oportunos se encostavam a Castela, à França ou à Rússia. Não se trata aqui de defender o status quo mas de procurar distinguir entre o acidental e o essencial em cada época histórica, num processo de integração e não de desagregação. Não importa aqui defender um ideologia seja ela a mais camuflada, trata-se de nos reconhecermos como pessoas e como comunidades, de um eu aberto e livre no discernimento e diferenciação dos espíritos, na construcção duma comunidade adulta com tantas religiões como as pessoas e com tantos partidos como os cidadãos. Já é tempo de Portugal viver desencostado e passar a ser consciente de que o preço do encosto é a própria dignidade. Não se pode continuar a assistir à privatização da cultura portuguesa, levada a efeito por deleitantes moralistas, sem uma discussão profunda e isenta. Não é suficiente que, um diparate cometido por um país considerado mais adiantado, já seja razão suficiente para que alguns iluminados irreflectidos ou alguns devotos do espírito do tempo se sintam legitimados a exigir que Portugal cometa os mesmos disparates.
O Estado na impotência de fugir ao ditado da economia internacional e no seguimento da política europeia cede à tentação de querer marcar presença desviando as atenções dos portugueses para questões polémicas como o aborto, a homossexualide ou o afastamento duns paus em cruz das escolas. Este é um discurso fácil e saloio, sem base científica, nem necessidade real, propício para levantar animosidades, proselitismos de luta, como se estes constituíssem os reais problemas da nação. Esta é uma maneira simplista e simplória de se marcar presença no povo. Isto porém não passa de masturbação, hoje com grande mercado. A incapacidade duma reflexão profunda sobre as grandes questões portuguesas, sobre a necessidade de se remodelar o ensino e as escolas leva os responsáveis a transferirem o seu teatro para outras arenas, para assim melhor poderem espetar as suas bandeirilhas no lombo do povo.
O estado de desenvolvimento duma cultura tem a sua origem na religião. A decadência dum povo começa com a decadência da religião. Não fosse o ser humano um ser religioso: ser religioso pela afirmativa ou pela negativa. Naturalmente que a religião, em termos quantitativos, quer-se tal como o sal na comida.
Naturalmente que a vida é mais complexa do que parece! É da essência da cruz termos de assumir a nossa e a dos outros. Ela questiona-me a mim, a ti e a nós.

António Justo
Teólogo e pedagogo
Email: a.c.justo@t-online.de

António da Cunha Duarte Justo

Ambições Nucleares do Irão

Luta pela Hegemonia no Mundo Árabe

A Troika (Alemanha, França e Inglaterra) da União Europeia mostrou ter chegado com o seu latim ao fim nas sua acções diplomáticas com o Irão ao ameaçar levar a questão para o Conselho de Segurança da ONU. Com um tratamento mais duro para com o Irão, através de sanções, esperam poder provocar uma mudança de curso. A Europa é o maior parceiro comercial do Irão e tem grandes interesses no mundo árabe.
Porém, quanto mais pública for a crítica ao Chefe de Estado Achmadinedschad mais brutal será a sua reacção. Déspotas não ligam às consequências negativas que o povo poderá vir a sofrer com embargos.
Um estado teocrático rege-se por outros valores que não os do diálogo e menos ainda os democráticos. A única referência são interesses imediatos que por sua vez são legitimados por o Corão e pela Scharia. Trata-se portanto de objectivos „santos: tornar-se uma potência nuclear para poder, sem consulta, condicionar a política mundial, começando por irradiar Israel do mapa, como quer o chefe de estado, ou „afogar os judeus no mar” como querem outros.
Naturalmente que a Europa não pode admitir que o Irão se torne potência nuclear atómica porque a Europa está na esfera de alcance do Irão. Países teocráticos não se deixam comprometer com convenções. O grande problema é o espírito hegemónico que ainda determina a cultura árabe e o facto de se definir em contraposição com o resto do mundo.
A aquisição da bomba atómica pelo Irão corresponderia, no contexto actual do mundo árabe a iminência duma guerra inter-cultural.
Por outro lado se o Conselho de Segurança das NU declarasse uma resolução de embargo ao Irão isto iria ter consequências muito negativas para o Iraque (maioria schiita, como no Irão) e para o terrorismo no Médio Oriente e no mundo árabe.
No Conselho de Segurança não será de prever uma decisão atendendo a que o veto da China poderia impedir a estratégia em curso. Pequim quer o óleo do Irão sendo para si prioritária a segurança do fornecimento desta matéria-prima. A chance poderá vir da pressão a obter da liga árabe que tem interesses contraditórios no seio dos seus membros. Como muitos estados árabes não vêem com bons olhos o crescimento do poderio turco, outros também não aceitariam ficar sob a hegemonia do Irão. Está também em jogo o desequilíbrio entre as forças religiosas sunitas e as schiitas).
Por tudo isto, na hora em que a diplomacia europeia parece abdicar, só resta à Europa uma alternativa a apelos públicos. A alternativa será uma política diplomática secreta para conseguir aliados no mundo. Com actos públicos de força não se conseguirá nada; a não ser que optassem por uma intervenção militar. Uma opção militar não será possível atendendo à guerrilha internacional dum certo mundo árabe e aos diferentes interesses das potências internacionais.
A Chanceler alemã Ângela Merkel já afirmou que era decisivo que o Irão saiba que „para nós é uma questão séria”. É interessante o facto de os alemães ameaçarem com o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Geralmente, na sua diplomacia, alemães e franceses são muito pragmáticos e sobretudo preocupados com as relações comerciais. Tudo leva a querer que o assunto é mesmo quente e muito problemático. Interessante é a maneira moderada de Busch também ele muito interessado numa solução diplomática. Isto apesar de a América na sua política externa ater sempre presente além do aspecto económico também o idealismo da exportação da democracia para todo o mundo. Naturalmente que a América não permitirá que o Irão, na situação em que se encontra, venha a adquirir armas nucleares. Isso corresponderia à desestabilização total do mundo árabe e do mundo.
Um estado soberano é livre na decisão dos seus actos?
Uma ideia peregrina ingénua sempre passa pela nossa cabeça: porque é que um país soberano não pode ter o direito a possuir armas nucleares, tal como algumas potências? O problema é o da responsabilidade própria e universal. Uma teocracia imperialista não está ainda na situação de usar o armamento com responsabilidade, se é possível falar-se de responsabilidade na utilização das armas.
O Médio Oriente, o Iraque, o Irão, e o Afeganistão são zonas de interesse comum de americanos e europeus. São zonas muito instáveis que ainda não alcançaram a maturidade política. Só relações de boa vizinhança e de estabilidade interior poderão criar um clima de confiança e aceitação recíproca. O processo de pacificação dos Estados Unidos e da Europa foram processos longos. Por outro lado, devido ao contexto internacional e à paz a atingir, os grandes blocos não podem permitir a colonização interna dentro das outras culturas. O estádio de desenvolvimento dos vários grupos entre si não pode ser deixado, como no passado à força do mais forte dentro de cada grupo e na relação com os grupos vizinhos. A consciência dos direitos humanos individuais, já é um facto reconhecido internacionalmente, o que impede que as etnias mais fortes concluam o seu processo de assimilação dos vizinhos. O direito cultural impõe-se à lei da selecção.
Naturalmente que o mundo árabe, com os recursos de petróleo que têm se tivesse nas mãos a bomba atómica poderia cantar de galo. Neste momento da história quem canta é o mundo ocidental.

António Justo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo

O Porquê da Decadência da Civilização Ocidental e da Religião Cristã

Estagnação do Cristianismo e Expansão do Islão
Actualmente a religião mais perseguida do mundo é a cristã, com cerca de 200 milhões de perseguidos. Sintomático para a situação da Civilização Ocidental é o facto de, nos meios de comunicação social e nas igrejas, não se falar da perseguição aos cristãos.
Este silêncio de hoje não é fenómeno novo, o mesmo acontecia no comunismo e no nacional-socialismo. O social correcto exige que se fale da perseguição cristã às bruxas na Idade Média e das Cruzadas. Os milhares de cristãos executados e aprisionados hoje em dia não são mencionados.
O argumento de que a Igreja não deve criticar os governos inimigos dos cristãos para os não expor ainda mais a perseguições é precário e só válido sob um pressuposto superficial. A manifestação pública levaria, com medo da crítica pública, a uma certa discrição na perseguição. Os interesses materialistas da sociedade ocidental levam os governos, interessados no negócio do petróleo com os países islâmicos e no investimento na China, a serem discretos e a calarem-se oportunistamente para assim não estragarem o negócio.
As delegações político-comerciais não se preocupam com o povo explorado nesses países nem com o seu desenvolvimento. Importante é o negócio do petróleo seja ele embora à custa da própria honra e dos valores da pessoa humana. Apenas se segue a tradição da escravatura e dos “negreiros”. Muitas nações lavam as mãos do negócio sujo, à maneira de Pilatos. Para isso concedem asilo político e religioso aos poucos que conseguem escapar aos sistemas de opressão. Trata-se de negócios entre elites. Amigo não empata amigo, ao fim e ao cabo o povo é que as paga.

A questão não está na decadência moral mas na falta de identidade
Em geral o Cristianismo deixou de ser uma fé e passou a ser uma civilização. Certamente que é a religião mais perseguida porque é a que tem a mensagem mais exigente para o ser humano e uma grande parte da humanidade está mais propensa a seguir a lei da entropia.
Hoje o Islão encontra-se de vento em popa e com razão. Em geral o povo ocidental tem medo dele e revela uma ignorância total a seu respeito. Reduz o seu discurso sobre ele aos políticos que, engolindo cobras e lagartos, falam de lugares comuns acríticos ou lisonjeiros. Falta uma discussão académica séria e cultural sobre o Islão e sobre a Cultura Ocidental. Não chega a graxa para com ele nem o ser simplesmente contra. É preciso tentar encontrar-se com eles, mesmo que eles evitem. Já vivem mais de 50 milhões de muçulmanos na Europa sem que se tenha dado um encontro a nível de próximo, que são. Não chega deitá-los ao abandono num acto desesperado como se fez em relação aos países árabes. Se é verdade que nesses países não é possível fundar comunidades cristãs também é verdade que os países árabes conseguem impor interesses culturais com interesses económicos. As instituições ocidentais apenas estão interessadas nos negócios descuidando o cultural.
Os muçulmanos não podem ter nenhuma ideia sobre o cristianismo e sobre a sociedade ocidental, que para eles é idêntica; só conhecem um pouco da cristandade e nada de cristianismo (o que não é de admirar porque com a maioria dos cristãos dá-se o mesmo, nem conhecem o Cristianismo nem o Islão). O que eles observam são instituições cristãs acomodadas e fracas que não reagem ao problema da banalização do sexo, da família e dos valores. Para muitos deles somos simplesmente os “sem Deus” e como tal sem valor. Eles sabem que não tomamos a própria cultura nem a religião a sério, por isso, não nos podem tomar a sério.
O começo dum diálogo religioso poderia começar-se através de Jesus que também faz parte de o Corão. Aqui também podíamos aprender deles algo sobre Jesus atendendo que ele era da raça semita com uma antropologia e uma sociologia base muito diferente da helenística.
Os cristãos envergonham-se de falar da sua fé porque em geral apenas conhecem um pouco de religião mas quase nada da filosofia e da teologia que a sustentam. Preferem ir descobrir noutras religiões parte da filosofia que não lhes foi dado conhecer na própria. Desta conhecem quase só o folclore. Isto tem também a ver com um sistema religioso que se apresenta preponderantemente de carácter administrativo e com funcionários stressados por um trabalho que exige deles o impossível e mesmo à margem de qualquer comunidade de vida. Não se nota uma espiritualidade específica.Esta fica reservada para alguns grupos leigos e constitui o privilégio dos conventos, dos iniciados. Muitas vezes, os dirigentes de paróquias mais que teólogos, tornam-se assistentes sociais que administram necessidades religiosas primárias e de culto. Grande parte de padres diocesanos e de pessoas ligadas a à comunidade paroquial vive resignadamente aguentando o fardo da sua religião. Muitíssimos vivem isolados ou escondem-se por trás dum activismo compensatório. São as vítimas da comunidade e da instituição que os delega, uns Cristos abandonados. O fervor religioso e missionário que levava os cristãos, em tempos idos, a expandir a fé e a nação reduziu-se ao campo secular, em actividades desportivas e partidárias, estas com missão de carácter temporário nas campanhas eleitorais.
Fazer uma coisa mas não omitir a outra, seria a palavra de ordem. Já chega de uma sociedade eunuca com ideias triviais e de uma religião aguada. Actividades litúrgicas para mera satisfação de necessidades burguesas são um luxo. Há grande carência de formas religiosas que dêem resposta tanto às estruturas de salvação popular como às de carácter elitista. Uma sociedade nova precisa de gente empenhada a nível político, religioso e social com tipos de comunidades vivas à lá “onde dois ou três estiverem em meu nome lá estou eu no meio de vós”.
A teologia liberal, tal como a economia liberal só atinge uma minoria e produz estragos incomensuráveis na generalidade. É urgente a nível de teólogos e de responsáveis pela sociedade civil uma discussão profunda sobre o sentido do Homem e da sociedade e uma análise detalhada dos mitos e realidades que estão na base da identidade de um povo e duma sociedade. Uma sociedade responsável e orgânica não pode viver apenas duns poucos de slogans e de moralismos oportunos. Naturalmente que não podemos fazer do Cristianismo um religião do medo como é o caso do Islão. Naturalmente que com o medo, o analfabetismo e a opressão física ou moral é mais fácil manter-se os subordinados à disposição. A religião cristã tem a missão de fomentar homens livres e independentes ligados apenas pelo espírito tal como no segredo da trindade. Na bíblia Deus é visto como pai e os seres humanos como filhos de Deus, isto é de estirpe divina; no Islão os crentes são vistos como escravos, como súbditos. Os cristãos não precisam de ter medo porque com o aumento da cultura os povos aproximam-se mais uns dos outros, a partir do momento em que possam ter os instrumentos culturais que lhe permitam ler, analisar e comparar para poder decidir. A vantagem do Corão em relação à bíblia não está na ética nem na moral mas sim, por um lado na sua fé, e por outro na pobreza do povo, no medo e no analfabetismo, usados como meio de manipulação até uma revolução espiritual a operar-se dentro do Islão. Esta poderia ser apressada com a aproximação do Islão europeu ao Cristianismo e com o acordar da mulher na sociedade árabe.
Seria impensável, em temos ocidentais, que um povo como o paquistanês com a tecnologia atómica mais avançada tenha 85% de analfabetos. A realidade porém é que o Islão cresce mais depressa do que o cristianismo e isto dá-se também porque enquanto que grande parte da cristandade crê no bezerro de ouro e na realização de necessidades religiosas como compensações de faltas psicológicas, para os muçulmanos a religião não é apenas uma ideia entre outras mas uma vida que tem por ideal, conquistar o mundo e governá-lo. O Islão, tal como o cristianismo no século XV, sente-se vocacionado a realizar uma missão universal, enquanto que a cristandade se satisfaz com alguns ritos ocasionais e se perde no indivíduo, longe da visão cristã de pessoa e sem a consciência de povo. A sociedade ocidental não se afundará por causa da decadência moral mas sim pela falta de fé, pela falta de convicção. O caminho da convergência será o da mística. Esta tem a ver com o político e com o religioso e une tudo em todos no respeito pela diferença. Enquanto que os cristãos precisam de redescobrir Deus , os muçulmanos precisam de descobrir o Homem.

António Justo
Teólogo e pedagogo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo

Cavaco Silva – O Presidente de todos os Portugueses

A descoberta de Belém como o lugar de partida para a grande aventura!

Finalmente no posto máximo do Estado um social-democrata. Portugal começa a reconciliar-se consigo mesmo. Mais uma desilusão para uma certa elite de bronzeados de Abril que tinham medrado à sombra de cargos e instituições. Também eles trabalham mas pondo, muitas vezes, o legado português ao desbarato dum internacionalismo desalmado.
Uma maioria absoluta logo à primeira volta. Portugal elege Cavaco, um homem que provém do povo e se preocupa com o povo, com a economia e com os valores culturais. Pai do “milagre económico” português de 1985 a 1995 é chamado, de novo, a dominar a crise geral de Portugal: desemprego 7,7%, má distribuição da riqueza nacional, grande contraste entre a periferia e o centro, um sistema de ensino doente, falta de produção e rendimento, os coutos sindicais e administrativos, uma mentalidade de novo-rico, a falta de confiança nas instituições, falta de uma política de poupança e de contenção do estado.
Portugal dá assim expressão à necessidade duma figura de integração. Para isso elege Cavaco Silva que, fiel à sua pessoa, responde: ”Serei o presidente de todos os portugueses”.
Um povo repetidamente desiludido deseja a mudança. Coloca as suas esperanças num homem sério e empenhado, não na ideologia mas sim nos valores humanos e nacionais. O seu rival Soares, mais interessado em desintegrar, é despedido, saindo pela porta traseira da história. De facto, Soares foi mais partidário do que português. Com a eleição de Cavaco há mais Portugal e menos partido. Cavaco Silva diz que é preciso trabalhar, que é precisa inovação e que é preciso respeitar mais os valores da nação. Não será fácil atendendo à propensão e abertura popular à ideologia e à tradicional instalação das ideologias no aparelho do estado. Há muita gente militante não interessada em ver a realidade extremamente precária da situação portuguesa nem em levá-la a sério e desatenta ao que acontece no contexto europeu. O seu bónus é a ideologia.
Finalmente um social democrata em Belém, o lugar donde partiram as grandes caravelas portuguesas. O lugar onde a social-democracia terá de redescobrir e impulsionar os valores que tornaram grande Portugal. Estes valores, naturalmente renovados, passarão por Deus, pátria e família. Queremos um Portugal moderno mas com uma identidade própria. Um Portugal com partidos modernos que vivam do povo para o povo, na união de forças.
Um dos grandes esforços será o do progresso da economia portuguesa, o da defesa da cultura portuguesa e da estabilidade institucional.
A coabitação Belém – São Bento terá que levar à união de forças no sentido da renovação do país. A capacidade interventora do presidente é limitada; tem porém um grande peso controlador e impulsionador. Naturalmente que, tal como o seu antecessor, poderá, um dia, usar do poder da dissolução do parlamento. A tarefa não é fácil atendendo também à pressão das esperanças colocadas no presidente Cavaco Silva. Uma grande tarefa será também a de desideologizar as instituições e a praça portuguesa.

António Justo
Alemanha, 23.01.2006

António da Cunha Duarte Justo

Carnaval de Abril – Elites com Complexo de Vítima

Uma ilusão: Portugal de Férias!
Hoje assiste-se a um fenómeno social especial. Ninguém parece contente com a sua situação. Todas as camadas sociais se queixam. Parece que vivemos numa sociedade depressiva. Talvez por não conseguirmos dominar o próprio stress e por não podermos renunciar a nada. Todos se sentem entregues ao poder do destino ou dum terceiro. Na sociedade, cada vez estão mais presentes a agressão, o descontentamento e o nervosismo.
Muitos parecem esperar tudo de cima, da sociedade ou do Estado. Este parece ter-se tornado numa projecção, numa Pessoa de quem se espera tudo, até dedicação e carinho. O próprio Estado e muitas das suas instituições criaram a ilusão de que dariam resposta e cobertura às necessidades humanas, a tudo, mediante um sistema de beneficência e de seguros para todos os riscos. A Europa seria a panaceia onde se projectaram os sonhos de Abril. O que Abril trouxe para a nova classe política esperava-se que a Europa trouxesse para o resto. O irrealismo era gritante, sonhava-se um Portugal de Verão! Uma sociedade bem mascarada!
Conhecia-se a vida do estrangeiro promissor através dos emigrantes com sucesso. O que se desconhecia era o trabalho abnegado e a dor com que os emigrantes turistas pagavam o seu bem-estar. Parece continuar a ignorar-se ainda que a riqueza do estrangeiro provem da sua grande produtividade. Na sequência, assistiu-se então em Portugal à ascensão duma nova burguesia de desejosos insaciáveis. Desejavam os mesmos ordenados da Europa e ao mesmo tempo queria-se um Portugal de Férias. Os pressupostos com que Portugal arrancou e sonhou não estavam aferidos à realidade. Em vez de investirem no futuro consomem a riqueza chegando mesmo a empenhar o futuro. Habituados a desbaratar as remessas dos emigrantes fizeram o mesmo com os subsídios europeus. A antiga riqueza que Portugal tinha eram os pobres que emigravam para manter a família e enterrar o resto das poupanças na construção de casas para os outros. Actualmente, até esta fonte de riqueza tradicional deixa de existir atendendo a que o povo já não quer filhos. Os seguros pagar-lhe-ão as reformas e a Europa irá mandando algum. É incompreensível que uma nação, com tantas potencialidades no povo, como se pode ver nos emigrantes que tornam ricos outros povos no estrangeiro, não encontre em Portugal as infra-estruturas ao nível de Portugal povo.

Ao regressar da festa só restam os ecos do “desejado” nos Vivas de Abril
Em tempos de crise surge a desilusão e a falta de sentido. De tudo o que a antiga musa canta só restam uns cravos murchos de Abril! Há uma sensação de se ter sido escorraçado do paraíso terreal, do reino da inocência. A uma simbiose desiludida reage-se com a fuga na introspecção ou na contestação de tudo e de todos. Uma espécie de puberdade social em que se reage a nível do sentimento sem a componente da acção.
Os trabalhadores queixam-se dos patrões, os patrões queixam-se da falta de produtividade e da concorrência, os políticos são denegridos e os cidadãos instrumentalizados.. Enfim, uma sociedade de discriminados e de explorados! Ou melhor, uma sociedade de pobres e ricos queixosos! Numa sociedade mercantil de competição e de concorrência ferozes a todos os níveis, o outro torna-se num adversário, num explorador. Deste modo só passa a haver queixosos. Todos lambem as próprias feridas e berram as dores duma vida ingrata e vazia. Esta sociedade de adultos queixosos abdica de si mesma e refugia-se na saudade da infância inocente em que a responsabilidade está nos outros. A princípio, no sonho de Abril no Outono, chegava chorar! “Quem não berra não mama!”…
Agora, no regressar da festa, a um povo cansado, perdida a memória dos feitos dos Descobrimentos, só restam os ecos do desejado nos Vivas de Abril.
Em vez do trabalho entoa-se em conjunto, elites e povo, o cântico do desespero, o canto da despedida. E os que mais alto berram são geralmente as pessoas bem, aquelas que pertencem à margem das elites mas que querem pertencer ao seu centro, onde se não trabalhe mas se exerçam funções. A má consciência, uma vida sem sentido e a falta de realismo para ver o que acontece na camada social desfavorecida leva-nos à queixa. Esta conduz-nos ao prazer de sentir na sua melancolia a dor alheia não vivida. É escandalosa esta canção atendendo que com ela são esquecidos os pobres e os desprotegidos: os sem voz e sem sorte antes e depois de Abril.
Não queremos uma sociedade de privilégios e de vantagens. Se é verdade que ninguém nos dá nada, mais forte deve ser a vontade para agir. Elites, esquecei o dinheiro, mãos à obra, vamos trabalhar!

António Justo
Alemanha
A.C.Justo@t-online.de

António da Cunha Duarte Justo