MENSAGEM
No princípio, era o verbo, a palavra sagrada (1),
Uma voz no vazio, onde o tempo era nada.
Deus, em sua essência, começou a falar,
Num tempo sem tempo, de tudo por criar.
A palavra divina, num eco a vibrar,
Começou a moldar o que viria a se formar.
O ser e a existência, sem qualquer divisão,
Eram um só, no abraço da criação.
E então, no espaço e no tempo a correr,
A palavra de Deus começou a conceber.
Na natureza, no homem, em línguas e tons,
Ressoava o eco divino, em distintos sons.
O som da linguagem, no início do devir,
Num devir só completo, quando ao som voltar,
À palavra que o gerou, no princípio do ser,
Ecoando no universo, sem nunca se perder.
E depois na alma humana, uma busca começa
Para unir o criador e a criação, numa aliança
Em Jesus Cristo, o verbo encarnado,
A Palavra se faz carne, o divino é revelado.
A linguagem humana, com sua dualidade,
Procura entender o mistério da verdade. (trindade)
Na contradição, na tentativa de entender,
O eco do divino, busca compreender.
Mas o destino fatal, a humanidade não vê,
Que o eco da palavra se expressa em cada ser.
Cada som é distinto, em cada coração,
Na ciência, na fé, na política, na razão.
O erro está em pensar que o eco é o verbo,
Quando na verdade é apenas um reflexo,
Da frequência divina que nos faz vibrar,
Uma realidade maior, difícil de alcançar.
Encanta-me o eco, ao amanhecer brilhante,
E ao anoitecer, num tom mais distante.
Para mim, a chave, a fórmula universal,
Está em Cristo, o verbo, na união total.
Em Cristo, o ser e a existência se fundem,
O espírito e a matéria, num amor profundo.
O eco que une, o amor que dá forma,
Superando a dualidade, transformando a norma.
Se isto não percebermos, continuaremos a viver,
Nas sombras dos estroços (Babel), sem entender.
Porém na Palavra, no Verbo encarnado, está a solução,
Para unir o que é criado (o Eco) ao que é Criação (Palavra).
Esta é a ideia, da outra civilização,
Onde a palavra e o eco, em perfeita união,
Nos guiam, nos iluminam, nos fazem ver,
Que em Cristo, a verdade nos faz renascer.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
(1) Ideias minhas que levaram à formulação poética:
MENSAGEM acessível a uns e outros para uma Outra Ideia de Civilização
“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus.”
Deus começou por falar fora do tempo; um “tempo” divino em que a Palavra era um processo em potencial, capaz de ganhar forma, mas ainda não formatada; um estado em que ser e existência não se diferenciavam no devir latente. O ser e a existência coexistiam, indissociáveis, no kairós do tempo sem tempo. Para que o ser se tornasse existência, era necessário moldá-lo no espaço e no tempo. Foi nesse surgimento que a Palavra encontrou o seu eco em espaço e tempo.
A palavra de Deus começou a ressoar na natureza, na voz do homem e dos povos, nas várias línguas e biótopos da natureza e da cultura. Foi então que o eco de Deus se tornou existência, e a existência tornou-se o Eco de Deus.
O som da linguagem está na origem de todo o devir. No entanto, o devir só se completa quando o som retorna à Palavra que o gerou. Em todo o humano e em todo o universo, ouve-se e sente-se o eco da Palavra divina original, em constante expansão. Diante de tão grandioso Eco, a alma humana procurou resolver o hiato entre a palavra e o eco, entre o Criador e a criação, encontrando-o no modelo e padrão da realidade humana e cósmica: Jesus Cristo (a Palavra encarnada e a carne tornada Palavra).
A linguagem humana, como elemento de ligação e diferenciação, contém em si a energia primordial do caos, que, através da afirmação da contradição, tenta dar forma à Palavra, recorrendo à analogia numa tentativa de compreender o enigmático.
O destino fatídico da humanidade parece ainda não ter percebido que o eco da Palavra se manifesta de maneiras diferentes, assumindo, em cada ser, lugar e tempo, um som distinto. Esse som (eco divino) expressa-se na frequência do coração, do intelecto, da ciência, da religião, da política e de cada indivíduo, como uma ressonância única de um mesmo som. O trágico da questão é que cada eco se confunde, tomando-se por Palavra, em vez de reconhecer que é apenas uma ressonância da frequência de uma realidade que nos ultrapassa.
Encanta-me sentir a ressonância de um som brilhante ao amanhecer e sombrio ao anoitecer! Para mim, tanto a nível pessoal quanto alegoricamente para toda a humanidade, acredito que a fórmula de toda a realidade, tanto no nível da Palavra (o espírito) quanto no nível do Eco (a criação), é Jesus Cristo.
Em Jesus Cristo, o ser e a existência, o espírito e a matéria, se reúnem. O eco que lhe dá forma é o amor, aquele paráclito que possibilita unir o conteúdo à forma, o criado ao não-criado, superando assim a dualidade que a condição humana e nossa linguagem expressam. De outro modo, continuaremos todos a viver sob a sombra dos escombros da Torre de Babel.
António da Cunha Duarte Justo