A verdadeira Luta não é entre Ocidente e Oriente, mas entre Oligarcas e Povos
A recente decisão da União Europeia de importar petróleo e gás obtidos através de fracturação hidráulica dos Estados Unidos, que corresponde a uma prática amplamente criticada pelos seus impactos ambientais, coloca em evidência uma contradição gritante. Se, por um lado, Bruxelas proclama a urgência da transição ecológica, por outro, cede à pressão económica e geopolítica, comprando energia que descredibiliza os seus próprios princípios. Será este um erro tático para evitar uma guerra alfandegária com os EUA? Ou um sinal de que a política energética europeia está refém de ideologias e incoerências?
A Hipocrisia do “Green Deal” e o Preço da Dependência
A Europa orgulha-se de ser pioneira no combate às alterações climáticas, mas a realidade mostra uma estratégia frágil, marcada por decisões precipitadas e contradições. O caso da Alemanha é paradigmático: ao abandonar a energia nuclear e, em seguida, o carvão, sem ter fontes renováveis suficientemente consolidadas, deixou-se refém do gás e do petróleo estrangeiros. Como bem resumiu O ex-ministro alemão Peter Altmaier, resumiu bem a situação ao dizer, esta foi “a política energética mais estúpida do mundo”.
A dependência energética europeia não só enfraquece a sua autonomia estratégica como mina a credibilidade do discurso ecológico. Se o sol e o vento são o futuro, por que continuamos a depender de combustíveis fósseis obtidos através de métodos poluentes, como o fracking norte-americano? A resposta é simples: porque a transição energética, tal como está a ser conduzida, é mais ideológica do que pragmática.
O Perigo do Extremismo Verde e o Empobrecimento da Europa
A narrativa apocalíptica sobre as alterações climáticas, amplificada diariamente pelos media, transformou-se numa ferramenta de doutrinação quase diária. Em vez de um debate racional sobre custos, prazos e viabilidade técnica, assistimos a uma polarização que coloca os Verdes como “profetas do fim dos tempos”, enquanto qualquer visão crítica é taxada de negacionismo.
Que resultado temos desta política? Uma Europa que, na ânsia de ser moralmente superior, expulsa as suas indústrias mais competitivas, indo com elas empregos e prosperidade. Como alertou o economista Hans-Werner Sinn, “a fuga de capitais e empresas para regiões com energia mais barata e menos regulada já começou”. Se continuarmos neste caminho, o continente arrisca-se a tornar-se um museu industrial, enquanto China, EUA e outros players globais prosperam sem as mesmas amarras ideológicas.
Trump, Von der Leyen e a Geopolítica da Energia
O acordo tarifário com os EUA pode ser um ponto de viragem, não por ser justo, mas por obrigar a Europa a encarar uma verdade incómoda: não podemos ditar as regras do jogo global sozinhos e infelizmente todo o mundo tem ajudado os EUA a ditá-las. Donald Trump, enquanto pragmático defensor dos interesses norte-americanos, lembra-nos que a política internacional é movida por poder e conveniência e não por idealismos. Entretanto a maior parte do jornalismo e das pessoas contenta-se a perder o folgo na corrida atrás das canas dos foguetes.
Já Ursula von der Leyen, ao alinhar-se com um globalismo duro, parece mais interessada em agendas distantes das necessidades reais dos cidadãos europeus. A sua abordagem não só fragiliza a economia alemã que tradicionalmente tem sido o motor da EU, como coloca também em risco a coesão do bloco. Se a Alemanha cair, não haverá quem ampare a derrocada. (De notar que de momento também a Alemanha, no meu entender se encontra no caminho errado).
O Caminho da Dignidade Humana e do Equilíbrio
Em contraste com a visão materialista de Trump, temos outra voz vinda dos EUA, não da Casa Branca, mas do Vaticano. O Papa Leão XIV, defende uma política baseada na dignidade humana, na paz e no diálogo. A Europa faria bem em arredar caminho e ouvi-lo.
Em vez de travar guerras económicas com a China, a Rússia ou os BRICS, deveríamos buscar compromissos e aliados sem olhar a ideologias porque uma economia complementar prepararia o caminho da paz entre os povos. Todo o bloqueio económico não passa de uma guerra dos mais fortes contra os mais fracos em favor dos mais fortes. A verdadeira luta não é entre Ocidente e Oriente, mas entre oligarcas e povos. Se queremos sobreviver nesta era de blocos (passagem do bloco hegemónico dos EUA para uma multiplicidade de blocos), a Europa deve abandonar o belicismo económico e o ambientalismo radical, abraçando uma via pragmática que equilibre ecologia (sobriedade), bem-estar, soberania e humanidade
Menos Ideologia, mais Realismo e mais Humanismo
O actual rumo é insustentável e a sua fraqueza torna-se mais visível na sua propaganda ecológica exacerbada. Ou a Europa reconhece que a transição energética exige tempo, investimento real e cooperação global, sem demonizar indústrias e cidadãos, ou acabará como um continente enfraquecido, dividido entre o sonho verde e a dura realidade do poder alheio.
A prosperidade requer indústria, e a indústria precisa de energia. O caminho de promoção da indústria de armamento, que a UE e a Alemanha estão a seguir para tapar o buraco provocado pela emigração de outras indústrias, poderá preencher, por algum tempo, a lacuna pretendida, mas não é séria nem sustentável e põe em risco o futuro.
O filósofo espanhol Ortega y Gasset tinha toda a razão ao escrever que, “a vida é uma série de choques com o futuro; não é uma soma do que fomos, mas do que desejamos ser”. A Europa deve decidir: ou continuar a colidir com a realidade e a agir contra si própria e contra a própria tradição, ou, com sentido de tarefa responsável, adaptar-se para construir um futuro verdadeiramente viável; doutro modo continuará a desestabilizar as comunidades e a inquietar os cidadãos e com eles a nossa cultura de caracter democrático.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo