Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos

BENTO XVI ABRE-SE AO JORNALISMO CONTEMPORÂNEO
“Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos”

António Justo

O livro, “Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos”, resulta duma entrevista efectuada de 26 a 31 de Julho, onde Bento XVI em Castel Gandolfo respondia, uma hora por dia, às perguntas directas e pessoais do jornalista  Peter Seewald.


Bento XVI dá assim continuidade aos livros-entrevista “O sal da terra” e “Deus e o mundo”, resultantes das entrevistas que o outrora comunista Peter Seeweald fizera ao então ainda Cardeal Razinger.


Esta nova forma de abertura ao jornalismo contemporâneo possibilita a leitura a um público mais abrangente que o das encíclicas.


No livro “Luz do Mundo”, o chefe supremo de 1.200 mil milhões de católicos, toma posição no respeitante aos problemas da Igreja e da sociedade, falando, sem subterfúgios, sobre si, o seu pontificado, a alegria do cristianismo, os abusos na Igreja, o ecumenismo, a sida, mesquitas e burca, o modernismo, o progresso, a droga, a sexualidade, Pio XII, a mulher, o celibato, etc. Ao ler-se o livro acompanha-se um Papa sublime e humilde, que, no centro da vida, quer dar vida à fé e trazer fé à vida.

Dá prazer ler os escritos lúcidos dum homem sábio, fiel a Deus e à humanidade, que, neste momento crucial da História humana, constata que “é absolutamente inevitável um exame de consciência global.” Não chega guiar-se pelo ponto de vista “ da factibilidade e do sucesso.” Para evitarmos certos aspectos destrutivos do progresso “devemos reflectir sobre os critérios a adoptar a fim de que o progresso seja verdadeiramente progresso”. A sociedade ocidental encontra-se numa encruzilhada que conduz ou a um secularismo que não tem nada para contrapor aos grandes problemas da humanidade ou a uma nova questionação sobre Deus. Reconhece que “muitas coisas devem ser repensadas e expressas de um modo novo.”

O anúncio do Evangelho não pode ser consensual: “Se o consenso fosse total, teria de me interrogar seriamente sobre se estaria a anunciar realmente o Evangelho todo”. Reconhece porém que não se tem apresentado suficientemente o potencial libertador e o sentido da fé em Deus. “O cristianismo dá alegria, alarga os horizontes.”


Nota-se que Bento sofre pelo facto dos Media e dos críticos da Igreja condicionarem a modernidade da Igreja às questões que têm a ver com os sexos.


Torna-se nefasto e desastroso para a Europa e para o mundo o caso do modernismo europeu reduzir a imagem da Igreja católica ao seu trato do sexo e condicionar a sua aceitação à sua maneira de encarar a sexualidade. Uma Europa que deve a sua configuração ao Cristianismo e um mundo que tem no catolicismo o seu primeiro modelo implementador de globalização, não revelam carácter ao rebelarem-se como filhos pródigos renitentes na sua primeira fase de abandono e repulsa.


Estes filhos pródigos apoderaram-se de grande parte dos média, das políticas e das administrações, controlando grande parte da opinião públicada e dos centros do poder e tratando a Igreja como sua rival. Os preconceitos mediáticos e a desinformação tornam cada vez mais necessária a abordagem directa dos textos papais.


Contesta o relativismo propagado afirmando que “o homem tem de procurar a verdade; ele é capaz da verdade. É evidente que a verdade necessita de critérios de verificação e de falsificação”. E mostra o seu desconsolo sentindo-se “decepcionado sobretudo por existir no mundo ocidental esse desgosto com a Igreja, pelo fato do secularismo continuar tornando-se autónomo, pelo desenvolvimento de formas nas quais os homens são afastados cada vez mais da fé, pela tendência geral da nossa época de continuar sendo oposta à Igreja”.

Lamenta a cegueira do mundo ocidental onde muitas pessoas não distinguem entre o bem e o mal; reconhece na Europa forças destrutivas e manifesta esperanças nas pessoas fora da Europa. Questiona uma sociedade em que as sondagens se tornam “o critério do verdadeiro e do justo.” Para a Igreja “a estatística não é a medida da moral”.

Preocupa-o a nova intolerância propagada por um laicismo activista que em nome da tolerância se aproveita para afastar símbolos religiosos dos espaços públicos e assim safar o cristianismo da Europa. “A verdadeira ameaça frente à qual nos encontramos é que a tolerância seja abolida em nome da própria tolerância… Existem regras ensaiadas de pensamento que são impostas a todos e que são depois anunciadas como uma espécie de tolerância negativa…. há uma religião negativa abstracta que se transforma em critério tirânico e que todos devemos seguir… Ninguém é obrigado a ser cristão. Mas ninguém deve ser tão pouco obrigado a viver a «nova religião» determinada como única e obrigatória para toda a humanidade… O que importa é que procuremos viver e pensar o cristianismo de tal modo que ele absorva o moderno que é bom e está certo e, ao mesmo tempo, se separe e diferencie do que é uma contra-religião.”


Apela à defesa da fé como catalisadora do mal num mundo secularista agressivo. Este quer o ser humano inteiramente disponível ao seu domínio e à sua ideologia reduzindo-o a indivíduo e a coisa sem dignidade divina. “Porém, a presença divina revela-se sempre no Homem.”


Para Bento XVI razão e fé não são contraditórias; vê na fé um serviço crítico e um limite razoável da razão. Doutro modo, o Homem, ao fazer-se a medida de todas as coisas, reduz e desumaniza a criação. O Homem sem Deus, destrói-se a si mesmo e a criação, sem se sentir responsável perante ninguém.


No que respeita ao sacerdócio da mulher, Bento XVI diz que o facto dos apóstolos terem sido homens levou esta prática a ser assumida pela Igreja como norma, sentindo-se ele, assim, condicionado pelo direito. Ao argumentar com a norma consuetudinária deixa o campo aberto à discussão teológica. De facto o NT também diz:”…o que ligares na terra será ligado no céu…” Bento também testemunha que “o significado das mulheres – de Maria a Mónica até Madre Teresa de Calcutá – é tão proeminente que, de muitas maneiras, as mulheres definem o rosto da Igreja mais do que os homens.”


Quanto ao uso do preservativo o “grande Mestre” aponta para a possibilidade da casuística: um método da Tradição que faculta, em casos de conflito entre princípios morais, a possibilidade de optar pelo princípio maior (neste caso a defesa do corpo e da vida é mais relevante que a proibição do uso do preservativo para impedir a natalidade). A Igreja não se pode encostar aos adaptados que têm apenas respostas fáceis e ideologia para oferecer. Ela é acontecimento, milhares dos seus membros entregam-se abnegadamente na ajuda aos infectados pela SIDA. Bento XVI atesta que “onde quer que alguém queira obter preservativos, eles existem. Só que isso, por si só, não resolve o assunto. É preciso fazer muito mais”. “A mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias”… O uso do preservativo é legítimo “em casos pontuais, justificados… o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana.” Solicita a” humanização da sexualidade”.


Quanto à homossexualidade, ensina: os homossexuais “merecem respeito” e “não devem ser rejeitados por causa disso”.

Relativamente à possibilidade de renunciar ao papado responde “Se o papa chega a reconhecer com clareza que física, psíquica e mentalmente já não pode suportar o peso do seu ofício, tem o direito e, em certas circunstâncias, também o dever de renunciar.”

Segundo ele, também as feridas da Igreja “têm para nós uma força purificadora e, no final, podem ser elementos positivos“. De facto, na Igreja como na natureza encontra-se a contradição, não fosse ela vida.

A droga “destrói os jovens, destrói as famílias, leva à violência e ameaça o futuro de nações inteiras”.


A humanidade alcançou os limites do seu crescimento. A solução cristã, para sair da crise e para resolver os problemas do ambiente e da humanidade, não vem de iniciativas da economia de mercado mas da metanóia, da mudança da consciência individual. Bento, o Cristianismo, aposta na pessoa e crê na sua capacidade de mudança através do aprofundamento da consciência individual numa perspectiva de fé.


O Papa sublinha a esperança cristã e a necessidade de colocar Deus em primeiro lugar para que a Igreja seja a luz de todo o mundo.


A Igreja, como organismo vivo é processo e não uma instituição que se deixe regular apenas por leis externas. O Papa não pode nem deve dar resposta imediata a tudo. Ele é como a Constituição dum país. Da Constituição não se podem esperar respostas muito específicas. Para isso estão as leis, para isso há a pastoral que tentará dar respostas adequadas a situações específicas, “in loco”, tal como as leis do Estado fazem, tendo como inspiração o espírito da Lei Fundamental.


Em caso de conflito de consciência o Cristão está chamado a orientar-se pela própria consciência, como advogava já S. Tomás de Aquino. É também um princípio cristão que o amor está por cima da lei.


Resta aos cristãos e ao mundo “encontrar palavras e modos novos para permitir ao homem destruir o muro do som do finito.”


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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NA MINHA CIDADE…Operação cesariana


Parto natural como Herança cultural mundial

António Justo


Na minha cidade de Kassel, 40% dos nascimentos dão-se através de operação cesariana. No Estado do Hessen, Alemanha, a média de cesarianas em 2009 foi de 33,6%.


Muitos optam pela operação em vez do parto natural, embora não haja indicação medicinal que justifique a intervenção médica. Factores determinantes para a prática não são apenas o medo das dores de parto mas entre outros motivos a vontade de determinar o nascimento em data escolhida. Por outro lado, muitos médicos favorecem a cesariana porque há pais que, no caso dum parto natural em que o bebé sofra alguma lesão, colocam o caso em tribunal reclamando indemnização. A intervenção cirúrgica também se torna mais rentável para o operador.


Enquanto que, na Alemanha, os custos dum parto vaginal se cifram numa média de 1500 Euros, o hospital gasta 2400 euros com o parto através de operação cesariana, refere a HNA. A redução de apenas 1% das cesarianas efectuadas em toda a Alemanha corresponderia a uma poupança de 6,5 milhões de euros por ano para as Caixas de Previdência.


Há que ponderar antes de se tomar a opção por uma ou por outra modalidade de parto. No caso de decisão por uma intervenção cirúrgica a mulher tem de continuar mais tempo sob observação médica além da cicatriz que fica.


Para a criança a operação cesariana, ao acontecer rapidamente e sem que a mãe tenha tido a possibilidade de deitar adrenalina através do stress do parto, pode tornar-se desfavorável, porque impede o activar das forças corporais do bebé a nível de circulação e de respiração.


Na psicanálise alerta-se para os problemas psíquicos que pode acarretar o nascimento por cesariana. A criança entrou na vida sem esforço e muitas vezes sem ter activado os seus mecanismos de defesa e de afirmação perante a vida.


Por outro lado pais, demasiado fixados na fuga à dor, serão levados a arrumar do caminho da criança todas as dores e dificuldades, por rejeitarem o sofrimento natural. Tudo isto pode ter consequências graves no desenvolvimento da criança. O mesmo se refira para o caso do emprego do biberão, onde, por vezes sem necessidade, o bebé é privado dum contacto relacional mais directo com a mãe.


Depois de pensados os prós e os contras na situação concreta, a decisão pertence à mulher.


O parto é primariamente um processo natural. Por isso há organizações que pretendem que o parto natural seja reconhecido como herança cultural mundial.


Uma sociedade, cada vez mais técnica e individualizada olha apenas para os seus interesses e possibilidades sem respeito por uma natureza que mantém os seus segredos e dons.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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DIA DA SIDA

Hoje dia da SIDA seria importante recordar as suas vitimas e alertar para o uso da liberdade responsável.

É de recordar e louvar o trabalho abnegado de muitos membros da Igreja que entregam a sua vida na ajuda das vítimas da SIDA. Estes testemunham, com a sua vida, a dignidade e respeito pela pessoa independentemente da sua fé ou ideologia. A Igreja não tem apenas a ideologia e a  desculpa do preservativo para oferecer, pois sabe que este é apenas um recurso a utilizar conscientemente.

Ainda esta semana o Papa dizia numa entrevista: “A mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. (…) Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade”.

O pressuposto fundamental da relação deve ser o amor. Então “ama e faz o que queres”, reconhecia a Igreja já nos seus primórdios!

António da Cunha Duarte Justo

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DIGNIDADE CONSTITUCIONAL PARA A LÍNGUA


Associações alemãs insurgem-se contra a Inundação de Palavras inglesas

António Justo

Associações de protecção da língua e da cultura entregaram ao parlamento alemão 40.000 assinaturas de apoio à exigência de protecção da Língua alemã pela Constituição da República. Na Constituição deve ser registada a frase:”A língua da BRD é alemão”. Esta iniciativa encontra apoio no presidente do Parlamento.


A língua deve ser protegida como bem cultural e como “elo de união da nação” e ao mesmo tempo como “a chave para uma melhor integração”.


O emprego de palavras inglesas impede muitas vezes a clareza da língua e pressupõe que todos dominem o inglês.


Puristas da língua registam uma invasão de anglicismos na Alemanha que já atinge 7200 palavras (www.anglizismenindex.de). Querem que palavras inglesas sejam traduzidas em alemão; por exemplo mainstream por “gosto das massas”.


Na França, onde a língua se encontra ancorada na Constituição tornam-se possíveis decisões de tribunal tendentes a proteger o consumidor. Segundo uma lei de 1994 os franceses podem exigir que no seu lugar de trabalho se fale francês. Empresas internacionais usam apenas a língua inglesa sem que, documentos e programas de computador, sejam traduzidos em francês. Decisões de tribunal deram razão a queixas de Sindicatos contra firmas, como refere HNA.

Aportuguesar as palavras estrangeiras


No mundo global e virtual em que nos movimentamos não podemos prescindir de estrangeirismos. Estes são um meio enriquecedor da língua desde que não sejam assumidos directamente da língua donde provêm mas sejam adaptados ao génio da língua. Um estrangeirismo como “destacar” enriqueceu a língua trazendo uma outra conotação específica que o seu correspondente vernáculo “distinguir” não tem ou não deixa ver directamente.

Também há palavras que reflectem diferentes consciências, como a palavra “elite” em vez de “escol, fina-flor”.


Naturalmente que quem fala bem uma língua estrangeira tende, por vezes, a empregar certas palavras estrangeiras por serem mais concisas ou mesmo por preguiça em procurar termo equivalente. Por outro lado há os vaidosos que querem mostrar a sua importância e desejam distinguir-se do resto mediante o emprego de estrangeirismos. Aportuguesar os termos ingleses constitui uma tarefa importante para o enriquecimento da língua. Naturalmente, sem pressões dum lado e doutro.


A pressa moderna leva-nos a deixar pontos e vírgulas, sem olhar ao pormenor. Muitos dos termos novos pertencem a uma linguagem tecnológica precisa e fria sem a carne da alegria da imagem para saborear. Trata-se de manter o olhar atento para o vivo. Os interesses económicos desempenham grande papel no seu desenvolvimento. O português, como língua inter-cultural encontra-se sob grande pressão da concorrência. O Brasil empenha-se de maneira especial porque está consciente do seu valor económico e cultural para o Brasil.


A língua já tem categoria constitucional em 18 países europeus. A eficiência prática depende da legislação e das decisões dos tribunais.

A linguagem vernácula é dificultada por interesses económicos e por textos modernos sem preocupação pela pureza, correcção e clareza da língua. A leitura de textos clássicos é cada vez mais dificultada. O mundo cultural também não faz excepção à lei mercantil do barato. A necessidade de comercialização da língua, também através de romances feitos à pressão, torna tudo mais leve e de curta duração. As editoras precisam de nova mercadoria, para apresentar a consumidores apressados.


Numa era em que se usam cada vez mais programas de computador como correctores da língua notam-se muitas vezes substratos ideológicos na escolha e disponibilização de termos.

Cada língua transmite o seu sentimento de vida. Através da fala entramos no génio dum povo.


Ela faz parte integrante da nossa consciência. Entrar no espírito duma outra língua é como navegar noutro continente e mergulhar numa nova consciência. Daí o respeito a ter por cada língua.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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Encontramo-nos no Começo do Fim da Nação


O Paternalismo Estatal revela-se contra o Povo e contra a Nação

António Justo

Um amigo mandou-me a citação seguinte, acrescentando-lhe o seu testemunho.

“É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade.
Por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber.
O governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro alguém.
Quando metade da população entende a ideia de que não precisa de trabalhar, pois a  outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende  que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação. É impossível multiplicar riqueza dividindo-a.” Adrian Rogers, 1931

“Gostava de ler um comentário teu sobre este texto de Rogers.

Eu vou relatar o que se passa com a cidade de B.K: 48 % do orçamento está a ser gasto em obrigações sociais a desempregados ou gente que ganha pouco. A cidade que outrora era bem cuidada, está irreconhecível!  A cidade não tem feito obras, até o relógio da estação na praça da Europa está há anos parado! Neste momento na Alemanha,  que tem uma população de 65 (82) milhões, 20 milhões estão aposentados! 3,5 milhões de lares estão falidos. Quando uma pessoa tem demasiadas dívidas entra em falência. A partir desse momento o Estado dá-lhe uma nova oportunidade. Se durante 6 anos não ficar a dever a ninguém, fica com o currículo limpo de novo e não tem de pagar as dívidas antigas. Claro que quem nunca mais vê o dinheiro são, por exemplo,  os senhorios dos apartamentos (nosso caso – a um inquilino que nos ficou a dever 2000 euros  foi-lhe perdoada a dívida e nós ficamos a ver navios… daí que nenhum particular quer mais investir na construção de casas…” Fim da citação.

Limito-me a fazer uma reflexão espontânea. A tese de Adrian Rogers está a tornar-se realidade. Com a agravante que o Estado, em vez de se esforçar por manter uma classe média alargada, capaz de suprir as deficiências estruturais e sociais do resto da nação, destrói-lhe as bases, favorecendo os super-ricos contra uma classe média honrada e contra uma população precária digna. A vida desonrada de uns e a arrogância e a soberba dos outros legitimam o caos e o desrespeito de leis que não foram concebidas no espírito do povo e da nação. O Estado, de dia para dia, perde a autoridade moral e revela-se, além disso, incompetente para gerir uma comunidade cada vez mais complexa. Onde a injustiça e o dolo imperam, a resposta consequente será o logro e a revolta. Hipocrisia, manipulação, oportunismo e sobranceria tornam-se virtudes da cidadania!

Na Europa, os políticos europeus estão cada vez mais desacreditados. Assim já há várias
petições de assinaturas para diminuírem o número de deputados. Tem-se a ideia de estamos num governo mundial efectivo. Os deputados de cada país são vistos, por muitos, como uma sobrecarga extra e caríssima, que não traz proveito algum. Igualmente muitos queixam-se, em emails, do dispêndio supérfluo dos deputados de Bruxelas. “Estão lá para se governarem a si próprios. São sanguessugas a extorquir ainda mais sobretudo a classe média” e conclui-se: Não havendo nações, não há motivo para haver parlamentos. De facto, homens medíocres, mas bons soldados dos partidos, como no caso do director do Banco de Portugal, depois de ter deixado ir o país à ruína, são promovidos para a Europa ou para organizações mundiais. Os Judas da nação são os novos cavaleiros andantes de ideologias organizadas nas famílias partidárias ou em irmandades mundiais. Para se justificarem basta-lhes ouvir o relinchar do povo longínquo, certos de que da bosta do cavalo saem bons cogumelos…

Na Europa encontramos grande parte da sociedade desencorajada e Estados indiferentes. Depara-se com muita actividade sexual e com muito activismo mas com produtividade insuficiente. Hoje mesmo nas notícias do ZDF foi referido que apesar dos incentivos financeiros para os casais terem filhos, em 2009 houve de novo menos nascimentos. Enquanto em 2008 houve 682 000 nascimentos, em 2009 já só houve 665 000.


A sociedade e seus governos cada vez se tornam mais virtuais, sem fundamento real que ofereça perspectivas de futuro para a maioria. Não há credibilidade numa sociedade que se orienta apenas por leis e princípios externos alheios à relação interpessoal e social. No lugar duma comunidade nacional deparamos com um Estado anónimo de espírito parasitário em que a massa extensa (res publica) é considerada um agregado de coisas instrumento, de indivíduos objecto reduzidos a clientes, contribuintes e energúmenos isolados sem família nem pátria nem povo. A lei e o princípio não pressupõem sujeitos, partem de  objectos. A res publica , na prática, reduz o cidadão a coisa, a res cogitans. A dignidade humana deixa de estar imanente ao homem e à comunidade. Esta vem de fora,  é substituída pelo dinheiro. Quem não tem dinheiro não tem dignidade e quem não tem trabalho digno torna-se miserável. De pessoa e de comunidade passa-se a indivíduo e a sociedade desconexa. A pessoa deixa de ser fonte de valor. No Estado paternalista a dignidade adquirida no trabalho para a comunidade, torna-se impossível, dado o cidadão dependente se tornar num objecto, pertencente à massa abstracta pensada e a maior parte da actividade ser transformada em trabalho precário. A dignidade individual responsável, numa cultura consumista e consumidora é determinada pelo único valor válido, o Dinheiro e a relação individual é substituída pela relação de cliente em competitividade meramente mercantil. O valor passa a ser um abstracto despersonalizado e quantificado no dinheiro. O cidadão é considerado como cliente para o shopping.

Os governos não levam a sério o destino do seu povo. Criam leis de apoio às multinacionais de maneira a o Estado acarretar com os custos de medidas fomentadoras do desemprego dos seus cidadãos. O povo, ao ver a corrupção da sua fina-flor não se sente disposto a trabalhar por ordenados de miséria. Fá-lo mas numa atitude de escravo revoltado.

Nos tempos em que a democracia social dos anos 70 e 80 prometia funcionar, conheci pessoas alemãs que viviam da assistência social e faziam férias de vez em quando na Índia; conheci imigrantes que viviam melhor com o apoio social do que outros do trabalho; conheci também pessoas que queriam trabalhar e não lhes era dada oportunidade; conheci milionários humildes que trabalhavam, de manha à noite, solidários com os seus trabalhadores. Os tempos mudaram-se e a atmosfera tornou-se áspera. Optou-se pelo globalismo e este precisa dum proletariado barato disponível e igual em todo o mundo. Neste sector social realiza-se a igualdade. O mercado de trabalho passa a ser regulado por grupos de interesses longe do povo. Com o tempo, na sapata da sociedade, quem trabalha é burro. Os vencimentos de certas elites tornaram-se num grito de guerra para quem os alimenta. O Estado paternalista tem o seu preço. Produz oportunistas e pobres. O globalismo produz pobres envergonhados e ricos desavergonhados.

Os Estados, expurgados dos seus valores culturais específicos, sem valores interiores e sem capacidade de regulamentação económica, encontram-se a caminho da bancarrota. As nações, na sua concorrência entre si, agarram-se aos super-ricos e multiplicam-nos. Os políticos e as ideologias tornaram-se dependentes e sósias das grandes multinacionais e do turbo-capitalismo. O Estado delega na classe média activa a tarefa de aguentar com os encargos sociais a pagar a uma classe precária cada vez maior. A política, para manter o precariado calmo e silencioso dá-lhe, como esmola, o que tira, a mais, à classe média. As ideologias políticas arrimam-se ao Turbo-capitalismo não havendo, de momento nenhuma forçar capaz de defender os interesses da calasse média responsável e de valorizar as potencialidades dum precariado travado.

A insatisfação social revela-se na abstenção nas eleições ou no abandono dos partidos tradicionalmente portadores das suas esperanças. Espera-nos uma sociedade com muitos partidos em parlamentos ainda mais incapazes.

Tal como na bolsa se joga, irresponsavelmente, com o valor dinheiro, assim jogam os Governos com a produtividade dos seus súbditos. Adiam a derrocada sacrificando a classe média aos deserdados sociais. A imoralidade da “fina-flor” é de tal modo absorvente que só suporta uma sociedade húmus que a alimente. O embondeiro não suporta arbustos debaixo dele; chega-lhe a erva…

A sociedade que sustentamos e em que vivemos é altamente hipócrita e irresponsável. A ideologia materialista e racionalista, em voga, conduz a uma atitude utilitarista e individualista. O problema é que de um Estado social passamos a uma forma de estado paternalista que abandonou a sua missão de mediador. O princípio da responsabilidade individual e institucional deixou de ter valor. As nações encontram-se à chuva porque destruíram o seu tecto metafísico. Já Boethius reconhecia que quanto mais um ser racional orienta a sua razão em direcção a Deus mais livre é e quanto mais a razão se orienta no sentido descendente e baixa, na direcção da matéria, menos livre se torna.

O século passado atingiu o zénite duma época dialéctica em que o materialismo e o racionalismo se tornaram o ópio do Estado e do cidadão. O século XXI sairá da sua crise no sentido dum humanismo cristão que supere a dialéctica mecanicista e o diálogo de sujeito objecto no sentido duma nova consciência integral orientada por uma matriz do triálogo pessoal numa relação eu-tu-nós segundo o paradigma da trindade e da teoria da Informação da mecânica quântica.

Não somos fruto do destino mas criadores de destino. O destino é próprio do reino material mecânico (ciência). No reino espiritual já não domina o destino mas o sentido da relação pessoal providencial. Tudo está, com a divindade, nas nossas mãos. O mesmo Boetius dizia:” Donde vem o mal se há Deus? Mas donde vem o bem, se não O há?”

António da Cunha Duarte Justo


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