Carta aberta ao Senhor Presidente da República Prof. DR. Rebelo de Sousa: Conter a usura e a corrupção – Restabelecer a dignidade do Estado na democratura que substituiu a Política da Censura de Salazar pelo Regime de Tráfico de Influências.

Excelentíssimo Senhor Presidente da República Portuguesa
Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa
Excelentíssimos Conselheiros de Estado

Carta aberta solicitando a Vossa intervenção no tráfico de influências e na contenção da corrupção. Pedido de exercício do poder presidencial no sentido de restabelecer a dignidade da democracia e do Estado, bem como a reconciliação do povo português.

Excelência,
Saúdo-vos cordialmente mas não invejo o Vosso cargo e missão, atendendo à situação precária do país, de refém do capital financeiro internacional e do próprio Estado, invadido por uma classe oligárquica cúmplice que estende os seus braços sobre o Estado e suas instituições como o polvo sobre a sua presa. O estado de Portugal exige mudança e esta pressupõe uma energia hercúlea para a ousadia de o mudar. Que Deus lhe dê força porque das instituições que rodeiam V. Ex cia pouco haverá que esperar.

Sou um dos da multidão de portugueses que sofre e desespera, com um Estado que não dá bom exemplo nem oferece pressupostos para se apostar e confiar nele. Portugal parece ter aceitado perder o comboio da sua história e, com ele, o seu povo activo.

Atendendo a que os partidos se encontram numa crise de legitimidade e oferecem cada vez menos confiança aos cidadãos (50% não participa nas eleições);

Atendendo a que as elites portuguesas conduziram Portugal a uma situação deficitária catastrófica (à beira da bancarrota – sob controlo e interferência da Troica) e de sobrecarga das futuras gerações com a herança da dívida e de uma cultura hipotecada;

Atendendo à promiscuidade entre negócio e Estado e à consequente corrupção com benesses e subvenções dos políticos (PPPs das grandes negociatas com outros nomes e disfarçadas – ppp’s beneficiam à custa do Estado os tentáculos polvo das elites e dos boys- , os Bancos, as clientelas partidárias e de irmandades secretas, as concessões, as reformas vitalícias, etc.) que contribuem para a desmoralização do Estado e para a sua bancarrota;

Atendendo a que a democracia se encontra ameaçada ao tornar-se num instrumento de abastecimento para as diferentes elites que se aproveitam da promiscuidade entre Estado e sociedade civil e procuram, ad extra, legitimar-se com a substituição da ética e da moral por leis que eles próprios criam e interpretam;

É verdade que na República não temos cargos hereditários mas temos o compradio de clientelas (partidos, sindicatos e fundações) favorecidas com postos, comendas e privilégios, bem como irmandades elitistas secretas, que vivem na sombra do poder, influenciando-o, como é próprio da maçonaria. A compensação de políticos com cargos em empresas de comparticipação do Estado é execranda e escandalosa e reduz a zero a confiança nos órgãos de Estado, nos partidos e sindicatos, e com eles na democracia que, de facto, se torna, cada vez mais, numa democratura. Um exemplo: só o cinismo e a irresponsabilidade para com um país hipotecado e para com o povo simples com reformas tão baixas, poderão aceitar medidas como a proposta do orçamento governamental deste ano que faz disparar, as subvenções vitalícias atribuídas a políticos, de 700 mil euros para 18,8 milhões de euros; descaradamente serve-se, como é já tradição, a clientela 25 abrilista, quando as pessoas que trabalharam a vida inteira e que recebem uma reforma de 280 euros mensais vêem a sua reforma minimamente aumentada.

Atendendo a estas e outras considerações a política e em grande parte as instituições estatais, com o pessoal que as dirige, encontram-se desqualificados e deslegitimados. Nenhuma empresa privada poderia cometer tal aberração e sair-se sempre ilesa da situação!

Urge criminalizar o enriquecimento ilícito, acabar com as mordomias criadas para a clientela dos boys e novos-ricos; acabar com centenas de Institutos Públicos e Fundações Públicas que, mais que para servir o Estado, funcionam como tentáculos de grupos políticos e ideológicos para funcionários e administradores com 2º e 3º emprego; acabar com as administrações numerosíssimas de hospitais públicos; rever os salários de gestores públicos e cortar os benefícios fiscais aos bancos, às fundacões e aos partidos, acabar com as várias reformas por pessoa e as ajudas de custo, etc.

Precisa-se de uma lei de redução e de Reforma da Assembleia da República em que deputados e agregados passem a ser seus assalariados durante cada mandato, sendo sujeitos ao regime de reforma do INSS como qualquer cidadão. Torna-se urgente uma reforma do sistema político e da administração pública. Cf.https://antonio-justo.eu/?p=3421. Tudo isto só será possível se no país, à margem da política, houver uma discussão pública responsável sobre o estado da nação entre os intelectuais independentes.

A prática escondida da maçonaria (à semelhança da carbonária e da Loja P2), com os seus ritos e compromissos secretos de lealdade absoluta e exclusiva entre os irmãos, pode tornar-se numa ameaça à democracia; ela torna-se numa força de corrupção que através do seu tráfico de influências interage na política, na economia, na cultura e na justiça. O secretismo fomentador do compadrio organizado, o cinismo, o oportunismo mina e danifica a República nas suas bases e suborna qualquer órgão do Estado e até mesmo os interesses de Estado no palco internacional; de facto ela funciona como elo de ligação entre o poder político e o poder dos negócios e interfere nos diversos órgãos do Estado (Cf. https://antonio-justo.eu/?p=3444). Também a União Europeia com as suas redes de irmandades políticas e ideológicas (e as lóbis em Bruxelas) tem favorecido a corrupção em grande estilo em detrimento da ética e da moral, deixando esta de ter o seu efeito disciplinador. O povo encontra-se perante os seus governantes na situação do pobre Diógenes de Sinope, que, durante o dia, andava pelas ruas da cidade com uma lanterna na mão, à procura de um homem honesto.

Imagine-se que o Senhor presidente, no início da sua presidência tivesse a liberdade de começar por ler os levíticos à República, aos ministros e às elites instaladas no Estado, tal como fez o Papa Francisco aos Cardeais da Cúria, criando um seu conselho independente que possibilite a credibilidade dos ministérios e das instituições. O regime de Abril substituiu a política de censura de Salazar pelo regime de tráfico de influências. Este revela-se mais perigoso porque quem está fora não nota! Verdade é que nem o enegrecimento do regime de Salazar nem o branqueamento do regime de Abril ajudam o desenvolvimento.

Na sua maioria, o Conselho de Estado, que assiste V. Excelência, já jogou fora a sua credibilidade porque está comprometido com todo o sistema de um passado de clientelas e instituições que se apoderararm da democracia e levaram o país ao estado sem saída em que se encontra. Temos um Estado subornado sem condições de Estado. Temos uma Justiça enredada e comprometida que interpreta as leis como dizia Honoré Balzac: “…. as leis são como teias de aranha, através das quais passam os moscardos e ficam presas as moscas pequenas…”.

Urge a criação de grupos de trabalho ad hoc com peritos independentes que investiguem os diferentes sectores referidos no sentido de fazerem propostas para regenerarem o Estado, reorganizarem a administração e libertarem a Constituição da ideologia partidária que a iluminou; urge mandar fazer um levantamento das fontes da corrupção e da mafia dissimulada que se apoderou das instituições do Estado e da consciência pública e que agem a partir da escuridão e do sigilo como seitas seculares.

Em suma, o Estado encontra-se envenenado e arruinado, por isso chegou a hora em que Portugal precisa de um Presidente que siga o exemplo do Papa Francisco! Um presidente que reúna à sua volta homens-bons e de boa vontade: conselheiros diferentes e não os tradicionais conselheiros feitores ou cúmplices da corrupção instalada nos alicerces da República e com uma orientação do país mal-intencionada. (Não me queixo das pessoas pois todas elas são brilhantes mas queixo-me das suas obras que se vêem num país arruinado e num Estado minado que só produz novos-ricos e dependentes e tem a descaramento de tudo legitimar em nome do 25 de Abril.) (1)

Precisamos de inovação, capaz de valorizar a democracia e de mostrar às novas gerações que o poder das estruturas mafiosas da corrupção não tem futuro porque não assenta no trabalho honrado e sério e continua a ter no cerne das suas contexturas um espírito degradado baseado no companheirismo cúmplice oleado por idealismos e valores de conversa fiada sobre liberdade, igualdade e fraternidade, só para inglês ver, destinada a legitimar o poder da influência estabelecida. (2)

O problema está na mentalidade criada e fomentada, está no Portugal encoberto e de bípedes embuçados nos partidos, na economia, na justiça e nos Média. A estes se deve o mal-estar e o mal-andar do país bem como a consciência malformada de um povo que não tem um pensar conservador profundo nem um pensar progressista sério. Uma observação cuidada sobre o estado do país permite a conclusão que os dançarinos do poder que temos, adiam Portugal, entretendo o povo com meia-dúzia de tretas progressistas e com alguns remates conservadores em fora de jogo.

Peço perdão! Não tomem a sério o que digo porque pensar faz doer e os que mandam só gostam da música dos arraiais porque a festa da nação essa acabou, acabou porque no arraial não se reconhece o povo!

Excelência, senhores conselheiros de Estado, Santo Agostinho dizia: “Quando a arma que mata defende a liberdade e a vida, os Santos choram mas não acusam”!

Senhor Presidente, auguro-lhe muitas felicidades e uma presidência inovadora com grande sentido histórico e de futuro; que V. Ex cia não fique na história como mais um presidente mediano servidor de um sistema estatal medíocre instrumentalizado e danificado pelo contágio ideológico da multidão dos emboçados a ele encostados. Só o amor pode mitigar o poder e a corrupção, como afirma a tradição cristã portuguesa.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@gmail.com
(1) Portugal foi grande quando tinha uma ideia e um ideal próprio; os portugueses deixaram de ser grandes quando se iludiram com o dinheiro, com o facilitismo e com o pensar irreflectido dos de fora. Portugal tornou-se estranho a si mesmo quando os que tinham na mão a sua força foram ao beija-mão das invasões francesas. Portugal perdeu então os grandes ideais europeus contentando-se com ideias e ideologias, mastigadas pela boca francesa e mais tarde pela boca da Rússia; o oportunismo engravatado ganhou foros de Estado dando origem a uma elite de novos-ricos como se Portugal se reduzisse a um aviário de criação de frangos de aviário. Portugal encontra-se num momento deplorável e muito triste da sua História por se ter rendido ao comando de uma elite de dançarinos políticos estrangeirados que vê o seu futuro assegurado, não na produtividade do país, mas na subserviência ao estrangeiro e nos postos que este lhe proporciona fora de Portugal. Também para um alinhamento ordenado dos partidos, Portugal precisaria de fazer um referendo sobre a sua pertença à Nato, à EU e à Zona euro. Doutro modo dá razão aos que vivem da confusão e apostam no bota-abaixo e numa política caótica e empobrecedora de Portugal, porque no seu enfraquecimento vêem melhor assegurados os seus votos!
(2) Portugal precisa de pessoas que se empenhem por Portugal e pelo seu povo e não de amigos da onça e da ideologia. Urge a moderação da influência dos instalados e o fomento das mais-valias do povo português para que este consiga, com o tempo, tornar-se no actor da própria História e se desenvencilhe do poder de tanta gente cínica e simpática que manipula as instituições e brilha com alguns feitos adquiridos à custa do empobrecimento cultural e social do país. Então não seria preciso que estes mostrassem tanta compaixão pelos pobres porque também eles produziriam e cada um receberia o suficiente.

O Estado português subvenciona Ideologias no Seio dos seus Funcionários

O MEC gasta 9 milhões de Euros com os Delegados sindicais

António Justo
Dirigentes sindicais no Ministério da Educação e Ciência (MEC) custam ao estado 9 milhões de Euros. „O número de professores destacados nos sindicatos é actualmente de 281, dos quais 125 exercem actividade sindical a tempo inteiro e por isso não dão aulas, revelou ao Correio da Manhã o MEC”. Cf. http://www.cmjornal.xl.pt/nacional/sociedade/detalhe/dirigentes-sindicais-custam-9-milhoes.html

O MEC é, certamente, o departamento do Estado onde se encontra mais implantada a esquerda com muitos radicais de esquerda, não é inocente ao caso dado subvencionar directamente ideologias entre os seus Funcionários. Na minha experiência pude observar que a maior parte dos professores são politicamente inocentes não estando conscientes do que está por trás dos altos quadros sindicais nem tão-pouco das intenções ideológicas, por vezes inerentes a formações contínuas de pedagogias e didácticas. A Fenprof não só dirige e forma a política e conteúdos de ensino mas através de seus delegados tem um campo de acção privilegiada para fomentar partidos radicais. Devo, porém não calar, em abono da verdade, que são os que mais se empenham na aplicação de interesses pessoais dos professores e políticos em geral.

Como funcionário do Estado português e do Estado alemão nunca pude compreender a razão de Portugal dispensar horas livres para os delegados sindicais e a Alemanha o não fazer. Embora tenha sido o cofundador do núcleo sindical da SPE da Fenprof na Alemanha e só mais tarde compreendi os interesses políticos que se escondem por trás de tal organização. Uma colega da esquerda radical Bloco de Esquerda conseguiu assim subir para lugares chorudos do Estado. Só então vi que grande parte dos sindicalistas não são inocentes. O Estado português fomenta estrutura ideologia e a chulice! Também por isso Portugal não vai economicamente à frente. O mesmo vírus tornou-se natural em todas as instituições.

Há pessoas que apostam no trabalho e na fundação de pequenas e médias empresas, outras que trabalham para o Estado e ainda outras que vivem do Estado. Um Estado que subvenciona directa e indirectamente a não produção em benefício da ideologia, permitindo-a conscientemente nas suas estruturas torna-se partidário, não pode enriquecer e legitima a corrupção e o desequilíbrio político-social.
António da Cunha Duarte Justo

CLASSIFICAÇÃO DAS 621 ESCOLAS DO ENSINO SECUNDÁRIO EM PORTUGAL

O ENSINO PRIVADO É MAIS ECONÓMICO PARA O ESTADO E TEM MELHOR RENDIMENTO

Por António Justo
A classificação (“ranking”) das 621 escolas portuguesas do secundário, em 2014-2015, mostra as escolas privadas na grande dianteira do ensino. As melhores médias nos exames nacionais do 12° ano são obtidas nas escolas privadas, sendo “nove das dez escolas com melhor média privadas”.  (Cf. http://www.publico.pt/ranking-das-escolas-2014/listas ) e http://economico.sapo.pt/noticias/conheca-o-ranking-das-melhores-escolas-de-portugal_101677.html Naturalmente também há grande diferença entre as escolas privadas.

Escolas estatais e privadas complementam-se, respondendo, cada qual, a diferentes situações e aspirações do país na construção de uma democracia e uma sociedade variada e plural. A livre escolha das escolas pelos pais revela-se como um meio propício de desenvolvimento para o país.

Os rankings de avaliação são uma forma justa de mostrar o rendimento das escolas; assim os encarregados de educação têm a oportunidade de ver quais são as escolas mais viradas para a excelência e para a formação da personalidade dos alunos.

Não se deveria aqui fomentar a concorrência entre as escolas do ensino privado ou estatal mas sim a responsabilidade. Os contextos sociais são determinantes, pelo que a comparação das escolas deveria motivar o Estado a investir mais em contextos sociais degradados. Seria mal se as escolas do estado se tornassem nas escolas do resto; também se tornaria nociva uma discussão ideológica entre os defensores do ensino estatal e do ensino privado; esta catalisar-se-ia , de um lado numa esquerda defensora do dirigismo do Estado e da massificação da população escolar e do outro  numa direita demasiado interessada num elitismo à custa da solidariedade. As escolas públicas do Estado, pelo facto de receberem mais alunos desmotivados ou em situação deficitária terão mais dificuldades em obter melhores resultados do que as escolas públicas privadas.

Numa sociedade extremamente permissiva torna-se normal o insucesso escolar. Mais que um ensino demasiado selectivo importa um ensino mais responsabilizador e menos virado para o facilitismo. O facilitismo discrimina e prejudica mais as camadas sociais desprotegidas – quem passa de ano devido a medidas administrativas, fica depois pelo caminho na luta real pela vida.A tendência da esquerda, em geral, para o facilitismo, está em contradição com as leis do evolucionismo e do progresso e contrapõe-se ao currículo das personalidades que o defendem (usando-se uma atitude defendida para as massas e outra para os seus ideólogos).

A escola deve dar resposta aos anseios dos pais e da nação. A política educativa do MEC tem sido insuficiente e seguido, por vezes, uma má política educativa que torna péssimo o que seria um bom aluno. As aprendizagens e o sucesso dos alunos na sociedade não parecem ser a preocupação da política. Deveria evitar-se formar uma geração rasca ou uma que se arrasta na construção de um presente sem futuro e como tal sem motivação; não chega contar com o impulso que vem das famílias ou dos amigos (Falta também uma verdadeira aposta no ensino profissional dual, à maneira alemã, muito eficiente porque virado para a inserção profissional e social do aluno). Na sociedade que temos, o risco e a incerteza só podem ser enfrentados com uma boa qualificação.

O Estado ao fomentar também o ensino privado poupa muito dinheiro pois encontra, nos encarregados de educação que colocam seus filhos no ensino privado, contribuintes que descontam para o financiamento do ensino estatal em geral e ao mesmo tempo contribuindo ao mesmo tempo com os custos dos encargos com os seus filhos no privado.

”O poder do feiticeiro reside na ignorância dos seus irmãos tribais”! Este dito popular descreve bem a política de ensino do MEC seguida há dezenas de anos (O MEC é o ministério onde os ideólogos de esquerda mais assentaram seus arraiais). O facilitismo e a falta de disciplina pedagógica e de disciplina no pensamento, nas escolas, são o melhor pressuposto para se fomentar uma sociedade massa e massificante e a melhor estratégia preparadora de uma sociedade de crédulos de ideologias que beneficiam o desmiolamento e a corrupção do próprio pensamento. A falta de saber contextual e a ausência do pensamento crítico tem dado lugar a um criticismo opinioso vulgar que não vê para lá do próprio prato!

Um Estado com um Ministério da Educação voltado para a mediania seguindo as leis da inércia e imbuído de uma ideologia simplicista e proletária não reconheceu ainda o problema da preparação dos seus cidadãos (na e para a Europa) para o presente e para o futuro. A Europa só pode sobreviver na concorrência com as sociedades emergentes através da aposta na investigação, na competência e no alto saber (a concorrência nos sectores de menor formação e de salários baixos está perdida devido à inflação dos mesmos na Ásia). Facto é que o ensino tem perdido nível intelectual e humano; professores e encarregados de educação têm sido enganados e entretidos com medidas sempre novas com actividades burocráticas ou medidas de ensino que dão a impressão de progresso social quando servem mais o progresso de interesses ideológicos do que o desenvolvimento ondividual; trata-se a sociedade como se fosse um jardim infantil à espera de rebuçados. Precisamos de um ensino que ensine a pensar, que ensine a saber e o porque se sabe ou se deve saber; o ensino nao inserido numa comunidade educativa responsável e responsabilizada, se transmitido como mera obrigação e sem portas de entrada para a vida profissional, prepara para a desilusão. O mestre eficiente é aquele que ao fazer aprende.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

ECOLOGIA E TEOLOGIA

O Homem e a Natureza a Caminho com o Espírito (Paráclito) -Bom é o que ajuda, conserva e fomenta a Vida

Por António Justo
Em épocas passadas, em que a terra não se encontrava tão povoada, a natureza ainda era apercebida como ameaçadora do Homem, como algo a ser dominado por ele; hoje inverteram-se os termos, pois o ser humano, ao apoderar-se da terra sem respeito por ela, tornou-se consequentemente numa ameaça a ela.

Se ontem o Homem se encontrava numa fase de luta pela própria sobrevivência, acentuando, consequentemente, para seu desenvolvimento uma teologia antropocêntrica, hoje, que se torna urgente a luta pela sobrevivência da vida no planeta, é óbvio o desenvolvimento de uma teologia da ecologia (1) mais ecocêntrica, dando mais relevo ao fundamento teológico num trabalho interdisciplinar mais comprometido com a “nossa Casa comum”, “a nossa irmã Terra” que se sente ferida e ameaçada, como adverte Francisco I na Encíclica ecológica “Louvado Sejas”. As ciências, a tecnologia e a teologia devem estar para o homem e não o homem para elas.

Pressupõe-se que as ciências naturais terão de abandonar a ideia mecanicista/materialista do mundo e a ciência teológica e filosófica terá de mitigar o seu antropocentrismo para aprofundar a ética de respeito pela natureza e suas criaturas como pregava e praticava Francisco de Assis e por uma bioética de respeito pela vida e seu desenvolvimento, como defendia e praticava Albert Schweitzer. Este, que era médico teólogo e filósofo, no livro “Cultura e ética, Ética do Respeito à vida”, reconhece, nos animais e nas plantas, a qualidade de nossos semelhantes, “pelo facto de aspirarem como nós à felicidade e conhecerem o medo e o sofrimento, sentindo pavor do aniquilamento como nós”. A compaixão que sente pelos pobres sente-a também em relação aos seres vivos: “bom é o que ajuda, conserva e fomenta a vida”.

Albert Schweitzer queria ver o espírito do Evangelho aplicado a toda a criatura como verificava no ideário jainista da Ahimsa (a não violência para com todo o tipo de ser vivo). A nossa compreensão deve implicar a consciência de “sou vida que quer viver rodeada pela vida que quer viver”.

Consequentemente, a ética não deve ser apenas antropocêntrica ou sociométrica mas sim uma ética universal que tem como objecto todos os seres vivos e que surge do contacto com o universo e da vontade nele manifesta.

De uma Teologia acentuadamente monoteísta para uma Teologia panenteísta (trinitária)

A ecologia é o “estudo da casa”, estuda a natureza e as inter-relacionações dos diferentes seres nos ecossistemas e a teologia estuda (o espírito da casa) o seu tecto metafísico e o espírito divino presente nas pessoas, nas coisas e nos diferentes socio-sistemas.

Deus é pai e mãe, é céu e terra, em Jesus é nosso irmão; Deus é relação, é a matriz de todas as relações não se extinguindo em formas antropomórficas, em formas gramaticais, em leis naturais, nem tão-pouco nos princípios da feminilidade (com a maternidade) e da masculinidade (com a paternidade). É porém bem verdade que, devido à predominante acentuação do princípio masculino na sociedade, se torna hoje bem necessário dar maior relevo ao princípio da feminilidade (maternidade) de forma a haver um equilíbrio mais divino entre o ser humano e a natureza, entre o dar e o receber. Para conseguirmos paradigmas de mudança e de sustentabilidade em relação à modelação da natureza e da sociedade torna-se absolutamente necessária uma visão mais feminina (feminina e não feminista máscula!) a nível de pensamento, antropologia, sociologia e teologia.

A abordagem teológica da ecologia está implícita na trilogia cristã e mais especificamente na pneumatologia. Os prementes problemas da ecologia tornam mais óbvia uma elaboração teológica de cristianismo integral e consequentemente uma abordagem mais centrada no mistério da Trindade que integra a criação resumida em Jesus Cristo, o protótipo da vida como caminho de Deus, do Homem e da natureza, também no espaço e no tempo.

O ser humano não foi chamado para explorar e dominar (Gn 1,28) a natureza numa perspectiva antropocêntrica cartesiana e newtoniana, mas para cuidar e cultivar (Gn 2,15) o planeta, assumindo um papel de responsabilidade e de respeito pelo mundo. Mestre Eckhart avisa: “Se a alma pudesse conhecer a Deus sem o mundo, o mundo jamais teria sido criado”.

Para Teilhard de Chardin, que defendia o Panenteísmo cósmico (tudo em Deus), a Terra é composta de várias camadas esféricas: Barisfera ou núcleo metálico terrestre; Litosfera ou camada de rochas; Hidrosfera ou camada de água; Atmosfera ou camada de ar; Biosfera ou esfera da vida; Noosfera ou esfera do pensamento ou espírito humano: Cristosfera ou âmbito de Cristo. (2)

Numa perspectiva de revelação e de fé cristã tudo está relacionado numa interacção ambiental social, mental e espiritual.… De facto, Cristo (divino) e Jesus (criatura) encontram-se em comunhão e na união das três pessoas da Trindade.

A fórmula trinitária de Deus não conduz ao panteísmo (tudo é deus), pelo contrário, a trindade e a incarnação implicam uma teologia panenteista (uma teologia do tudo em Deus): o corpo de Cristo é o universo como interpreta Teilhard de Chardin. Francisco de Assis via como próximo também o irmão sol, a irmã lua, a irmã natureza e os irmãos animais. O mundo atinge a sua maior complexidade da natureza no ser humano, a floração da imagem de Deus.

A teologia vai-se renovando e reagindo aos diferentes padrões de sociedade segundo a percepção humana: em eras passadas para expressar a relação Deus-homem, Deus-sociedade insistia na metáfora de pai e de rei e de filho de Deus, enquanto hoje, numa era em que se precisa de uma consciência mais comprometida com a ecologia, a teologia precisa de uma acentuação da fórmula da Trindade na explicação da relação Deus-nundo: natureza onde o gene divino germina e filiação divina do Homem. Esta consciência complementar, mais abrangente, leva a melhor sentir o que a liturgia da missa expressa ao celebrar o mundo como corpo de Cristo, o pão como presença divina.

O Papa Bento XVI, em 2009 na Festa da Santíssima Trindade, apontava para a teologia de Teilhard de Chardin ao afirmar: “Em tudo o que existe, encontra-se impresso, em certo sentido, o “nome” da Santíssima Trindade, pois todo o ser, até as últimas partículas, é ser em relação, e deste modo se transluz o Deus-relação; transluz-se, em última instância, o Amor criador… Utilizando uma analogia sugerida pela biologia, diríamos que o ser humano tem no próprio “genoma” um profundo selo da Trindade, do Deus-Amor… que a liturgia não seja algo ao lado da realidade do mundo, mas que o próprio mundo se torne hóstia viva, se torne liturgia. É a grande visão que depois teve também Teilhard de Chardin: no final teremos uma verdadeira liturgia cósmica, onde o cosmos se torne hóstia viva.”

A cristologia contém a Kenosis – o esvaziamento divino (Fil.2, 5-7). Através da incarnação Jesus Cristo deixa na sombra os atributos divinos continuando, muito embora, a ser parte da Trindade passando a tornar-se dependente do Espírito Santo, tal como acontece com toda a outra criatura (a criação). A divindade não tem forma mas através da kenosis adquire forma em Jesus. O processo trinitário pressupõe em contrapartida que o ser humano se esvazie (kenosis) do mundo para atingir a dimensão do “ informe” numa ética de corresponsabilidade entre os seres e com o Paráclito.

O teólogo Leonardo Boff em Teologia e Ecologia ( http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/13163/13163_4.PDF) acentua também ele a fórmula trinitária panenteista dizendo: “Tudo não é Deus. Mas Deus está em tudo e tudo está em Deus, por causa da criação, pela qual Deus deixa sua marca registrada e garante sua presença permanente na criatura (Providência).”

Já por volta de 1.500 a.C. a sabedoria indiana pressentia a realidade Jesus Cristo, como protótipo de toda a realidade e como ponto de encontro, ao qual os diferentes caminhos das culturas vão dar, explicando: “O criador dorme na pedra, respira na planta, sonha no animal e acorda no Homem” (Outra formulação: “O Espírito dorme na pedra, sonha na flor, acorda no animal e sabe que está acordado no ser humano”). No credo cristão formula-se a omnipresença do Espírito em toda a criação no seguinte acto de fé: “Creio no Espírito Santo, Senhor e Fonte de vida”.

Dizer criação é mais que dizer natureza porque implica a consciência da caminhada conjunta do todo e de cada ser no respeito mútuo irmanado pela presença de Deus. A encíclica ecológica “Louvado sejas” aponta o caminho e a meta: „A criação propende para a divinização, para as santas núpcias, para a unificação com o próprio Criador… O Espírito, vínculo infinito de amor, está intimamente presente no coração do universo, animando e suscitando novos caminhos.” E continua: Uma “verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres”.

O pensamento e os princípios são como sementes que produzem diferentes frutos, daí a necessidade de se organizarem sistemas de pensamento e praxis complementares ao serviço da humanidade e da natureza (3). No Apocalipse (3,20) a mensagem é clara: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo”.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu
Teólogo
(1) Ecologia é a parte da Biologia que estuda as relações dos seres vivos entre si e destes com o meio.
(2) Cf. O teólogo e geopaleontólogo Teilhard de Chardin, em “O Fenómeno Humano”
(3) Um Dia Santo para a Natureza, Animais e Plantas https://antonio-justo.eu/?p=1945; Ecologia e Família: http://a-justo.blogspot.de/2008/05/ecologia-e-famlia.html; Agricultura transgénica: https://antonio-justo.eu/?p=3167; O Papa verde: https://antonio-justo.eu/?p=3183; Encíclica sobre Ecologia: https://antonio-justo.eu/?p=3191

MÉTODO DA CONTROVÉRSIA E A EXCELÊNCIA ESCOLAR JESUÍTA – REFLEXÃO

Do “Porquê” ao “Para quê” e do “Porquê” do “Porque” e do “Porquê”

António Justo
Conta-se que, certo dia, perguntaram a um sacerdote jesuíta: – Senhor padre. É verdade que um jesuíta responde sempre a uma pergunta com outra pergunta? – E porque não? – Responde o jesuita.

(Depois de 500 anos foi eleito um Pontífice vindo de uma ordem religiosa: o jesuíta Jorge Mario Bergoglio agora Papa Francisco. Como jesuíta não repousa nas respostas, responde a uma pergunta com outra pergunta: um papa, um jesuíta como sinal e programa para a construção da sociedade humana?

O porquê da anedota dirige-se ao intelecto não só com uma preocupação de procurar fundamento (porquê) para a questão, mas também de entender a sua finalidade (para quê) e o meio (com quê).

Uma questionação-resposta, do estilo porquê-porque, correria o perigo de limitar a visão ao intelecto ou a um contexto limitado e limitador. E um “porque” final fecharia a porta de uma realidade que é, por essência, sempre aberta por mais respostas que se encontrem para ela.

Quem se dá satisfeito com a simples resposta (isto é, com o porque) confirma um certo tradicionalismo, afirma apenas o status quo estranho à filosofia cristã… O método ignaciano de questionar a pergunta transcende a visão individualista/situacionista que procura a consolação imediata numa resposta que satisfaça (de um porque… e ponto final); a questionação da pergunta pode parecer controversa mas orienta o desejo para horizontes mais abertos sem calcar as potencialidades individuais e circunstanciais. A pergunta ajuda a ultrapassar o buraco de uma primeira ignorância que a resposta preencheria; ela possibilita a criação de um espaço de silêncio, uma abertura na inteligência (etapa reflexiva) de modo a o silêncio iluminar uma nova resposta depois de um olhar direccionado para outros sentidos ou perspectivas.

A questionação da pergunta possibilita sempre uma abertura ao reconhecimento dos múltiplos sinais da vida numa existência complexa, mais abrangente e que abre a perspectiva para algo que transcenda a situação concreta/circunstância (para o obrar de “Deus” no mistério da vida). A pergunta à pergunta implica também uma purificação do pensamento e tem como consequência a descentralização do ego, dirigindo a ideia também para o outro, para o essencial; o momento do vazio/reflectivo pode possibilitar o salto do ego e do mero circunstancial para o outro, onde, no profundo da ipseidade, a Realidade se reúne e acontece a ponto da pessoa consciente poder falar a partir do interior da Realidade, toda ela feita de complementaridades. Ou, traduzindo em discurso cristão: onde o próprio responde dizendo, já não com o ego de Saulus mas com o eu profundo de Paulo que exclamava: “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”; a este nível expressa-se a consciência do Cristo cósmico de que fala o jesuíta Teilhard de Chardin. Ao consciencializarmo-nos da realidade como a natureza humana de Cristo (resumo do Céu e da Terra) possibilita-se a cristificação individual e do universo num processo da incarnação e ressurreição como todo integrado já não numa dialética do eu-tu mas numa relação trinitária do nós.

Também o papa Francisco só pode ser entendido nesta perspectiva orto-práxica. Não há perguntas tolas, o que pode haver são respostas desvairadas. Bento XVI e Francisco I são dois momentos diferentes do mesmo discurso. Tudo é questionável, só Deus não se questiona porque a sua pergunta/resposta se encontra na natureza e na História e estas encontram-se resumidas no protótipo da realidade toda que é Jesus Cristo (matéria e espírito). Deus é mais que passado presente e futuro; por isso seria unilateral fixar-se só no pensar do passado ou no modo de pensar do presente, poderia dizer um jesuíta. Futuro implica questionar toda a resposta, consciente de que ela faz parte do corpo físico.

O Globalismo do Pensamento jesuíta expressa-se na Utopia do 5° Império – Pombal com a Maçonaria organiza uma Guerra de Morte contra os Jesuítas

A qualidade da pedagogia jesuítica foi marcante nos países da lusofonia. No livro “Gangorra ou História triste” pode constatar-se bem o método jesuítico de educação num episódio descrito por um jesuíta (1) num parágrafo que trata das relações entre espanhóis e índios: Um jesuíta que assistia a um índio maltratado mortalmente pelos espanhóis perguntou ao índio: -“Você prefere ser salvo e ir para o céu, ou recusa a salvação para ir ao inferno?” A essa questão de resposta aparentemente óbvia… o moribundo vermelho responde com outra pergunta: -“existem espanhóis no céu?”. –“Sim, certamente” – responde o jesuíta. –“Para o Inferno”, responde o Índio. O índio colocado numa perspectiva de céu e de inferno não encontrava razões para convicções e deste modo o jesuíta com o seu método coloquial aproveitava para condenar, indirectamente, a governação espanhola. A pergunta abre a possibilidade de alargar o leque de perspectivas e de entrar em relação alargada.

Os Jesuitas nos seus colégios da América do Sul e da Ásia seguiam no ensino superior o modelo de ensino da Universidade de Coimbra e de Évora preferindo o modus parisiensis ao modus italicus: o ensino era gratuito, no secundário estudava-se Gramática, Humanidades e retórica e no Ensino Superior: Artes, Ciências, Dialética, Filosofia e Teologia (2)

Os jesuítas despertavam a desconfiança dos governantes devido à influência política e educativa que tinham e, por, nas colónias, se colocarem ao lado dos indígenas (criticando os colonos). Com o seu relativismo na argumentação, questionador do argumento de autoridade, também frustravam o espírito absolutista dos poderosos da europa; por outro lado tinham demasiado poder causando sombra ao poder laico que se procurava afirmar e institucionalizar contra a influência do poder religioso.

O enciclopedismo e o iluminismo eram de tendências anticatólicas e anti-jesuítas atendendo também a que estes eram os críticos mais sistemáticos do protestantismo. A Reforma religiosa e as guerras de religião levam os Jesuítas a centrarem-se no essencial. Surgidos do espírito da Reforma da Igreja Católica, apostavam na educação para fomentar uma consciência humana não limitada ao religioso nem à ideologia, (Interessante que já o Padre Manuel da Nóbrega queria, no Brasil, incluir escolas para meninas no ensino, mas a Coroa não estava à altura de permitir tal exigência); entendiam-se como pioneiros da utopia na realização da civilização cristã. Tinham um ensino orientado para elites e para cargos do poder. Praticavam a inclusão de culturas, de camadas sociais e de disciplinas… como processo de aprendizagem competitiva tinham exames e debates públicos (3).

Pombal acusava a atuação dos jesuítas com os indígenas do Brasil; segundo ele, os homens brancos eram apresentados aos índios como maus, como mais interessados no ouro do que qualquer coisa e, mais grave, prontos para atrocidades” (4).

A maçonaria, na sua qualidade de iluminismo esotérico, e de organização secreta que considera o próprio preconceito acima de outros preconceitos institucionais, estrutura-se infiltrando-se nas estruturas do Estado e Universidades, procurando controlar as elites, para, deste modo, direccionar os destinos das nações. A maçonaria ganha expressão concreta no déspota iluminado, o Marquês de Pombal. Este aliado à sua família e correligionários difama os jesuítas, persegue-os, nacionaliza os seus bens e expulsa-os do império lusitano, declarando-os como “ímpios e sediciosos”; conseguiu que a inquisição os perseguisse e expulsou-os de Portugal; no ano da sua expulsão (1759) a ordem jesuíta tinha 1698 membros em Portugal. “Em meados do século XVIII os colégios da Companhia de Jesus tinham, no reino, cerca de vinte mil alunos, numa população estimada em três milhões de habitantes… No Brasil, a primeira universidade criada é o Colégio dos Jesuítas da Bahia em 1550. Esta formou o ilustre António Vieira (ideia do 5° império).

A luta maçónica contra a Companhia de Jesus é tão fundamentalista e cruel que só pode ser compreendida na rivalidade dos maçons que queriam conquistar as elites para si seguindo assim uma estratégia elitista de ocupação dos centros de elite a nível de instituições e de ocupação de lugares estratégicos da política. O que a maçonaria e o anticlericalismo pretendiam era aniquilar os jesuítas e o poder da Igreja Católica para os substituírem na influência; o que em parte conseguiram através de um republicanismo jacobino ainda hoje a actuar nas caves da República portuguesa e nos centros de deliberação da UE. A batalha decisiva de Pombal e correligionários era minar o mito de um Portugal ponta de lança da Europa cristã e instituir nas estruturas do estado e nas subestruturas dos partidos uma rede de irmãos da mesma ideologia que atravessa as instituições…

Também o ilustre jesuíta Teilhard de Chardin se refere ao conflito entre secularismo e religião, ente materialismo e espiritualismo: “Aparentemente, a Terra Moderna nasceu de um movimento anti-religioso. O Homem bastando-se a si mesmo. A Razão substituindo-se à Crença. Nossa geração e as duas precedentes quase só ouviram falar de conflito entre Fé e Ciência. A tal ponto que pôde parecer, a certa altura, que esta era decididamente chamada a tomar o lugar daquela. Ora, à medida que a tensão se prolonga, é visivelmente sob uma forma muito diferente de equilíbrio – não eliminação, nem dualidade, mas síntese – que parece haver de se resolver o conflito (5).”

Na pergunta à pergunta relativiza-se a primeira e com a sequência pretende chegar-se à percepção do mistério e ao ser do Homem como processo aberto e à procura numa tentativa de solucionar problemas mediante perguntas e respostas. A Ratio Studiorum dos Jesuitas (1599) incluía a Contenda (debate) que levava à concentração no essencial (6).

Longe dos centros europeus do poder, na américa do sul e no Oriente, a pedagogia e o sistema de argumentação Jesuíta revelaram-se muito profícuos.
No Sermão da Sexagésima, o jesuíta António Vieira expôs o método do discurso: 1. Definir a matéria. 2. Reparti-la. 3. Confirmá-la com a Escritura. 4. Confirmá-la com a razão. 5. Amplificá-la, dando exemplos e respondendo às objeções, aos “argumentos contrários”. 6. Tirar uma conclusão e persuadir, exortar.

A Controvérsia como Método de Descoberta da Verdade

A Controvérsia ou “disputatio”, usada nas universidades medievais, era um método didáctico de disputa ou debate para persuadir e encontrar a verdade (apresentada a tese segue-se a argumentação – a favor ou contra – seguindo-se depois a avaliação em que a divergência será resolvida); era uma aprendizagem baseada na análise das fundamentações e premissas (de caracter dedutivo); a aprendizagem dá-se através da contraposição de conteúdos e de posições opostas (defensores e oponentes); modernamente não se procura a verdade mas sim a firmeza/coerência de um sistema de argumentação em relação a uma determinada tese (método indutivo).

A disputa ou debate controverso era usada para esclarecer questões contenciosas… No cristianismo esta tradição já se encontra documentada no judaísmo na discussão entre Jesus e os Doutores da Lei (Lucas 2:42-51) e nos primórdios da cristandade (Atos 15:2); expressa-se também nas disputas inter-religiosas e entre as diferentes ordens religiosas e nas apologias contra os hereges (7).

Martinho Lutero também fez uso desse costume académico na discussão das teses teológicas e filosóficas, verdadeiros duelos dialéticos orais entre peritos de religiões ou posições diferentes …. Aquando da Dieta de Ratisbona (1541) na disputa entre teólogos católicos e protestantes acordou-se que o único juiz é Jesus Cristo, pelo que “não admitiriam nenhum outro juiz da controvérsia senão Jesus Cristo”. Os Jesuitas deram grande relevo à pedagogia da controvérsia nos tempos modernos.

Também o terceiro dos imperadores mogóis da Índia (1542-1605) iniciou na Índia uma série de debates entre muçulmanos, hindus, jainistas, zoroastristas e jesuítas para discutir a charia.

A controvérsia era uma forma escolástica dura, mas justa de discutir e descobrir verdades em teologia e ciências entre teólogos católicos, judeus e outros: vencia quem tinha os melhores argumentos. Lutero teve várias disputas públicas sobre diferentes dogmas e teses. Os jesuítas revelaram-se os seus mais consequentes adversários.

Controvérsia no diálogo inter-religioso era muito importante na disputa pela verdade; na Idade Média Hispânica, Ramon Llull (1232-1316) testemunha a importância da procura da verdade no texto apologético “Disputatio Raimundi Lulli et Homer Sarraceni”, onde vem narrada a experiência de
Llull num cárcere tunisino, onde este chega a dizer aos sábios muçulmanos que se eles tivessem argumentos suficientes ele se converteria ao Islão.

O discurso casuístico empregado pelos jesuítas nos tratados de moral é questionado por Blaise Pascal nas suas cartas Provinciais (1656-57). Na Carta V, Pascal testemunha a prática discursiva dos tratados morais dos jesuítas criticando-a porque dava espaço ao relativismo e a um certo sufismo que questiona o argumento de autoridade e dá relevo a opiniões prováveis ou opostas. Pascal em Pensées revela-se contra o minimalismo jesuíta que questiona a autoridade moral dos padres antigos que, na perspectiva de argumentação jesuítica, se encontravam mais próximos dos apóstolos mas, por outro lado, mais distanciados da realidade moderna. Pascal insiste acusando os jesuítas de terem propositadamente uma moral dúbia, ora rigorista, ora laxista, com o objectivo de agradarem a todos, e assim governarem todas as consciências. Refere ainda os abusos das doutrinas probabilistas que proporcionam a justificação de todas as infrações. A experiência só pode proporcionar contingências e probabilidades. Segundo os historiadores Giacomo Martina e Ricardo García Villoslada, as Provinciais além de denunciarem muita moral laxista e permissiva de então, iniciam o rótulo negro do jesuitismo e estão na base de grande parte do anticlericalismo dos sécs. XVIII e XIX.

De facto, os maçons, defensores do despotismo iluminado, entraram numa luta ideológica cerrada contra os Jesuítas. O terremoto de Lisboa é acompanhado por um outro grande terremoto, o sismo ideológico, de que o estado e sociedade portuguesa jamais se refizeram: assistimos a um tradicionalismo ancestral autoritário e um modernismo estrangeirado dogmático que se combatem em vez de se complementarem e integrarem; de um lado a ideologia iluminista que arrogantemente se apodera dos órgãos do poder e do outro uma tradição religiosa escura e vítima ou que se considera como tal.

Nietzsche expressa claramente o espírito crítico do tempo em relação à Igreja católica quando diz: “O que é que combatemos no cristianismo? Que ele queira quebrar os fortes, que queira desencorajá-los da sua coragem, explorando as suas más horas e cansaço, querendo transformar a sua orgulhosa segurança em desassossego e remorsos de consciência […] até que os fortes sucumbem sob os excessos de autodesprezo e do auto-mau trato…” (8).

O Advogado do Diabo

Na universidade de Coimbra e depois na de Évora seguia-se a pedagogia da controvérsia que se expressava na defesa pública da tese e noutros rituais académicos, nos tribunais de praxe e na figura do “advogado do Diabo”.

A figura Advogado do Diabo (arte de convencer e persuadir através de argumentação controversa para ter em conta os argumentos contrários) implica uma didáctica académica e uma estratégia retórica numa disputa em que o advogado eclesiástico assumia a posição de oponente (uma posição que não precisa de crer), nomeadamente num processo de canonização defendida pelo advocatus Angeli); deste modo, com o advocatus diaboli, o processo de canonização ganhava maior objectividade factual e consistência. É um método sério para o encontro da verdade e que obstava a convicções preconcebidas (reunião de razão e fé na disputa pela verdade).

O método da controvérsia e do advogado do diabo fortalece a própria argumentação alargando as suas perspectivas, na mesma pessoa falam vários espíritos. Nele processa-se então uma análise crítica das próprias ideias e convicções. Ao preparar um discurso sob diferentes perspectivas este método alarga e aprofunda a própria consciência e reflexão além de formar competências nas formas de argumentar num discurso. A existência de uma teologia no cristianismo (coisa que não acontece no Islão por este se esgotar na jurisprudência) deve-se à preocupação cristã de unir a fé à razão.

PEDAGOGIA IGNACIANA

Como vimos, os jesuítas sempre tiveram grande influência na formação das elites…. O método pedagógico ignaciano implica uma pedagogia da excelência para a fé e para a justiça: serve-se da controvérsia como método de portas abertas para uma realidade a-perspectiva e com diferentes acessos a ela, segundo as “portas” que se utilizam para entrar nela. Os alicerces da sua pedagogia são a reflexão, a experiência e a acção.

A Pedagogia ignaciana centra-se na formação integral da pessoa, coração, inteligência e vontade; integra a reflexão (clarificar a motivação interna do que sou e do que me move e respectivas implicações), a acção (de carácter holístico como prática do amor) e a experiência (conhecer sentindo as coisas por dentro) e as três em contínua interacção. A componente reflexão torna-se essencial pois apela ao significado pessoal e humano da aprendizagem/experiência; implica uma atitude de ser “pessoa para os outros ” dando importância ao contexto e à participação no desenvolvimento colectivo (9).

Tal filosofia envolve uma formação integral orientada para os talentos pessoais com valores comportamentais positivos morais e intelectuais, pressupostos para o crescimento pessoal de maturação humana para melhor servir o outro.

A Ratio Studiorum da Companhia de Jesus fundamenta o conhecimento pessoal e espiritual da pessoa pretendendo uma excelência educativa que tem Jesus Cristo como fim e modelo de vida humana, uma vida partilhada e aberta à liberdade na diferença e diferenciação.

De facto, a essência da vida cristã é relação, como se pode depreender da fórmula ou princípio de toda a realidade resumida no mistério da Trindade. O gene divino em nós torna-nos inquietos na procura do reencontro, na antecipação do futuro. Só me compreendo e realizo na relação com outro, a minha definição e a minha identidade é incompleta sem ele. A própria célula que pareceria solitária não o é porque se encontra numa relação transcendente de tecidos e órgãos…. A verdade encarna, ganha forma dinâmica numa determinada realidade que se expressa como processo.

Também na Alemanha as universidades jesuítas eram centros dos Media destacando-se pela inclusão de várias formas de comunicação, logo desde o início e incluíam as procissões, teatro, canto, segundo o princípio docere et movere (10). Ainda hoje os jesuítas têm grande prestígio e encontram presença relevante nos meios científicos e políticos da Alemanha. O seu ensino é muito exigente: Trata-se de ensinar e mover! Na Alemanha no discurso cultural e público, apesar das lutas da reforma e contra-reforma, não se encontra hoje o espírito jacobino e radical que tem tolhido o génio português, desde que se encostou a um espírito demasiado dialético do iluminismo-liberalismo francês.

António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
In Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

(1) “Gangorra ou História triste” in https://books.google.de/books?id=UkiGv1KTH-sC&pg=PT127&lpg=PT127&dq=O+jesu%C3%ADta+responde+a+uma+pergunta+com+outra+pergunta.&source=bl&ots=1ozsLT6V8w&sig=a0-NVNUOLtzS09z6NqSb1wkzgds&hl=de&sa=X&ved=0CD4Q6AEwBGoVChMI26b_o6qzyAIVIYtyCh0CdAaP#v=onepage&q=O%20jesu%C3%ADta%20responde%20a%20uma%20pergunta%20com%20outra%20pergunta.&f=false
(2) http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf8/ST6/012%20-%20Fernanda%20Santos.pdf
(3) Revista Brasileira de História das Religiões: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub.html
(4) COSTA, Célio Juvenal. A racionalidade jesuítica em tempos de arredondamento do mundo: o Império Português (1540-1599): http://www.historia.uff.br/cantareira/novacantareira/index.php?option=com_content&v ew=article&id=129:osjesuitasnosetecentos-ed6&catid=61:artigos-ed6&Itemid=79
(5) Teilhard de Chardin, em “O Fenómeno Humano”. Segundo Chardin, que defendia o Panenteísmo cósmico, a Terra seria composta de várias camadas esféricas: Barisfera ou núcleo metálico terrestre; Litosfera ou camada de rochas; Hidrosfera ou camada de água; Atmosfera ou camada de ar; Biosfera ou esfera da vida; Noosfera ou esfera do pensamento ou espírito humano: Cristosfera ou âmbito de Cristo.
(6) www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais; http://www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais/st_trab_pdf/pdf_st1/antonietta_nunes_st1.pdf
(7) Catholic Encyclopedia (1913)/Religious Discussions.
(8) Friedrich Nietzsche in Nachlass. KSA 13, 11 [55], p.27 f.
(9) Cf. Arte discursiva: http://www.ruigracio.com/000pdf
(10) Cf. Delectare, movere et docere: http://www.musica.ufmg.br/permusi/port/numeros/17/num17_cap_07.pdf