LAVRADORES DEMASIADO CAROS À UNIAO EUROPEIA

Portugal por cultivar por falta de fundos
António Justo
A União Europeia continua a despender, para a agricultura, 43% do seu orçamento (53 biliões) até 2013. 37 biliões destinam-se a subvenções directas e o resto vai para um pote destinado ao desenvolvimento rural.

A comissão europeia queria alcançar maior justiça na distribuição das subvenções directas da UE aos agricultores. Pretendia uma redução de 22% nos subsídios directos aos grandes produtores de leite. Os ministros europeus da agricultura reunidos em Bruxelas a 20.11 conseguiram um compromisso menos duro para os grandes produtores. É também recusada a utilização dos fundos da política agrária comum (PAC) para acções fora da União Europeia.

A Alemanha, que recebe 5,4 biliões de euros da União Europeia conseguiu, com outras nações de grande produção de leite na Europa, que lavradores que recebam mais de 300.000 euros de subvenções anuais renunciem apenas a 14 % o que corresponde a menos 240 milhões de euros para a Alemanha contra os 425 milhões (22%) que a Comissão europeia pretendia. Os lavradores que recebiam 5.000 euros de subvenção anual não vêem reduzidos os subsídios.
Apesar destas medidas o futuro dos consumidores e dos agricultores europeus não é seguro.

O que se poupa com a redução será aplicado em programas de protecção ambiental e num fundo do leite. No passado, quase todos os membros da UE produziram mais leite do que as quotas nacionais permitiam, concorrendo isto para o embaratecimento do leite. A quota de produção de leite passa a ser aumentada anualmente de um por cento nos próximos cinco anos. Prevê-se para 2015 a desistência das quotas de produção. Os produtores de leite protestam porque temem uma concorrência muito forte. Segundo eles há leitarias a pagar 25 cêntimos por litro quando os custos de produção andam pelos 40 cêntimos.

Subvenciona-se a grande produção agrária ficando as zonas de minifúndios desprotegidas. O Interior e o Norte de Portugal continuam a sofrer a sangria dos seus trabalhadores que têm de emigrar. É a luta da metrópole contra o campo.

A regulamentação da qualidade estética dos produtos a comercializar ainda continua adversária à produção de géneros agrícolas sem emprego de produtos químicos. Tudo medidas que beneficiam os grandes produtores contra os pequenos. Uma maçã tem que ser lisinha para se poder pôr no mercado. Por um quilo de maçãs pagam-se dois euros no mercado e por um quilo de bananas paga-se um euro.

António da Cunha Duarte Justo

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A CRISE INSTITUCIONAL DO ENSINO TEM UM NOME: SÓCRATES

A Ministra faz Parte do Problema – Governo, Sindicatos e Professores também

António Justo
Portugal encontra-se mal aproveitado. Quem vive fora do país, quem lhe quer bem e lhe reconhece grandes potencialidades, sofre, ao ver os descalabros que nele acontecem. Sofre mais do que os que vivem nele, pelo facto de poder confrontar e comparar maneiras de resolver os mesmos problemas em países diferentes, com mais ou com menos eficiência com mais ou menos diálogo, com mais ou menos respeito. Isto é possível na União Europeia porque os diferentes governos ocupam a maior parte do seu tempo a aplicar as mesmas directivas da UE. O que mais faz doer na comparação das atitudes dos governantes alemães com os portugueses é a diferente relação e atitude entre Estado e povo, entre governo e cidadão.

Tal como em Portugal, também a generalidade dos países da União Europeia se encontram empenhados na reforma do Ensino e com o problema da avaliação dos professores. O que contrasta e choca profundamente em Portugal é o autoritarismo e arrogância com que os criadores dos factos actuam. O comportamento ministerial e dos parceiros seria incompreensível num país como a Alemanha. Aqui a discussão não acontece apenas entre instituições couto, numa rivalidade de interesses de pelouros mas dá-se dentro da sociedade e dentro dos grupos de interesse institucional, para o melhor da nação que consta de todos.

Em Portugal todos falam muito bem, mas cada qual no seu poleiro!… Parece só haver galos em galinheiros sem galinhas! Apenas um exemplo: Há anos, na Alemanha, o Chanceler Schröder disse que os professores eram “Sacos preguiçosos” (noutra tradução possível “Sacos podres”). Logo o povo e o próprio partido lhe tapou a boca não aceitando inventivas ideológicas contra um grupo profissional, que, pelo que conheço, é muito empenhado e mais perto do aluno do que o docente português. A distância que se encontra em Portugal entre professor e aluno ainda é maior entre elite política e povo. Tal como os governantes portugueses, naturalmente que o professorado do quadro, ganha muito bem em termos de comparação com o operariado, não dando rendimento satisfatório em termos concretos e estatísticos.

A irresponsabilidade duma discussão pública de afronta directa, que procura, mono-causalmente, responsabilizar o professorado pela miséria do ensino nas escolas estatais portuguesas, só pode levar à confrontação. Afirmações incautas da ministra reduziam os docentes a bode expiatório, degradado ideologicamente, ainda mais a sociedade portuguesa. O grande responsável directo de tudo isto tem um nome: Sócrates. Se pensasse em termos de bem-comum nacional já há muito que deveria ter interferido qualitativamente na discussão. Assim, depois de batalhas desonrosas para todos, só o PM pretende sair ilibado, sacrificando possivelmente, também a ministra, quando bem lhe convier. (Naturalmente que o PS saberá arranjar uma boa esponja política para ela cair bem.)

Sócrates sabe que voltará a ser eleito novamente e tornará a ocupar o lugar por uma nova legislatura. É de desejar que então aproveite a oportunidade para se tornar mais um homem de Estado e menos um homem da ideologia e do burocratismo de tipo mercenário. Portugal mereceria mais e melhor. Portugal precisa de politicos menos vaidosos, menos absorventes dos ecrãs das TVs para dar oportunidade ao povo para pensar. Precisa de mais trabalhadores, no governo e nas instituições portuguesas. Precisa de pessoas à medida dos trabalhadores simples que têm de emigrar de Portugal para enriquecerem outros povos com o seu trabalho abnegado e sério e que ainda enviam o resto amealhado para ir ajudando a manter um Portugal já há muito distraído de si mesmo.

Não chega que a Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues consiga desviar a chuva do capote do senhor Primeiro-ministro e que venha agora dizer o dito pelo não dito, tentando precipitadamente e mesmo fora de horas, sob pressão, corrigir o decreto-lei com um despacho. O que o orgulho e a arrogância de estilo não deixaram fazer, faz agora a necessidade.

A reforma não se faz contra os docentes mas com eles. Talvez também os sindicatos, que agora tiveram de correr atrás da multidão dos docentes, apanhando o comboio já em andamento, consigam manter mão nos professores para depois os obrigarem a aceitarem decisões incómodas. Para se imporem terão de aprender a ser menos coutada, menos ideologia, menos oportunidade para carreirismo político e libertação de aulas nem meros defensores de aumentos salariais duma classe. Terão de, a partir da escola e da sociedade, passar a dar resposta às necessidades da escola e do povo português.

A reforma não pode partir apenas de ideias abstractas e dum proceder tecnocrata orientado para postos. A sociedade portuguesa tem sido devastada com os ventos da ideologia e do moralismo. Não chega aferir a escola a um sistema económico em crise sem ter em consideração as condições de ensino. Não se trata de negar o velho em nome do novo, nem de destruir um sistema para construir outro – somos comunidade. Se os professores tivessem mais ligação com os pais certamente que não se sentiriam tão inseguros. Os professores têm de sofrer, tal como os pais, com o insucesso dos alunos. O facilitismo e a lei do “desenrasque-se quem puder” não leva longe. A ideologia continua a ser o cancro de Portugal. Com ela é fácil enriquecer, como provam muitos políticos. No século quinze eramos orientados pela ideia do comércio. Especialmente a partir do século dezanove Portugal a casta política portuguesa tem feito a experiência de que apostar na ideologia cria riqueza sem se sujar as mãos e o povo vai nela. Basta para isso apoderar-se dos meios de comunicação e apreguar o facilitismo.

Naturalmente que é necessário acordar a pasmaceira em que Portugal vem vivendo, há já séculos. Em especial a escolas públicas portuguesas têm vindo progressivamente a ser mais desautorizadas. PISA cria muito stress a uma sociedade, até agora, abandonada a si mesma. Não chega a contínua importação de modelos implementados de cima para baixo. Trabalho, disciplina e riqueza eram, para os nossos revolucionários, símbolos de fascismo. No tempo da revolução todo o que mostrasse um pouco de bom senso era chamado “facho”. Causa dor constatar que a revolução engole os seus próprios filhos! Naturalmente que hoje é difícil agarrar as “rédeas” dum povo à solta! O problema é que não temos elites com capacidade para isso, encontram-se acomodadas, demasiadamente habituadas a viver na administração da miséria, porque sabem estar à frente dum povo que nada exige deles. O “patrão” tem sempre razão.

Já temos um povo em grande parte vítima! Será que as nossas elites terão uma necessidade intrínseca de vítimas para poderem subsistir? Temos Sócrates, temos que viver com ele, porque também faz trabalho sério. Sócrates tem que contar também com o povo que tem. Se este fosse diferente também Sócrates seria diferente. Os erros dum são os erros do outro!

O problema de Portugal não é geográfico, é de sistema e de mentalidades.

António da Cunha Duarte Justo

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PCs Magalhães não chegam às Escolas de Português no Estrangeiro!!!!

O Governo faz render o peixe da “sua dele” oferta de computadores
António Justo

Em Portugal, o Carnaval e o Natal anteciparam-se, pelo que o Pai Natal tem andado, pelas escolas, a distribuir PCs Magalhães às crianças.

Se antigamente os presentes eram trazidos por um menino Jesus, apoiado pelo esforço escondido da família, que descia enfarruscado pelas chaminés, hoje são-nos trazidos por um Pai Natal polido a expensas do Contribuinte e com o trenó da TV.

Uma das razões, porque não haverá oferta de portáteis para alunos portugueses no Estrangeiro, estará no facto de aqui o Carnaval e o Natal terem datas fixas.

Além disso, as más-línguas explicam que os filhos dos emigrantes, obrigados a sair de Portugal à procura de trabalho, já pertencem à categoria dos felizardos e, para mais, vivem em Países em que já não se acredita no Pai Natal. Pessoas mais ligadas à administração explicam a posição governamental com a impossibilidade técnica da RTP poder fazer a cobertura de tantas acções de distribuição em tão pouco tempo. Gente mais ligada à política explica a discriminação governamental dos emigrantes com o medo do Governo devido aos perigos provenientes do descontentamento migrante com a última medida do governo que os impede de votarem para as eleições por carta. Pessoas mais simples e mais idosas limitam-se a dizer que o Estado português em relação aos emigrantes só conhece a mama.

Margarida Davim, em SOL 17.11.2008, refere que o palco, desta vez, escolhido por
José Sócrates, para entrega de computadores a alunos do 1.º ciclo, foi a Escola do Freixo, em Ponte de Lima. Esta encenação promotora do brilho do PM vai sendo feita a conta-gotas e sempre sob os projectores da televisão para que o povo distraído não esqueça quem é pai. A RTP não mostrará o desengano dos alunos que receberam os PCs para a fotografia, porque Sócrates já não se encontra lá. De facto, depois da encenação televisiva, as crianças tiveram de devolver os portáteis. No dizer do conselho executivo da Escola do Freixo, a distribuição «depende da logística administrativa» e a escola terá de «preencher toda a papelada e os pais que não estiverem abrangidos pelo 1.º escalão da acção social escolar vão ter de fazer o pagamento do computador».

Tudo isto até pareceria uma paródia feita por gente adversa à governação de Sócrates se esta gente não tivesse a experiência do comportamento doutros governos europeus e se a realidade da cena política portuguesa não lhes desse razão. As pessoas de meia-idade ainda se lembram do corta-fitas e de políticos que pareciam não ter mais que fazer senão passear a sua personalidade de inauguração em inauguração, sempre presentes nos ecrãs da RTP. Em Portugal parece confundir-se modernidade e realidade com virtualidade.

Parece termos um Primeiro-ministro para inglês ver! Só que quem vê o teatro português de fora fica enjoado. O pior de tudo é que a malta nem nota. Parece vivermos num país do faz de conta e numa democracia para inglês ver. Temos uma elite política mediana com tiques de rico homem e um povo alheio e sistematicamente alheado. O que os nossos políticos se permitem em Portugal seria ridículo numa Alemanha: Um primeiro-ministro em continua campanha eleitoral, uma ministra da educação autoritária e tão segura da sua fé que, ao ser entrevistada, até faz engasgar a entrevistadora, um governador do Banco de Portugal que se arma em representante da Organização dos Patrões e tem o desplante de culpar os desempregados pelo desemprego por receberem subsídio a mais.

Os nossos políticos conseguem viver bem com meias verdades. Constituem a classe que em nome e à custa do proletário consegue viver melhor em Portugal.

A entrega virtual dos PCs e outras vaidades governamentais ficam mal num PM que poderia ser um bom primeiro-ministro se não fosse o vírus inerente a certas elites portuguesas. Senhor PM, para quem pretende ser sério e quer ser levado a sério, fica-lhe mal tais bizantinices. Fica-lhe mal reservar para si o anúncio das boas notícias e deixar as más para os outros. É verdade que assim o povo é levado mas já não estamos no tempo em que o anunciador da má notícia era morto. Para mais, a oposição é tão fraca que o senhor não precisaria de usar de estratagemas cínicos para a vencer!

Se queremos um país moderno temos todos que mudar de mentalidade e tomá-lo a sério.

António da Cunha Duarte Justo
antóniocunhajusto@googlemail.com

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QUEM PRECISA DE SER AVALIADO É O GOVERNO

120.000 Docentes protestam contra o Cinismo do Ministério da Educação

Antonio Justo
Na primeira manifestação, saem 100.000 professores a protestar para a rua. São enxovalhados pelo Ministério da Educação (ME) e a Nação assiste a discussões degradantes para um Estado que se preze. No passado dia 15, protestam 120.000 docentes em Lisboa. Esta manifestação foi convocada por movimentos independentes de professores preocupados com a degradação do ensino em Portugal.

A apoiar os professores, manifestam-se os sindicatos e todas as facções políticas, menos a maioritária PS que governa. As direcções escolares, para não serem desobedientes perante o governo queixam-se do clima de tensão e mal-estar nas escolas, clima esse que impede a sua boa gestão.

O Governo de Sócrates quer avaliar, mas foge a qualquer critério de avaliação e não conhece a pedagogia nem a dinâmica de grupo. Em nome da remodelação de Portugal, refugia-se em estratégias autoritárias e demagógicas, próprias dos tempos dum Portugal antiquado e analfabeto.

Assiste-se a um excesso de exigências mas para as quais falta o sentido. O problema da avaliação dos professores que obriga, uma classe acomodada a protestar em peso, talvez seja um sinal duma certa consciência cívica nascente. Talvez Portugal comece a acordar.
Sem discussão nem preparação, o Ministério da Educação impõe medidas nascidas de reuniões burocráticas ao serviço duma realidade virtual. O Governo Português, no seguimento duma política da aparência, já que não tem muito para apresentar aos parceiros europeus, quer melhorar as estatísticas e mostrar zelo na aplicação de intenções da Uniao Europeia.

O ME, habituado a ter os sindicatos como acólitos encontra-se agora em maus lençóis. Os sindicatos são obrigados a deixar de andar debaixo das saias do poder, tendo agora de correr para acompanhar a pedalada dos professores.

Dum lado os professores de pele fina sensível, do outro a ministra com pele de lobo, e de premeio pais e alunos com pele de elefante.

A situação está tão má para o Governo que Vitorino, o jogador avançado do governo na TV, até já propôs na entrevista televisiva, que a avaliação fosse examinada por uma “Comissão de Sábios”. Camufladamente, o Governo apresenta, ao público distraído português, uma solução que vem salvaguardar os interesses do ME e dos seus cúmplices. Assim poderão salvar a imagem da Ministra da Educação e a superficialidade dum chefe do Governo, que se permite continuar, por tanto tempo, um espectáculo triste, só possível em Portugal.

Para melhor iludir o povo, e dar a impressão de espírito de diálogo, a ministra reúne-se com organizações e instituições para ganhar tempo e não ter de dar a mão à palmatória. Um abuso e um cinismo que só um povo português, com pele de elefante, poderá aguentar. No fim o ME em sintonia com os Sindicatos optarão pelo tal “Comissão dos Sábios” e assim o senhor primeiro-ministro poderá seguir a sua estratégia de reservar para si as melhores sardinhas, podendo então anunciar a expulsão do problema para a tal comissão. A política de ataque seguida pelo Governo em tempo u´til e pelo ME só seria compreensível em contexto de campanhas eleitorais. Confundem a mudança que o mundo moderno exige com dirigismo e facilitismo escolar.

Enquanto outros países tomam a sério o resultado do estudo comparativo do aproveitamento escolar (PISA), o nosso Governo anda na caça das bruxas!

Há mais marés que marinheiros!…

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

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A COR DO PRESIDENTE

Uma Era Incolor
António Justo
Afinal o mundo não parece tão mau como é. Desenvolve-se, pouco a pouco, devido à coragem e ao espírito de resistência de alguns. A eleição de Obama para Presidente só pode ser compreendida no processo de desenvolvimento humano manifestado na luta de Martin Luther King.

Não sei se o problema da designação da cor da pele constituirá só um problema dos “brancos” e da sua má consciência ou também estará carregada de sentidos para os “pretos”. Pelo sim e pelo não, o facto de se colocar a questão revela que não nos somos indiferentes e mostra a vontade de queremos ser mais justos uns com os outros e o desejo de nos entendermos. De facto, a ideia leva à acção, como demonstra o hipnotismo.

Objectivamente falando Obama não seria preto atendendo a que o pai era preto e a mãe era branca. Apesar de filho de mãe branca Obama Barack é tido como preto ou negro. Para alguns a palavra preto está sobrecarregada de ideologia discriminatória. Recorda uma história que deveria colorir o rosto dos brancos.

Há sessenta anos era moda dizer-se “de cor” em substituição da palavra “negro”. Há 15 – 20 anos, procurou-se evitar a palavra preto substituindo-a por “afro-americano”. Também esta designação conota a origem geográfico-cultural com que muitos se não identificam.

Embora Obama lute pela superação das barreiras das cores, ele declara-se pertencente à comunidade preta, designando-se a si mesmo como “a black man” e sente-se como fazendo parte da comunidade preta (black community”). A sua esposa é preta e os seus filhos são pretos também. Ele mesmo diz: “Que eu sou designadamente um preto, noto-o, o mais tardar, então quando em New York procuro fazer um sinal a um táxi”.

Na discussão das cores cada um dá às palavras que as designam a sua coloração afectiva que tem a ver com a própria experiência e cultura. As conotações projectadas no adjectivo vão da escravidão, à separação racial, à exploração económica, etc. Cada povo, cada pessoa tem uma relação especial com determinadas palavras. Assim, um chinês associa ao branco qualidades que o Ocidente atribui ao preto. Enquanto que o brando é uma cor do luto para o chinês, para os ocidentais o luto é associado com a cor preta.

A mesma subjectividade se dá também na palavra América (USA) que para uns é conotada como “país da liberdade”, para outros como o “reino do diabo”, para outros como um país num continente, etc., etc. Cada um se agasalha debaixo dos seus preconceitos. Em certo contexto, chamar Homem ao ser humano poderia também tornar-se uma ofensa ao hominídeo. A linguagem que usamos revela muito sobre nós mesmos. Não somos eunucos quando falamos.

A questão não está na cor da pele mas no que ela tem significado para muitos. O apostar na cor preta pode implicar, em certos casos, uma posição contra o racismo, uma opção pela mudança.

Tal como em muitas outras coisas usam-se designações sem rigor sujeitas às mais diversas conotações e generalizações. Problema seria sem em nome duma definição objectiva se entrasse na guerra por uma definição, sem contemplar o Homem. O colocar-se o problema tanto pode revelar o preconceito, como uma tomada de consciência para o significado das palavras e para o que elas podem provocar. O reconhecimento de preconceitos individuais e culturais é o primeiro passo no longo caminho do encontro duns com os outros. O problema está já no nosso sistema de pensamento: o preconceito é inerente ao conceito. Importante é reconhecer-se este condicionalismo humano. A questão está também no objecto do nosso motivo e interesse. O que importa é defender a humanidade que se encontra por baixo das cores das peles.

Gandhi conta na sua autobiografia que estava convencido que o Cristianismo era a resposta para o flagelo do sistema das castas na Índia. Ele pensava seriamente em tornar-se cristão. Um dia, na África do Sul, dirigiu-se a uma Igreja para participar numa missa. À entrada foi-lhe dito parta ter a bondade de participar numa missa reservada a pretos. Gandhi foi-se embora e nunca mais voltou. As ideias e os ideais podem ser o melhor; quem estorva são muitas vezes as pessoas.

Na discussão do espectro das cores a palavra preto ou branco parece-me a mais neutra embora cada biótopo geográfico e cultural tem a sua dinâmica a respeitar. O problema está latente em todo o ser humano que reage com medo ao desconhecido. Assim a experiência com bebés brancos e pretos mostra que o bebé preto reage com medo perante o branco e o bebé branco reage com medo perante o preto. Se virmos bem o homem branco não é mesmo branco nem o homem preto é mesmo preto.

Obama tem a cor da esperança, da justiça e da mudança. Ela é um protesto contra uma humanidade que tem abdicado de ser humana no sentido digno do termo. Ela é protesto, resistência e constitui programa para um mundo mais colorido, onde cada qual receba a possibilidade de se tornar ele mesmo. Como nele se combinam as cores, a nova era terá que deixar de continuar o diálogo perspectivo (dualista) para se iniciar a Era do triálogo relacional aperspectivo (integral trinitário).

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

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