ALEMANHA OPTA PELA CONTINUIDADE PRAGMÁTICA ULTRAPASSANDO A IDEOLOGIA PELA DIREITA

Governo promete Bem-estar para todos

Por António Justo

A Doutora Ângela Merkel foi hoje (14.03.2018) eleita Chanceler da Alemanha. Foi eleita com 364 votos a favor e 315 contra; 35 deputados da União e do SPD votaram contra a Chanceler. A coligação conta com 399 deputados, isto é, com 44 deputados mais do que seria necessário para governar.

Depois do juramento da Chanceler seguiu-se o dos 15 ministros do seu gabinete que prestaram, também eles, juramento perante o presidente do Bundestag, Wolfgang Schäuble (CDU). O Conselho de Ministros reuniu às 17 horas para a sua primeira reunião constituinte. O Governo terá mais secretários de Estado que nunca: 1 da CSU, 9 da CDU e 7 do SPD.

Pela primeira vez esteve presente, no acto da eleição e da posse, o seu marido com o filho e a mãe de Ângela Merkel de 89 anos. Com a presença da família e um juramento de um cargo confiante na “ajuda de Deus “, a chanceler talvez queira sinalizar que, agora, também será chegada a hora dos alemães e não tanto de muitos refugiados muçulmanos que não lhe têm facilitado a reinação do Estado.

O sistema Ângela Merkel ganhou e, com ela, o SPD também! Os militantes do SPD com o seu voto de 66%, pela coligação demonstraram que o SPD quer assumir responsabilidade política e ao mesmo tempo permitir-se uma pequena oposição dentro do partido para poder convencer mais eleitores nas próximas eleições.

Passados seis meses das eleições parlamentares, volta a governar a coligação da maioria CDU/CSU e SPD. Foi um alívio para a Alemanha, mas permanece um mau gosto a refugiados na boca do povo e um desafio ao governo. Da resposta a este dependerá a estabilidade da Alemanha.

À frente da oposição fica o partido AfD que vê no “sistema Merkel” o coveiro da CDU e do SPD e acusa o SPD de, com o seu voto para o novo governo sob a chanceler Ângela Merkel, “obstruir um novo começo político “na Alemanha.

Planos imediatos da Grande Coligação

A CDU quer já um subsídio de família especial para que famílias com filhos, com ordenado médio, consigam construir casa. Pretendem o reequipamento dos carros a diesel; produtos à venda devem conter menos açúcar, sal e gordura; pretende mudar o modelo da reforma para que a relação entre ordenado recebido no tempo activo e a reforma a receber no tempo passivo não desça abaixo dos 48% do ordenado. Quer ainda favorecer queixas colectivas em tribunal (como no escândalo dos carros diesel).

A partir de 1.01.2019 as contribuições para o seguro de saúde devem ser suportadas em partes iguais por empregadores e empregados. O Estado federal disponibilizará 500 milhões para creches. Em agosto será determinado um salário mínimo para jovens em formação a entrar em vigor em 2020. Uma comissão deve preparar propostas para a „igualdade de condições de vida” na cidade e no campo. Além disso uma comissão deve preparar propostas para uma reforma de vencimentos e taxas para médicos. Em 2020 devem ser criadas mais 100.000 Pontos de carga adicionais para veículos elétricos.

Plano para 2021 é aumentar o abono de família em 15 euros por criança e mês. A taxa de solidariedade deve ser reduzida de 10 bilhões de euros e devem ser disponibilizados dois bilhões de euros para creches.

Abono de Família

O abono de família sobe 10 euros por mês e criança, no dia 1 de julho deste ano. Atualmente o primeiro e o segundo filho recebem de abono de família 194 € cada um; o terceiro 200€ e os filhos a partir do quarto recebem 225€ mensais cada um.

 

Política da EU

A Alemanha e a França pretendem a criação de um fundo monetário europeu, e a criação e a gestão do seu próprio orçamento numa união monetária ou até mesmo um ministro das Finanças da EU.

Oito ministros das finanças dos Países baixos, Dinamarca, Irlanda, Suécia, Finlândia e dos Estados Bálticos enviaram uma carta comum para Bruxelas; nela protesta contra a ideia de transferência de competências adicionais para Brussel.

O medo de uma Alemanha e França, como motor demasiado forte da Europa, mete medo a muitos. Por outro lado, a Alemanha e alguns Estados economicamente fortes da EU não estão de acordo que a EU assuma responsabilidade comum em relação aos países da EU que causam preocupações.

Na próxima cimeira de Bruxelas os 28 chefes do estado e os chefes do governo, terão uma agenda recheada A Chanceler pretende fazer propostas de reforma da EU e viaja em breve a Paris para, com o presidente Emmanuel Macron, preparar a cimeira do Conselho da Europa de 22/23 de Março; além da política europeia também a engrenagem da política migratória e da defesa.

A maturidade alemã

Como povo forte e rico não aposta na revolução; vai-se antecipando-se a ela, praticando a mudança no contínuo do dia-a-dia. 

O anseio do povo por paz e equilíbrio levou o SPD (com 66% dos votantes) a possibilitar a reposição da grande coligação CDU/CSU e SPD na frente da Alemanha. A decisão democrática do partido em defesa da coligação revelou-se como uma recusa da ideologia em favor do centro pragmático.

A Alemanha, como nação poderosa e experiente, sabe que as utopias ideológicas de posições extremistas são de tolerar, porque mexem com a massa, mas também está consciente de que com ideologias não se faz pão.

A sociedade gerou a sua esquerda alemã um pouco mais civilizada, que, como tal, deixa cada vez mais a ideologia do contra para entrar numa cultura do compromisso. Na falta de utopias, a própria esquerda ideológica jacobina atua já mais guiada pela tática do que pela convicção; assim reconhece que o barulho da sua qualidade de oposição é mais feito para satisfazer os espíritos e as margens mais amantes dos zés-pereiras. Isto porque está consciente de que o pragmatismo do centro está atento para atempadamente iniciar as mudanças necessárias.

Uma sociedade mais macia quer também mais equilíbrio entre as energias masculinas e femininas. Procura compensar a masculinidade do capital e da tecnologia pretendendo redirigir o progresso mais no sentido da natureza e da sociedade

Com a formação de um governo de grande coligação, a Alemanha optou pela continuidade pragmática deixando a ideologia à margem, ultrapassando-a pela direita.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

CHAMADOS A SER BONS SEM TERMOS DE SER OS MELHORES

Reflexão sobre amar e ser amado entre egoísmo e altruísmo

Por António Justo

Se fores capaz de transmitir a alguém o sentimento de ser amado, de ser considerado e ser aceite, ele acreditará em si mesmo e a sua autoconfiança fará milagres.

O eu faz parte do nós e o nós expressa o encontro com o tu que leva ao reconhecimento do eu como relação em torno do amor.

O egoísmo está presente em todo o ser humano; faz parte da energia que conduz à identificação e à diversidade. Egoísmo e altruísmo são atitudes que se requerem em certo equilíbrio.

 

Na nossa vida do dia-a-dia verificamos que amar alguém, gostar de uma coisa ou de um ideal implica entrega e que fazer algo ou dedicar-se a alguém, desinteressadamente, traz consigo a consciência de que o serviço prestado, reverte também em benefício de si mesmo sem ter sido pretendido. A alegria, que se proporciona a outrem, recebe-se de volta, na ressonância de uma satisfação comum. Isto implica altruísmo, mas sem auto-negação.

A necessidade de identificação, de reconhecimento e o grau de narcisismo próprio levam-nos a navegar entre amor próprio, auto-negação e amor autêntico a si mesmo

A consideração pelos outros (altruísmo) é saudável se não se realiza à custa do próprio bem-estar. Sofrer ou tortura-se para que alguém se sinta feliz, a ponto de desconsiderar as próprias necessidades e de não considerar os próprios limites, leva uma pessoa a não se dar conta de si nem dos próprios sinais psíquicos nem físicos que, não tomados a sério, acabam em doenças. A natureza vive do esforço individual e comum, no respeito pelas necessidades de cada um. Sem entrega nem esforço não há transformação nem desenvolvimento. A vida define-se como relação aberta na procura de autonomia individual. Geralmente a energia mais acentuada é o egoísmo.

Dá-se desrespeito e autoexploração quando se exagera no altruísmo por razões de perfeccionismo ou excesso de ênfase no dar resposta ao que outros esperam de nós. Muitos tornam-se vítimas das espectativas dos outros e aquela energia positiva despendida, que deveria provocar satisfação, torna-se em incómodo por ter sido tirada à custa da própria substância e não do que transbordava dela.

O oposto destas atitudes e comportamentos (egoísmo exacerbado) acontece num outro tipo de pessoas que estão tão fascinadas de si mesmas (narcisismo) que só veem o mundo e os outros na própria perspectiva, crivando a realidade pelos próprios interesses; o narcisista ama a imagem de si mesmo a ponto de viver enamorado do seu ego. A falta de reflexão e a inexistente sintonia/compaixão com o outro leva o/a narcisista a não notar as necessidades do outro e a viver num mundo infantil, no ego de príncipes encantados.

Auto-obsessão no amor próprio

Para se poder avaliar do grau doentio do amor próprio (grau de narcisismo) há que observar critérios patológicos como egocentrismo, sentimento de superioridade, auto-obsessão, falta de empatia, forte susceptibilidade (expressa no conto “A Princesa e a Ervilha), desvalorização e exploração de outros.

Por trás do fanatismo também se encontra sempre narcisismo e um sentimento de inferioridade a querer ser compensado. Nele o ego é tão embalonado que sobe sem reconhecer o próximo (ou usa-o como pretexto ao serviço da sua ilusão); geralmente vive centrado na mente e só se identifica com algo longínquo que o ultrapassa, embora reprogramado no próprio ego. Orienta-se por slogans que ele próprio escolheu, conferindo-se assim um sentimento de soberania e de poder.

A sociedade ocidental é cada vez mais narcisista. O narcisismo é um amor próprio aparente; na realidade está preso a sensações de inferioridade e falta de amor próprio equilibrado.

Todo o narcisismo é egoísta, mas nem todo o egoísta é um narcisista. O ego (amor próprio doentio) manifesta-se sob três tendências: possuir, dominar e/ou querer ter valor (ser importante). Se uma destas três características tiver um valor acentuado então poder-se-ia falar de egoísmo sublinhado.

“Nunca me ligavam” – A falta de autoconfiança – Fuga a si mesmo

A tendência egoísta, se demasiadamente acentuada, é sintoma de carência afectiva e falta de empatia; provem de um buraco na personalidade, que poderá vir da falta de apreciação na infância (a experiência inconsciente do “nunca me ligaram” ou de uma infância do “laissez faire” onde tudo lhe foi removido do caminho; sem necessidade de enfrentar obstáculos não teve ocasião de se situar, nem de criar raízes estáveis de relação. Então fica pela vida fora uma falta de autoconsciência que se compensa e sacia na realização automatista de um programa desastroso outrora aprendido e internalizado.

Esta programação inconsciente provém de um sentimento internalizado do ” Eu não sou Ok”, “Eu não tenho valor”, “não sou bem-vindo”, “Não sou suficiente”, etc. Tanta criança arma teatro e até dança em torno dos pais e dos educadores, tal como o gato ao encostar-se às pernas do dono, mas sem conseguir obter a atenção e dedicação devidas porque o adulto, no momento, se encontra fechado nele, alheado no seu mundo de pensamentos, longe da situação; encontra-se a viver um outro filme, num outro mundo que não é o seu, nem o da criança…

Esta amarga experiência infantil, somada a muitas outras, cria um buraco na alma daquela personalidade que passa a ter a necessidade de se destacar perante os outros – tem a necessidade de ser em tudo super, para poder sentir-se aceite e amada; nessa necessidade, mendiga agora a atenção que não teve e, em consequência disso, é incapaz de se definir por si mesma, de descansar em si mesma e de fazer as pazes também com os próprios defeitos.

Foi programada por alguém tipo árvore frondosa que não deixa vingar nada debaixo dela nem a seu lado, (talvez por alguém com trastorno limite de personalidade – narcisista-borderline), que faz da criança uma escrava ao serviço da sua vaidade. Conheci tais pessoas que só viam os outros em função delas e isto chegava ao extremo de abusar da criança que quando chamada, sistematicamente, tinha de deixar tudo imediatamente e correr, sem ter direito ao tempo dela, sem um momento de pausa para se dar conta do próprio existir e das próprias necessidades (nela passou a existir as necessidades dos outros): o pai/mãe chamou, sem respeito pelo que a criança estava a fazer, e a criança ficou automaticamente comprometida com a vontade alheia; aprendeu a responder às necessidades do outro sem ter em conta a própria necessidade, passando a ser uma estrutura  interrompida; a criança não teve tempo para construir a autoconfiança que vem da capacidade de dar resposta a si mesma e aos outros num ambiente de amor,  consideração e aceitação. Agora, como adulta continua a responder à necessidade de ser perfeita ou de parecer perfeita.

Como vivemos numa sociedade de apelo ao narcisismo, a sua tendência para a auto-optimização, de ser cada vez mais bonita, melhor e de subir mais alto, leva-a, ainda mais, a viver fora dela. A consequência pode ser o desenvolvimento de uma personalidade com uma atitude desafiadora e intolerante para consigo e para com os outros (ou uma pessoa sempre a correr atrás de gurus narcisistas porque a sabedoria interior foi perturbada).

Muitas vezes, pessoas estruturadas desta maneira são condicionadas a procurar compensar o buraco psíquico com o perfeccionismo ou com um sentimento insaciável da necessidade de produzir sempre mais e melhor; nunca se sentem satisfeitas com o que fazem porque uma força internalizada lhes diz que, para serem boas, têm de ser melhores e produzir mais para serem aceites pelos outros!  Sentem-se sempre incompletas; e como o stress não resolve problemas acumulam ainda outras inconveniências.

Amor próprio equilibrado entre egoísmo e altruísmo

Nem mais nem menos: “Ama o próximo como a ti mesmo”, adverte o Evangelho! O pressuposto para se amar verdadeiramente o próximo prevê primeiro o amor a si mesmo.

 Se nos observamos bem a nós e ao mundo, notaremos que tudo é relação (relacionamento parentesco). Sem um tu não há um eu e sem um eu não há um tu e só no reconhecimento recíproco se dá lugar ao nós.

Nos polos equilibrados, do egoísmo (amor a si mesmo) e do altruísmo (amor ao próximo), gera-se a sintonia/compaixão (em termos religiosos, a caridade) sem tirar a responsabilidade ao outro nem a liberdade a si mesmo. O verdadeiro altruísta não se satisfaz com o resultado do seu bem-fazer porque sente a legítima satisfação da relação com o outro na gratidão e na alegria que dimana no todo.

O Homem não pode ser apenas um fim em si nem sequer um meio para a finalidade dos outros. Através do próximo chegamos à consciência do eu que é o encontro das relações. Em torno da palavra eu se forma o Homem e a humanidade na consciência de serem identidade em processo e a caminho de uma meta que não é o colectivismo, mas a comunidade, à imagem da fórmula trinitária onde o eu pessoal e o nós se reúnem e expressam em pessoa.

Se no nosso interior há tempestade não é saudável compensar o desequilíbrio da alta ou baixa pressão em nós, mediante a abertura de um ventículo para o exterior, uma adição; esta pode substituir o sintoma por algum tempo, mas volta imprevistamente. Primeiro há que alcançar a bonomia, a bonança dentro de nós para que a nossa acção se torne benéfica ad intra e ad extra. Uma certa tensão é sempre necessária douto modo a vida tornar-se-ia num “buraco negro” …

O altruismo saudável não funciona para acalmar a má consciência nem tão-pouco para afugentar o medo. Quem exagera no altruísmo, para adquirir reconhecimento, facilmente cairá em depressão ou Burnout!

A auto-realização implica um egoísmo sadio, um egoísmo sem egocentrismo. Também estamos chamados a promover o bem alheio, mas não à custa da própria felicidade. Uma pessoa contente transmite contentamento aos outros; uma pessoa infeliz anda envolvida pelo manto da escuridão e propaga o escuro nos outros.

Segundo investigações psicológicas 75% das pessoas agem devido a influências exteriores sem saberem, muitas vezes, o que é importante para si.

Há muitas pessoas com um padrão comportamental de tendência altruísta que chegam a colocar a defesa da vida do grupo acima da individual. e uma maneira de se tornar reconhecido e aceite, uma tendência natural a ajudar os outros.

Uma dedicação despreocupada ao próximo faz parte do desenvolvimento pessoal espiritual e psicológico…. Quando for capaz de descansar em mim mesmo, sem necessidade de andar sempre a arranjar a casa do meu eu ou do próximo e quando sentir o sol do carinho que em mim brilha independentemente dos defeitos que tenha, então o sol interior irradiará na minha atuação e na minha atitude para o exterior.

Então compreenderei a satisfação do gato e do cão que – sem a necessidade de controlar ou de se controlar – despreocupadamente se rola no chão, de pernas para o ar, vivendo, de maneira aberta, a satisfação do momento sem qualquer medo nem receio.

Por vezes há pessoas que passam uma vida sacrificando-se para os outros. Esquecem que temos esta vida para também treinarmos e aprendermos aquela alegria e gozo que, sem adiamentos, antecipa a realização futura. Somos individuações na comunidade.

Neste sentido, a primeira tarefa será aprender a amar-se, criando assim o fundamento para se poder mudar. Doutro modo anda-se a dar aos outros a compensação do amor que nos foi negado e nos faltou. Uma vida, realizada na alegria do viver, proporciona a resposta dos outros no respeito, amor e sintonia; então não se é enganado nem se engana o próximo com amores nem dedicações esforçados. Surge então o calor do dar e receber da mesma energia divina (amor) que flui dentro e fora no nós.

Deus criou-nos a nós tal como criou o sol e em nós colocou a sua energia que vem de dentro para fora, do interior para o exterior. A opção pela autonegação dedicando-se só aos outros é tão perigosa como a dedicação só a si mesmo porque ambos surgiriam, não da realização e da riqueza, mas da falta que conduz a uma abnegação desequilibrada. O sol divino tem de brilhar primeiramente em nós para nos abrir e através de nós brilhar e aquecer os outros.

Sou com o todo sem me perder nos outros, sou com o outro consciente de que ele e eu somos apenas parte do todo.

Uma maneira consciente de avaliar o amor no trato de si mesmo será o de se permitir tomar decisões que deem satisfação independentemente do que os outros dirão ou esperam. Quando a voz do interior não é sorvida pela voz de fora, então vive-se naturalmente, o Reino de Deus, como os “pássaros e os lírios do campo” aceitando os cumprimentos e as críticas dos outros como aqueles aceitam o sol e a chuva. Então o que faço dá alegria e contentamento porque faço-o simplesmente, sem sentimentos de obrigação ou de culpa muito embora num sentimento de sintonia/compaixão. Então a felicidade e a infelicidade dos outros não me ensombram porque o meu viver compreende amar os outros e deixá-los ser como são.

Tenho que pôr nos pratos da balança da minha vida, de um lado o amor, o respeito, o cuidado que tenho para comigo e no outro prato as necessidades dos outros.

Deixo entrar e sair de mim o ar dos sentimentos positivos e negativos sem os reter, do mesmo modo, como entra em mim o ar mais ou menos oxigenado que respiro. Aceito o dentro e o fora, o dia e a noite, a luz e a sombra, o sucesso e o fracasso sem o medo de me negar ou afirmar para ser aceite. Consideração e estima iluminam as minhas relações sem me deixar prender em pensamentos negativos, devaneios, dúvidas e medos. Não sou vítima de ninguém e na qualidade de consciência reflectida assumo a responsabilidade de ser, ser com os outros numa dinâmica de ser para mim e ser para os outros.

Reconhecer-se e aceitar-se

Para se chegar ao nível do “ama o próximo como a ti mesmo” há, em primeiro, que se reconhecer a si mesmo, como advertia a frase no frontispício do templo de Apolo em Delfos aos que nele entravam. Reconhece a ipseidade (“conhece-te a ti mesmo”) e nela os teus pontos fortes e fracos, as facilidades e dificuldades como fluxo e refluxo da mesma realidade. O segundo passo é “aceita-te como és” com os teus lados de luz e de sombra. E se me encontro numa altura em que me não posso aceitar, então aceito a não aceitação. O terceiro passo será: aceitar em si uma possibilidade de mudança, mas sem limite de tempo e sem pressão de auto-optimização.

Em paz de consciência

Muitas pessoas têm na sua consciência um juiz interior muito rigoroso sempre a apelar pata o dever: esse juiz malformado diz: “eu devo…, tenho que…” ou “a gente deve…, a gente tem que…”

Muitas vezes, esta é a voz do “eu paterno” que continua escondida e a mandar em nós. Este juiz fala do alto da sua cátedra e por isso é preciso substituí-lo por um juiz Anjo, que não condena embora faça ver as coisas positivas e negativas com objectividade e que gosta de ti tal como és.

Dos erros se aprende para a próxima vez. Deus ama-te como és, no antes, no agora e no depois; faz algo que te dê alegria, não te deixes subjugar apenas pelo programa do dia-a-dia, doutra maneira vive o programa em ti, sem que tu vivas porque só serves.

Muitas vezes surge em nós uma sensação corporal ou um sentimento espiritual desagradável e não temos tempo para lhe dar atenção e compreender o que esse sentimento ou sensação nos quer dizer; muitas vezes esse mal-estar apenas nos quer dizer que excedemos os nossos limites.

Sentimentos agradáveis são sinais de que nos encontramos em consonância com a situação do momento. Se o sentimento é torturante talvez se dê ao facto do sentimento puro se misturar com devaneios, conflito interno, a tentativa altiva de dominar uma sensação, etc..

Do sentimento de aceitar e ser aceite surge o contentamento de se encontrar com o dia ou com o próximo, venha ele como vier. Chega a boa intenção de procurar o bem em tudo e de se experimentar contentamento, independentemente da gratidão que se receba. Então a viva sorri para mim e eu sorrio para a vida na consciência de que a dor e a alegria servem o todo.

A realidade do eu-tu-nós encontra-se magistralmente delineada na fórmula Trinitária onde a Relação é de tal maneira viva e misteriosa que ganha expressão numa terceira pessoa. Neste sentido, a abertura e a entrega expressam a liberdade amorosa.

© António da Cunha Duarte Justo

Pedagogo e teólogo

Pegadas do Tempo

 

MUTILAÇÃO SEXUAL COMO PREVENÇÃO CONTRA INFIDELIDADE MATRIMONIAL E DEFESA DA POLIGAMIA

Sociedades machistas roubam a sensualidade às mulheres

Há sociedades machistas que roubam a sensualidade à mulher. O prazer é reservado ao homem à custa da dor da mulher!

Atualmente é feito o brutal corte do clitoris e dos lábios genitais interiores e exteriores a 8.000 meninas e mulheres, por dia.

Há 130 milhões de mulheres no mundo vítimas de mutilação genital. A maioria com idade inferior a 15 anos.

Esta barbaridade deve-se à tradição patriarcal de sociedades em que os homens querem estar seguros que a mulher terá dores no acto sexual vendo na mutilação da mulher um impedimento à infidelidade matrimonial.

Na Europa também se encontram imigrantes que, às escondidas, praticam tal atrocidade. Muitos deles aproveitam-se das férias na terra para o fazer e as meninas são surpreendidas.

Isto favorece o machismo e a poligamia.

Sociedades machistas roubam a sensualidade às mulheres e impedem-nas de terem rosto próprio!

São perseguidas e vitimadas por sererm raparigas

Diariamente morrem 300 meninas devido a violência perpetrada contra elas. No mundo, 120 milhões de raparigas de idade inferior a 20 anos foram vítimas de violência sexual.

Diariamente 20.000 raparigas de menoridade dão à luz uma criança. 3.000 são de idade inferior a 15 anos.

No mundo todos os dias fogem de suas terras 30.000 pessoas. Dois terços delas são meninas e mulheres.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

Os CATAVENTOS DA DEMOCRACIA

FUNDADO PARTIDO “RENOVAR” NA GRÃ-BRETANHA CONTRA O BREXIT

 

António Justo

O Jornal Notícias titulou: Há um novo partido britânico que promete travar o Brexit; de nascimento recente (19.02.2018), o nome do partido é Renew (Renovar), tem como lema: “Uma nova visão para a nação” e quer impedir o Brexit. Pretende, de maneira mais alargada, ser uma alternativa à atual classe política da UK. Na Europa a classe política encontra-se em plena ebulição (França, Áustria, Itália, etc.).

Esta é certamente uma oportuna iniciativa! Um país da envergadura da Grã-Bretanha necessita de mudança na continuidade e não de ideologias revolucionárias que vivam de ideias peregrinas e do oportuno para poderem fazer dos arrabaldes das ciddades, a Polis!

Os opositores a um novo referendo, sobre a permanência da Grã-Bretanha na UE, têm medo de uma decisão mais preparada, reflectida e consciente, sobre o sim ou o não do Brexit.

O povo é sempre soberano seja no dizer seja no desdizer

Seria sofrer de estagnação querer legitimar a validade de uma decisão tomada numa mera parcela de tempo de circunstâncias específicas em que foi tomada (referendo tornado vinculativo quando o não era e com apenas 52%; tal decisão deveria ter de atingir os 75%, porque se trata de uma decisão que implica sustentabilidade em termos nacionais!).

Geralmente os intervalos entre o tempo não é mais que a distância que vai do erro à verdade, muito embora o tempo continue inocente! A experiência da vida chama a atenção para as circunstâncias que determinam a realidade de um acontecimento ou decisão.

É da essência da democracia não se poder fixar nesta ou naquela posição; tem que estar sempre aberta ao desenvolvimento das pessoas e aos diferentes mandarins dos relevantes sectores públicos que puxam a consciência da manada num sentido ou no outro.

A teimosia e equívoco, de muitas pessoas relativamente à fixação nos resultados de consultas populares, peca por falta de exatidão e por confusão, ao mesclar a decisão de um momento em determinadas circunstâncias com a realidade como se fosse verdade sustentável. Um processo democrático está dependente das vontades e das circunstâncias que as formam. Por isso quem apela para decisões do processo democrático tem que estar atento para não perder o processo!!!

Há que aceitar a realidade do ser humano e da sociedade como processo e viver na consciência de que a vontade popular vira conforme os ventos!

A classe estabelecida no nosso sistema político-social, em vez de barafustar contra novos movimentos (populismos de direita ou de esquerda) ou de temer perder direitos adquiridos, tem que mudar de vida! A classe estabelecida da geração 68 tem de se ir preparando para dar lugar a uma nova burgalidade e uma nova cidadania!

Uma sociedade democrática verdadeiramente esperta, para ser coerente com o seu sistema político partidário, terá que se ir transformando em movimentos cataventos da democracia; o passo seguinte seria o estabelecimento da verdadeira democracia que passaria de democracia partidária representativa para democracia directa!!!

O Brexit é um mal para a Grã-Bretanha e um mal para a Europa. A UE precisa da UK e a UK precisa da UE. A EU é ainda mais importante para a Inglaterra, que bem sabia ir buscar as uvas passas do bolo europeu!

O Brexit constitui um mal para a Alemanha porque a nova constelação da EU, sem a Inglaterra, passa a ser mais influenciável pelos países latinos! Co a saída, a Alemanha não pode contar com a influência deste parceiro maior a seu lado. (Os interesses dos grandes são sempre diferentes dos pequenos!)

Por outro lado, a Europa só se pode afirmar como um todo (EU), num futuro, já presente, de rivalidades incontidas entre civilizações. A não ser que se fizesse marcha atrás no desenvolvimento da História e se voltasse para um ecologismo regional com os seus múltiplos biótopos; diga-se, para uma democratização de economia e de regiões, não baseada só em povo e nações (grupos de nações).

Por vezes tem-se a impressão que anda tudo à procura do Pai Natal! Mais exato seria, em vez de falarmos tanto contra o Estado, contra a EU, exigir-se mais dos eleitos, o que implicaria verdadeira formação política (e não partidária) do cidadão para que a maioria popular se metesse na alhada da política.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do tempo,

DECLARAÇÃO DOS BISPOS ALEMÃES SOBRE A INTERCOMUNHÃO EM CASAMENTOS MISTOS

Participação de Protestantes na Liturgia católica

António Justo

Os bispos católicos alemães, reunidos em Ingolstadt, possibilitaram a recepção da Comunhão aos cônjuges evangélicos de casamentos mistos (cônjuge católico e protestante), como se pode ler na Declaração da Conferência episcopal à Imprensa, de 22.02.2018.

A conferência episcopal fez uso do artigo 844 §4 (*) do CDC (código de direito canónico) determinando a elaboração de um “guia” para orientação da recepção da Comunhão para cônjuges católicos e protestantes que depois será ou não aplicada por cada bispo na sua diocese!

Assim, o cônjuge protestante que “afirme a fé da Igreja Católica” no que toca à Eucaristia, poderia receber a comunhão (depois de um exame de consciência sério” sob a guia de um sacerdote a pessoa delegada para o facto. O que antes o Direito Canónico possibilitava aos protestantes em perigo de morte é agora alargado à decisão acreditada da consciência individual.

O Cardeal Reinhart Marx esclareceu que esta regulamentação se limita a casos individuais e sob certas condições, pois não existe sobre o assunto uma solução geral ou dogmática. As decisões são tomadas nas comunidades locais.

O facto de as igrejas protestantes não pertencerem às “igrejas apostólicas” constituía grande impedimento à participação conjunta na Eucaristia.

Os bispos alemães fizeram uso do discernimento episcopal que o CDC lhes concede e da Exortação “Alegria do Amor” do Papa Francisco. A Amoris Laetitia alarga as competências dos bispos.

A situação, de uma Alemanha em que a cristandade é composta, meio por meio, de católicos e protestantes, motiva os bispos alemães a considerarem o problema da intercomunhão como uma “necessidade grave” prevista no CDC. A excepção é alargada. Um assunto sibilino, a nível de interpretação.

A iniciativa dos bispos, preocupados em dar resposta às necessidades pastorais numa sociedade católico/protestante com muitos matrimónio mistos, é motivo de consternação e de espanto para muitos católicos, em regiões, fora da Alemanha, religiosamente mais homogéneas.

Tudo isto não é tão inocente como parece, atendendo ao facto de a Igreja alemã se caracterizar por uma certa convivência natural entre religião e secularismo e se reservar para ela, em colaboração com o Estado, na imposição do imposto religioso a membros. Isto não é, porém, critério suficiente para contrariar a preocupação dos bispos alemães.

Importante será a missão de preservar a unidade da fé na Igreja Católica embora muitos receiem que corre o perigo de se protestantizar. A fé cristã concreta também não se deixa demarcar por linhas fronteiriças de católicos e protestantes. Ela segue, na prática, mais a intuição do que dogmas, independentemente de os povos latinos acentuarem mais a Cruz e os alemães acentuarem mais a Ressurreição.

Os dogmatistas e pastoralistas não deveriam puxar demasiadamente o elástico da argumentação até ao ponto de aqueles exigirem que o cônjuge protestante se declare 100% católico (neste caso surgiria uma outra situação a nível conjugal e em relação aos impostos).

Uma certa ambiguidade também pode ser um instrumento prático, importante e útil para resolver certos problemas provenientes da relação do sagrado e do profano, da relação crente-instituição e de assuntos ecuménicos.

Tudo isto poderá dar oportunidade para aprofundar espiritualidades e aquilo em que se presume crer.

Sem deixar de atender e de responder a necessidades concretas, urge não perder a apostolicidade, doutro modo reduziríamos o sacerdócio a uma mera actividade de assistentes sociais (pastorais). O perigo do relativismo e de influências ideológicas não se deixa facilmente evitar.

Não se trata de compatibilizar só a doutrina com a realidade sociológica, mas sobretudo de aprofundar o que se encontra por trás do mistério da eucaristia que deve permanecer mistério sem ser reduzido a um mito que se esgote na simbologia; para isso é preciso uma catequese mais adulta e aprofundada não dirigida apenas ao conhecimento.

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo,

 

(*) O DC também permite a administração de alguns sacramentos a pessoas de outra confissão; concretamente: «Art.º. 844.4. Se houver perigo de morte ou, a juízo do Bispo diocesano ou da Conferência Episcopal, ou urge uma outra necessidade séria, os ministros católicos podem, licitamente, administrar esses mesmos sacramentos também a outros cristãos que não estejam em plena comunhão com a Igreja Católicos, desde que não tenham acesso a um ministro de sua própria comunidade e o solicitem espontaneamente, desde que professem a fé católica com respeito a esses sacramentos e estejam bem-dispostos “.

 

Em Unitatis redintegratio, nº 8 também se diferencia: “A importância da unidade normalmente proíbe a comunicação. A aquisição da graça às vezes o recomenda.” A autoridade episcopal local deve determinar com prudência a maneira de atuar em concreto, tendo em consideração as circunstâncias do tempo, lugar e pessoas, a não ser que a Conferência episcopal, de acordo com seus próprios estatutos, ou a Santa Sé disponham de outra forma. “