CULTURA DA RECORDAÇÃO – LEMBRANÇA DO HOLOCAUSTO

É injusta a sociedade que só comemora os heróis

António Justo
Ontem, 27.01- Dia Internacional da Lembrança do Holocausto – o parlamento alemão dedicou uma hora comemorativa às vítimas do socialismo nazi. Em Buchenwald também houve um evento comemorativo. Também foram lembradas as vítimas nos campos de concentração de Auschwitz (Polónia) e Theresienstadt (Chéquia).

Sempre admirei na Alemanha a cultura da memória; não recalca nem faz por esquecer as partes sombrias da sua história para assim manter viva a consci^^encia do perigo de violação da dignidade humana. Numa sociedade adulta, a lembrança não só dos heróis mas também das vítimas e dos humildes não prescrevem com o tempo. Quem recorda apenas os heróis prolonga o culto mas não desenvolve a cultura.
Sem uma cultura da recordação torna-se mais fácil justificar actos de desumanidade que se encontram sempre latentes em cada pessoa e em cada sociedade. Num tempo em que um nacionalismo exagerado se espalha é importante lembrar-se que das palavras se passa às obras e palavras da violência e da segregação se transformam facilmente em armas.

Os factos

A 27.01.1945 soldados das brigadas vermelhas libertaram 7.500 prisioneiros sobreviventes de Auschwitz-Birkenau.

Até à libertação, através dos americanos em 11.04.1945, o regime nazi tinha deportado 250.000 pessoas de 36 países para Buchenwald. Cerca de 56.000 morreram de fome, frio, ou na sequência de trabalhos forçados e outros foram assassinados em experimentações médicas ou morreram nas marchas da morte. 21.000 conseguiram a libertação.

De 1946 até 1950, as tropas da ocupação soviética usaram este campo de concentração para 28.000 funcionários nazis e mais tarde também para denunciados e anticomunistas; cerca de 7.100 morreram (HNA 28.01).

De lamentar é o facto de tais celebrações serem, por vezes, usadas para atacar alguém ou alguma organização.

Uma sociedade que só comemora os seus heróis é injusta. Sofreria de cinismo uma sociedade que recordasse apenas as vítimas do nazismo e recalcasse as vítimas do estalinismo. É imoral um regime que mistifica os seus actos e eleva as suas virtudes à custa da afirmação dos defeitos dos outros.
©António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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