O Homem ao procurar Deus descobre-se a si mesmo. Quando o Homem Adão se escondia de Deus, Deus perguntava-lhe “Adão onde estás?” Este jogo do mito de Adão e Eva repetimo-lo ontem e hoje e repeti-lo-emos amanhã e depois. Trazemos connosco o gene divino e para nos definirmos procurámo-lo também fora.
O estudo da fenomenologia das religiões torna-se muito útil. O estudo comparativo das religiões, sob o método da exegese que se aplica no estudo da Bíblia, ajuda a descobrir as diferentes filosofias, antropologias e sociologias a que a correspondente divindade dá forma.
A História das religiões é evolutiva e corresponde à História do Homem e da correspondente cultura num processo recíproco de identificação individual e cultural; o mesmo se diga na tentativa de se definir o ser humano e Deus. A teologia está consciente de que o falar sobre Deus é uma tentativa de definir e encontrar a própria ipseidade e que revela mais o ser humano que Deus! Daí a constatação bíblica do “homem criado à imagem e semelhança de Deus” num processo relacional com a consequente proibição de se elaborarem imagens de Deus. A crença ou não crença em Deus e o falar dela mais que a essência de Deus revela a necessidade do crente ou do ateu de se definir em relação ao outro, ou ao totalmente outro. Cada antropologia, cada sociologia precisa de factores de identificação específicos que a formem e expressem.
Hoje, em determinadas sociedades que se encontram em período de decadência assiste-se a uma tendência niilista de desidentificação que leva ao perigo da arbitrariedade e ao equívoco de se confundir o estar com o ser. Não podemos ter linguagem sem gramática embora seja importantíssimo não identificar uma com a outra. Tanto a pessoa como a cultura implicam narrativas, um conteúdo em diferentes textos. O ser humano sem o mistério permaneceria no estado de bicho. O discurso controverso é a sua chance!
António da Cunha Duarte Justo
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