Saramago no Paraíso dos Ateus

A Luta é a mesma só as espadas é que são diferentes!

Para Saramago o mundo seria mais pacífico se fosse ateu! Talvez se refira à paz dos cemitérios, ou já se esqueceu das barbaridades executados no século passado em nome do socialismo ateu, do nacionalismo, do racismo, da ciência, dum certo iluminismo, que bateram todos os recordes da História.
José Saramago escreve bem mas não é suficiente. Não chega escrever bem, também é preciso pensar mais e mergulhar na sabedoria do mundo para a tornar visível. Não basta chegar-se às “honras dos altares” e depois viver-se dos devotos ou estar-se à disposição de interesses políticos de forma camuflada servindo morais tão dúbias como aqueles que critica na “cassete” contra a Igreja.
Do alto do seu palco Nobel pode aproveitar para atirar as suas farpas e servir mesmo de cavalo de tiro para muitos envergonhados ou sorrateiros que em nome da literatura procuram levar a brasa à sua sardinha! Esta tem sido a táctica de muitos iluminados enredados por essa Europa fora através de grupos discretos com assento nas capelas dos Governos e na “Roma Nobel”. Sempre nas cruzadas, ou melhor, nas turradas entre curro e a praça, em que o touro é a nação e o povo é bancada. Trata-se de difamar a cultura nacional ou europeia em nome da descultura. É ainda a hora da desaculturação para chegarem à desculturação, em nome do internacionalismo e da razão francesa iluminada. Querem só luz sem lâmpada, pretendem um humanismo sem Homem. Por outro lado fomentam um povo religioso mas sem Deus; a devoção é imprescindível é mesmo o óleo na engrenagem dum poder em que Deus estorva.
Sob o palio Nobel, Saramago proclama a guerra santa contra o mundo dos cruzados e contra um cristianismo que o incomoda, mas de que continua obsessivamente dependente. Este é para ele uma insónia de povo com odores de cristão a que reage distanciando-se, como filho ingrato, duma cultura que lhe deu o ser. Deforma o passado comprazendo-se em desenterrar os mortos como se o presente não tivesse males suficientes em que se pudesse deleitar. De cadeado atado ao comunismo, filho pródigo do cristianismo, berra a sua fúria ao céu dos seus seguidores numa tentativa desesperada de legitimar o seu marxismo ateísta.
Naturalmente que não quero estragar a imagem deste santo necessário nos devocionários comunistas ou socialistas marxistas. O que é ilegítimo é que ele transforme tudo em tapete para a sua ideologia. É mais fácil falar dum passado que não entende e deformá-lo do que encarar o presente de que vive. Ao falar-se mal dos distantes desviam-se os cães de caça da própria fazenda.
Ultimamente Saramago disse em Turim “ O mundo seria mais pacífico se nós fossemos todos ateus”. Este acto de fé dum pretenso ateu peca do pecado original crónico da hegemonia. É que o mundo é diverso e a diferença é o dado mais evidente na natureza, o que o senhor Saramago (não digo senhor José, para o diferenciar) não quer aceitar. O homem ateu e o homem religioso participam da bondade e da maldade comum. A esperança comunista numa sociedade ateia e sem religião, em que a única devoção permitida era a devoção política, foi-se pela água abaixo com a queda da União Soviética que tinha em poucos anos conseguido, na barbaridade, arrumar a Idade Média para um canto.
Talvez por isso Saramago continua “eu próprio sou ateísta, mas eu creio, que se houver Deus então tem de ser só um Deus e para todos o mesmo”. José Saramago, aqui deixou o rabo bem de fora! E aqui é que está a diferença entre comunismo e cristianismo, entre uma sociedade fechada e uma sociedade aberta. Enquanto que para o mundo cristão todo o ser humano é feito à imagem de Deus, o senhor Saramago quer um deus despótico à imagem dele (Saramago), um ídolo. Aqui se distanciam Saramago e o comunismo do povo, da pessoa humana e do cristianismo. Querem tudo igual à sua ideologia esquecendo que o rosto de todo o ser humano seja ele cristão ou ateu é imagem de Deus e na diferença se reconhece o divino. O que perturba muito boa gente é o facto da proibição bíblica de se fazer uma imagem de Deus e o facto de ela elevar a pessoa à condição de filha de Deus, de Jesus Cristo. Para o cristão, o outro, o cristão anónimo, cada pessoa é um absoluto e não apenas um mero indivíduo. Deus já era povo antes do comunismo mas não era ditador e aqui é que está o busílis da arte de governar. Se o povo Judaico vive e viverá, é pelo facto de não ter deixado de ser povo e este manteve-se em torno do seu Deus e da sua bíblia. O mesmo se poderá dizer do cristianismo e da cultura cristã. Naturalmente que tudo é processo dinâmico. A fórmula da unidade na diferença conseguiu-a a sabedoria cristã na doutrina da trindade. Esta porém corresponderá a uma espiritualidade em fermentação que remonta aos primeiros séculos da Igreja se segue na mística e em Teilhard de Chardin.
Saramago gostaria de um Deus Allah longínquo mais disciplinador e subjugador em que a liberdade individual é um vício e a pessoa está em função do grupo, um religião política; gostaria de nos ver todos muçulmanos mas graças a Deus que os cristãos cometeram o pecado das cruzadas a quem devemos o ser português.
Na apologia do seu mundo sem Deus acrescenta: “As religiões nunca contribuíram para que as pessoas se aproximassem umas das outras”. Mais um acto de fé ideológica sem Deus nem História. Se tivesse estado um pouco atento nas aulas de antropologia e de sociologia certamente que se tinha dado conta de que a imagem de Deus e da pessoa estão intrinsecamente ligadas ao processo de formação individual e cultural!… Há uma inter-relação condicionante. Isto independentemente da questão pontual ontológica de Deus. A ética do Sermão da Montanha, do amor ao próximo, da dignidade divina do ser humano, da justiça embora lhe passasse um pouco desapercebida deixou rastos atormentando-o na sua acção política. Naturalmente que nos dias de hoje o islamismo descredita as religiões tal como aconteceu com o comunismo.
O problema fundamental que está por detrás das insuficiências religiosas, científicas, políticas, ateístas, fascistas, comunistas é que, todos, em nome da raça, da nação, do povo, da ciência ou de Deus partem dum estado de consciência dialéctico baseado no espírito grego e dualista persa que apreendem a realidade sob a perspectiva de dois princípios antagónicos, dialéticos, quando a fórmula da realidade trinitária é polar e integradora não sendo exclusiva nem dicotómica. O indivíduo e o todo, Deus e a matéria não se opõem mas constituem um todo relacional em que 1 é igual a três salvaguardando-se a individualidade pessoal e a comunidade (Eu-Tu-Nós; Pai-Filho-Espírito Santo, Deus-Matéria-Vida). Nesta fórmula a luta continua mas não é exclusiva e nela há lugar também para gurus e principiantes, “bons” e “maus”. Não há mera exclusão ou negação, há complementação relacional na aceitação da diferença e da igualdade. Ser tudo em todos. Este é o melhor paradigma, o melhor programa!

António da Cunha Duarte Justo

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

5 comentários em “Saramago no Paraíso dos Ateus”

  1. Junto tomadas de posição em “Comunidades”:
    Comentários:
    Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-25
    Réplica
    Dr. David Trier
    Muito agradecido pela erudita tomada de posição.
    Acharia mais adequado o comentário se se tivesse ficado pela análise das crenças e não da obra literária que não questionei. Compreendo a intenção de querer situar Saramago.
    O problema está precisamente nas excursões “extracurriculares” que Saramago fez ao ser questionado por jornalistas com perguntas de gancho.
    É claro que cada texto tem o seu contexto! E opiniões venham donde vierem, podem tornar-se redutoras do pensamento.
    O contexto em que Saramago se pronunciou não foi o literário. À questão colocada pelos jornalistas relativas ao Dschihad e ao Papa ele faz uma afirmação categórica universal e redutora. Naturalmente que é legítimo que ele acredite que a crença do ateísta é melhor que a crença do teísta é uma questão de perspectiva.Liberdade de crença é um direito humano reconhecido no mundo ocidental. O problema foi a sua afirmação dogmática geral do cimo do pedestal da literatura em matéria que certamente o transcende ou melhor, em que se deveria pressupor um mínimo de razão humana sã. O fundamento da sua crença não pode ser baseada na não razão do adversário declarado. Sob uma visão perspectivista as crenças dogmáticas seculares ou religiosas não são mais nem menos que as crenças científicas (Teorias).
    Quem semeia ventos colhe tempestades. Saramago não pode esconder o seu escudo sob o nevoeiro literário. Assim como se não pode admitir que a religião sirva de fachada para em seu nome se fazer guerra, também ninguém se deve apoderar da literatura para em seu nome e imune organizar os seus combates. Se aqueles falsificam a religião estes desonram a literatura. Uns e outros usam as mesmas encenações para conquistarem os seus soldados. O que se questiona aqui são os dogmas! Naturalmente se sou atacado como religioso tenho que me defender (provisoriamente) como religioso; se sou atacado como ateu terei de me defender como ateu!…
    Compreendo o alcance da obra de Saramago embora, para mim ela comungue do mesmo defeito de nascença do espírito que ele critica. Muitas coisas, que ele tão bem diz, lança-as depois em sentenças dogmáticas para os fiéis, clientes de boca aberta às palavras de vida eterna dos santos. O problema não está tanto no santo mas nos fiéis indefesos que sorvem as suas palavras de vida eterna, que questionei! O dogma, e a verdade científica (teoria) não são mais que condensados expressos em determinado espaço-tempo. Não são dados estáticos!…
    Se é verdade que ele está consciente dos massacres feitos em nome das causas seculares, porque é que os não equaciona em termos literários, enquanto que ele se limita a referi-los apenas à margem, ao contrário do que fez com a cultura cristã? Para o ataque usa a literatura e para se defender usa apenas o comentário. A questão é de raiz e Saramago sabe bem que com nozes e bolos se enganam os tolos. Dá-se um curto-circuito no seu pensamento ao responsabilizar o cristianismo pela violência havida na civilização cristã. Eu não questiono a crítica o que questiono é que certos literatos e certos pensadores racionalistas e materialistas só sejam conscientes do esterco que o cristianismo traz nos sapatos não considerando o seu corpo. No meu pensar, a nossa cultura precisa é de reformadores e de restauradores e não de aniquiladores. Nada se cria do nada, a não ser no sentido bíblico.
    Naturalmente que a liberdade da arte é de respeitar. Esta porte não é a verdade na qual a sociedade se possa construir. Nem os sonhos frustrados que estão por trás duma revolução francesa nem a queda do socialismo real soviético são suficientes para justificarem a vingança intelectual contra o cristianismo, que não conhecem.
    O credo duma certa facção maçónica numa sociedade uniforme e o desejo de um Deus justo segundo a concepção muçulmana de transcendência absoluta é incompatível com a natureza humana tendo como consequência uma sociedade submissa a uma ideologia hegemónica totalitária marxista ou religiosa. A auto-projecção subjectiva conduz à objectividade dum absoluto alérgico à diferença do real, a um outro dialogal, não suportando consequentemente a personalidade responsável. A realidade social e natural assenta na diferença à imagem do Deus trinitário plural e diferente na personificação…
    Sim, a sociedade aberta valoriza a subjectividade enquanto que a fechada a institucionaliza. A metáfora é a sombra do “dogma” e uma alavanca para a criatividade.
    É verdade que Sramago não se pode reduzir ao texto e eu diria mesmo nem tão-pouco ao seu contexto. Ele, em Turim, tal como na sua obra tenta descontextualizar a a cristandade do cristianismo descontextualizando o ser humano cristão das suas manifestações, religiosas, seculares, políticas, sem ter em conta o carácter paradoxal humano e social. Ser e estar são confundidos e descritos de maneira mono – causal.
    Sim, é verdade que a opinião pública vive mais do “extracurricular” e que os seus actores se servem disso também colocando-se eles próprios em becos sem saída. Muitas vezes os autores servem-se de “extracurriculares” provocantes para fomentar o negócio da compra dos livros. Espicaçam o povo para que compre e comente. Arriscam o prestígio em honra do enriquecimento e duma ideologia assegurando assim a venda da obra. (A mesma estratégia segue Gunter Grass). O destino é que muitas vezes essas obras não chegam a ser compreendidas, se não é que não passam de enfeites de prateleiras.
    Tenho a impressão que Saramago ao combater o cristianismo combate contra o que está nele mesmo (Saramago), no seu interior.
    Dr. David Frier, tenho muita consideração pelo que escreveu mas também não será justo se não apontar para as fraquezas do sistema Saramago que se arroga o direito de arrumar com o Cristianismo para o caixote do lixo, inconsciente duma realidade intrínseca ao cristianismo que vai muito para lá da sua crítica..
    No tal “dogma “ cristão da trindade se encontra a mais radical relatividade!
    Atenciosamente
    António Justo
    Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-25
    Prezados Amigos,

    Li com interesse as palavras de Antonio Justo (aqui em baixo) acerca dos comentarios feitos por Jose Saramago acerca da questao ateismo/ religiao em Turim, e penso que merecem algum comentario adicional.

    Primeiro, tenho de dizer que concordo plenamente com o colega Antonio Justo no sentido de que a simples abolicao das religioes todas nao resolveria os problemas da humanidade e nao acabava com as guerras. Tal como o proprio Jose Saramago mostra em alguns dos seus proprios romances (Memorial do Convento, Historia do Cerco de Lisboa, etc.), a religiao muitas vezes tem servido apenas como fachada para justificar os maleficios da humanidade, e, se nao tivessemos a religiao, com certeza seria facil encontrar outros pretextos para comecar guerras. Neste sentido, as palavras proferidas pelo escritor servem mais como provocacao do que como analise seria da situacao mundial actual.

    Nem por isso, porem, posso estar de acordo com todos os comentarios feitos aqui: primeiro, quando o autor deste texto lembra todos os massacres feitos em nome de causas seculares, o proprio Jose Saramago esta bem consciente dessa realidade, e indicou claramente por escrita varias vezes que os excessos cometidos (mesmo em nome do Comunismo) sao tao maus como os cometidos em nome doutra ideologia qualquer. Uma analise mais profunda da obra do escritor (sobretudo no caso dum romance como o Ensaio sobre a Cegueira) mostra que para ele o problema e a crenca dogmatica, seja qual for a coisa em que se acredita. Talvez se tenha exprimido mal aqui: eu nao ouvi os comentarios exactos do escritor, mas poderia citar varios passos dos escritos de Saramago em que reconhece os males feitos em nome das crencas seculares.

    Segundo, quando o Antonio Justo nos lembra da grande divida que Saramago tem para com a tradicao cultural judaico-crista, tem toda a razao. Mas outra vez o proprio Jose Saramago esta consciente disso e nunca negou o facto. Vejam-se aqui, por exemplo, as entrevistas oferecidas aquando da publicacao de O Evangelho Segundo Jesus Cristo.

    Mas o passo em que mais discordo e aquele em que o colega Antonio Justo escreve o seguinte:

    Talvez por isso Saramago continua “eu próprio sou ateísta, mas
    eu creio, que se houver Deus então tem de ser só um Deus e para todos o
    mesmo”. José Saramago, aqui deixou o rabo bem de fora! E aqui é que está
    a diferença entre comunismo e cristianismo, entre uma sociedade fechada
    e uma sociedade aberta. Enquanto que para o mundo cristão todo o ser
    humano é feito à imagem de Deus, o senhor Saramago quer um deus
    despótico à imagem dele (Saramago), um ídolo.

    Isto aqui e um grande passo… Eu nao vejo como e possivel entender (pelo menos das palavras citadas do escritor aqui) que ele quer que esse deus seja Jose Saramago ele mesmo. Tambem confesso nao perceber como isso leva o Antonio Justo a dizer que este facto mostra a diferenca entre uma sociedade aberta e outra fechada. E tambem nao vejo como e possivel declarar:

    Saramago gostaria de um Deus Allah longínquo mais
    disciplinador e subjugador em que a liberdade individual é um vício e a
    pessoa está em função do grupo, um religião política; gostaria de nos
    ver todos muçulmanos mas graças a Deus que os cristãos cometeram o
    pecado das cruzadas a quem devemos o ser português.

    Devo supor aqui que essa referencia ao escritor querer um Deus Allah deve ser entendido num sentido metaforico? Num sentido literal nao pode ser dito a serio (vejam-se os comentarios de Saramago depois dos atentados a Nova Iorque em Setembro de 2001). Sera uma metafora por um estado e um sistema todopoderoso como na antiga Uniao Sovietica? Mas tambem nao vejo como e possivel aqui introduzir o conceito da nacionalidade. Obviamente o cristianismo tem tido sempre um papel importante em Portugal. Mas o Islao nao tera tido tambem o seu papel? E o ser-se portugues deve ser confundido com o ser-se cristao? Onde e que isso deixa os portugueses que nao acreditam no Deus cristao? Sem passaporte portugues? A nocao de Portugalidade seria diferente do que e sem os efeitos do cristianismo, concordo – mas nao haveria Portugal?? Ou sera que o Antonio Justo esta a dizer que o Saramago quer um mundo em que todos pensemos de maneira igual. Se isto e o que pensa, rogo-lhe que releia A Caverna e que pense no aproveitamento do simbolismo platonico nessa obra.

    No fundo (e nao querendo criar a minha propria polemica aqui), penso que um dos problemas com comentarios como os que fez Saramago em Turim pode ser que muitas vezes se pedem essas opinioes sobre todo tipo de coisas a pessoas (como Saramago) cuja especializacao nao esta na area vertente. E depois e que se citam comentarios breves (e nem sempre totalmente bem pensados) fora do contexto em que foram feitos. Assim, eu tenho a maior admiracao para a figura literaria de Jose Saramago (e dediquei varias publicacoes as obras dele). Mas assim como o escritor nao e nenhum teologo especialista, nao sera demasiado facil para os criticos (ao comentarem as palavras feitas em reunioes do tipo de Turim) querer interpretar as palavras dos escritores pelas manchetes em vez de as ver no contexto das correntes principais dos mesmos escritores? Eu estou convencido de que a propria obra saramaguiana demonstra ideias muito mais pertas das expostas pelo colega Antonio Justo do que ele talvez se de conta. E talvez o publico e os jornalistas nao deveriam mostrar tanto interesse por estes comentarios ‘extracurriculares’ dos escritores. Se alguns jornalistas tratam esses comentarios como se fossem a palavra de Deus, o problema ali e com os jornalistas e nao com o escritor, que tem todo o direito a ter as suas proprias opinioes.

    Obrigado, de todos modos, pelas ideias, mas penso que o que escreveu o colega Antonio Justo nem sempre foi totalmente justo com um escritor que tem uma imagem mais polemica do que a realidade intrinseca da obra produzida por Jose Saramago.

    Com os melhores cumprimentos,

    David Frier.
    Dr. David Frier,
    Senior Lecturer in Portuguese,
    University of Leeds,
    LS2 9JT,
    United Kingdom.
    Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-19
    Sobre a personalidade deste autor (Saramago) posso acrescentar o que escrevi no meu último livro (25 de Novembro; Os “Comandos” e o Combate pela Liberdade): «José Saramago tem toda a razão quando afirma que a revolução socialista ia morrer, com o contra-golpe de 25 de Novembro, pois assim, foi reposta a Democracia pluralista prometida pelo Programa do MFA, e acabou a perspectiva do processo revolucionário conduzir ao regime de partido único, que ele e o PCP defendiam» Também sobre este autor escrevi um artigo para a “Revista dos Combatentes” onde colaboro pontualmente, com o título “O saneamento de 24 jornalistas do DN e José Saramago”, onde descrevo o sucedido com estes seus camaradas de profissão, que foram expulsos sem justa causa, em Agosto de 1975. Este artigo termina deste modo: “A José Saramago, até hoje o único português com o prémio Nobel de Literatura, ficar-lhe-ia bem se conseguisse, à semelhança de Melo Antunes (descolonização), fazer a sua autocrítica em relação aos actos atentatórios dos mais elementares Direitos do Homem, de que é acusado ter praticado na Revolução Portuguesa, em 1975.
    Manuel Amaro Bernardo Escritor
    Estive ocupado…e resfriado – – – 2006-10-12
    Para o Dr. Justo e sua Esposa:

    Uma pessoa aposenta-se…e fica (gostosamente, claro!) ainda mais ocupado. Por isso – complementado com uma moleza da constipação… – só agora aqui vim e “confronto-me” com as palavras diversas a mim dirigidas. Que agradeço penhoradamente!
    Aos outros confrades já respondi por outro meio, estas palavras são directamente (é uma maneira de falar!) para o Dr. Justo e Esposa.
    Um dos exemplares da Agulha, o 45, foi integralmente ilustrado por mim. Também no TriploV, na “casa” que me diz parte, há muitas intervenções plásticas.
    Brevemente vai sair no Brasil (edição comercial “estrangeira”, o que me impede de fazer o que gosto – ter livros “a granel” para oferecer)na “Ed.Escrituras” c/ IPLB uma antologia de texto e pintura organizada e apresentada pelo poeta Floriano Martins.
    …Dizendo isto, de repente surge-me como meditação importante uma ideia na cabeça: os bárbaros não prevalecerão enquanto houver deste nosso lado a possibilidade de dialogarmos assim espontaneamente, sem que o estivéssemos a premeditar!
    nicolau saião
    – – – 2006-10-11
    De forma breve, porque só hoje consegui ler esta discussão em torno de Saramago e para além (felizmente) de Saramago, quero apenas registar a minha satisfação pela forma como decorreu. Isto prova que, neste país, ainda há homens e mulheres que saber intercambiar ideias em partirem logo para o insulto ou para o ataque melífluo ou soez. Outra coisa não esperava de um cidadão com a estrutura de Nicolau Saião ou de um teólogo como António Justo. Apraz-me juntar-lhes Luís Costa, que mostrou ser uma pessoa de bem.
    Ruy Ventura
    Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-09

  2. Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-09
    Senhor Gabriel Cipriano
    Obrigado não pelo Ámen mas pelo que disse. Até porque o discordar é salutar e se discordar não é fruto do pensar é pelo menos o seu começo! Como o senhor diz muitas coisas acertadas, permito-me eu pegar na deixa para explicar a parte que do meu ponto de vista é criticável em Saramago. Para mim a arte não se pode reduzir a documento do tempo mas transcendê-lo. Além disso Saramago em vez de se preocupar pelo menos com a restauracao da cultura ocidental que sofre ainda a desacredita mais rebatendo lugares comuns.
    Naturalmente que eu parto da premissa de que o Ocidente se encontra num estado já crónico de doença e que a nossa cultura se encontra já num estado crítico, não já a economia ocidental – o que para muitos chega! De resto reina o espírito acomodado, vivendo nós sob a ameaça de voltarmos ao espírito amorfo que aquela grande mulher primeira, Eva soube vencer não tendo medo de arriscar questionar aquele Deus que parecia querer tudo para Ele. E nós os bons agora acomodados cada um na sua manjedoura seja ela religiosa, partidária, ateia, administrativa ou universitária, porque de barriga cheia não notamos o que está a acontecer a uma cultura, que explorámos e da qual ainda vivemos. Faz doer constatar que na Europa o pensar sério, quer académico, quer institucional vive sem intervenção abdicando cada vez mais de si mesmo vivendo como que em exílio nalguns nichos. Parece que só o que se traduz em moeda ou em géneros tem procura e é premiado. Prémios Nobel e outros funcionam muitas vezes como oficinas de reparação de sintomas. Cegos guiando outros cegos! De ano para ano se repetem os mesmos rituais e a sociedade vai-se distraindo com os seus santos, as suas estrelas numa tentativa de esquecer a vida, na consciência de que ao seguirem alguém não estão sós e que há direcção na sua caminhada. Aqueles que se sentem chamados a interferir na comunidade não podem satisfazer-se em deixar o mundo como é. Somos criadores e a criação depende de nós. Já vai sendo tempo de sairmos da festa carnavalesca (que também precisa dos seus tempos) e de nos darmos conta de que o barco em que seguimos é o Titanik…
    Naturalmente que devemos respeitar quem anda na festa mas não deveremos contentarmo-nos com ir atrás das canas dos foguetes…É verdade que estes costumam considerar derrotista, pessimista e de ingratos da nação a quem critica as elites da nação.
    Também não estou contra o sexo, que também aprecio muito, nem contra o comunismo, o ateísmo, o religiosismo, o que questiono é o espírito que lhe serve de substrato. De resto, todo o devoto merece o meu respeito e por vezes a minha compaixão.
    Não chegas sermos esclarecidos da obcecação do dia a dia. Não se trata de descer ou subir as escadas da vida. Trata-se de tentar ver o que está por detrás de tudo isto, também o que está por trás da nossa crença e da nossa descrença que em geral se identificam.
    Não chega ser apenas caçador por desporto; é preciso que a caça seja valorizada, tudo no sentido de servir o bem – comum e do desenvolvimento. Não podemos fazer das teorias da ideologia a teoria da realidade; esta é mais ampla. Mais que a concorrência partidária seria mais nobilitante uma concorrência dos conteúdos. Isto porque no pensar concorrente se neutralizam os conteúdos. Da discussão aberta nasce a luz.
    No fim de tudo o que importa é a pessoa e esta é sagrada e vale por ela independentemente da sua crença.
    António Justo
    António da Cunha Duarte Justo
    Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-09
    Já o dissemos antes, vamos repetir:somos portadores de preguiça mental,abominamos debates e se eles tomam o caminho de crenças,dogmas,teorias filosóficas,aí,danou-se,estamos fora. Meu caro Justo,não dispomos da perrogativa “dialética”,tão pouco gostamos dela,e nisso o mestre JUSTO é talentoso. Sendo misantropo e já ter passado algumas dezenas de vezes pela ante sala da morte,o coma,não nos dispomos a discutir o tema “ateu”. Estivemos lá,não tem nada lá,voltamos e dizemos:ninguém é palerma por que quer, e sim por que gosta.Diante da iniquidade, que a vida oferece,devemos vive-la intensamente e é o que fazemos – mulherio,umas farritas,sempre com elas,muita alegria,alegria,alegria… e por isso cantamos o LA>LA.>LA Há tempos visitamos seu site,gostamos.Às vezes lemos quem escreve “sério”,você escreve “sério”,Potêncio,escreeve “sério”,mas está fora de seu habitat,o que não é seu caso,quando falamos de seu site. Finalizando,desejavamos pedir-lhe uma coisinha – não use tanto o preconceito, anti comunista,muitos não sabem,mas JUSTO,por ser justo, sabe que é feio… Na paz e pela Paz. Amém
    Portugalclub
    Voltei agora – – – 2006-10-08
    Ao prezado Senhor Luís Costa:

    Voltei agora dum outra terra aqui próxima, na qual tenho uma casita onde costuma passar fins-de-semana e vi a sua fraternal referência a meu respeito. Peço indulgencia ao Dr. António Justo, cujo blog conheci através do poeta Ruy Ventura – e logo verifiquei que estava a contas com um espaço de muito interesse, pelo qual o felicito vivamente (trata-se, a meu ver, dum trabalho sinérgico e pedagógico no melhor sentido) – para incluir este pequeno comentário:
    Eu procuro ser, a exemplo do que dizia André Coyné citando o escritor Dominique de Roux, alguém que “vai acendendo pequenos lumes”, não com o intuito de incendiar mas sim de iluminar na medida das minhas possibilidades. Daí o que faço, já na poesia, já no resto da minha actividade. Considero-me feliz, neste caso vertente, por através dos comentários que aqui incluí ter estabelecido um contacto cordial com o Sr. Luís Costa, pelas razões que já referi. É sempre grato tal suceder com pessoas de boamente.
    Quero acrescentar que não tem, por quem é, de pedir desculpa por não me conhecer previamente! É natural, tanto mais que a divulgação no nosso país está sujeita, muitas vezes e por razões que decorrem do país em si, a factores diversos, nomeadamente o “milieu” literário ser por vezes controlado por gente que procura afastar, impedir e por vezes até interditar (já me sucedeu, bem como a outros confrades)os que são heterodoxos ou cujas obras contestam um “establishment” orientado. Isso é feito em ordem a conferir a essa gente mais espaço de manobra. Creio que me faço entender…
    Mas tal é trabalho um pouco baldado, as coisas acabam por vir ao de cima. No meu caso,para além de no Brasil e em Espanha eu ter sempre tido espaço aberto (como constatou) também cá se vai a pouco e pouco podendo falar e aparecer com os eventuais talentos que se tenham.
    Nesta perspectiva, assim me tem sucedido. No fundo, é um direito democrático.
    Foi nos anos 80 que conheci e fiz coisas no nosso ramo com o Mário Cesariny. E com outros, também credores da minha muita estima: Mário de Oliveira, Carlos Martins, Henrique Madeira, José do Carmo Francisco, Carlos Pinhão, etc. (de várias proveniencias ideológicas e filosóficas, o que nos movia era o amor à cultura viva e não se estabelecía distinções de pensamento ou opção).
    Depois veio o contacto com outros, que foram importantes para a minha caminhada: o já citado Ruy Ventura – recomendo-lhe vivamente, se puder, a leitura deste poeta, que é muito bom – Levi Condinho, João Orlando Travanca-Rego (infelizmente já falecido), Nuno Rebocho, os brasileiros Floriano Martins, Soares Feitosa e Claudio Willer, o espanhol Antonio Sáez Delgado, etc.
    E assim se vai cumprindo a vida, neste caso literária, a que procuro dar um cunho de verdade, diria mesmo de serviço – na expressão que lhe dava um outro homem que conheci, que frequentei e que muito estimei, Agostinho da Silva.
    Uma das coisas que me dá muito gosto é hoje poder exprimir o que penso e o que sinto em diversas páginas interactivas, como o Jornal de Poesia onde penso que leu o poema a que alude, referente a Fernando Pessoa, bem assim como no TriploV (de Maria Estela Guedes e José Augusto Mourão) ou na Agulha brasileira (F.Martins/C. Willer) e no Arquivo de Renato Suttana. Falo nisto principalmente para referir que há lá coisas muito boas de outros autores, que decerto gostará de ler.
    …Não sei – digo isto contrariando-o cordialmente – se o Sr. Luís Costa é poeta só para gaveta, se calhar tem coisas melhores que alguns divulgados. No entanto, isto sei: é que é poeta mesmo, uma pessoa que ama assim a literatura não pode deixar de o ser. E isso é por vezes mais, muito mais importante do que andar-se em foco mediante escritas publicadas mas não se ter disponibilidade interior e recta intenção como o senhor claramente tem. Digo isto sem querer ser “bonzinho”, é o que penso mesmo, muita vezes o escrevi já.
    Creio que mais ou menos aludi a tudo o que vinha dito no seu comentário, se assim não foi perdoe.

    Com estima e pedindo desculpa ao Dr. Justo o espeço que tomei, fica o
    NS
    nicolau saião
    PARA O SENHOR SAIÃO – – – 2006-10-08
    Senhor Justo,

    com todo o respeito,

    deixe-me aproveitar este seu blog só para dizer ao senhor Nicolau Saião, que lhe peço desculpa por não o conhecer,( é a minha falta de cultura ). No entanto hoje tratei de saber quem era este homem que tanto me impressionou e descobri que ele é um poeta ( como eu, porém um poeta genuíno, de nome, enquanto eu sou um simples poeta de gaveta ) e pintor e actor /declamador e também tradutor . Além de outros, como pude ler, traduziu o Benjamin Péret, poeta surrealista, que também muito admiro
    Fiquei também maravilhado por saber que expôs com Mário cesariny ,(poeta/pintor)um dos meus poetas portugueses favoritos, expoente máximo do surrealismo português.
    Tive também mesmo agora o prazer de ler alguns dos seus poemas, inseridos no JORNAL DE POESIA na net.
    O TABLEAU I e II, impressionaram-me. Se não estou em errro, nota-se aqui toda uma técnica surrealista e do surrealismo fui eu sempre um grande admirador. Gostei muito daquela passagem ( Tableaux II ) :
    “Octavio Paz nunca será criado de café na Brasileira. Hoje ser-vem-se da poesia para esmagar a poesia. “
    Senhor Saião receba os meus respeitosos cumprimentos:

    Luís Costa
    Luís Costa
    AGRADECIMENTO – – – 2006-10-07
    Senhor Justo,

    agradeço as suas palavras e se aprendeu alguma coisa com o diálogo travado entre mim e o senhor Saião, então, só por isso,já valeu a pena travar este diálogo.
    Peço-lhe, no entanto, desculpa se fiz demasiado uso deste espaço, o seu blog, para travar este diálogo. Não conheço pessoalmente o senhor Saião, mas fiquei a gostar dele.
    Pelas palavras, que dele ,tive a honra de ler, tenho a certeza que deve ser um homem de espírito nobre, coisa rara neste nosso tempo .

    Mais uma vez muito obrigado.

    Receba os meus cumprimentos:

    Luís Costa
    Luís Costa
    Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-07
    Prezado Nicolau Saião!
    Prezado Luís Costa!

    Gostei e aprendi com o vosso diálogo.
    Gostei daquela frase resultante dum espírito mais analítico, de Nicolau Sião que ao falar de Saramago o resume e caracteriza na seguinte afirmação suscinta: ”lirismo datado e um pouco requentado”. Penso que de facto ele na literatura, é nem mais nem menos que um documento do seu tempo, portanto um testemunho apenas dum tempo limitado. Quanto ao “requentado” porque ele é um entre outros do século XX, ressalvando-se o seu estilo próprio e inconfundível!
    Gostei também daquela frase que revela um espírito mais místico, de Luís Costa quando se refere ao “aprender a ouvir o silêncio das coisas”. Também eu acordo muitas vezes nessa contemplação constatando com uma certa sombra que o que mais me impede disso é um certo barulho académico que interiorizei em mim mas que também significa uma certa catársis: a tal dúvida metódica!
    Quanto à diferenciadora observação de Nicolau Saião de ter qualificado Saramago de surrealista ressalvo que me referia especialmente a um certo surrealismo do seu livro ”Ensaio sobre a Cegueira” onde para lá do realismo, sonho e realidade se amalgamam de tal modo que se confundem. Não me referia ao surrealismo no sentido de André Breton na sua concepção revolucionária anarquista do mundo e da arte.
    Atenciosamente
    António Justo
    António da Cunha Duarte Justo
    Pode, sim, caro amigo – – – 2006-10-06
    Só para dizer sucintamente e com apreço ao Sr. Luís Costa que pode, sim senhor, chamar-me amigo. E isto porque se percebe no que escreve que é uma pessoa de bem, amando genuinamente a Cultura viva – é evidente e peço-lhe que não veja no que lhe disse a mínima hostilidade. (Creio que não a tive).
    Digo também que quando falei em relativismo não me referia, como parece que transpareceu, a si, faça-me a justiça de acreditar que sou incapaz dessas alfinetadas. Como notará se reler, faço alusão sim a gentes ínvias (geralmente em altos postos ou orientadores de opinião) que buscam “controlar” o nosso imaginário.
    Congratulo-me por o meu amigo amar a poesia e a escrita, isso é um grande bem – e quem lhe diz isto é um tipo (talvez até saiba disso, pois é público) que esteve preso duas vezes e levou muito cascudo por reivindicar esse amor desses continentes. (Ainda continuo, por vezes, a levar na cabecinha, agora ao menos metaforicamente, por persistir nisso).
    Saudações cordiais e peço desculpa aos intervenientes deste blog se usei em demasia o privilégio dos comentários! NS
    nicolau saião
    Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-06
    Sim… sim… acho que devemos saudar – com muitos hurrás o Nobel Saramago. Devemos, sim. Por ser o primeiro Português em Literatura a receber o dito cujo.E por, de facto, ter criatividade no que escreve.
    Devemos até esquecer as suas diatribes, às vezes, quando fala. Devemos esquecer muitas outras coisas… esqueçamos então! Esqueçamos, por exemplo, que em 1974, quando dirigia o jornal “Diario de Notícias”, a mando de não sei que meandros da revolução… fez com que 24 Jornalistas fossem expulsos. Queria impôr uma certa censura. Queria uma certa forma… de fazer Jornalismo. Esses 24 sairam… e foram fazer um Jornal que, na altura, nem era grande coisa: “O Dia”. Mas… esqueçamos tudo isso. É bom esquecer! Passar uma esponja por sobre tudo.
    Carlos Serôdio
    Portugalclub
    Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-06
    Ao: Confrade (ou devo dizer Teólogo?!) Antonio Justo,

    Naquilo que me diz respeito nada tem que me agradecer, antes pelo contrário, eu é que devo render minhas homenagens pela sua lembrança de citar o meu nome nas suas assertivas.
    Quanto ao actual expoente maior da nossa lingua universal a todos, eu apenas decomponho pensamentos que me passam pela mente ao ler certas e determinadas arrazoadas (espero ter utilizado bem o verbete) como que para impor algo ao povo que vive debaixo dos impostores…
    Como todos os leitores sabem a minha dedução do adjectivo de quem cobra impostos é certamente um impostor!!!! (será????)
    Quanto à actual democracia do “Poder Saloio” (P.S.) eu a situaria aí por volta do ano 620 Antes de Cristo onde todos eram democratas desde que tivéssem no minimo uns 100 escravos a trabalhar para eles de graça….
    Tinha tanta graça que até dá vontade de rir!…
    Para não dizer mais,… sejamos então “xuxialistas” mas faze o que eu digo e não faças o que eu faço! Abraço
    Silvino Potêncio/Natal-Brasil – O home de Caravelas em busca do “azimute”!

  3. Um detalhe pequeno mas importante – – – 2006-10-06
    Para António Justo, esta precisão: refere que Saramago escreve romances surrealistas. Mas tal não é exacto, trata-se decerto duma imprecisão sua, talvez uma ironia interessante.
    Saramago nada tem a ver com o surrealismo, que aliás é hoje hostilizado, como o foi nos tempos mais chegados, pelos próceres estalinistas ou os “comunistas” que sobraram da hecatombe, da implosão.
    No passado, por ainda não estarem bem separadas as águas e os primeiros tempos surreais terem nascido entre a repressão e a putativa revolução, houve de facto surrealistas que aderiram ou tentaram conciliar marxismo com surrealismo – e alguns pagaram-no bem caro. Ingenuidade? Ilusão devido ao “jogo de espelhos” que se agitava em torno? Talvez…
    Mas a realidade actual é que o surrealismo está nos antípodas do “comunismo”, como Saramago está nos do surrealismo.
    Que procura ser um espaço de liberdade e de poesia sem fronteiras nefandas.
    Para certificar, leiam-se os textos dados a lume no TriploV (secção “Surrealismo”)por exemplo e ficará feita a constatação.
    Cordialmente, NS
    nicolau saião
    Relativismo…é mau. – – – 2006-10-05
    Como me disse e eu concordei – mas chamando-lhe a atenção para o facto de que a subjectividade, num conceito amplo, tanto vive a norte como a sul (isto dito de forma simbólica) – as opiniões e as sensações são um facto pessoal e intransmissível. Assentemos nisto, para facilitar a análise. Agora, penetremos mais um pouco em profundidade: uns autores dão-nos de imediato uma sensação de plenitude (e estou a falar em leitores cultos, como o senhor evidentemente é, não em cidadãos – aliás credores do nosso respeito como seres humanos – em que a sensação de plenitude se atinge mediante a visão do Levanta-te e Ri ou dos livros da dona Margarida)de acordo com as nossas vivencias, o nosso equilíbrio intelectual e mesmo emocional, a nossa sensibilidade, a nossa imaginação, etc., que se irmanam, entram em contacto com a qualidade do autor. Desse contacto, o “clic” como lhe chama o poeta António Luís Moita, um dos poetas de qualidade do nosso tempo, surge então algo que nos eleva, ilumina, enriquece como pessoas e como seres formados de carne mas também de espírito – que segundo uma asserção muito conhecida “sopra onde quer” e a que outros chamam alma, ou seja: esse conjunto de coisas imateriais mas muito reais que nos fazem viajar “sem norte e sem estrela/através das tempestades/ rumo aos lugares remoinhantes de ágatas/onde cresce o olhar provocante das opalas”, parafraseando Benjamin Péret.
    Nessa viagem interior entra tudo: o que somos e o que sentimos, com todas as coisas afins, nostalgias e contentamentos, alegrias e amarguras, a presença de seres que amámos e
    momentos que nos entristeceram ou angustiaram.
    A este conjunto um pouco surpreendente se chama, se pode chamar, cultura. Cultura é isso. O de dentro e o de fora unidos. O bom senso e a independencia de espírito, a sagacidade, a perspicácia de entender. De entender.
    Por isso é que, quando se está nesse continente um pouco encantado, nesse espaço misterioso mas tão natural que nos propicia espirito crítico, de imediato se consegue distinguir o ouro real do “ouro” de pechisbeque, se adopta como bom e “saboroso”, e enriquecedor, por exemplo uma melodia de Scubert e se deixa de lado uma pequena treta de um qualquer engalanado “músico” com que as nossas emissoras, com assinalável intrepidez e descaro, nos tentam lavar o cérebro ou, pelo menos, nos fornecem como iguaria…
    Ou seja: é possivel ultrapassar-se, mediante o cultivo da sensibilidade, a exigencia, a reflexão e o enfoque aturado, caldeados pela imaginação – o estado de relativismo em que alguns gostariam que mergulhássemos para lhes facilitar a tarefa…
    “Gostas de pratos requentados e insulsos? Pois bem, papa para ai à vontade! Preferes um belo assado au meunière de pato com batatinhas salteadas? Também está muito bem! Se quiseres comer caca de galinha também está óptimo, se preferes a de porco ou então não embarcar nisso, também concordo!” – dizem esses senhores sem verticalidade e mestres na arte de nos raparem o pelo…relativamente.
    Porque o relativismo é isso: ausencia de senso crítico, em que tanto faz A como B, em que tanto faz encantarmo-nos através dum como doutro fulano/ que às artes e à coisa pública se dedique.
    Respeito, como já disse – e não faço favor nenhum – o seu interesse por Saramago. Que é partilhado por muitos, aliás. Mas, baseado numa análise crítica caldeada pelo tal “feeling” a que aludi, tenho-o como autor mediano e poeta sem brilho, repisando lugares comuns que, não lhe tivesse sido atribuído o Nobel, seriam apenas aquilo que penso que são: lirismo datado e um pouco requentado.
    É a minha opinião. Se erro, erro de boa-fé. Mas algo me diz que, se calhar daqui a 10, 20 anos (tudo depende da sua idade, caro interlocutor)vai achar Saramago um novelista limitado e talvez insuportável de vulgaridade pomposa.
    Saúda-o com cordialidade o
    NS
    nicolau saião
    Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-05
    Senhor Gabriel Cipriano
    Muito obrigado pela sua intervenção.
    Falou-me do seu alto púlpito reservando-se o direito de transcender as regras que dita para quem comete o sacrilégio de tocar no seu santo universal e consumado Saramago. Não contesto a reacção mas de si esperaria sim uma crítica objectiva mas não um acto de fé.
    De facto não queria ferir materialistas nem emanentistas mas se o senhor tivesse lido o texto teria notado que ele tanto aponta para o problema polar do mito como do racionalismo, do espiritualismo como do materialismo.
    Se tivesse lido o texto com atenção, certamente teria tido um outro discurso porque teria notado que Saramago não falou de Física mas filosofou e a filosofia e a teologia para si são lameiros que não dão palha. Se tivesse sido consequente com a sua filosofia (do senhor) teria deitado ao esquecimento tanto os dizeres de Saramago como os meus. Estranho é que para o Senhor o seu Saramago terá o direito de filosofar enquanto que recusa esse direito a outros.
    Foi pena o senhor ter-se prendido nos meios estilísticos do meu texto não tendo chegado ao argumento.
    Naturalmente que muitos materialistas e comunistas precisam das suas ícones e necessitam de entronizar alguém para poderem olhar para cima e do seu minarete berrar que a verdade é só uma, a sua, a matéria. Aqui os animais são mais consequentes com a matéria, e no seu ateísmo, superaram o cá e o lá e não falam. Porém a banalidade filosófica, a tal retórica é que fez o ser humano Homem e por isso é que aqui estamos a falar construtivamente.
    È verdade que o Nobel Saramago é português e é necessário a Portugal mas Portugal é grande e como tal não se reduz a um só credo, a um só estilo de vida a um só santo. Ele é, a nível literário, reconhecido internacionalmente não o sendo já como pensador. Neste caso até é criticado por se meter em coisas que não percebe com o perigo de ofuscar a sua literatura. Ou “cá por casa” não se fala destas coisas para que o santo não padeça e não sirva só a literatura?!… Seria uma injúria à capacidade intelectual portuguesa se na necessidade de termos um herói de trazer por casa o estilizássemos como intelectual ao nível de muitos outros também portugueses que o superam muito. Também a nível de o “intelectual” e de representante de ideologia de esquerda só mostraríamos um certo chauvinismo revelando não conhecer muitos escritores internacionais que representam a ideologia da esquerda marxista ateia com muito maior nível e dignidade intelectual. Para lá da literatura ele tornou-se uma referência de conteúdos ateus, materialistas comunistas e pessimistas, servindo as legítimas necessidades duma certa clientela nacional criando a oportunidade de estabelecer pontes com meios internacionais similares. Não poderemos ter a vanidade de imaginar nele ou em alguém um representante completo de Portugal. Talvez com ele Portugal se torne mais completo para o tal Portugal imagem mas tão distante do povo…
    Senhor Cipriano e marxistas ofendidos, aproveitem para bater no Santo António! Oh, perdão, nele não, porque também ele é Portugal, é “nosso”! Então batam em Nossa Senhora mas não na de Fátima!.. Ou no sentido do texto “Saramago no Paraíso dos Ateus” aceitem os dois santos e sigam as suas promessas segundo a devoção mas na consciência de que os dois não passam de homens e representam apenas dois pólos da mesma realidade. A veneração e a devoção ainda andam por aí à solta (salvo se houvesse um regime marxista!). Adore-se o António, adore-se o Saramago! Mas salvem a pele e a honra pessoal gritando: eu sou Portugal!
    Segundo a premissa do interlocutor, como o espírito não é matéria talvez seria melhor calar! Eu porém, que, no seu entender, pertenço aos da outra liga e como tal acredito no espírito faço as minhas honras ao espírito continuando a falar!
    Sabe qual é a melhor forja do Deus que nega?… É essa necessidade animal de adorar. E o senhor já se está a revelar muito devoto! O objecto da adoração ao fim e ao cabo parece tornar-se indiferente!
    Não é necessário empolarmos os nossos santos de tal modo que não notemos a grandeza de tanta “arraia-miúda” que ninguém nota porque construímos artificialmente árvores tão frondosas que debaixo delas nem relva pode crescer! Deixemos que os poderosos criem os seus símbolos, os seus santos, os seus heróis mas a nossa missão poderia ser o povo, o pobre.
    O problema é que em Portugal e nalguns meios parece só conhecer-se S. Saramago e a sua capelania. Em abono da justiça isto é uma questão de épocas e cada vez mais de modas. Não será sinal de pobreza que as capelanias sejam tão poucas, sempre as mesmas, mudando apenas os “Santos”, os “Heróis”, no meio dos mesmos fiéis sejam eles religiosos ou políticos. O problema é que a fé se muda mas a atitude, o comportamento não!
    Independentemente deste meu – nosso malentendido não devemos deixar de esquecer que Saramago, sendo ateu, comunista e pessimista declarado, mantém nas suas obras o amor e a humanidade ao de cima. Ele fala dos mesmos problemas que me preocupam a mim, ao senhor Cipriano e às pessoas empenhadas do nosso tempo. Nos seus romances surrealistas ele critica com ironia o egoísmo e a irresponsabilidade social das elites e dos privilegiados, quando alguns confundem crítica com espírito destrutivo ou com lamúria. Também ele fala com sarcasmo e com tão belas metáforas da fachada duma democracia que se desmorona cada vez mais, duma política aborrecida e duma sociedade egoísta, desumana e desonrante. Aqui somos camaradas e irmãos na mesma tarefa de servir.
    O problema que parece intransponível na nossa sociedade de hoje como na de ontem e em todas as sociedades é a nossa atitude antagónica e o nosso discurso dialécticos que fomentam consciências e formas de ser e estar opostas. Cada um se fecha na sua razão agarrado a Deus ou à matéria na destruição da realidade bipolar e não antagónica. Neste sentido os crentes deveriam respeitar os “adversários” como os profetas da sua crença. Os ateus e materialistas prestam um serviço aos espiritualistas e os espiritualistas prestam um serviço aos ateus materialistas. O que é importante é uma atitude de abertura e de serviço na construção dum mundo a fazer por nós. Quem tem autoridade para falar da minha da sua autenticidade são as nossas esposas, os nossos filhos, os nossos vizinhos, os nossos companheiros de trabalho e todos aqueles com quem convivemos no dia a dia.
    Senhor A. Ferreira muito obrigado pela sua intervenção.
    Senhor Potencio, obrigado pela sua achega. Aproveito para dizer que me agrada muito ler alguns dos seus escritos não só pela palavra mas pelo espírito próprio e específico que mantém.
    Atenciosamente
    António Justo

  4. Saramago – – – 2006-10-05
    SARAMAGO
    Gabriel Cipriano / Rio de Janeiro
    Recentemente, Antonio Justo, inseriu no espaço cascavélico algo sobre Saramago. seu ateísmo, o cristianismo, dele, Justo, e etc. Na hora, e depois da leitura pensamos tecer alguns comentários, porém, os afazeres, a falta de tempo e a limitação de leitores, aliado ao modo psicodélico de falar mal a qualquer pretexto, de tudo e de nada, que ultimamente reina na área portucalense, levou-nos a desistir. Entretanto, como remate, já que VERDASCA nos coloca na posição prependicular de “lingua solta”, gostaríamos atirar uma, umazinha só: SARAMAGO, é nosso prêmio nobel, é o português mais conhecido no mundo, por seu saber, seus conceitos humanos e comportamento exemplar, de cidadão. O resto, opiniões esparsas e ocasionais sobre deuses, alma, fé, são pura retórica, preconceito, dogmas. A filosofia, a teologia e outras simetrias, servem pra isto, mas não explicam aquilo. Sobre aquilo, sabe mais quem lá esteve, voltou, viu, sentiu e não ouviu dizer. Conhecemos alguém assim, alguém de posse dessa experiência, o resto é retórica, doutrina, frases feitas.
    La>La>La
    RESPOSTA RESPEITOSA À RESPEITOSA RESPOSTA DO SENHOR SAIÃO – – – 2006-10-05
    Der Genius.

    Wiederholen zwar kann der Verstand, was da schon gewesen;
    Was die Natur gebaut, bauet er wählend ihr nach.
    Über Natur hinaus baut die Vernunft, doch nur in das Leere.
    Du nur, Genius, mehrst in der Natur die Natur.

    Friedrich von Schiller

    Ex.mo Senhor Nicolau Saião

    agradeço a sua respeitosa resposta com igual respeito. Pois é exactamente isso que deveria existir sempre entre os homens, mesmo na hora das discordâncias.
    Dirijo-me, por este meio, de novo, ao senhor, porque na resposta que me deu,( uma resposta de homem da literatura, devo reconhecer, bem dada ) há uma passagem que me deixou um tanto ou quanto confuso e por isso gostava, isto é, claro, com o devido respeito, que o senhor me esclarecesse um pouco…
    Dizia-me o senhor que “ há obras que de imediato nos forçam à admiração pois nelas se sente perpassar algo que poderíamos chamar de génio. E não será isso que o Nobel da Literatura busca galardoar ( devia ser, digo eu entre outros ). ”
    Ora esta é uma afirmação que não consigo compreender bem: afinal o que é o génio? existe a genialidade em si mesmo ou será ela um produto daqueles ( falamos no caso da literatura ) que lêem uma determinada obra e que ao lerem-na presentem que ela é genial, como me diz o senhor, chegando-se assim à conclusão que quem a escreveu é um génio?
    Isto, na verdade, coloca-nos perante um grande problema:
    imaginemos que eu e o senhor lemos o mesmo livro ao mesmo tempo, por exemplo a “ Metamorfose de Kafka.” Ao fim da leitura conversamos um com o outro acerca daquele livro e o senhor diz-me que durante a leitura do mesmo não sentiu aquela admiração que se deve sentir quando se pode chamar alguma coisa de génio. E daí chega à conclusão que este autor não é um génio, mas, isso sim, um escritor mediano.
    Eu, porém, respondo que sim, que aquela obra é genial porque de imediato senti aquela força inexplicável que nos força à admiração e que por isso aquele escritor é um génio.
    E agora, como é que ficamos: Será aquela obra de facto genial e o seu autor um génio ou não? Afinal quem, ou como é que se pode afirmar que uma obra é genial, e que um determinado escritor é um verdadeiro génio?

    Aceite os meus respeitosos cumprimentos e perdoe a minha teimosia:

    Luís Costa

    PS

    Não é verdade que para certos críticos ( falo dos especializados nessas andanças )
    uma determinada obra é excepcional enquanto que para outros essa mesma obra é simplesmente medíocre ?
    LUÍS COSTA
    Resposta respeitosa ao Sr. Luís Costa – – – 2006-10-05
    Prezado Sr. Luís Costa: perdoe se lhe respondo a esta hora tardia, mas foi agora que li o seu estimado comentário…e amanhã, por ser feriado, não estarei na casa onde tenho net e não queria demorar em dar esta achega que é talvez mais uma precisão.
    Tem razão em considerar que a minha opinião é subjectiva – mas não o serão todas? Mas garanto-lhe que foi dada sem acinte, pois nada de pessoal me move contra José Saramago. No entanto, não faz mal, creio, dizer-se o que se pensa – este é o primeiro ponto.
    Depois, creio que Milosz não foi movido por aversão ao homem Saramago – ele era demasiado grande para se mover por intenções mesquinhas. Creio, se é que não tenho a certeza, que a crítica dele foi de ordem literária, nessa perspectiva funda e fundamentada.
    É verdade que certos autores que numa dada altura foram pouco estimados pela comunidade de leitores, depois viram-se erguidos ao Olimpo, para empregar a sua expressão. Mas a inversa também é verdadeira, autores muito considerados vieram depois pela escada abaixo até praticamente desaparecerem no limbo do esquecimento, por vezes piedoso. Um caso – e dentro do sector a que Saramago pertence é bem conhecido: o de Mikail Cholokov, que por razões diversas foi galardoado com o Nobel e, paulatinamente, esvaíu-se como a areia por entre os dedos duma pessoa.
    Portanto, se não temos a certeza de nada, ou de muito pouco numa matéria mutável como é a literatura (eu diria talvez melhor: a escrita), podemos no entanto tentar ver claro, utilizando os instrumentos que, pobres mortais, possuímos: a atenção, a imaginação, a capacidade de avaliar – por recta intenção.
    Foi o que, parece-me, Milosz buscou fazer – foi o que eu tentei fazer naquele pequeno escrito.
    Vejo no escritor – escritor, sublinho – Saramago um fundo de pequenez, de escrita aprumadinha mas limitada. E é só por isso que lhe anteponho reservas – e garanto-lhe que tenho, procurei sempre que em mim não se perdesse, uma imensa capacidade de admirar.
    É por isso que, apesar de Aragon não me agradar nada (ainda menos que Saramago) como homem de ideologia e de fidelidades a coisas que considero espúrias e erradas – e em geral se confirmaram como de factos erradas – que já em escritos publicados epigrafei, agrada-me muito enquanto romancista de alguns textos notáveis. Recomendo-lhe aliás, se me permite a ousadia, a leitura (se é que não leu já)dessa obra-prima do nosso tempo intitulada “A semana santa”, que se debruça sobre o pintor Géricault, na altura oficial de couraceiros.
    Essa leitura será prazerosa e proveitosa – pois esse romance de génio, por comparação, mostra tudo o que Saramago não tem: a pujança da escrita, o enfoque poderoso de situações, de imaginação criadora, de construção de uma obra sem jaça.
    Há obras (estou a lembrar-me, por exemplo, também de “Margarita e o mestre” de Bulgakov, ou de “A montanha mágica” de Thomas Mann) que de imediato nos forçam a admiração pois nelas se sente perpassar algo a que poderíamos chamar génio. E não será isso que o Nobel busca galardoar (devia ser, digo eu entre outros).
    Foi por isso que me referi a Saramago como apenas mediano. Li-o com atenção, mas não consegui, não consigo, sentir nele mais que isso – um escritor mediano, apenas.
    Respeito – é claro! – o gosto que tem em o ler. Mas não sou capaz de o seguir nessa admiração.
    Talvez a culpa seja minha. Mas é esta a minha opinião, sem hostilidade nem ostensividade e por isso a escrevi.
    Por último queria apenas referir que nunca houve nenhum leitor/crítico com miolos e desembaraço responsável que tivesse considerado Rimbaud, Baudelaire,Holderlin, Kavafy ou Pessoa como medíocres. Podiam não gostar deles, mas não os tinham como medíocres. Um caso lhe posso citar: o de Goethe, que apesar de ter tratado Holderlin muitíssimo mal, percebeu com quem estava a contas: um dos grandes poetas que se lhe haviam deparado. É caso comprovado e hoje, felizmente, devido ao desenvolvimento da análise literária, assunto pacífico.
    Aceite os meus cumprimentos e perdoe pelo tardio da hora. NS
    nicolau saião
    Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-04
    Ilustre Amigo, embora desconhecido:
    Gostei desta sua crónica, que me pareceu justa e desapaixonada. Alguma vez J. Saramago deu aos pobres de quem se diz amigo um cêntimo? Ele julga-se no direito de emitir as suas opiniões e nega ao Papa o direito de emitir as suas!!! Aceite um abraço amigo.
    A. Ferreira
    Portugalclub

  5. Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-04
    Carissimo Confrade A.C.D. Justo!,
    Permita-me fazer aqui um elogio publico da sua coerente e primorosa análise escrita de uma figura que serve de parametro a todo e qualquer escritor da lingua de António Aleixo, embora este jamais a tenha aprendido a escrever. – Se eu fosse chamado a dar prémio preferia as quadras algarvias de cunho popular deste, em detrimento das arrazoadas tiradas filosóficas daquele outro… Permita-me acrescentar que eu penso tudo isso, e de forma unipessoal gostaria imenso de poder traduzir tão sinceros pensamentos da verdade que ronda a maioria das mentes candidatas aos louros de algo nem sempre justificado ou sequer plenamente merecido. Adeptos que somos do “faça o correcto e não pense no errado”, devemos mostrar a mente de quem prega: façam o que eu digo, e não façam o que eu faço! Isto porque na mente de certos pensadores, com a responsabilidade de respeitarem o povo que os enformou culturalmente e socialmente, neles o adjectivo significa simplesmente traduzir o “Ateu” por marido da “Tua”… e assim na ribalta ele atua, atua, atua,… e jamais representa o dom da verdadeira raiz da nossa cultura. Até à próxima e receba um abraço emigrante do outro lado das “grandes águas”. Silvino Potêncio/Natal-Brasil
    Portugalclub
    O cerne da questão – – – 2006-10-04
    Muito lúcido o artigo, interessantes os comentários.
    No entanto, apenas num plano – o literário, que é o que me cabe preferencialmente – gostaria de dar uma achega e esta é: não me parece que devamos estar assim tão em estado de veneração ante o Saramago escritor (pensador é ele medíocre e como aparatchiki estamos conversados). Na verdade, como referiu logo depois de ter ele sido galardoado com o Nobel, respondendo a um jornalista que o questionara, Czeslav Milosz (esse sim um poeta de génio) disse sem papas na língua:” Saramago? Um escritor de segunda ordem…Não demorará muito tempo a verificar-se tal coisa…”.
    Creio que é inteiramente verdade.
    Analisando sem “respeitinhos” decorrentes da febre da “nova diplomacia” que tudo tem feito, no seu complexo de inferioridade ante o lá fora, para exalçar o premiado luso, utilizando o bom-senso e a imaginação que devem ser os instrumentos do verdadeiro scholar e de quem não embarca em cantigas – verificam-se sem ser necessária lupa os limites da prosa e da poesia de Saramago: apenas um escritor mediano, frequentemente tedioso que o Tempo, “o melhor dos críticos” no dizer de Gide, colocará, já está a colocar, no lugar devido.
    No que respeita a Saramago figura cívica de alto porte, estamos conversados: basta ver o apoio, nada discreto mas a partir de dada altura menos despejado, que logo a seguir ao recebimento do prémio deu a Fidel, com recuos talvez tácticos quando dos fuzilamentos perpetrados pelo criminoso das Caraíbas.
    Estalinista era também, ou foi durante diversos anos de complacencia, Aragon. Mas isso não inibe que se lhe reconheça a extrema qualidade literária, pois tinha-a sem sombra de dúvidas.
    Saramago é caso diferente: um almoço que o sol dos anos desvanecerá inapelavelmente – para entrar no espírito do provérbio…
    nicolau saião
    Saramago no Paraíso dos Ateus – – – 2006-10-04
    Sim, diz bem: o problema está na contradição nele mesmo.
    Se ele estivesse consciente dessa situação estaria mais próximo da realidade e seria mais brando.
    Quanto mais descobrirmos o mundo mais amamos Deus e quanto mais descobrirmos Deus mais amamos o mundo.
    Deus e o mundo já não estarão longe mas dentro, respeitando embora a consciência da própria identidade e da personalidade que se não esvai como a gota no oceano!
    António Justo
    SARAMAGO OU O HOMEM CEGO – – – 2006-10-03
    SARAMAGO OU O HOMEM CEGO

    Temos que reconhecer que Saramago é um mágico das palavras, temos que reconhecer que como bom escritor que é mereceu o Prémio Nobel da Literatura, agora temos também que reconhecer que Saramago não é um escritor intelectual e que por isso diz, muitas das vezes, coisas que rondam a estupidez, já que não são devidamente reflectidas.
    A partir do momento em que Saramago afirma que o mundo seria mais pacífico se todos fossemos Ateus, ele está a esquecer, ou então a sua cultura geral não lhe permite ver mais, que a palavra A- Teu significa, nem mais nem menos do que negar a existência de Deus ou ser contra Deus. ( quem nega alguma coisa parte do príncipio que essa coisa possa existir)
    Ora ao afirmar-se como Ateu ele já está a desafiar e a provocar todos aqueles que de uma maneira ou de outra acreditem em Deus.E não é a partir dos desafios e das provocações que se começam a maior parte das guerras? Portanto o Ateu não é uma pessoa pacifíca.E assim poderemos responder a Saramago que se todos fossemos crentes o mundo seria mais pacífico.
    Nesta sua afirmação categórica, Saramago entra em contradição consigo mesmo e demonstra-nos uma ingenuidade e uma falta de intlectualismo aberrantes para uma pessoa da sua idade. Se ele fosse um pouco mais inteligente e acreditasse deveras que o mundo seria mais pacífico sem Deus, então ele deveria tomar uma posição Agnóstica…
    Mas será que se fossemos todos agnósticos o mundo seria mais pacífico?
    Só podemos exclamar: pobre do Saramago!
    Luís Costa

    António Justo
    A nossa imagem de Deus ou não Deus será sempre condicionada à nossa capacidade e natureza.
    Saramago fez afirmações defendendo a sua opinião que desagrada a uns e agrada a outros. Estranho parece é que, aqui, alguns não considerem o mesmo direito que dão a Saramago aos opositores deste.
    É humano e bíblico que a mesma luz do espírito vista da própria perspectiva apareça como luz e vista da perspectiva do outro se reduza a “cegueira de espírito” . Assim a mesma postura que para uns significa achincalhar, vindo dum lado, se vem do outro passa a ser razoável! Naturalmente, os cínicos branqueiam a sua tolerância e a sua opinião nas águas virgens da indiferença. Sabem que quem fala deixa o rabo de fora!…
    Fala-se da maldade da religião ou do partido como se estes não fossem compostos de homens e mulheres. A lógica acobarda-se aos próprios interesses. A tesoura que cada um de nós traz na cabeça pode muito. O problema é que a própria tesoura é, geralmente, invisível e imperceptível para o mesmo. Interessante seria a tentativa de apresentar um discurso mais argumentativo, mesmo na apresentação da própria opinião!
    Da discussão sai a luz!

    Caim e Abel, duas faces da mesma medalha que somos cada um se nós!
    O problema é que ateus como teístas viram em militantes, dado seu credo se tornar parte da própria identidade expressa sem a perspectiva do outro! Por outro lado, quem cala não conta. Infelizmente cada qual defende apenas o reino dos seus interesses e não há a cultura dum pensar justo! A perspectiva de Caim terá de integrar nela a perspectiva de Abel e Abel terá de reconhecer nele a perspectiva de Caim. Querer ter a razão final é tornar-se só Caim.
    Todos os crentes, quer creiam em Deus ou não, não conseguem abdicar da sua crença ateia ou religiosa em processo. Problema se tornaria se a uma tese apresentada por Saramago não fosse possível a antítese duma dialética construtiva interessada numa síntese! Problema é também o facto do senhor Saramago ter apresentado a sua compreensão da Bíblia como a compreensão pura e simplesmente. Naturalmente que cristãos possam reagir e tentar explicar outras maneiras de compreender os 73 livros da Bíblia. Assim seria lógico que tenha havido tentativas de explicar outras leituras da Bíblia numa dialética que a acompanha sempre. Assim era necessário explicar que na Bíblia está documentada a dialética entre a cultura pastoril e a cultura sedentária, entre a cultura do campo e a das cidades, tal como se vê em Caim e Abel. Como sempre, na luta entre a província e a cidade há interesses muito concretos a defender. Saramago tal como Caim não aceita a mundivisão do seu irmão Abel. A imagem de Deus que Saramago ataca é naturalmente também a sua. Querer reduzir a realidade bíblica a infantilismos e cair na contradição de negar Deus e ao mesmo tempo responsabilizá-lo pelo mal e por fim chamá-lo “filho da puta”, tal como Saramago faz na página 82 di seu livro. Quem ele quer atingir não será naturalmente Deus mas os filhos do tal “filho da p.” que não serão melhor que o seu Deus a destruir! Que em cada cultura, nos antagonismos que lhe são próprios e até benéficos, esteja presente Caim e Abel em disputa, é muito natural e benéfico, o problema é não nos darmos conta de que somos os dois e não notarmos o papel que representamos em cada momento em que falamos ou agimos! Naturalmente que quem vai à missa de Saramago não goste de outras missas e vice-versa. Desumano seria se não nos respeitássemos uns aos outros, conscientes de que todos andamos encostados a algo que não queremos reconhecer. É a nossa liberdade de escravos, mas esta escravidão pode tornar-se libertadora! Ao fogo do inferno sucede-se o fogo das palavras e dos próprios interesses e a agressão é também uma naeira de libertar a consciência, como nos ensina Caim! A continuarmos assim não haverá infernos para uns e paraísos para outros mas democraticamente inferno para todos, salvem-se os nossosBelzebus, esses gozam de imunidade!
    Quem faz a guerra não pode lavar-se nas águas da inocência. Naturalmente que Saramago sabia muito bém que quem ataca não é vingativo, vingativo tornam-se os outros. A divindade Nobel ofendida exige o louvor dos seus devotos. No fim há muita beatice ateia e crente ao serviço dos respectivos dogmatismos e da própria seriedade. A grandeza dos que se destinguem precisa da pequenez dos que os fazem!…
    De lamentar seria que se formassem grupos incompatíveis, dum lado súbditos republicanistas e e do outro súbditos teistas uns contra os outros.
    Quem diz o que quer ouve o que não quer…. Importante é que todos são pessoas honradas se não querem assumir o papel de Caim!
    António da Cunha Duarte Justo

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