AGRAVAMENTO DE IMPOSTOS PARA SOLTEIROS

Por António Justo

Em tempos de envelhecimento da população, os governos preocupam-se por criar maior justiça contributiva para as famílias. Cada vez se nota mais a pressão em diferentes Estados para se aumentar os impostos sobre os trabalhadores solteiros com o argumento da solidariedade e da necessidade de compensar as famílias com filhos.

Na antiguidade os romanos obrigavam os solteiros a casar-se, impondo-lhe punições no caso de maneterem o seu estado civil. Hoje, na era da pílula, em vez do castigo é advogado um prémio para quem tiver filhos ou, para não se incomodar o povo, importam-se pessoas de zonas mais férteis! Uma economia sem suficientes pessoas em idade produtiva não vai longe.

O imperador Augusto decretou a lei Iulia et Papia que impunha um imposto mais pesado aos solteiros do que aos casados. Em Esparta impunham-se castigos desonrantes. Em Roma  era cobrado um imposto especial aos solteiros, o aes uxorium,  em favor do estado.

Na Alemanha os solteiros pagam mais impostos do que casados; o problema  é que os impostos não vão para a previdência social mas sim para o imposto de renda que vai para o governo federal e para os municípios.

Devido à carga dos impostos sobre os bens de consumo, as famílias têm  um nível de vida inferior ao dos solteiros.

Na Alemanha cheguei a observar que muitos dos empregados jovens do âmbito social têm empregos com horários de 30 horas, sendo pagos nessa base, o que leva muito jovem a não querer casar cedo por não ter dinheiro suficiente para planear uma família! Assim se exploram as pessoas e se enganam as estatísticas do desemprego!

A natureza e a sociedade estão condicionadas à lei da procriação. Um hedonismo ligeiro aliado a  um niilismo materialista pretendem impor na sociedade, como regra, a excepção à regra e assim, de ânimo leve, forçarem a cultura contra a natura. Também o recurso ao aborto sistemático e, com o tempo, à eutanásia estatal, é uma maneira fácil de contrariar a procriação sustentável e de se desresponsabilizar daqueles que possibilitaram a vida.

© António da Cunha Duarte Justo

In “Pegadas do Tempo”

 

QUANDO AS MULHERES ERAM OBEDIENTES

Do Branqueamento da Atualidade

Por António Justo

Até 1957 tinha validade na Alemanha o parágrafo da obediência que dava aos homens o direito de determinarem sobre a vida comum do matrimónio; isto era regulado pelo código civil entrado em vigor em 1900.

Também, até 1977, as mulheres não podiam trabalhar sem a aprovação do homem.

Até 1958 o homem tinha o direito de rescindir o contrato de trabalho de sua esposa sem o seu consentimento e sem aviso prévio.

Quanto ao direito das mulheres poderem votar, também só tardiamente lhes foi dada igualdade. Antes era a cabeça de casal que tinha o direito a votar.

O sufrágio feminino foi introduzido pela primeira vez na Nova Zelândia em 1893.

Finlândia em 1906; Alemanha em 1918; USA em 1920; Turquia em 1930 (Graças a Ataturk), Brasil em 1932, França em 1944; Portugal 1946; India em 1950; Suiça em 1971.

Nas primeiras eleições gerais foram eleitas para a Assembleia da República na Alemanha 41 mulheres o que correspondia a 9,6% dos 423 deputados.

Em 2017 a percentagem de mulheres no parlamento desceu para 30,9% no Bundestag, isto é para o nível de 1998.

Como se vê levou tempo até que se passasse da sociedade agrícola para a sociedade industrial, onde o trabalho determina o direito.

Apesar de todo o desenvolvimento, a imagem da mulher ainda continua a ser muito definida pela bunda, perna, coxa e seios; isto é, apenas como objecto de desejo.

No meio de tudo isto, verifico que a injustiça, geralmente, caminha à frente da justiça.

A razão da apresentação destes dados vem do facto de verificar que hoje se usam, muitas vezes no debate público, os males passados como argumento de justificação dos males presentes. Vejo muita gente interessada em falar mal da História de Portugal devido à colonização e em desdizer de Portugal apresentando só os dados negativos do antigo regime, como se isso, além de ser mau, fosse uma coisa só nossa e sem o contexto da época. Esta é uma estratégia da esquerda para pôr os conservadores em situação de fora de jogo!

Outros, porque não acham relevantes os defeitos dos adversários do presente, gastam o tempo a lavar a roupa suja do passado alheio, na esperança de que algo da sujidade antiga, suje o rosto do adversário atual! Este espírito social de lavadouro público já lembra uma praga social no âmbito da argumentação. E isto num tempo em que teríamos tanta roupa suja atual para lavar! Seria fraco o nosso presente se para o glorificar precisássemos de difamar o passado ou só falar dos seus erros.

Do Engano de se aldravar com a Moeda do Preconceito

As injustiças que condenamos no passado servem, muitas vezes, de condimento para adoçar as injustiças do presente, quando os erros do passado são o estrume onde nascem o trigo e o joio de hoje.

Embora vivamos hoje num mundo diferente, não é legítimo armarmo-nos em carapaus de corrida modernistas, e abusar de um espírito crítico de análise com duas medidas. Hoje condenamos, com veemência, os maus hábitos de ontem, mas achamos política e economicamente o mal que fazemos hoje, de menos relevância.

Também Pilatos passou a rasteira à multidão ilibando-se de responsabilidades lavando as mãos sujas com pretextos de inocência.

O passado instrumentalizado e não reconhecido, nos seus aspectos positivos e negativos, cria o desgaste civilizacional em que nos encontramos! É verdade que o passado não se vende, mas é abusado para um presente que se quer sem raízes nem fundamentos; por isso é mais considerado como adjectivo do que como substantivo, olhando-se só para os males dele e assim nos distrairmos dos males do presente.

Hoje somos, geralmente, obedientes ao pensamento politicamente correcto, com a agravante que, muitas vezes, o somos sem consciência disso.

© António da Cunha Duarte Justo

Pedagogo

In “Pegadas do tempo”

DOM QUIXOTE É A ELITE E SANCHO PANÇA É O POVO

Do Dom Quixote e do Sancho Pança que se é

Por António Justo

Dom Quixote (é o símbolo de idealistas, de progressistas, de sonhadores, da cidade e da elite cavaleira que quer dominar o mundo) é o patrão de Sancho Pança (símbolo do concreto, da seriedade, da tradição, dos conservadores, da realidade, do povo, amante da aldeia e da família). O poder dos Dom Quixotes não deixa os Sancho Panças fazer valer os valores que lhes corresponderia, embora o destino e interdependência sejam comuns.

O grande escritor Miguel de Cervantes com o livro Don Quixote de la Mancha criou uma parábola do que se passa também no nosso tempo e que supera o tempo histórico (ele é genial e tornou-se em fonte inspiradora de literaturas internacionais).

Num caminho de aventura entre realismo e idealismo, Sancho Pança segue Dom Quixote na esperança que este lhe dê o reinado de uma ilha que lhe prometera. Esta é a ilusão que mantém o povo arrebatado e enganado por ideologias, mas sem as quais também não poderia viver.

A vida é injusta e quem disser o contrário passa a ser também parte dos idealistas.

Facto é que Sancho Pança e Dom Quixote cavalgam juntos através dos tempos e são inseparáveis, diria, são complementares!

Aquilo que os Dons Quixotes de hoje deveriam reconhecer é que a nossa vida é e será o romance e que a virtude e vida que cultivam é colhida nos alfobres da injustiça!

Vive-se numa sociedade individualista dos Dom Quixotes, equivocados, ao pensar-se que se consegue gerir a vida sozinhos. A União Europeia, na sua acção política com as nações, não tem respeitado as duas personagens que são protótipos inseparáveis, e que pertencem mesmo ao género do Mito: a expressão da realidade social e individual na sua essência. Também progressistas lutam contra conservadores como se fosse possível uma vida social sem uns e outros, além de uns e outros cultivarem a ilusão de que é possível uma sociedade feita só de Dons Quixotes.

O povo aguenta com o perigo e com os riscos dos sonhos das elites, mas que estas não sofrem. A ideologia torna-se muitas vezes um impedimento da vida pacata e bem vivida, mas abana-a da sua pasmaceira. O povo não gosta das intrigas do poder e hoje de maneira especial não se sente bem com os Dom Quixotes que lhe querem roubar o sossego da terra e da família.

A nostalgia que amarra o Sancho povo ao Dom Quixote vem de um certo ideal professado e ingénuo pelo Dom Quixote bem servido!

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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