Eutanásia


Políticos alemães e representantes das igrejas manifestaram-se veementemente contra a intenção da associação suíça para a eutanásia “Dignitas” querer criar um caso precedente de eutanásia na Alemanha. O porta-voz do SPD no parlamento Alemão afirmou:” Nós acabaremos com a das treiben actividade de Dignitas na Alemanha”.

É desumano fazer-se negócio com a morte de pessoas muito doentes. Na Alemanha a prática activa e comercial da eutanásia é contra a Constituição.

Assim como o homem foi lançado à vida sem própria intervenção, o mesmo deve acontecer na morte. O paciente, ou moribundo têm um direito ao apoio e acompanhamento na doença e na morte mas não na intervenção directa.

Importante é alargar a medicina paliativa e incentivar uma cultura da vida e não uma cultura da morte, como defendem e praticam as Igrejas nas suas instituições. Iniciativas tendentes a prolongar a vida devem ser interrompidas no caso de impedirem uma morte cruel.

Os nazis praticavam a eutanásia com pessoas que consideravam de vida indigna ou inferior. Numa sociedade que cada vez envelhece mais e o respeito para com os idosos diminui facilmente se passa a “sanear” dado a nossa vida, entretanto, só ser considerada sob o ponto de vista económico, como refere o bispo evangélico Hein. A solidariedade continua presente na sociedade.

António Justo

Economia e Política – Recusa à moral

Ordenados à Margem de Critérios Justos


Segundo o que corre nos jornais alemães, o chefe da Continental ganha 4 milhões de Euros por ano; o chefe da Porsche, 54 milhões e os seus outros cinco colegas da direcção um total de 58 milhões.

As pragas do Egipto, a que se refere a Bíblia, cada vez avassalam mais a terra europeia. A sapata popular precária aumenta vendo a vida encarecer, tendo de trabalhar mais sem qualquer compensação, enquanto que as elites económicas e políticas aumentam usurariamente os seus vencimentos. Em nome da Europa e do turbo-capitalismo passou a reinar a desmedida. Sofrem da mesma doença contagiosa os beneficiados do sistema tanto nos países pobres e como nos países ricos.

O presidente da Alemanha não se cansa de admoestar a política e a economia dizendo que não é lógico os vencimentos destes aumentar continuamente e o ordenado do povo diminuir.

Na Alemanha, todos os partidos se manifestam criticamente sobre os elevados vencimentos de direcções das grandes multinacionais. O tema está na ordem do dia da sessão parlamentar de hoje.

A Alemanha não quer impor por lei um limite para as direccoes de empresas mas pretende com a discussão provocar decência na avareza que grassa na Europa a nível das oligarquias empresariais. A própria Chanceler Ângela Merckel, do partido cristão democrata declara a discussão salutar. Pretende regular por lei as indemnizações atribuídas a chefias, por falência. Maus administradores que levam a empresa a concurso não devem ser premiados com indemnizações que o contribuinte depois tem de pagar. Há manager que ganham somas horrendas levando empresas à falência, muitas vezes em benefício de interesses particulares dúbios.

A sociedade perdeu a medida, o equilíbrio e o critério; destruiu a virtude abolindo o meio-termo; já não se reconhece uma correspondência entre o trabalho realizado e o pagamento. Alguns parecem transformar-se na praga dos gafanhotos sobre os países, sobre o povo. Os gafanhotos destruíram a moral e Deus para que o povo se não possa agarrar a nada, sem possibilidade de se alinhar na busca da libertação, como fez o povo judeu. Ao ser reduzido a proletário deixa de ter qualquer projecção, a não ser a mercantil ou partidária de horizonte ofuscado.

Um director das grandes multinacionais e de grandes empresas não deveria receber um ordenado superior a 20 vezes o ordenado da criada de limpeza ou do trabalhador mais simples. Se recebesse mais, esse dinheiro deveria ser tornado disponível para fundações ou iniciativas caritativas e culturais.

Se o povo não acorda em breve pagará imposto pelo ar que respira

A relação entre liberdade empresária e bem comum têm que estar numa relação de equilíbrio.

Naturalmente que aqueles que se habituaram a usar-se da sociedade como self-service, o conceito de justiça, se existe, é elástico.

Um Estado que tal permite torna-se cúmplice e ao mesmo tempo instrumento de legitimação para os mais fortes. Através da legislação do salário mínimo o Estado já se desobriga da injustiça a que dá cobertura. As leis do mercado precisam duma ética baseada no bem-comum e na terra que é de todos.

A ganância e a desvergonha atingiu tal ordem que qualquer dia um esperto lembra-se de mandar patentear o ar e teremos todos de pagar imposto para respirar.

Os defensores deste sistema de injustiça ordenada argumentam com o curso das acções como a medida do sucesso e que fazem parte da economia mundial, como se o trabalho fosse só deles; o trabalhador não faz parte da economia mundial! Têm a descaradez de falar da inveja dos pequenos quando o que recebem a mais é tirado à folha do assalariado. As chefias de empresas argumentam também que quem determina os seus vencimentos é o Conselho Fiscal das firmas onde têm assento o patronato, os sindicatos e, em grande parte, o Estado através dos partidos. Esquecem-se de dizer que estes quando não dormem se servem sobejamente do sistema. Uma mão lava a outra!…

A lei alemã que, obriga as empresas a pôr a público também os ordenados das empresas privadas, veio criar mais transparência no sistema a partir de 2005. Daí a discussão.

O sucesso das empresas e da bolsa adquire-se no poupar na produção, nos trabalhadores. Estes devem contentar-se com pouco e aguentar com as consequências, também as da má administração. Conseguem lucros através de despedimentos e de maior produtividade e contenção ou diminuição de ordenados dos jornaleiros.

A especulação na bolsa acontece longe da realidade, sem consideração pelos pequenos, em favor do lucro. A explosão dos vencimentos das elites dá-se mais nos segmentos industriais notados na bolsa, onde reina o turbo-capitalismo desumano. Estes turbo-capitalistas desacreditam muitos chefes das pequenas e médias empresas, que se vêem com grande dificuldade, numa concorrência desleal.

Geralmente os milhões da bolsa são ganhos à custa de valores humanos deitados ao caixote do lixo capitalista e dos lugares de trabalho das empresas. O povo do rés-do-chão é despedido e os dos andares superiores recebe indemnização por levar a empresa à falência. Não querem que a política se intrometa para continuarem a ter a estrada livre só para eles. E o Zé político se quer manter o lugar tem que lhes ceder para receberem em contrapartida uns lugarezitos de trabalho precário para o povo.

Até quando? Não será a altura de surgirem os Zés do telhado? Não. O povo é como o macaco e os que o dirigem e representam, apesar de tudo, não vivem mal!… Ao povo resta-lhe a consolação de poder esperar no vota!

António Justo

Ser Mãe – A nossa natureza mais profunda

Nascimento – Deus é Mãe

O nascimento de cada um de nós é um acontecimento único e inconfundível, uma nova abertura a toda a possibilidade, uma abertura mãe, também ela com a possibilidade de dar à luz. Para isso é preciso a capacidade de, também nós homens, assumirmos a feminidade. Com a primeira experiência da gravidez, da paternidade surge uma meta, uma criança. Depois da criança nascida vem a preocupação por ela, a atenção. A nova situação fomenta novas forças de entrega e dedicação e um outro sentido pelos outros. Tudo passa a ser diferente, um novo estilo de vida centrado no outro.

A capacidade da gravidez e a constância prepara-nos para a abertura confiante, a experiência do integral, do sagrado.

As dores do parto são um sinal duma presença. Deus não conhece o passado nem o futuro. Ele está sempre a dar à luz. Deus puxa o homem do seu corpo mãe como uma parteira (Sal 22,10).

A sua actividade criadora é apresentada como um processo de dar à luz (Sal 90, 2 ). Deus, como a mãe parturiente possibilita o novo, a sua presença (Jes 42, 14).

Dados à luz por um microcosmo, dum ventre materno para o ventre terreno, o ventre do universo. De relação em relação

O nascimento liga-nos à criação e o dar à luz ao acto do criador. No parto se testemunha a necessidade da relação e do apoio duns e doutros. Seguimos de ligação em ligação, de começo em começo, no substrato da união profunda no Espírito. À desligação da mãe e ao corte umbilical segue-se a ligação à comunidade humana através do baptismo e do registo. É o início dum novo começo.

Precisamos, na arte na religião, do aprofundamento dos modelos de compreensão da vida num horizonte de compreensão vivo e aberto sem nos deixarmos enredar em preconceitos existentes.

“Tu és o meu filho, hoje te dou à luz” (Sl , 2, 7). Assim se legitima a maternidade divina e a nossa natureza de filhos e reis. Em Jesus dá-se a “democratização” da filiação divina a todo o ser humano e até ao resto da natureza. Com ele inicia-se a cristogenese do homem e do mundo.

A igreja é a garante da propagação da fé transmitida, a continuidade histórica, a recordação. Também ela gera devendo por isso manter-se sempre aberta ao Espírito. Não há vida sem mãe. Pelo milagre do amor Deus nasceu em Jesus!

Nascer e dar à luz são metáforas da vida que nos acompanham até ao seu outro lado que é a morte.

Deus deu à luz a Luz. Maria dá à luz a sua Luz. A mãe de Deus chora o seu filho crucificado agora no seu regaço. No mesmo seio, a vida e a morte, a incarnação e a ressurreição.

Em todo o processo existencial há um período da noite, da espera, um período da gravidez. A partir do 25 de Dezembro a noite é mais curta. “Eu sou a luz do mundo”(Jo 8,12).

António Justo

Cimeira África-UE em Lisboa


Lei da cultura contra a lei da natura

Robert Mugabe, com 83 anos encontra-se desde há 27 anos à frente do Estado. No início foi o herói da independência do Zimbabué, transformando-se entretanto num autocrata opressor da oposição e sendo o responsável pela miséria de grande parte da população.

Embora a Europa o tenha declarado persona non grata, foi admitida a sua presença na cimeira de Lisboa, onde Ângela Merckel, no fim de semana passado, lhe deu um puxão de orelhas.

A Chanceler alemã, Ângela Merckel, falou, em nome da União Europeia, sobre o tema Direitos Humanos, referindo que”a Europa sofreu na pele, nos séculos passados, onde pode conduzir o desprezo dos direitos humanos: à ditadura, guerra e indescritíveis sofrimentos”. A Chanceler criticou a situação no Zimbabué afirmando que aquela condição prejudica a reputação da nova África: “Nós não devemos desviar o olhar quando direitos humanos são pisados com os pés.”

Mugabe tenta lavar as mãos, considerando a crítica uma intromissão nos assuntos internos do país. De facto ele tem medo de, ao ter de abandonar as rédeas do poder, vir a ter de responder no Tribunal Internacional dos Direitos Humanos pelas barbaridades cometidas.

A reacção de Mugabe mostra que ele não sabe lidar com crítica justa. Embora a Chanceler tenha falado em nome de todos os estados europeus, é atacada duma maneira pessoal, infame e brutal. O governo do Zimbabué através do seu ministro Sikhanyiso Ndlovu no jornal “The Herald” injuria-a de “ racista, fascista, reminiscência nazi”. “Ela deve fechar a boca e abalar. Zimbabué não é nenhuma colónia alemã, isto é o máximo de racismo dum chefe de governo alemão.” Mugabe tinha ultrajado a Alemanha, Dinamarca, Suécia e Países Baixos como “o bando dos quatro arrogantes”.

Por isto se vê que quem mais se empenha na defesa dos direitos humanos não recebe aplauso.

Merckel não costuma falar apenas “para inglês ver”. O ataque à Chanceler é um ataque a toda a União Europeia. O comportamento dum déspota não deve conduzir a reacções que castiguem o povo do Zimbabué.

A cimeira deveria agarrar nas mãos os problemas dos dois continentes, que só podem ser solucionados em comum.

O processo da colonização interna de África foi interrompido pelo interregno da colonização exterior. Esta não permitiu às forças e grupos internos alcançar a hegemonia interna. Por isso a situação em África vive dum passado interrompido. Sente a democracia e a defesa dos direitos humanos como uma imposição de fora, a imposição da lei da cultura contra a lei da natura.

É verdade que a Europa aprendeu tarde mas aprende dos erros que fez no passado. Só que os problemas do futuro dependerão dos erros que faz hoje!

António Justo

Crianças Vítimas


A Sociedade Machista e Sexista não suporta Mães nem Pais

Na Alemanha, especialmente na zona da antiga Alemanha democrática têm-se amontoado os casos de assassínios de crianças e doutros extremismos.

Um fenómeno raro mas que ultimamente tem aumentado é o facto de cada vez mais mães cometerem tal acto pelos mais diversos motivos. A sociedade tem de se perguntar porquê e tem de se preocupar mais com a protecção das crianças. Uma Europa, de espírito cada vez mais mercantilista, não pode nem quererá dar resposta às novas necessidades e exigências que cria. Cada vez se faz mais sentir a brutalidade que depois também se repercute nos elementos mais fracos da sociedade.

A semana passada, uma mãe, de 28 anos, em Plauen encontra-se presa por ter presumivelmente matado os seu três bebés. Esta mãe vivia bastante isolada; não se sabe ainda se ela matou as crianças ou se as deixou morrer à fome.

Também em Darry, uma mãe, de 31 anos, matou 5 filhos na idade entre 3 e 9 anos; a mãe, psiquicamente doente, julgando querer poupar as crianças à dureza da vida, anestesiou-as e depois matou-as.

Em casos conflituosos com a lei, muitas das mães e dos pais tiveram uma infância sem protecção e sem a possibilidade de interiorizar uma verdadeira atitude dos pais.

A política, em casos que agitam a população, reage, sem pensar nas causas, e discute a possibilidade da obrigação geral legal à visita regular ao médico de infância e, no caso de ausência, o médico ter de o comunicar à administração da cidade. Também no caso de maus-tratos os médicos deverão quebrar o sigilo. Alguns estados federais já regularam isto por lei. A política fomenta uma filosofia de vida egoísta e uma sociedade do arrume-se quem poder e no momento em que as consequências desagradáveis se tornam visíveis reagem com accionismo precipitado socorrendo-se de leis para distrair ou desviar a bola para canto.

A lei não pode ser a resposta à questionação que os problemas apresentam a este tipo de sociedade. Trata-se geralmente duma política simbólica e apenas de remedeio.

Além da necessidade da propagação geral dum verdadeiro humanismo nas relações laborais e sociais entre as pessoas e instituições, as vidas mais precárias com pobreza, problemas sociais e droga deveriam receber mais atenção e apoio.

Já há iniciativas que procuram ajudar mães jovens que, em casos especiais de situação de assistência social, precisam de apoio, recebendo, a partir do quarto mês até aos dois anos, um apoio com uma acompanhante de família que a apoia em todas as necessidades.

Assim, mães não motivadas para o ser, ou grávidas em dificuldade recebem um apoio fortalecedor para as mulheres e para as crianças. Esta será a melhor maneira de providenciar as visitas médicas regulares. Voluntariedade é melhor do que a obrigação legal de participar em observações médicas.

Na Alemanha procura-se remendar o sistema social com iniciativas como o “Projecto pró Criança” destinado a apoiar mulheres grávidas que se encontram sós, sem ajuda da família e, por vezes, sem uma ideia de como educar crianças.

A nossa sociedade despreza todas as convenções desvalorizando cada vez mais o papel da mãe e do pai. Estes são cada vez mais colocados a leste numa sociedade de espírito colonialista que pensa resolver os seus problemas de natalidade internos, que criou, com a importação, não de pessoas mas de forças de trabalho. Na política progressista, família é símbolo de empecilho e portando a desacreditar. Cada um vive para si sem se preocupar com o que acontece ao lado. Os pais assassinos, tal como as crianças, são vítimas duma sociedade que não tem lugar para eles. O nosso sistema social, entretanto, não tem nada a ver com a responsabilidade social da pessoa singular.

António Justo