Nascimento – Deus é Mãe
O nascimento de cada um de nós é um acontecimento único e inconfundível, uma nova abertura a toda a possibilidade, uma abertura mãe, também ela com a possibilidade de dar à luz. Para isso é preciso a capacidade de, também nós homens, assumirmos a feminidade. Com a primeira experiência da gravidez, da paternidade surge uma meta, uma criança. Depois da criança nascida vem a preocupação por ela, a atenção. A nova situação fomenta novas forças de entrega e dedicação e um outro sentido pelos outros. Tudo passa a ser diferente, um novo estilo de vida centrado no outro.
A capacidade da gravidez e a constância prepara-nos para a abertura confiante, a experiência do integral, do sagrado.
As dores do parto são um sinal duma presença. Deus não conhece o passado nem o futuro. Ele está sempre a dar à luz. Deus puxa o homem do seu corpo mãe como uma parteira (Sal 22,10).
A sua actividade criadora é apresentada como um processo de dar à luz (Sal 90, 2 ). Deus, como a mãe parturiente possibilita o novo, a sua presença (Jes 42, 14).
Dados à luz por um microcosmo, dum ventre materno para o ventre terreno, o ventre do universo. De relação em relação
O nascimento liga-nos à criação e o dar à luz ao acto do criador. No parto se testemunha a necessidade da relação e do apoio duns e doutros. Seguimos de ligação em ligação, de começo em começo, no substrato da união profunda no Espírito. À desligação da mãe e ao corte umbilical segue-se a ligação à comunidade humana através do baptismo e do registo. É o início dum novo começo.
Precisamos, na arte na religião, do aprofundamento dos modelos de compreensão da vida num horizonte de compreensão vivo e aberto sem nos deixarmos enredar em preconceitos existentes.
“Tu és o meu filho, hoje te dou à luz” (Sl , 2, 7). Assim se legitima a maternidade divina e a nossa natureza de filhos e reis. Em Jesus dá-se a “democratização” da filiação divina a todo o ser humano e até ao resto da natureza. Com ele inicia-se a cristogenese do homem e do mundo.
A igreja é a garante da propagação da fé transmitida, a continuidade histórica, a recordação. Também ela gera devendo por isso manter-se sempre aberta ao Espírito. Não há vida sem mãe. Pelo milagre do amor Deus nasceu em Jesus!
Nascer e dar à luz são metáforas da vida que nos acompanham até ao seu outro lado que é a morte.
Deus deu à luz a Luz. Maria dá à luz a sua Luz. A mãe de Deus chora o seu filho crucificado agora no seu regaço. No mesmo seio, a vida e a morte, a incarnação e a ressurreição.
Em todo o processo existencial há um período da noite, da espera, um período da gravidez. A partir do 25 de Dezembro a noite é mais curta. “Eu sou a luz do mundo”(Jo 8,12).
António Justo