Economia e Política – Recusa à moral

Ordenados à Margem de Critérios Justos


Segundo o que corre nos jornais alemães, o chefe da Continental ganha 4 milhões de Euros por ano; o chefe da Porsche, 54 milhões e os seus outros cinco colegas da direcção um total de 58 milhões.

As pragas do Egipto, a que se refere a Bíblia, cada vez avassalam mais a terra europeia. A sapata popular precária aumenta vendo a vida encarecer, tendo de trabalhar mais sem qualquer compensação, enquanto que as elites económicas e políticas aumentam usurariamente os seus vencimentos. Em nome da Europa e do turbo-capitalismo passou a reinar a desmedida. Sofrem da mesma doença contagiosa os beneficiados do sistema tanto nos países pobres e como nos países ricos.

O presidente da Alemanha não se cansa de admoestar a política e a economia dizendo que não é lógico os vencimentos destes aumentar continuamente e o ordenado do povo diminuir.

Na Alemanha, todos os partidos se manifestam criticamente sobre os elevados vencimentos de direcções das grandes multinacionais. O tema está na ordem do dia da sessão parlamentar de hoje.

A Alemanha não quer impor por lei um limite para as direccoes de empresas mas pretende com a discussão provocar decência na avareza que grassa na Europa a nível das oligarquias empresariais. A própria Chanceler Ângela Merckel, do partido cristão democrata declara a discussão salutar. Pretende regular por lei as indemnizações atribuídas a chefias, por falência. Maus administradores que levam a empresa a concurso não devem ser premiados com indemnizações que o contribuinte depois tem de pagar. Há manager que ganham somas horrendas levando empresas à falência, muitas vezes em benefício de interesses particulares dúbios.

A sociedade perdeu a medida, o equilíbrio e o critério; destruiu a virtude abolindo o meio-termo; já não se reconhece uma correspondência entre o trabalho realizado e o pagamento. Alguns parecem transformar-se na praga dos gafanhotos sobre os países, sobre o povo. Os gafanhotos destruíram a moral e Deus para que o povo se não possa agarrar a nada, sem possibilidade de se alinhar na busca da libertação, como fez o povo judeu. Ao ser reduzido a proletário deixa de ter qualquer projecção, a não ser a mercantil ou partidária de horizonte ofuscado.

Um director das grandes multinacionais e de grandes empresas não deveria receber um ordenado superior a 20 vezes o ordenado da criada de limpeza ou do trabalhador mais simples. Se recebesse mais, esse dinheiro deveria ser tornado disponível para fundações ou iniciativas caritativas e culturais.

Se o povo não acorda em breve pagará imposto pelo ar que respira

A relação entre liberdade empresária e bem comum têm que estar numa relação de equilíbrio.

Naturalmente que aqueles que se habituaram a usar-se da sociedade como self-service, o conceito de justiça, se existe, é elástico.

Um Estado que tal permite torna-se cúmplice e ao mesmo tempo instrumento de legitimação para os mais fortes. Através da legislação do salário mínimo o Estado já se desobriga da injustiça a que dá cobertura. As leis do mercado precisam duma ética baseada no bem-comum e na terra que é de todos.

A ganância e a desvergonha atingiu tal ordem que qualquer dia um esperto lembra-se de mandar patentear o ar e teremos todos de pagar imposto para respirar.

Os defensores deste sistema de injustiça ordenada argumentam com o curso das acções como a medida do sucesso e que fazem parte da economia mundial, como se o trabalho fosse só deles; o trabalhador não faz parte da economia mundial! Têm a descaradez de falar da inveja dos pequenos quando o que recebem a mais é tirado à folha do assalariado. As chefias de empresas argumentam também que quem determina os seus vencimentos é o Conselho Fiscal das firmas onde têm assento o patronato, os sindicatos e, em grande parte, o Estado através dos partidos. Esquecem-se de dizer que estes quando não dormem se servem sobejamente do sistema. Uma mão lava a outra!…

A lei alemã que, obriga as empresas a pôr a público também os ordenados das empresas privadas, veio criar mais transparência no sistema a partir de 2005. Daí a discussão.

O sucesso das empresas e da bolsa adquire-se no poupar na produção, nos trabalhadores. Estes devem contentar-se com pouco e aguentar com as consequências, também as da má administração. Conseguem lucros através de despedimentos e de maior produtividade e contenção ou diminuição de ordenados dos jornaleiros.

A especulação na bolsa acontece longe da realidade, sem consideração pelos pequenos, em favor do lucro. A explosão dos vencimentos das elites dá-se mais nos segmentos industriais notados na bolsa, onde reina o turbo-capitalismo desumano. Estes turbo-capitalistas desacreditam muitos chefes das pequenas e médias empresas, que se vêem com grande dificuldade, numa concorrência desleal.

Geralmente os milhões da bolsa são ganhos à custa de valores humanos deitados ao caixote do lixo capitalista e dos lugares de trabalho das empresas. O povo do rés-do-chão é despedido e os dos andares superiores recebe indemnização por levar a empresa à falência. Não querem que a política se intrometa para continuarem a ter a estrada livre só para eles. E o Zé político se quer manter o lugar tem que lhes ceder para receberem em contrapartida uns lugarezitos de trabalho precário para o povo.

Até quando? Não será a altura de surgirem os Zés do telhado? Não. O povo é como o macaco e os que o dirigem e representam, apesar de tudo, não vivem mal!… Ao povo resta-lhe a consolação de poder esperar no vota!

António Justo

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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