Arte Moderna e Pós-Moderna ao Serviço da Ideologia

Saber Lógico contra Saber Figurativo

A Documenta 12 continua a tradição duma arte intelectual que nasce e morre na cabeça. Uma arte plástica para ser explicada. Como se a explicação não tivesse outras disciplinas próprias na literatura e na filosofia. Deste modo a arte atraiçoa os próprios artistas porque se autonomiza para ser explicada pelo olhar limitado do pensamento e dos que se ornamentam com ele instrumentalizando-a em benefício do discurso político.

Assim se violam as belas artes subjugando-as ao pensamento, ao discurso. Por trás disto está o interesse em reduzir a percepção da realidade ao pensamento. Este não é tão complicado revelando-se no melhor meio manipulador das massas. O interesse em extinguir a capacidade de percepção da linguagem por imagens não é inocente. A ditadura das ideias consegue assim recalcar outras formas de abordagem da realidade.

A arte plástica torna-se escrava dum órgão selectivo, restringidor. Já Pascal sabia que o coração conhece razões que a razão desconhece! As novas elites, especialmente a partir do século XIX, estão interessadas no pensamento conceptual. O universo porém é mais que um acto narrativo a querer-se explicitar, ele é também manifestação, criação não totalmente explicável pela razão. Quem mede a realidade com o texto, com a razão, talvez a resuma mas mata-a. O pensamento é como o autopsiador, trabalha com cadáveres, sem uma referência anterior. Fazem com a arte o que tentam fazer com a religião reduzindo-as a conceitos.

O pensamento racionalista e materialista procuram acabar com o saber figurativo que é específico da religião e da arte. O saber religioso e artístico (a experiência) é imediato enquanto que o saber conceptual é mediato. Políticos e iluministas para se apoderarem do poder e da cena discriminam o saber religioso e artístico proclamando o saber conceptual como a única forma do conhecimento arrumando assim com os rivais instituindo-se eles em mediadores hegemónicos da política e da vida, declarando outros modos do conhecimento como ilegítimos. Declaram o pensamento como um absoluto para assim poderem apoderar-se do poder e do povo que não possui o saber conceptual. Dá-se um reducionismo absoluto não reconhecedor da finitude e da limitação do conhecimento. Assim o povo duma só cajadada passa a ser considerado estúpido, não lhe sendo reconhecidas outras formas de abordagem da realidade. É a ditadura das ciências naturais contra as ciências humanas que relegam outros modos do de abordar a realidade para o mundo da fantasia. As virtudes sinais no caminho não se querem num mundo proletário. Este quer-se pronto a seguir, sem energia própria, sem vontade, quando muito eclético. O povo, e os académicos, cada vez perdem mais o acesso à imagem vivendo na e da subserviência ao discurso.

O saber da arte foi subjugado ao saber conceptual e posto ao serviço da ordinarice do factual nas mãos de fanáticos do saber conceptual. Assim constroem a democracia com alicerces sobre a areia em vez de a consolidarem. Continuam a querer um povo distraído a viver apenas na ágora ao som dos seus altifalantes, sem acesso à própria vida, sem imagens interiores nem transcendentes. Muitos continuam a correr atrás das cansados foguetes da modernidade ou da Pós-modernidade, esquecendo que esta época já está a passar. Repetem-se e acabaram por se desviarem do âmago da arte, da observação viva do mundo e da sua tradução para se entregarem a apresentações da arte ao serviço da política, da sociologia e da filosofia sem reconhecer a sua essência.

A qualidade da arte passa a ser ditada por homens do intelecto e do dinheiro que se organizam internacionalmente em cartéis e organizações de interesses. É o que constata o célebre artista Dieter Asmus ao afirmar que uma casta de teóricos “vigia internacionalmente sobre uma Modernidade já morta há muito tempo”. Também acha sintomático que uma arquitectura ainda alérgica ao ornamento do estilo Bauhaus de há 90 anos “continua a valer como o Nonplusultra do avantgardismo”.

Quem não estiver ao serviço do progresso e se atrever a um estilo próprio, diferente é apelidado de reaccionário. Os nossos “doutores da lei” são muito mais perigosos que os seus predecessores; eles não só nos querem apenas obedientes mas também limitados e triviais como o seu modo do conhecimento reduzido à ordem lógica e à retórica em serviço duma mediação política própria. Naturalmente que a reflexão deve ser um acompanhante atento e pressuposto na razão do coração e que os saberes abstracto, experimental e intuitivo se complementam.
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Dieter Klaus critica a arte da pós-modernidade afirmando: “os artistas permaneceram durante um século inactivos observando como lhe foi tirada a competência de interpretação e decisão sobre as suas obras. Abri a boca!” De facto o saber do artista e do homo religiosos é imediato podendo ser auxiliado pelo saber conceptual já em segunda mão. Eduard Beaucamp afirma no FAZ: “Hoje parece faltar a força para despedir a Modernidade e descobrir de novo contra ela uma outra história da arte”.

Há iniciativas como a do “Gruppe Zebra” que já desde os anos sessenta critica a arte moderna. Muitos deles consideram a Documenta como senil pelo facto de continuar o credo da modernidade. Eduard Beaucamp refere que, apesar da vitalidade dos artistas, os especialistas têm medo do novo e da crítica maliciosa dos colegas, optando por manter a mentira da vida para não perderem os benefícios.

É preciso libertar a arte da prisão do discurso. Ela tornou-se arbitrária como se pode constatar também na Documenta 12. Chega-lhe a esperteza da interpretação à luz de interesses muito imediatos. É o problema fundamental dum sistema que se estabilizou especialmente num racionalismo materialista que só conhece o mundo das ideias adulterando assim o mundo da realidade. A arte é a única instância no hemisfério ocidental que cria sentido através dos sentidos e da forma, não apenas como ideias através do intelecto. Este problema da intelectualização observou-se também na religião. Na época das ideologias absolutas o exagero teórico, a retórica é que conta, não o conteúdo, muito menos a procura da verdade.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Liberdade dos Meios de Comunicação Social

Auto-controlo – O melhor regulador

Estar ao serviço do bem comum, do público, torna-se cada vez mais difícil num sector como a Televisão, já de si distante da geografia e do povo e especialmente condicionada por monopólios económicos e ideológicos nacionais e internacionais.

Por outro lado o Estado e seus actores encontram-se num redemoinho de forças anónimas tão forte que os impede de introspecção e reflexão no seu actuar. A vertigem impede-os de fazerem uma exegese e uma sinopse dos interesses em jogo e na ordem do dia. O povo vê-se confrontado com muitas intervenções e medidas culturais e económicas que determinam radicalmente a sua maneira de estar, por vezes duma forma irreflectida e arbitrária. Por outro lado uma opinião pública débil e bastante ocasional não facilita o exercício dum civismo próprio.

A liberdade de imprensa é, em todos sistemas políticos, um sector sempre em perigo. As instituições fortes são tentadas a não respeitar princípios éticos e a comportarem-se à margem do princípio da responsabilidade social.

A luta por quotas altas de espectadores degrada as instituições. Estas recorrem ao escândalo e ao primitivismo na caça dum povo a que é dificultada a capacidade de discernimento. Por fim o povo vê-se confrontado com o despotismo económico e do mercado, passando a só conhecer esta filosofia.

Em nome do direito de informação e da liberdade desprotegem-se os direitos individuais da pessoa. A liberdade é sempre circunstancial devendo ser integrada na responsabilidade do bem comum, doutro modo torna-se abuso ao serviço dos mais fortes. Ela continua a ser a liberdade dos mais fortes, daí abuso.

Independência dos Meios de Comunicação Social
Por isso um Conselho Nacional dos Meios de Comunicação Social deveria regular-se a si mesmo, na defesa do jornalismo livre em conformidade com a Constituição. Este deveria evitar a intervenção estatal.

Naturalmente que o Estado, atendendo à sua estruturação, não deveria arrogar-se em instância controladora. Para isso um conselho nacional da imprensa forte, constituído por representantes das instituições sociais e forças da nação, teria de controlar e velar pela liberdade de imprensa e pelo prestígio e exercício dum bom jornalismo nos Meios de Comunicação Social, na sequência dum código da imprensa de acordo com a Constituição.

Naturalmente que as várias lobies invadem as redacções com as suas informações e encenações unilaterais preparadas. A situação precária de muitos Media leva-os a assumir as missivas da PR deixando-se instrumentalizar ao serviço de interesses económicos e ideológicos bem preparados para a consecução dos seus fins num mercado receptivo e acrítico. Assim a liberdade de imprensa é usada pelos que se aproveitam do Estado e pelos mais fortes.

O Estado na sua preocupação pela segurança interna e externa tende a servir-se dos jornalistas. Os vestígios e tendências de um Estado polícia estão em Portugal muito presentes; entre outros, as tradicionais impressões digitais no Bilhete de Identidade e a exigência para actos insignificantes de compra se ter de apresentar o número de contribuinte, coisa impensável noutros países mais respeitadores do cidadão.

Além disso a camada média portuguesa é muito pequena e desatenta para poder criar uma consciência pública forte capaz de oferecer resistência ao desrespeito dos direitos cívicos e aos grupos lobies.

A concorrência é irracional
A concorrência entre os Media é barbárica e ao serviço dos mais fortes. O que acontece nas multinacionais industriais está a acontecer nos Meios de Comunicação. Também aqui domina o ditado da economia e do mais forte em desperdício do bem-comum e duma verdadeira liberdade de opinião. Deixa de haver pluralidade na informação atendendo a que se impõe a monocultura das multinacionais e dos que a elas se encostam. De facto passamos a ter jornais e programas televisivos em grande quantidade mas sem a possibilidade de se formar uma opinião independente. Isto porque poucos, os mais iguais, são os mesmos em todas as empresas seguindo a filosofia económica absoluta em vigor sem transparência sem possibilitarem formulações alternativas. As mesmas notícias apenas se repetem quase textualmente.

Os políticos que deveriam servir os interesses do povo, em nações pequenas como Portugal, vêm-se obrigados a seguir a banda, ocupando as forças restantes na promoção dos partidos.

As relações imprensa-estado, missão da imprensa e liberdade, grupos de influência, e novas tecnologias deveriam provocar discussões contínuas–.

O director do Conselho da Imprensa Alemã, Lutz Tillmanns admoesta o Estado citando uma das orientações do Conselho: “Actividades de serviço secreto de jornalistas e de editores são incompatíveis com as obrigações do segredo profissional e o prestígio da Imprensa”. Aqui revela-se muito importante a independência das redacções e o direito dos jornalistas a recusar ser testemunhas… Lutz Tillmanns também chama a atenção para a necessidade de separar os textos relacionais dos de propaganda atendendo a que cada vez se observa mais uma mistura por vezes difícil de reconhecer. Há uma tendência de comprometer os jornalistas com a economia ou ideologia.

Torna-se fatal quando o Estado, para resolver a sua missão, reduz as liberdades do jornalismo, como está a acontecer em Portugal e no mundo, em consequência do terrorismo. Assim se tornam os sistemas mais iguais.
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Num país de fracos recursos económicos o jornalismo investigativo não só é dificultado como se torna quase impossível apesar de blogs e internet. A transparência torna-se quase impossível por falta de forças e recherces como tem provado entre outros o caso da Casa Pia..

O jornalismo desloca-se cada vez mais para a Internet. Blogger tornam-se fontes de informação e investigação mais autêntica pelo que deverão ser submetidos, também eles, a uma ética da imprensa tal como outros jornalistas. Também aqui, é de preferir o auto-controlo à regulamentação estatal directa.

Também a juventude necessita duma protecção especial. Não chega termos políticos abertos ao novo, é preciso personalidades que conheçam zambém o terreno da própria cultura e que tenham valores próprios nela enraizados.

Liberdade de Imprensa através de auto-controlo
A democracia vive do seu carácter público. Os Meios de comunicação social são a expressão duma comunidade cada vez mais mediatizada e manipulável. A Imprensa, como meios de legitimação das classes dominantes e de ligação do povo ao sistema pressupõe grande capacidade de independência a ser protegida pela lei. Também a Imprensa não deve cair no mesmo erro monopolizador de poder, tal como acontece com os privilégios das formações partidárias em relação a outros grupos de interesse. Estes predominam nas várias comissões estatais de tal modo que, devido ao equívoco da legitimação representativa da proporcionalidade, assumem, por vezes, funções que neutralizam o carácter democrático, dado o seu mandato ser exercido reduzidamente só em função partidária.

Os Meios de Comunicação Social constituem o quarto poder do Estado mas também eles, tal como os partidos, não se encontram à altura de usar os privilégios que têm. Não chega a legitimação dos meios para se alcançar o sucesso rápido.

Duma maneira geral a liberdade de imprensa está ao serviço dos grupos articulados. O povo não conta porque é massa inconsciente, não pensante, apenas preparado para consumir informação já bem mastigada por outros.

Seria de esperar uma Ordem dos Jornalistas regulada pela lei em que jornalistas e editores se administram e auto-controlam no compromisso e responsabilidade em serviço da cultura e do povo. A procura da verdade num discurso crítico não é simples no redemoinho de interesses económicos e ideológicos.
Imagem condutora defraudada
Neste meio tornar-se-ia um trabalho hercúleo colocar a imprensa ao serviço do bem-comum. Os grupos organizados não estarão dispostos a ceder privilégios a que estão habituados.

Um factor contra o bom jornalismo é este ter de contar com o cálculo do sucesso. Um outro factor é o monopólio da informação, devido à concentração da imprensa em poucas mãos. O sensacionalismo e a confusão de interesses económicos e políticos e jornalísticos transformam os Meios de Comunicação Social numa floresta virgem de interesses económicos, políticos e jornalísticos. Por outro lado o povo sempre cioso do trágico fomenta a produção de informação negativista. Os Meios de Comunicação Social estão interessados em prender a atenção dos consumidores chegando ao extremo de espalhar notícias falsas como a de que a mudança do clima depende do aumento do anidrido carbónico na atmosfera e outras fábulas, propagadas por crentes ecologistas, políticos e capitalistas. O medo é um grande trunfo e instrumento para quem se encontra da parte soalheira da vida.

Um problema da Imprensa cada vez mais evidente é, em vez de mediadores se transformarem cada vez mais em actores do poder e da política. Uma informação que não guarde uma equidistância entre povo e política torna-se problema. Também o facto de jornalistas expostos aparecerem em programas comentando entre si resultados de eleições, etc., conduz à inversão da função dos meios de comunicação social, ao transformarem-se em actores e interpretadores da política. A televisão arroga-se assim um direito que não lhe pertence. Jornalistas da televisão podem influenciar o povo de maneira especial. O mesmo se diga do uso da demoscopia, que muitas vezes, substitui temas objectivos e informações de fundo, ficando-se pelo comentário de prognoses. Os comentadores políticos deixam-se influenciar pelos resultados da demoscopia das entrevistas de opinião. Torna-se mais fácil opinar e distrair o povo com números do que falar objectivamente sobre política social e económica.

Um outro problema mais específico da televisão está numa questionação dos interlocutores partidários concedendo, a cada um, um tempo proporcional aos votos parlamentares de cada partido.

Os Meios de Comunicação Social querem por vezes dar a impressão ao público de que todos podem compreender tudo. Esta ilusão leva a uma redução dos conteúdos até ao insuportável.

Aos Meios dde Comunicação Social em geral e em especial à Televisão cabe uma grande responsabilidade no atraso cultural e de opinião dum povo.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Nua! Toda Nua! No Seio da Igreja!…

Performance duma Artista Alemã na Documenta

Sim! Mesmo sem nada impuro ou artificial a cobri-la! Uma mulher, na nave da igreja, tal como a mãe a dera ao mundo! Um escândalo ali, no regaço da Igreja mãe, a filha duma outra mãe, nascida na polónia gera uma ideia; uma ideia não, um vendaval de ideias que fazem lembrar dores de parto ou gorjeios de alegria. Enfim, um acontecer maternal na maternidade Igreja: um grito pelas origens ou por uma comunidade mais mãe?!

Como de costume, os que precisam de mais agasalho, o agasalho da cultura, criticam e os que precisam da natureza com os seus improvisos louvam. Na discussão pública duma imprensa impúdica cada um procura empacotar aquela obra de arte à sua maneira!

A Igreja evangélica de S. Martinho concorreu para a exposição mundial de Arte denominada Documenta, com um contributo sob o tema “O que nos traz (transporta), o que nos suporta (mantém)?” A artista Patrycia German no âmbito duma performance deixou-se levar nua por 4 homens em tronco nu, perante um público de 100 espectadores na Martinskirche em Kassel num programa paralelo à Documenta na representação “80 vs 4”. Com esta performance a artista diz querer tematizar a falta de defesa bem como o terror da beleza na nossa sociedade na qual as pessoas são reduzidas a uma medida ideal. Pelos vistos a artista não queria ofender nem provocar ninguém. Ela mesma sentiu-se levada pelo público sentindo-se ao mesmo tempo frágil e indefesa. Talvez os braços da comunidade sejam demasiado musculosos para não tornar inseguro um indivíduo cujo escudo é apenas a sua nudez!

Uma performance que na sua singeleza feminina deixa mais matéria de reflexão e comentários do que a maior parte dos sermões dominicais que embora doces e humanos parecem continuar masculinos.

Para uma sociedade civil e uma comunidade religiosa acostumadas a rituais de nudez rude e a actos de desvergonha, esta Performance não foi obscena se bem que estranha. Desculpante é o facto da artista não ter actuado dentro duma acção litúrgica e a paz das paredes das igrejas parece tudo aguentar.

A Igreja foi durante séculos o lugar de nascimento da arte. Alguns sentem expressam a necessidade e urgência de a arte em toda a sua vitalidade voltar à casa paterna, ou melhor, materna. Outros dormem e ainda outros impacientes procuram abrir as portas sacrais ao espírito do tempo, promovendo assim um espírito legítimo mas não oportuno porque contra o Espírito.

Talvez a acção de Patrycia German possa acordar muita gente nas cúrias para reencontrarem a arte no seu meio e fomentarem artistas imbuídos do espírito pentecostal que é liberdade. Isto pressupõe coragem e referência. Muitas instituições e personalidades da vida pública limitam-se a encostar-se ao nome passageiro de alguns artistas bem cotizados no comércio público, levados apenas pelo espírito da moda. Assim perdem a oportunidade de fomentar vocações artísticas no próprio meio, dançando ao toque do espírito do tempo servindo-o ingenuamente.

A direcção da Martinskirche mostrou coragem manifestando talvez desta maneira a necessidade da Igreja se abrir à arte e de se movimentar mais no centro da vida. Uma igreja como lugar aberto ao mundo e ao público.

Em discussão põe-se um problema de fronteiras e limites, de sentido e missão. Precisa-se de uma igreja aberta ao profano mas atenta à profanação. Ela não pode transformar-se no lugar da entropia e da indiferença. O problema é que a linha de fronteira entre profano e sagrado passa pela nave central da Igreja e acontece no centro do Homem. O ser do homem é ser sagrado em profanidade, uma unidade indissolúvel.

Para quem vê na Igreja um espaço de devoção a liturgia da artista vem questionar a outra liturgia, a dominical, que se realiza na igreja considerada própria, como lugar de meditação, espiritualidade e de diálogo com Deus. Se se procura na igreja consolação, apoio, sossego, encontro consigo mesmo e vivência de fé na comunidade, certamente que aquela forma de liturgia pode perturbar. Além disso, num tem em que um mundo secularista fanático só procura olhar para a sanita da Igreja, num tempo em que a Igreja apresenta algumas arranhaduras e demasiada rotina na sua hierarquia, é compreensível uma certa autodefesa por parte de muitos. De facto a comunidade paroquial, embora tenha necessidade dum rosto próprio, não se pode transformar numa sociedade ao som dos tambores da praça pública. A exitação e reacção exageradas comuns a acontecimentos como este só servem posições e estruturas instaladas que consideram as pessoas como meios ou como súbditos.

Importante é a tematização do problema da abertura da Igreja e o seu significado para a pessoa e para a sociedade num diálogo equilibrado e calmo entre sagrado e profano.

Relevante é que todos tenhamos menos medo de sermos nós mesmos e de sermos transportados nos braços duma comunidade, confiantes e sem receio. Então, nem o medo da nudez nem o da roupagem nos dominará.

Da discussão e da crítica surge mais luz. A esperança é o seu suporte e o amor, o seu ser. De resto a vida é um escândalo! Só não se admira quem já resignou, quem já vive no descanso dos mortos!

Talvez a artista tenha saudade duma comunidade com a vitalidade manifestada no gesto de Jesus perante os vendilhões do templo. Para isso ela precisa compreensão e ajuda de todos.

António da Cunha Duarte Justo

António da Cunha Duarte Justo

Visita à Documenta – Presidente Barroso em Kassel

O Presidente da Comissão Europeia José Manuel Barroso encontra-se desde ontem de visita à Documenta, em Kassel, Alemanha, a convite do Presidente do Estado de Hesse. O português que ocupa o mais alto posto político na Europa, como que para justificar a sua visita, acompanhada de muito pessoal, disse “A Europa tem muitos pontos brilhantes mas só uma Documenta!” Talvez com a sua visita se pretende acentuar a relevância da arte na vida e na sociedade ou simplesmente afirmar a presença da política e das instituições da União Europeia entre o povo. A sua visita passa desapercebida à comunidade lusa de Kassel com cerca de 300 portugueses…

A sua visita alegra uns e faz levantar as vozes críticas de outros, dos mais propensos à matemática e ao direito. Estes sentem-se perturbados pelo facto de, à sua passagem, as regras de trânsito serem anuladas. Para a autoridade passar interrompe-se o trânsito, a normal corrente dos outros transeuntes, o que em democracia parece questionável além do desperdício. Esquecem que o Homem não vive só de pão.

Barroso no seu carro blindado era escoltado por mais 4 carros de Estado além de 5 polícias visíveis, 8 motas da polícia e dois carros policiais que o acompanharam nos 20 km que ligam o aeroporto a Kassel. Talvez aparato a mais para uma cidade de 200 mil habitantes e para defensores de princípios democráticos!

A pompa está prescrita pelo Protocolo da recepção de hóspedes estrangeiros e é uma coisa muito natural, alegam aqueles que já fizeram experiência de ter hóspedes em casa! Pretende-se dar boa impressão mostrando a melhor face do anfitrião. Não se pode falar de esbanjar dinheiro.

Para além de tudo isso um acto de liturgia política!… A admiração como factor estabilizador do sistema é óleo de qualidade na máquina!

A admiração não parece ter lugar numa democracia digna do nome. O tempo dos Deuses e do politeísmo já passou. Os políticos ao passear a sua importância à custa dos outros comportam-se como se fossem imperadores da China, o que não corresponde a princípios democráticos. Castas e vacas santas suportam-se na Índia. O eterno problema dos direitos especiais também na democracia…

É pena os jornais locais não terem aproveitado a ocasião para se ocuparem dos altos temas europeus.

Barroso, um português inteligente, fruto duma vontade forte e determinada!

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

Mário Soares – Cavalo de Troia ao serviço dos combatentes laicistas

Comissão de Liberdade Religiosa – Mais um Couto político

A Igreja política lusitana
O Primeiro-ministro Sócrates, sumo-sacerdote da comunidade religiosa civil, assistido pela sabedoria de “Jeová” e à luz das velas marxistas e racionalistas acaba de elevar às honras do altar um homem sólido na crença agnóstica e laica nomeando-o presidente da Comissão de Liberdade Religiosa.

Sócrates com um só gesto dá alimento a bocas grandes e presta veneração à maçonaria bem representada no governo e honra assim Mário Soares, seu melhor acólito depois do 25 de Abril, também chefe da Irmandade socialista! Sócrates geralmente mais virado para as crenças pragmáticas protestantes tem que ir concedendo algumas bulas aos do “Salão do Reino” socialista, doutro modo cairia ele na desgraça do purgatório dos incrédulos e dos ingratos do Reino! Mais um passo no sentido da estabilização da fé civil, à margem e contra a justiça social, num modelo de sociedade que continua a adiar a realização do povo para a escatologia.

O céu da democracia portuguesa é pobrezinho mas honrado. A devoção do preceito cumprido de 4 em 4 anos e a consequente penitência posterior, já não só quaresmal mas diária, como convém a devotos praticantes conscientes, é o que resta da consolação duma liturgia do dever cumprido para além do agasalho da alma cívica alcançado na veneração dalguns santos em comícios, congressos ou simplesmente na reza diária do terço televisivo na união na esperança da comunhão dos cidadãos. Não fossem uns infiéis derrotistas a questionar os irmãos laicistas, os sacerdotes mais irmãos do Reino, não fossem uns desmancha-prazeres renegados e antiquados que pretendem manter a crença na existência do purgatório e do inferno para os dos andares de baixo, a paz daquele céu pobrezinho mas honrado não teria nuvens.

Na vida política, social e religiosa, quem não reza não se safa, o que mais conta é o ardor da devoção e, quanto mais a mente e os olhos se fecharem, maior é o gozo do Reino. Este é o dogma que mantém tanto o sistema socialista como o capitalista, propagado por seus servidores sacerdotes. Por isso os fiéis ortodoxos da democracia tiram à boca para venerar e premiar os seus santos, já não com hinos e louvores mas com coutos rendosos. No céu da democracia, os santos de hoje já se encontram mais perto do povo embora com boca fina, justificando-se por isso a manjedoura especial da nomenclatura. Este é o reino dos tais independentes, dos tais livres que se conseguiram libertar do povo, que para eles é o reino do mal e da imbecilidade; o inferno é o povo. No reino dos realismos não há diabo; aí o povo é pastagem e a atenção vai para as vacas. Não tivessem elas mamas!…

Uma característica quase geral da sociedade intelectual portuguesa, também comum ao povo, é a paciência. Esta, agasalhada em véu de pele de camaleão, é o pressuposto para se vir a ser o novo santo, santo da Igreja lusitana democrática. Paciência e obediência, pedem os autocratas. “Paciência, os santos do andar de cima lá sabem!” – exclama o devoto civil, seguindo os passos dos embuçados para as capelas e lojas laicistas. Sirva-lhes de consolo na ladainha das virtudes democráticas a palavra mágica a modo de refrão: Paciência, paciência. “Paciência” é o ámen da comunidade civil na Igreja política lusitana. Em momentos de maior aflição a ladainha é acrescentada por mais um rogo: Santa democracia, ora pro nobis! O ópio de esperança contida naquela palavra política “Paciência” chega para tirar as nuvens negras do horizonte até ao próximo pôr do sol. O que nos salva é a fé, já diziam outros antes dos sacerdotes políticos. Estes para opiar os devotos da sua comunidade falam do ópio do “ámen”da outra religião. Sabem que o melhor pasto para esfomeados é falar-lhe do pasto dos da manjedoura vizinha. Enquanto discutem sobre religião católica não notam que o problema está mais na religião política. Os sumos-sacerdotes da comunidade civil ganham a guerra desviando assim o povo para campos de combate paralelos.

Eles comem tudo e não deixam nada…
Mário Soares tem-se revelado um bom Cavalo de Troia dos combatentes laicistas e republicanistas no meio duma portugalidade fraca. O pobre socialismo dá mais uma comenda ao pobre Soares. Assim se continua a tradição duma política da revolução republicana em que se criavam e enriqueciam barões com os bens da igreja! (Não se trata aqui de defender o Catolicismo mas de apelar ao espírito crítico do povo para com o seu clero e para com os seus políticos. Estes encontram-se geralmente não do lado do povo mas do outro lado, do lado da instituição que instrumentalizam e defendem na defesa do seu bem-estar! O prado é o mesmo. As formas de instituição é que mudam! Deus e povo cada vez se tornam mais lameiro de engorda!)

Quando o governo não sabe o que fazer ou quer iludir o povo cria uma comissão. Deste modo pode desautorizar os deputados eleitos democraticamente, ou usá-la para auto-propaganda e dar susentento a filhos necessitados de tão grande mãe! Eles vivem de guerras substitutas (lugar-tenentes, as melhores iscas para levar o povo) e querem, à base de pseudo conflitos religiosos, justificar a auto afirmação e hegemonia sobre as instituiões religiosas e o povo. Usam o Estado, que deveria ser neutro, para se instalarem. É o saneamento pela positiva. Estão-se marimbando para o património cultural duma nação ou com o seu desenvolvimento. Defendem o direito de afirmação da cultura das tribos contra a nação. Esta é a sua hora, a hora do seu multiculturalismo, como se Portugal fosse de 1900! A sua capacidade de discernimento é enfoscada pela ganância do poder e pelo fundamentalismo ideológico. Soares, independentemente de méritos que também tem, um convencido da sua fé, teve o mérito e a esperteza de embrulhar os crentes do lado adverso alimentando-se da baralhada de crenças e utopias. Jörg Zink afirma que “cada Pigmeu e cada Esquimó sabe mais sobre a sua religião do que os ocidentais sobre a sua”. Estes conhecem só o primitivismo da religião e quando muito o seu folclore. O mesmo se pode dizer dos partidos e das filosofias que os suportam.

José Sócrates desejou-lhe “muita sorte” na gerência duma Comissão à tona da sorte e dos países interessados em exportar os problemas que têm no sector, devido a uma errada política de imigração.
Quem o declara “neutro em matéria religiosa” ou é ingénuo ou quer introduzir o cavalo troiano (com os soldados do fanatismo laicista não menos perigoso que o religioso) pela calada da noite dentro dos muros duma sociedade que apenas trocou os cueiros dum sistema pelo outro. Boa noite Portugal!

Mário Soares esconde o seu exacerbamento ideológico falando dum “exacerbamento dos fanatismos religiosos” a importar e que, graças ao islamismo, é aproveitado para justificar a implementação sub-reptícia da ideologia marxista-iluminista.

Soares apesar de ter sido apoiado, nos inícios da sua escalada ao poder, pelos socialistas alemães (SPD) não aprendeu nem compreendeu o espírito germânico aberto à novidade no respeito pela tradição e na convivência respeitadora e digna entre o religioso e o laico sem lutas jacobinistas republicanas. O oportunismo ideológico racionalista e marxista quer refinadamente desinstabilizar a tradição cultural portuguesa servindo-se do terrorismo islamista como pretexto. O fundamentalismo com que a internacional socialista e seus acólitos tem posto na ordem do dia contra uma cultura de maioria cristã na Europa é irresponsável. Esquecem que o fundamentalismo islamico que se encontra em avanço fomentando também ele tendências fundamentalistas na cultura maioritária. Na aplicação do poder judicial já se pode observar que este já abdica de ideais liberais em consideração de costumes islâmicos mais próprios duma sociedade de carácter mais pastoril.

Para Soares e seus irmãos trata-se de uma última oportunidade para em nome duma liberdade rectórica e em nome da mentira da igualdade de religioes se institucionalizar o engodo. Ingenuamente joga-se com o fogo. Estes pretensos defensores da modernidade podem tornar-se no seu maior perigo ao servir-se das diferenças religiosas como se serve Alcaida da religião para atingirem os seus fins. Querem desmontar a cultura europeia nos seus fundamentos a pretexto dum socialismo primitivo e dum racionalismo desencarnado e desumano. Naturalmente que a tradição se deve encontrar em processo aberto para o futuro a caminho de maior liberdade e da restituição da dignidade humana ao ser humano. Este não pode consistir porém apenas na substituição duns dogmas pelos outros por muito que a massa seja a isso propensa e grata. A incúria da massa não deve ser pretexto para eternizar a injustiça e o abuso dos sistemas de poder na sua sucessiva sucessão. A nação precisa duma elite nobre e não abusadora! Precisa de muito investimento na cultura do seu povo.

Comissão para a Igualdade dos Partidos
Armam-se em juizes imparciais de pretensos problemas religiosos, emboçados em Comissões. Porque não criam uma “Comissão para a Liberdade e Igualdade dos Partidos”. Porque é que a democracia trata tão mal os partidos pequenos sendo umas comissões parlamentares desfavorecidas em relação às outras no parlamento? Não seri óbvia aqui uma Comissã? Porque dão mais tempo de antena aos partidos da maioria do que aos outros. Os fariseus, salvo seja, usam de duas medidas. E o povo ressona ao som das telenovelas e depois gritam;”Aqui-d’el-rei, que me roubam a casa!” Esta deveria ser a matéria para que Soares teria aptidão e competência mas certamente que também aqui lhe falta a independência necessária. Apoderam-se da democracia e seguem a suma islâmica: para bem de Alá também a mentira é virtude! O problema está na própria convicção e na sua “independência”. Soares, devoto marxista na luta contra os crucifixos, não deixou a decisão aos interessados e envolvidos directamente no problema. Esta é a democracia que os tubarões conhecem. A fortaleza e convicção dos “quem tem um olho é rei”!

Comissão Liberdade de Diferentes Soberanias
Não seria mais óbvia a criação duma “Comissão para a Igualdade e liberdade de Diferentes Soberanias” de diferentes formas de governo: ditadura, democracia, despotismo iluminado, anarquia, etc… Aqui sim que estes políticos poderiam ter mais competência. O alcance do seu pensamento porém parece só chegar até aos limites da própria coutada. A política como a religião não podem ocupar todos os lugares do ser humano. Não devem porém continuar a ser prevalentemente ocupadas por mandatários de costas voltadas para o povo e para a sua realidade!

Uma Comissão Ética, embora com muitas objecções, ainda seria tolerável mas não a abstrusidade duma Comissão de Liberdade Religiosa para Portugal e para mais ao serviço do secularismo é totalmente controversa.

A liberdade religiosa e a liberdade democrática precisam só duma constituição assente na consciencia do povo e de leis justas para todos. Para seguir a lógica dos critérios de “independência” seguida na nomeação do presidente para a Comissão porque não colocar só anarquistas à frente das comissões políticas?

O fanatismo laicista republicano e o fanatismo religioso pretendem-se senhores da verdade; são fundamentalistas convencidos em guerra-fria! Eles andam por aí vestidos com pele de cordeiro! Só um povo inteiro se pode defender deles desde que esteja ciente de que se encontra da parte de baixo do ribeiro! O problema é cultural e duma sociedade média desinteressada no projecto Portugal. Um Portugal aberto e livre poria em questão as aquisições daqueles que cronicamente de geração em geração vivem à custa da falta da justiça social para o povo. A esta luz todos os projectos têm sido falhados! Só têm persistência os coutos políticos! Quo vadis Portugal?

António Justo

António da Cunha Duarte Justo