PODER ENTRE LEGITIMAÇÃO E DESLEGITIMAÇÃO


O PODER E O DINHEIRO CORROMPEM

António Justo

A crise do sistema financeiro e político chegou ao rubro. A desconfiança nas instituições e a desilusão acerca da ordem estabelecida conduz à nostalgia duma ordem ideal.


A normalidade do dia a dia manifesta-se num jogo de forças entre potência e fraqueza de grupos e de indivíduos; poder, violência, resistência e inércia são os seus acompanhantes circunstanciais naturais. A normalidade do poder parece dar lugar à normalidade da violência.


Segundo Max Weber “ poder significa a chance de impor a própria vontade também contra resistentes, dentro duma relação social”. O poder estende-se do Estado à família, da posição económica à posição política, social ou psicológica.


A insegurança estrutural em que nos encontramos torna-nos mais conscientes para a nossa situação de impotência. A vontade quer-nos a caminho, a caminho do Sol, contra a rotina do dia a dia, à semelhança do tubérculo que estende o botão na procura da luz do Sol. Toda a natureza se encontra irmanada, a caminho, na consciência de que quem para morre, tal como a água que para apodrece, reduzindo-se a húmus para os outros. Trata-se de andar, por vezes, de seguir o impulso do movimento, como o Hamster na sua roda. “Tudo flúi”.


Poder é a força do embrião que, na sua vontade de encontrar o sol, move o que lhe oferece resistência, do caminho. Poder participa da realidade ‘instintiva’ do embrião na procura do chão através da gravidade e no erguer do tronco na procura do Sol. Na definição da própria identidade está a vontade de Sol, de saber, de verdade, de sexualidade, de transcendência. Não só é tendência e deslocação mas também sentido. O ambiente oferece-lhe resistência o que o obriga a uma certa violência e a entrar numa relação interactiva. A vontade do poder está implícita no desejo da própria vantagem (realização), da subsistência. Potência e impotência andam juntos.


Contra a inércia, contra a entropia surge uma vontade consciente ou inconsciente que resiste à apatia/letargia e desencadeia também o agir do outro. A cultura, os estados, a família surgiram de vontades contra o clima, contra o ambiente, contra a resignação individual… As relações de poder institucionalizam-se e expressam-se em diferentes modelos de ordens sociais ao longo dos tempos (chefes de tribo, reis, presidentes, imperadores, papas). Cada conglomerado social, com os seus biótopos naturais, elabora as suas normas mais ou menos elementares que possibilitam uma relação normal e habitual, com maior ou menor tolerância e capacidade para a iniciativa individual/grupal numa tendência de identificação.


Cada época tem a sua cor local e a sua expressão de poder que condiciona as consciências individuais, seus anseios, satisfações e insatisfações. Cada pessoa nasce numa situação de relação com autoridades, leis, costumes, opinião pública, ideais circundantes, procurando orientar-se e afirmar-se nela e através dela. Vive embebida na norma que o hábito torna normal e evidente num determinado espaço e tempo (biótopo). Adapta-se a esta prisão de mimetismo, do habitual/moda, justificando-a inconscientemente com a necessidade de justificar a sua existência através dum olhar crítico, pela janela do passado ou do futuro. Uma vontade de ser e aparecer afirma-se também contra o caos, contra a inércia do habitual no sentido aparentemente “futuro”, dado pela resistência a tradições ou a novos valores.


A rotina poupa-nos força; é como que o ponto morto entre inspiração e expiração. Nesse ponto se descansa mas apenas para ganhar forças para uma nova caminhada. Tudo tem um ritmo com uma orientação não explícita. As normas e as instituições são as saias da mãe a que o bebé se agarra para se erguer. Por sua vez, a tendência do erguer-se legitima o portador das saias ao exercício da autoridade e até ao abuso do poder contra aquele que as não deixa ou se contenta em continuar gatinhando. No caos dos elementos está presente uma tendência ordeira que possibilita a convivência dos indivíduos no respeito mútuo e pressupõe uma ordem de espiral ascendente. Naturalmente que o desenvolvimento no sentido duma estrutura superior subentende um novo momento de repouso, de caos que possibilita a revolução de alguns contra a normalidade.


O exagero do poder institucionalizado, a sua violência, cria, por sua vez, potencialidades e fomenta a capacidade criativa nos indivíduos, num movimento espiral ascendente de acção-reacção-acção. A actividade da liberdade, que pressupõe a capacidade de dizer sim e de dizer não, é naturalmente condicionada pela formação e informação. A capacidade de reflectir e de descobrir a normalidade distingue-nos do mundo animal e vegetal que permanece encerrado no ciclo vital, num repetir contínuo à maneira das estações do ano. Os nossos hábitos são formados na geografia das estruturas institucionais e no tempo das expressões sociais. O Sol permanece sempre o mesmo, a terra e o tempo também, o que se muda sociológica e individualmente são as estações e nós com elas, em contínuo fluir. A rotina do poder e o poder da rotina são apenas condicionadores recíprocos possibilitadores de ciclones e anticiclones, de Verão e de Inverno. A regularidade das estações traz com elas o elemento revolucionário, apenas momentâneo na preparação da próxima estação. (Os revolucionários que tivemos até hoje, com a excepção do Mestre da Galileia não passaram de árvores de folha caduca que se alimentaram do humos da carência e da ignorância do próximo.)


Temos o pretensiosismo de contradizer o Inverno com se o progresso não fosse apenas o passado visto da perspectiva dum outro momento (estação), em diferido. Todos nós procuramos segurança e orientação (ordem social) uns olhando mais para o retrovisor e outros fixando-se mais no sentido do pára-brisas, não notando porém o que se encontra para lá do retrovisor e do pára-brisas. Vivemos da luta contra a vontade alienadora do passado ou contra a vontade alienante do futuro tornando-nos assim incapacitados para reconhecer a realidade para além da perspectiva do móvel; sim porque a realidade é aperspectiva. Abdicamos da capacidade de nos transformar transformando e fixamo-nos apenas numa dinâmica do poder do passado e do poder do futuro numa linha de tempo linear ou cíclico.


Uma identidade aberta que transcenda os condicionantes rotineiros, pode abrir uma brecha na rotina através da reflexão ou de contradição, uma brecha para lá do retrovisor e do pára-brisas que conduza a uma nova identidade na complementaridade.


É natural que as diferentes estruturas de personalidades (‘boas/más’) e a sua reacção em diferentes situações não são moralmente determináveis, a nível científico; de facto personalidades mais positivas podem reagir como as mais negativas; há momentos de dissonância em toda a pessoa (“pecado original”). É difícil ter-se uma imagem realista das condições de origem do bem e do mal. Daqui a dificuldade da adequação de castigo e a questão da liberdade ou determinismo de comportamentos e a consequente dificuldade de julgar. O Homem é um ser em processo entre natura e cultura e o poder uma sua constante.



As instituições domesticam o poder ou deveriam domesticá-lo contra toda a prepotência interna e externa. O abuso dos chefes tribais, as guerras civis foram evitadas com a instituição do monopólio do poder do Estado. A justiça passou do foro privado para o público. As pessoas não são santas nem anjos precisam de controlo e de instituições com a divisão de poderes. O problema mais que nas instituições está na falta de moralidade do Estado e dos seus representantes. Estes, alheios à honra e à dignidade humana, conseguem defraudar a república instaurando nela as suas coutadas. É um dado científico que o dinheiro e o poder em regra corrompem. O Estado tem instâncias de controlo dos poderosos mas estas não funcionam. O problema maior está no facto de serem os poderosos os membros das instâncias de controlo!


O sentido do estado vem da necessidade do povo se organizar num determinado espaço para manter a justiça e defender-se de agressores. Para Blaise Pascal ”a justiça sem a força é impotente; a força sem a justiça é tirânica”. Uma solução de conflitos, a um nível de justiça equitativa, precisa dum espaço também para a impotência política, para aqueles que não têm voz. A impotência da justiça é a oportunidade do mais forte.


Platão desenvolve a teoria da justiça contra a alegação sofista do direito do mais forte. Poder e vontade de viver andam juntos. Platão apela para o domínio do corpo (paixões) através da alma (virtudes). Thomas Hobbes vê na condição humana o seu ser de lobo contra os outros (Homo homini lupus!). Segundo ele, este só pode ser dominado pela razão e através dum Estado poderoso. Com a criação da instituição a legitimação do poder não fica abandonada às forças da natureza, ao mais forte. A legitimação do poder através de Deus ou do povo é organizada em regras do poder estatal. Aqui o direito do mais forte ou do grupo é contrabalançado com o direito do indivíduo, com o direito privado. O indivíduo abdica do poder de fazer justiça pelas próprias mãos outorgando o poder individual no Estado. O Estado, em contrapartida, promete garantir o exercício da liberdade a todos. O abuso do poder por parte dos governantes e seus iguais deslegitima-os levando o cidadão à desobediência cívica e à formação de grupos guerrilha, como era o caso antes do estado de direito, a uma regressão aos tempos bárbaros. Para Aristóteles o Homem é o zoon politikon. Violência acontece onde não há relação, onde não acontece reconhecimento.


Rousseau contradiz Hobbes afirmando que o Homem é, por natureza, bom, e que a sociedade é que o estraga. Esta visão romântica tem um sentido apenas corrector da redução do homem a lobo. De facto uma cidadania ovina continua a desconhecer a realidade do cordeiro e do lobo no ribeiro do Estado.


Cooperação é também uma estratégia da sobrevivência e não apenas a lei da selecção natural como queria erradamente o darwinismo social. Até as plantas mostram uma certa sociabilidade na distribuição das raízes no solo. Afirmação, resistência e cooperação fazem parte da mesma realidade. Sem a aspiração para a luz, sem o poder não haveria acção. A experiência mostra-nos violência e poder, numa relação ambivalente. No poder está o reconhecimento do outro e a consciência do nós. Daí a necessidade de reconhecer poder ao outro, seja ele embora o mais pequeno. Uma árvore frondosa deve ser consciente da sombra que faz aos arbustos que impede crescer debaixo dela. Uma república adulta terá de reconhecer a realidade dos vários biótopos que tem capacitando-os para agir e não só para reagir. Aos seus representantes não chega a legitimação exterior através dos votos, eles terão de ser modelos íntegros de ética aplicada. A crise de hoje tem também a ver com uma mentalidade parasita de adaptados sem personalidades exemplares. O sistema não suporta personalidades e vive duma mediania fomentadora de oportunistas espertos e não de inteligências.


Há um abismo entre um discurso fundamental e um discurso situacional, moral prático. Ética e política aplicadas encontram-se muito distantes daquele. O direito deveria estar ao serviço do bem-comum e limitar o poder. “A confiança é boa mas o controlo é melhor”. O poder corrompe porque quanto mais se tem mais se quer ter. Urge distribuir o poder porque poder e dinheiro em demasia estragam o carácter. Actualmente, na Europa o poder político e jurídico não tem o poder de limitar os poderosos; estes apoderaram-se das instituições e adaptaram-nas ao seu formato; as nações encontram-se, por isso, a caminho do desastre. Os políticos com os poderosos não podem solucionar o problema porque são parte dele.


Apesar da situação crítica em que nos encontramos, se não houvesse instituições não haveria continuidade; elas são como que a estrada onde o móvel (indivíduo e cultura) passa. A instituição global mais antiga da humanidade, a Igreja Católica, é perita em preservar a memória e pretende englobar o tempo linear e o tempo cíclico, o espaço e o tempo, a imanência e a transcendência como prevê a fórmula da trindade. O seu problema está sempre na resistência que oferece a um presente com as suas certezas de dia a dia. Sem instituição não haveria memória e deixaria de haver a transmissão do facho cultural duma geração à outra. A percepção do presente só é possível no âmbito de percepção do passado e do futuro sem descurar a realidade em que assenta a paisagem. A instituição, tal como o poder devem estar presentes na consciência quotidiana mas só em segundo plano, doutro modo tornam-se em ameaça à liberdade do membro. A presença do poder (instituição / pessoa) deve ser discreta e nunca tornar marginal a presença do indivíduo. O poder como o indivíduo encontram-se numa relação mútua de serviço à comunidade e seus valores. A pessoa é a alma da instituição.


O indivíduo só o é no e com o grupo, precisando de quem o represente numa ordem de valores e interesses comuns. Em si o indivíduo não deveria estar acima do grupo nem vice-versa, como podemos ver na fórmula trinitária de 3=1. O Homem não é “a medida de todas as coisas” como queria Protágoras. O Homem só é todo com todas as coisas.


A complexidade social aliada à velocidade duma vida acelerada provoca nos governados e governantes incapacidades de diálogo fomentando no povo uma consciência saudosista retrógrada e na política um activismo progressista leviano. A contínua mudança não permite a reflexão da experiência feita. As mudanças das condições sociais dão-se tão rapidamente que impedem a responsabilidade política, social e individual. Uma luta pela imposição de interesses específicos distrai a nação duma ocupação objectiva e desperdiçam-se as energias em discussões estéreis pelo poder. O sucesso de uns não pode acontecer à custa dos outros, como é costume. Respeito e reconhecimento de parte a parte; um estado paternalista não possibilita uma relação equilibrada entre os cidadãos. Para uma relação integral do Homem e da sociedade não chega já o diálogo é necessária uma ortopraxia do triálogo numa relação de união eu-tu-nós! Nesta realidade nova, ninguém é igual ao outro mas torna-se através do outro.


©António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

antoniocunhajusto@googlemail.com

PROFESSORES DE APOIO PEDAGÓGICO NAS ÁREAS CONSULARES


Consulado de Frankfurt sem Apoio Pedagógico Regional

António Justo

A urgência em racionalizar a administração e em dar resposta às necessidades da população exige colaboração e um cuidado especial de todas as partes. Nas áreas consulares onde se administra o ensino de português com professores sob a alçada de Portugal estão previstos Professores de Apoio Pedagógico. A Área Consular de Frankfurt encontra-se sem Professor de Apoio Pedagógico para os professores da responsabilidade portuguesa desde há mais de um ano. É de esperar que as autoridades portuguesas solucionem a situação. Não é razoável nem proveitosa a existência dum Professor de Apoio Pedagógico Regional que, a tempo inteiro, assuma o encargo de duas áreas consulares.


Nas áreas consulares não se precisa dum professor a tempo inteiro mas sim dum penso horário de um mínimo de 5 horas até a um máximo de 10 para dar resposta às necessidades pedagógicas e organizativas de cada área consular. Em princípio não deveria haver Professor de Apoio Pedagógico sem ter também cursos em que leccione, tal como faz a parte alemã em relação ao ensino sob a sua responsabilidade.


Os professores de ensino sob a responsabilidade portuguesa não podem ser deitados ao abandono sem alguém que, perto deles, os acompanhe e apoie. A eficiência do ensino depende também da relação entre os professores.


Constato, na qualidade de conselheiro da ara consular de Frankfurt, a necessidade da presença de um professor de apoio pedagógico que esteja, também geograficamente mais perto dos docentes, das escolas e das comunidades portuguesas desta área consular.


O perfil do/a Professor/a de Apoio Regional pressupõe, além de altas competências pedagógicas, empenhamento pessoal e capacidade de conversação com a administração alemã.


Encargos do Coordenador de Apoio Regional

Esta figura, mediadora de relações entre a estrutura central – a Coordenação Geral de Ensino de Português na Alemanha – e os docentes deverá:


  • responder às competências que lhe forem delegadas pelo respectivo coordenador;
  • colaborar com o professor de apoio pedagógico de língua materna da parte alemã;
  • criar elos de comunicação entre os docentes, as escolas alemãs e a coordenação de ensino, nomeadamente através de um boletim informativo regular;
  • promover iniciativas de vinculação do ensino do português às escolas alemãs, através da sua abertura aos alunos alemães;
  • promover a auscultação de ideias e sugestões dos docentes nas diferentes realidades de ensino;
  • proporcionar a troca de experiências entre os professores;
  • promover o apoio pedagógico e didáctico  a professores dos cursos de língua portuguesa em funcionamento;
  • mobilizar meios de respostas educativas às necessidades das comunidades portuguesas;
  • promover a organização de acções de formação pedagógica e científicas;
  • identificar, com os professores, os conteúdos programáticos em que os alunos encontram maiores dificuldades;
  • organizar, com os professores, materiais pedagógicos disponíveis numa plataforma online, capazes de dar resposta às carências detectadas;
  • fomentar a partilha e o intercâmbio entre os diferentes cursos de línguas e culturas portuguesas em funcionamento na área consular;
  • promover o intercambio de escolas alemãs com outras escolas em Portugal;
  • elaborar, anualmente, com os professores, uma lista de livros escolares a propor.
  • promover acções de formação para comissões de pais, em colaboração com os professores dos respectivos cursos.


Em benefício duma política de ensino mais virada para a eficiência e para o cidadão.


António da Cunha Duarte Justo

Membro do Conselho Consultivo do Consulado de Frankfurt

antoniocunhajusto@googlemail.com

A Fé é a Razão crítica no Monopólio da Razão e das Leis da Natureza


ANTICATOLICISMO UM DISTINTIVO DO FANATISMO MODERNO


António Justo


O jornalista Christopher Hitchens, antigo partidário do trotskismo e depois defensor da Guerra contra o Iraque, rufa, por todo o lado, os tambores contra Bento XVI. Desde que o Papa se insurgiu publicamente contra a política de Busch no Iraque surgiu nos media dos Estados Unidos da América uma campanha feroz contra o catolicismo que depois passou para a Europa. Ideólogos americanos e ingleses não perdoaram à Igreja católica o facto de ele ter condenado a guerra. A cruzada contra o papado é motivada por razões laicistas e por um certo desalento nas esperanças dos reformistas dentro da Igreja.


Ed Koch, antigo presidente da cidade de Nova Iorque, pressupõe que por trás da campanha contra o catolicismo, esteja “a atitude da Igreja contra a guerra, contra o aborto e contra o reconhecimento da união homossexual como casamento”. A Igreja, embora “semper renovanda” não pode estar dependente das ondas e campanhas dos seus adversários. Precisam-se instituições estáveis e de confiança, não dispostas a mudar de opinião como cata-ventos. Estas campanhas obrigam a Igreja a ser mais consequente no conservadorismo, o que não favorece um certo agiornamento necessário.


Opinião bota-de-elástico favorece a Demagogia

A sociedade cada vez se torna mais vítima dum facilitismo sem raízes nem precisão. Aos poderosos, como a verdade só complica, basta-lhes a opinião. Os seus multiplicadores seguem as ideologias como as folhas das árvores o sentido do vento. Os meios de comunicação social transformam-se no bombo da festa. E o povo, sem tempo nem saber para entender o canto, segue o ritmo dos zé-pereiras da praça.


Hitchens, o guru do fanatismo contra o catolicismo, vê na religião em geral um “veneno mortal”. Tornou-se, assim, o estandarte de muitos que querem ver a ideia de homem associada ao animal selvagem. O laicismo, no seu programa de paganizar a sociedade, declarou guerra ao cristianismo a partir da revolução francesa, mas com a queda do socialismo real (muro da vergonha) adoptou o fanatismo que na Europa antiga andava ligado às crenças religiosas. Os prosélitos laicistas, que ambicionam ocupar os Estados, pretendem denegrir a única instituição moral global capaz de desmascarar os poderosos da Terra. Num mundo do ódio e da desordem tornar-se-á mais fácil impor a lei do mais forte no desdém duma moral superior que defende o direito dos fracos e oprimidos a uma vida digna.


O fanatismo anticristão, pretende o absolutismo laicista, o monopólio da razão e de certas leis naturais. Não suporta que centenas de milhares de pessoas se dediquem, sem receberem compensação económica, à defesa dos pobres e oprimidos e que a instituição, também ela pecadora como todo o terreno, levante a sua voz dando voz aos outros.


No tempo da globalidade não suportam a instituição global mais antiga do mundo a fazer-lhes sombra. Atacam toda a moral para, com a ruína dos valores, ruírem também os estados e reiniciarem os tempos das barbaridades e do politeísmo favorável ao caciquismo.


Gente de formação unilateral não suporta a existência pacífica de crentes e ateus, de republicanos e monarcas, numa relação de complementaridade. Aferrados na sua crença ateia e política combatem a crença dos outros desacreditando-a, como se toda a crença não fosse um salto no abismo!


Confiantes na ditadura da opinião bota-de-elástico, implementada por um partidarismo de ocasião e por um mercantilismo e socialismo ferozes, conseguem desestabilizar, apenas com palavreado e sem obras, muitos que vivem sob a trela da opinião publicada.

A iniciativa “Preservativos” ao “Papa em Portugal” vai distribuir 25 mil contraceptivos em lugares por onde o Papa passa. Vive-se de campanhas e não duma discussão diferenciada como se fosse exigido aos crentes o uso dos preservativos contra a própria consciência. As estatísticas de estudos internacionais provam que, nos países africanos com mais católicos, a SIDA está muito menos alastrada do que onde os preservativos são distribuídos. Ideólogos não suportam instâncias que apelam ao indivíduo a pensar pela própria cabeça e a decidir ponderadamente. No cristianismo, a nível moral, a consciência individual é o juiz superior. Isto pressupõe esforço individual e responsabilidade social.


Razão Cristã contra Monopólio das Leis da Natureza

A Fé cristã integra a razão e tornou-se na razão crítica ao monopólio da razão e das leis da natureza. A Igreja é necessária. A fé orienta-se contra a exclusividade das leis da natureza.

O processo da ressurreição, a vida eterna, um Deus humano em três pessoas (que não se contenta com o diálogo mas pressupõe o triálogo), a assunção, o celibato, são exemplos que não se deixam sintonizar com as leis da natureza, tal como a ideia não se deixa sintonizar com a realidade que descreve. A fé constitui um contrapeso às leis mecanicistas e deterministas da macro-física e às teorias do darwinismo social. O cristianismo segue a sabedoria do não só… mas também…


Com a fé cria-se um espaço crítico, uma dúvida contra o monopólio das leis naturais e da razão. A fé possibilita o alargamento do horizonte, ajuda a levantar os olhos transcendendo-nos dum ser reduzido a ovelha de boca na erva e de olhar no traseiro da vizinha! A fé cristã possibilita a libertação do imediato, a libertação de si mesmo, a libertação das ideologias, do Estado e da própria crença.


A igreja é uma obra de solidariedade universal para pessoas crentes e que serve os oprimidos da sociedade e também os não crentes. A luta destrutiva, a que se assiste contra a caritas que provém da fé, deve ser contrabalançada por exigências de verdade e serviço à comunidade. Toda a instituição é um mal menor a ser continuamente corrigida por cada um. A intolerância contra o cristianismo é tolerada e promovida apesar deste ser, nos tempos actuais, o grupo mais perseguido e ainda com mais mártires do que em qualquer época passada. Hoje ideólogos tornam-se milionários escrevendo livros e publicando meias verdades ou mentiras.


Também as pessoas que não se deixam orientar só pela razão têm direito a um lugar que lhes pertence e os acompanhe pela vida fora.


Pelas obras e não pelas palavras devem ser julgados. Há muitos lobos por todo o lado. Eles comem tudo e não deixam nada…


António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

antoniocunhajusto@googlemail.com

ALEMANHA APOIA A GRÉCIA MAS SEM CONVICÇÃO


Portugal poupado na Acção de Apoio

António Justo


Encontramo-nos numa crise financeira inédita, numa odisseia política sem fim. A Alemanha, um país com grande responsabilidade na EU, não podia apressar-se na decisão de apoio à Grécia porque sabe que o vírus a eliminar se encontra no sistema bancário mundial e na EU.


No Parlamento alemão, a lei de apoio à Grécia foi aprovada com 390 votos de deputados a favor, 72 contra e 139 abstenções. A Chanceler Ângela Merkel lamentou o facto do SPD não ter apoiado a acção.


A Alemanha depois de hesitar em fazer de bombeiro votou a lei que autoriza o empréstimo de 22.400 milhões de Euros à Grécia nos próximos três anos. A primeira prestação de 8.400 milhões será já disponibilizada


Os Estados com maior crise na EU poderão suspender o pagamento do seu empréstimo à Grécia. A legislação votada no parlamento alemão prevê: “No caso dos credores terem custos de juros de refinanciamento superiores aos juros que os devedores pagam no âmbito do contrato de empréstimo, podem requerer a não participação no pagamento da próxima prestação”.


Portugal pode optar pelo não pagamento da próxima prestação, dado ter de pagar no mercado bancário internacional uma taxa de juro superior aos 5% que receberia do crédito à Grécia. Em contrapartida, Sócrates terá de  renunciar a projectos que só iriam aumentar a crise portuguesa. Portugal tem de empenhar-se mais em investimentos produtivos.


O preço do euro desce no mercado internacional, os produtos importados de fora da zona Euro encarecem; a gasolina torna-se mais cara. Isto parece não preocupar o Estado porque em cada litro de gasolina recebe 86 cêntimos de imposto e quanto mais cara a gasolina mais o estado recebe.


A Alemanha tem sido criticada internacionalmente pela mora no apoio à Grécia. Em nome da humanidade acusam o vice-campeão mundial de exportações (a Alemanha) de agravar a situação não acudindo logo à catástrofe. Esta opinião parece ignorar que as chefias bancárias é que têm orientado a política e a população alemã exige, em contrapartida mais rapidez nas reformas de regulação do mercado financeiro. Neste sector a EU ainda se tem mostrado mais temerosa que os Estados Unidos da América. Falta ao Euro uma visão europeia.


A EU não pode acusar o “made in Germany” de proteccionismo se a  EU não tem o controlo do sector financeiro e permite às direcções dos bancos o abuso, com antes da crise, e por outro lado subvenciona os produtos agrícolas europeus contra a concorrência exterior.


O ressentimento contra a Alemanha é uma moeda de mau pagador. Os políticos estão interessados no “continuar como até agora”. A Alemanha precisa mais tempo para a decisão não só por razões de grupos especuladores mas especialmente porque o cidadão alemão exige muita discussão pública, ao contrário do cidadão latino. Sócrates, Zapatero, Berlusconi não são tão controlados e não precisam de sofrer grandes consequências pelas decisões que tomam.


Não há bombeiros capacitados para apagar o fogo que começou na Grécia e se alastrará por toda a Europa e com ela às nações industriais que continuam a subsidiar os abutres das finanças internacionais. É um escândalo que estes ainda não paguem um imposto de transacção e ganhem com as crises que provocam. O povo grego protesta e com razão porque tem de pagar a factura enquanto que os especuladores e as grandes multinacionais se safam. Safam-se porque têm os governos como reféns e o povo à disposição. O turbo-capitalismo precisa de quem lhe faça frente.


António da Cunha Duarte Justo

Alemanha


CORRENTES MIGRATÓRIAS: Antigamente a escravidão, hoje a emigração ( uma perspectiva para a discussão em voga )

CORRENTES MIGRATÓRIAS

Antigamente a escravidão, hoje a emigração

António Justo

Emigração e colonialismo andam de mãos dadas, numa História de conquistas, destruição e exploração. A sociedade produz vencedores e vencidos, ricos e pobres. O território de Portugal e Espanha foram primeiramente colonizados pelos Fenícios, Gregos e Romanos, assumindo até a língua dos colonizadores, para mais tarde passarem a ser colonizadores no século XV e XVI. O desejo de domínio e de libertação andam de mãos dadas. A colonização é feita pelas elites e a emigração dá-se no seio do povo! A pobreza, o clima, as catástrofes e a má política põem o povo em marcha no sentido do Norte. O direito de emigrar deve ser um direito humano!


Na emigração o povo procura saídas da carência na busca de melhorar a qualidade de vida. A ânsia de libertação e a demanda de novas oportunidades é uma constante na humanidade como vemos já no êxodo do povo hebreu. Levam consigo costumes, ideias e o gene. Rompem assim as fronteiras de países, raças e culturas.


Quem está bem não abandona a terra; satisfaz o seu espírito aventureiro indo de férias ao estrangeiro.


A má política é castigada com a emigração. Cada sistema económico e político têm as mesmas estruturas embora com ligeiras adaptações: Antigamente a escravidão, hoje a emigração! Não conhece mudanças qualitativas, apenas quantitativas. A dor e a felicidade não são quantificáveis, mantêm-se constantes, tal como a elite e o povo!


Na discussão política, o tema da emigração não deveria ser aproveitado para tirar dele dividendos. Todos os partidos, se forem honestos, terão de confessar o “mea culpa” em vez de atirarem pedradas aos telhados dos outros. A emigração por necessidade é a grande calamidade dos nossos tempos, tal com outrora a escravidão e a servidão. Só uma discussão académica distante poderá ignorar as tragédias humanas que se escondem sob o rosto levantado duma casa construída na terra para os da terra. Saíram sem casa e morrem longe da casa e da terra.


Os factores de emigração são complexos e os problemas humanos que ela encobre também.


Discurso sobre Emigração com Diferentes Conotações ideológicas


Como uma discriminação latente conota a emigração com “populacho”, muitos académicos não suportam que se fale duma cultura dos “senhores doutores” e subserviência cunhal para não dizer cunhada. Portugal sempre foi hipócrita no trato das questões de emigração. A má consciência da nação, a inveja de muitos e a irresponsabilidade política que vê saldadas muitas dívidas do Estado com as remessas dos emigrantes, têm o descaramento de conduzir um discurso leviano e enganador baseado nas diferenças entre a emigração dos anos 60/70 e as de hoje, como se a emigração de ontem fosse uma emigração de necessidade e a de hoje uma emigração de liberdade. Como se os erros de ontem desculpassem os mesmos erros de hoje. Vive-se dum discurso abusador dos emigrantes, entre miserabilismo e eufemismo. O perfil dos novos emigrantes comunga da mesma realidade do dos anos 60/70: a necessidade. Usam-se argumentos de mau pagador e confundem-se alhos com bugalhos ao colocar-se no mesmo panelão emigrantes, luso descendentes, funcionários do estado e contratados especiais de universidades ou de grandes empresas! O Portugal progressista parece só conhecer especialistas que saem do país!… Os emigrantes (Auswanderer) da Alemanha em Portugal são também eles emigrantes /imigrantes, só que com um outro estatuto, que não o dos emigrantes portugueses. Não foi a necessidade económica mas a mais valias do lazer, de sol e do coração português que os levou a ir para Portugal gozar da sua reforma, no entardecer da sua vida. Na Alemanha quando a opinião pública fala dos seus emigrantes, fá-lo manifestando pesar. Pesar por ter alimentado e formado os seus cidadãos e os ver sair, quando deveriam ficar para produzir para a nação. Na Alemanha, em assuntos de emigração, assiste-se a um discurso de cidadania e de interesses de povo quando em Portugal (nos ambientes oficiais) se fala não de cidadãos mas de emigrantes de cara suja e de emigrantes de cara lavada!


Aos acomodados do sistema, é-lhe incómoda a tecla da necessidade e da má administração, mas muitos dos que falam com eufemismos sobre a emigração de hoje, são aqueles que se ganham bons honorários em projectos e seminários blablabla para ou sobre emigrantes. O ideário português sobre os emigrantes desmascara-se a si mesmo quando, emigrantes de hoje, se sentem na necessidade de se distanciarem dos seus antigos companheiros de destino, afirmando que têm melhores qualificações que os de ontem, quando, em grande partem vêm substituir os emigrantes de ontem nos mesmos trabalhos. Antigamente respondia-se “não vá o sapateiro além da chinela”; em linguagem mais democrática talvez seja mais adequado dizer-se: não vá a chinela além do sapateiro. Os nossos emigrantes hoje, como ontem, são vulneráveis no mercado de trabalho. Não falo naturalmente dos destacados do estado e de muitos da segunda e terceira geração integrados na vida social do país de imigração. A ilusão e a miopia impedem-nos de reconhecer a realidade precária em que se encontram.


É uma dor de alma assistir-se ao esvaziamento de Portugal. O esforço de Portugal feito na formação escolar não é eficiente se ao mesmo tempo não cria lugares de emprego que lhes dê saída para a vida. É verdade que o ensino universitário em Portugal duplicou nos últimos dez anos sem que o mercado de trabalho lhes dê saída. Vão então para o estrangeiro ocupar lugares, as mais das vezes não correspondentes à sua qualificação. O contribuinte pagou a sua formação e vê-o sair para ir enriquecer outras economias. Há alguns académicos altamente qualificados que são contratados pelo estrangeiro como fazem grandes empresas internacionais junto das universidades dos vários países. Seriam necessários pactos entre universidades nacionais e estrangeiras, entre universidades e empresas nacionais e estrangeiras para que Portugal não só exporte mão-de-obra mas tenha contrapartidas. Não há espaço para projectos profissionais nem familiares. Os finalistas de cursos ficam à deriva. A situação obriga, a necessidade manda e cada qual safe-se como puder.


A emigração, para países de expressão portuguesa, deveria ter prioridade alta para o país de envio e de acolhimento. O português é dos poucos povos no mundo que mais se adapta e integra no país de acolhimento, sem criar problemas.


Atacar a emigração de ontem e justificar a de hoje é cumplicidade com os exploradores do povo. Demagogos da palavra deveriam apostar menos no orgulho balofo colectivo para apostar no orgulho da produção colectiva e individual da nação. Precisa-se dum portuguesismo de obras e não apenas de garganta empertigada. O orgulho nacional é, de facto, o pouco que ainda resta a muitos que, para desviarem a vista de si mesmos, olham para a incompetência política nacional com um sentimento indeciso de saudade masoquista!


Uma mudança de paradigma face à diáspora portuguesa não se alcança com medidas centradas apenas em aspectos estatísticos, como é o caso do Observatório da Emigração para informar sobre fluxos migratórios, de seminários de igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, de iniciativas formativas/informativas e de sensibilização, por vezes mais preocupadas em aplicar fundos da União Europeia e em dar ajudas de custo aos soldados do partido. Os dinheiros bem aplicados no apoio a associações seriam mais rentáveis.


António da cunha Duarte Justo

Membro do Conselho Consultivo da área Consular de Frankfurt, Alemanha