PADRÕES PORTUGUESES DA EMIGRAÇÃO

 

ANIVERSÁRIOS DAS COMUNIDADES MOTIVO PARA MONUMENTOS DA MEMÓRIA

 

Cinquentenário dos Portugueses na Alemanha

 

António Justo

 

Emigrar é passar a um outro estado, transpor limites, tornar-se acrobata anónimo, a dançar a vida, na linha das fronteiras.

 

Uma data, um acontecimento pode ser uma ocasião para repensar e unir povos ligados pela emigração. A comemoração dos 50 anos dos Portugueses na Alemanha poderia tornar-se num ensejo para reforçar laços e fomentar padrões da memória migrante por toda a parte: França, Suíça, Canadá, USA, Alemanha, etc.. Os emigrantes estão de parabéns pelo que fizeram e fazem por Portugal e pelos países de acolhimento! Porque não deixar maior testemunho desta grande força e obra aos nossos vindouros? Emigrantes são obreiros de futuro, pessoas de vida na mala (https://antonio-justo.eu/?p=2570). Emigrantes não têm lugar no panteão nacional mas deviam tê-lo no santuário da memória colectiva de um povo. Se o povo migrante não toma iniciativa e o não faz, menos poderá esperar que o façam os que beneficiam do nosso trabalho.

 

A celebração  do cinquentenário dos portugueses na Alemanha, ou noutro país, poderia dar oportunidade de se criar uma iniciativa que, com o apoio de patrocinadores, construísse, em Portugal e ou na Alemanha, um monumento dedicado aos emigrantes portugueses. Não seria difícil encontrar alguma terra em Portugal e ou na Alemanha onde as autoridades locais não se mostrassem dispostas a apoiar tal iniciativa. Uma tal iniciativa poderia partir da Comissão organizadora do cinquentenário, das associações, de uma força política, de um Banco, das missões católicas ou de qualquer outra organização e certamente tornar-se-ia um exemplo para as comunidades portuguesas da diáspora em todo o mundo.

 

Novos Padrões da Portugalidade

 

Imaginem os portugueses que todas as comunidades espalhadas pelo mundo concretizavam tal iniciativa! Portugal e o mundo encher-se-iam de Padrões da mais genuína portugalidade. Sim porque aos padrões dos descobrimentos seguir-se-iam os “padrões” da emigração. Estes ficariam por todo o mundo a erguer a voz daquela parte do povo que fica, sem se ver, debaixo da terra, a fazer de alicerce a grandes construções.

 

Trata-se-ia de criar áreas da sensibilidade e de sensibilização de um espaço migrante onde se materializam sensações, aspirações e questionações, de trajectos e projectos de vida, de sentido e não sentido, do Portugal migrante. Nos monumentos aparecemos, recordamos, representamos e comunicamos algo para aqueles que os rodeiam hoje e amanhã.

 

É hora de se criar monumentos quentes fora das estatísticas frias e das conversas burocráticas, monumentos que mostrem vidas, vividas e não vividas, na procura do caminho.

 

Precisamos de monumentos que testemunhem a ausência e a saudade de vida e humanidade. Aquela ausência muitas vezes recolhida no canto da saudade, que se refugia na mala da recordação onde há cartas embrulhadas por lágrimas que as abrem de novo. Nelas o mundo passa ao longe e acena; depois a saudade vai à igreja onde muitas vezes ajoelha para ganhar força e se juntar numa alegria que paira no ar das festas da associação e onde se associa e junta uma voz longínqua de timbre a gaivota que voa no mar de saudade.

 

Celebrações da Aventura do Trabalho e da Honradez

 

Mais que casas da memória dos emigrantes portugueses querem-se “padrões” da recordação, sinais, vestígios, monumentos da aventura, do trabalho e honradez, espalhados entre as cidades e as nações; querem-se bastiões anti-preconceito  e manifestações de  vida compartilhada, de  solidão e ilusão, gerados na vontade de  testemunhar reconciliação. Aquela presença, por onde passamos, quer monumentos pequenos à laia de marcas que sem cair resistam ao tempo, e fiquem como destaques do povo baixo que mantem a lusitanidade e a humanidade universal num contexto popular, já não agressivo de poder. Portugal humilde emigrante, fragmentado nos monumentos quer ver testemunhada a viagem de um povo na procura de si e de alguém que o complete.

 

De nós não fica nada se não deixarmos a dor na pedra gravada como marcos de referência contra o esquecimento de um testemunho diferente em que a arte mantenha a tenção entre o real e a representação. Precisamos de criar corredores de monumentos que se tornem em veículos da lembrança e da humanidade. Não se trata de perpetuar a nostalgia do glorioso passado mas a história de heroísmos vencidos, de pessoas heróicas, sem presente nem passado, num futuro presente. Queremos as ruinas do presente a testemunhar o futuro do passado presente. São monumentos também da dor num vazio presente a lembrar a nossa ausência, a voz do perto, gravada na pedra da distância: o longe da presença ausente na sociedade de origem e de acolhimento. Muitos dos monumentos poderiam ser padrões expressão de gente sem rosto, de gente a passar como a brisa, a lutar contra a entropia e a testemunhar a entropia vigente.

 

O monumento é, como a palavra o diz: um desejo legítimo de quer manter na mente colectiva um fenómeno humano que os vindouros interpretarão. Estes seriam sinais de uma nova mentalidade, monumentos sem segundas intenções a perpetuar a lembrança do destino de povo em benefício de povo e não de ideologia ou de desvarios de poder. Seriam sinais do não poder, sinais da esperança que vive nas sombras do poder. O seu valor legítimo histórico radica não só num período mas também num fenómeno sociológico verídico que se mantem a querer expressar uma história a lembrar valores de povo.

 

Evoco aqui a ideia de padrões porque lembram o granito daquele norte e de vontades fortes e não de poderes estatais ou de pretensões; seriam padrões sem armas nem bandeiras, sem símbolos de poder mas simples recordação de presença na voz da impotência a construir honradez e humanidade.

 

Seria óbvio, e no interesse de uma política da cultura e da memória do Estado português, que órgãos da emigração e repartições da cultura e do MNE considerassem projectos como estes.

António da Cunha Duarte Justo

 

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CRIE-SE UM MINISTÉRIO DAS COMUNIDADES E DA LUSOFONIA!

Em prol de uma Lusofonia para além do Espaço do Sentimento de Pertença

António Justo

 A Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, independentemente de algumas mais-valias pontuais que regista e do seu trabalho administrativo, revela-se, ao longo da sua vigência, ineficiente e desgastante, contribuindo até para adiar, ad eternum, uma possível política séria, com pés e cabeça para a emigração e para as comunidades lusófonas. A experiência da Secretaria de Estado constituiria um contributo importante à hora de ser definida uma reforma da política das Comunidades portuguesas e da lusofonia em termos de estratégia.

Só um ministério próprio estaria à altura de reparar os defeitos da política passada e seria capaz de desenvolver conceitos e estratégias de uma política abrangente e adequada aos novos tempos. Temos a área da cultura, da língua, da economia, da lusofonia à espera de concepção inclusiva, de projectos e aplicação numa política visível e eficiente que sirva e se aproveite dos recursos das potencialidades migrantes e dos países lusófonos (com eventuais parcerias).

Urge aproveitar com eficácia a rede da presença lusa e das suas economias de maneira mais satisfatória e proveitosa para os emigrantes, para Portugal e para os países lusófonos. As comunidades da diáspora lusófona poder-se-iam aproveitar e ser aproveitadas e reunidas em conveniências comuns de fomento (Bancos, Câmaras da Indústria e do comércio, representações diplomáticas, institutos culturais, etc.) numa estratégia de inclusão de interesses e políticas de perspectivas de futuro lusófono.

Só uma política, atenta aos sinais dos tempos e à realidade da perspectiva das economias emergentes lusófonas e do equacionamento de projectos em termos globais, poderá dar resposta adequada às novas possibilidades e ao enquadramento económico e estratégico do constante fenómeno de movimentação social. Só a criação de instituições inclusivas com grande peso a nível de governos e de sociedade darão resposta eficiente aos novos desafios.

A missão não pode estar subjugada nem amarrada à administração (burocracia) se não queremos dar continuidade à típica mentalidade orientada pelo hábito da apagada e vil tristeza de não vermos o que está para além das bordas do próprio prato.

Assim deveria ser criado um ministério das Comunidades muito ligado ao MNE, a repartições ministeriais de gestão, de economia, de finanças, de cultura, universidades, turismo e de investimento! (Isto são ideias que já defendia publicamente em “O Emigrante” dos anos 80 ao dar-me conta do desperdício de recursos e da falta de racionalização e eficiência administrativa na emigração! A mesma carência de visão constatei ultimamente na reacção do MNE e Secretaria das Comunidades à luta que encabecei pela subsistência consular de Frankfurt; a rotina, a perspectiva burocrática e a defesa de interesses de instalados têm determinado muitas das decisões políticas e deste modo atrasado o desenvolvimento de Portugal e dos portugueses.)

Continua a ser irresponsável e arcaica uma política abandonada à boa vontade de secretários de Estado das Comunidades que, além da falta de uma política forte que os apoie, têm de se acomodar aos maus hábitos da casa (burocracia) que dirigem!

Em todos os Secretários de Estado que pude observar constatei o seu estado carente de também eles serem migrantes na transitoriedade de uma vida política que os obriga a cobrir a irresponsabilidade política de um Estado/Governos que nunca se interessou por delinear uma política séria para uma vertente tão importante como a dos emigrantes e das suas economias.

Na minha observação do palco político e do agir das Secretarias de Estado, durante mais de 30 anos, constatei sempre o mesmo estado precário desta instituição que, além de boa vontade e iniciativas passageiras, não deixa nada de duradouro. Um mínimo de seriedade política conceptual e programática exigiria um certo interesse por se encarar o problema de fundo. Verifiquei nos anos oitenta, um pouco de interesse de curta duração que não passou de meras intensões de discussão burocrática! Uma política de carácter meramente indutiva sem um tecto dedutivo que lhe dê perspectiva alargada continuará a ser incómoda para secretários de Estado e prejudicial para a emigração ao desperdiçar levianamente os seus recursos e as potencialidades de Portugal. Temos universidades e pessoas de experiência que em conjunto poderiam elaborar cenários políticos. Os partidos portugueses deveriam abandonar o jogo da cabra cega e do pingue-pongue a que se têm dedicado em questões de política de língua e de emigração para se afirmarem como competentes e ser reconhecidos em serviço do povo.

Também a discussão da política dentro da comunidade portuguesa (falo da Alemanha que conheço melhor) tem sofrido do característico defeito português, de se reduzir a visões partidárias de perfilhação e fomento de perfil partidário nada isenta nem equacionada em termos de situação e de povo!

O novo ministério poderia criar condições para a canalização das remessas para o investimento produtivo em Portugal e contribuir para a inovação da mentalidade portuguesa no sentido de se fomentar uma cultura de trabalho frutuoso e responsável. A perspectiva dos países lusófonos, em que a Lusofonia se tornasse não só o espaço do sentimento de pertença mas também a nova força catalisadora das novas gerações, não deveria ser parte acidental da filosofia e práxis de um Ministério das Comunidades e da Lusofonia.

 

 António da Cunha Duarte Justo

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UMA MULHER ÁRABE COM ROSTO PRÓPRIO – MAJAM MAHMUD

Uma Revolução da Mulher seria a Solução

António Justo

Majam Mahmud, que antes preferia ser rapaz porque como mulher não via futuro digno, está agora orgulhosa do seu género. É uma rapper egípcia de 18 anos e de lenço na cabeça que não tem papas na língua quando fala. Não lhe interessa a política mas a discriminação. Na sua música lematiza temas tabu de uma sociedade medieval. Chama as coisas pelo nome sem os rodeios do oportuno. Enfrenta os problemas da nação; fala sem medo da discriminação da mulher e do assédio sexual na sociedade egípcia. O Ocidente mais interessado na guerra económica do que na justiça individual e social fecha os olhos da guerra dos homens contra as mulheres especialmente nas sociedades da Índia e da África.

Revolução da Mulher – Quando?

Segundo uma pesquisa das Nações Unidas 99,3% das mulheres egípcias indicam terem sido sexualmente molestadas.

Para Majam Mahmud o problema da discriminação sexual no Egipto é intocável porque é declarado tabu e como tal não precisa de leis que condenem o assédio sexual. Quem sofre as consequências cometidas pelos agressores não são os infratores mas as mulheres que depois têm de assumir o desprezo social. Os homens querem que as mulheres sejam graciosas e atractivas mas sem chamar a atenção. A solidariedade masculina não quer ser questionada, nem quer sofrer a concorrência entre homens e por isso a mulher terá de ser a eterna vítima, a culpada do desejo masculino. Este é lei e por isso não se pode questionar a si mesmo. Neste contexto, ser mulher livre é uma provocação. As mulheres calam-se e nas sombras do seu silêncio continua a fermentar a arrogância e a violência masculina. O problema é que o sistema não se muda, quem se muda são as pessoas e só quando estas se mudam, só então se muda o sistema. 

Numa altura em que ideias revolucionárias já germinam debaixo de cabeças com lenço, há mais motivos de esperança do que qualquer pretensa primavera árabe na sociedade norte-africana.

Majam Mahmud pergunta numa entrevista com o Speigel: “Que se pode esperar de uma sociedade onde o maior objectivo para uma mulher é casar?” Logo a seguir desabafa “Eu realmente acredito que a próxima revolução será uma revolução da mulher.” O problema da sociedade muçulmana mais que um problema religioso é um problema de homens e de cultura árabe cimentada no Corão e na sharia.

A verdadeira revolução está na transformação do espírito. O mundo árabe cairá um dia num caos se não se mudar, mas a mudança só as mulheres a podem fazer através de uma revolução doce ou também agressiva, à maneira de homem. Majam Mahmud é um exemplo muito necessário, uma luz a brilhar e mais que um grito de emancipação é uma voz modelo que grita por libertação do chauvinismo masculino com a sua consequente violação. A música é um dos melhores instrumentos para se transmitir uma revolução.

Deveria haver direito a asilo mais liberal para as mulheres perseguidas por razões de cultura ou religião. Se observamos as mulheres vítimas do exílio político observa-se, porém, que trazendo os homens consigo não há possibilidade de libertação individual.

É um facto sociológico que, de uma maneira geral, os homens não querem mudar-se preferindo continuar a viver ao abrigo das leis naturais que perpetuam o domínio do mais forte. A cultura árabe, fruto de uma geografia agreste, continua na elaborar as suas leis positivas com base na cópia da lei natural. (De não descurar que a cultura ocidental tem outras formas de discriminação, muito embora mais suave).

Aqui temos a ver com uma cultura misógina bárbara onde, sob a capa do islão, se dá continuidade à discriminação das antigas sociedades de clãs primitivos. (Temos porém que estar atentos na avaliação porque muito do que acontece sob a capa das religiões são costumes ancestrais nómadas da cultura árabe.)

Se se pretende um desenvolvimento são e sadio a discussão terá de ser feita em termos de sociologia e de antropologia. De facto a velha cultura egípcia tem elementos muito mais desenvolvidos do que lhes foi posteriormente imposto com a hegemonia da cultura bérbere árabe. Uma discussão fora destes moldes corre perigo de, sem notar, levar a água ao próprio moinho! O que está aqui em causa é a relação e a integração da feminilidade e da masculinidade na pessoa independentemente do ser homem ou mulher!

Há quem critique Majam Mahmud por trazer lenço na cabeça, um símbolo da repressão; estes esquecem porém que ela pode assim alcançar melhor um público conservador de mulheres que de outro modo não atingiria. Também há que estar-se atento na luta da emancipação para se não cair em movimentos emancipatórios baseados em princípios masculinos, como por vezes acontece no ocidente.

Uma sociedade patriarcalista que segue unilateralmente os vestígios de Abraão só poderá ser mudada com a mutação progressiva da mulher e só esta poderá constituir a base de uma verdadeira revolução.

António da Cunha Duarte Justo

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MINHA VIDA NA MALA

Proposta para as Celebrações comemorativas dos Emigrantes

 

António Justo

Uma organização de exposições sob o título “MINHA VIDA NA MALA”, no âmbito de celebrações comemorativas dos emigrantes portugueses, poderia tornar-se num factor de promoção e revitalização de associações e iniciativas nobilitadoras da presença portuguesa.

 

O objectivo principal do projecto seria focar o itinerário e o papel da vida migrante; celebrar a presença dos portugueses nos diferentes países e motivar a nova geração de emigrantes a desenvolver o associativismo e o portuguesismo universalista. Criar recursos lusos de apoio e fomentar sinergias entre associações e as mais variegadas instituições. Contribuir para espalhar a festa portuguesa.

 

Conteúdo do projecto: Num trabalho de rede de consulados, missões, associações, artistas, professores, assistentes sociais e multiplicadores culturais, activar entre os emigrantes iniciativas concretas viradas para diferentes públicos.

 

Um apoio financeiro poderia provir do MNE, União Europeia, bancos, etc.

 

Resultados a esperar: celebração da emigração, fortalecimento da consciência migrante, intercomunicação e fortalecimento operacional das associações e inclusão das mais variadas personalidades em actividades das associações. Fortalecer a consciência dos emigrantes.

 

A coordenação poderia ser feita pela Secretaria de Estado para as Comunidades, Instituto Camões, consulados, missões, alguma universidade, associações e possíveis parcerias sob um comité ad hoc.

 

O projecto poderia constituir uma oportunidade para reflectir sobre a identidade portuguesa e possibilitar a objectivação de histórias de famílias que partem e que ficam.

 Cada pessoa ou família envolvida no projecto poderia apresentar uma mala, a ser exposta e elaborada com materiais, imagens, objectos, documentos, lembranças, tudo relacionado com uma vida entre paragens e em que a mala se tornou símbolo de vida e companheira. Trata-se de conhecer e divulgar, também com postais, cartas, músicas, etc., o contributo da emigração em termos geográficos e sociológicos valorizadores do nosso povo e das nossas terras. Nas associações ou iniciativas seria importante envolver artistas a apoiar a elaboração das malas.

Naturalmente que um tal projecto poderia assumir proporções regionais, nacionais ou mesmo internacionais. A estender-se o projecto a Portugal (por exemplo ligação com a festa migrante) implicaria que as repartições da cultura das Câmaras, bancos, alguma faculdade universitária e os meios de comunicação social se tornassem, possivelmente, promotores do projecto. Este projecto, depois de realizado nos diferentes locais, poderia tornar-se depois numa exposição itinerante.

Não há família nenhuma em Portugal sem experiência migrante. A migração marca a paisagem e a alma de Portugal. É uma constante característica de organização da vida familiar portuguesa e do seu Estado. A emigração é, na realidade, uma das cinco quinas que marcam o país.

Este é um contributo para um “Brain” de ideias que poderia preparar um projecto a ser assumido pelo Senhor Secretário de Estado Dr. José Cesário e pelos deputados, conselheiros da emigração e outras parcerias.

Fica aqui a ideia e o apelo!

António da Cunha Duarte Justo

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CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS- UM PERMANENTE DEFUNTO EM ESTADO DE COMA

Política de Emigração – Um Projecto por nascer

António Justo

O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Cesário, apresentou à discussão pública, um anteprojecto de alteração à Lei que regula o funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Surge atrasadamente e tem a pretensão de ser apresentado na Assembleia da República em Novembro e de possibilitar novas eleições para o CCP em 2015.

O CCP é um órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à Emigração e às Comunidades Portuguesas, que se reúne, bienalmente, em plenário.

Com a iniciativa o Secretário de Estado tem como objectivo elevar o número de conselheiros de 73 para 80, desejando que todos sejam eleitos por sufrágio directo e universal por mandatos de quatro anos; quer que o CCP deixe de ter presidente; quer também fazer depender o seu financiamento das receitas consulares (até ao presente o CCP era constituído por 63 representantes eleitos directamente e 10 nomeados). O Dr. José Cesário aponta para uma verba a atribuir ao CCP correspondente a 0,5% das receitas do Fundo para as Relações Internacionais, o que corresponderia a 140 mil euros.

O propósito de “fazer corresponder o universo eleitoral do Conselho das Comunidades Portuguesas ao da Assembleia da República”, é mais um empecilho para o CCP e baseia-se na esperança dos partidos portugueses de, com uma cajadada, matarem dois coelhos: a motivação pelo trabalho partidário nas comunidades portuguesas, que reverterá em favor de eleições para os deputados da emigração e do parlamento europeu; isto revela-se como uma estratégia partidária inteligente mas não virá servir a vida de associações e iniciativas integradas ou a integrar na sociedade de acolhimento. Até ao presente para poder votar bastava ter-se 18 anos e estar-se inscrito num consulado. A nova medida é mais uma medida de exploração do trabalho do emigrante: de facto o candidato ao CCP terá de motivar as pessoas a recensearem-se para as eleições da Assembleia da República sem receber um chavo de apoio por esse trabalho. Se isto não for um xeque-mate ao CCP, revelar-se-á como seu domesticador. Por outro lado, a política portuguesa não está interessada em aproximar o português do consulado; pelo contrário!

Diz querer “aumentar a responsabilização do Governo e das representações diplomáticas portuguesas nos trabalhos” do CCP. Atendendo à situação do CCP, não seria mais eficiente obrigar as representações diplomáticas a uma estratégia de aproximação das associações em vez de criar mais intermediários, pontes que se tornam em alibi para o verdadeiro encontro de administração e administrados?

A nova proposta também prevê um CCP sem presidente próprio; deste modo o CCP deixa de ser uma referência e perde toda a sua autoridade, até porque o seu porta-voz passaria a ser o Secretário de Estado (Uma estratégia muito esperta e muito característica da nossa república!). E depois, uma democracia, cada vez mais verbo-de-encher, admira-se de gerar cidadãos demasiadamente preocupados com o próprio pão!

Nos anos 80, antes da existência do CCP, os governos e algumas das suas repartições organizavam “congressos” em Portugal e também na emigração a que convidavam representantes de portugueses na diáspora, para assim auscultarem a voz da emigração. Era uma altura em que a administração portuguesa, sem experiência em questões de migração, se mostrava interessada em dialogar e ouvir personalidades e representantes associativos. Nos meados dos anos 90 desapareceu o interesse da administração portuguesa por auscultar os problemas da emigração; mostra-se , a partir daí, só interessada em formalizar um “diálogo” que queria ver só dentro das próprias fileiras administrativas. O CCP teve a pouca sorte de ser criado neste contexto pela Lei n°48/96 de 4 de Setembro. Entretanto os interesses do governo na emigração revelam-se apenas de caracter económico.

O CCP tem sido um órgão embora legal, sem consistência própria nem resultados palpáveis. Pelo que se depreende continuará a ser uma estrutura sem suporte, condenando a viver de mobilização em mobilização e a perder-se no jogo de culpa e desculpa ao serviço duma política feita em cima do joelho. Tem sido usado como instrumento adiador de esperanças. Sem base, não passa de um órgão de troca de impressões; tem tido o trabalho de uma certa formação de consciência política e de possibilitar a ordenação de fileiras a nível partidário. De resto quer-se credibilidade mas sem crédito para uma política a que falta a fé. Anda-se no jogo das escondidas e o problema é que o governo também sabe que pode substituir o trabalho do CCP pelo de um assessor de imprensa que recolha e resuma os artigos publicados na diáspora, além da convocação de um congresso ou outro, seja a nível de firmas, de políticos comunais da diáspora ou de encontros de juventude. (Não se fale já do manancial da actividade de caixeiros viajantes, em que se têm esgotado os Secretários de Estado das Comunidades).

A Política mede-nos pelo que valemos e fazemos e não pela discussão; nas últimas eleições para o CCP em 2008 só houve 12.000 votantes num universo que se quer de 5 milhões de emigrantes e luso-descendentes. Recorde-se que no mundo das comunidades portuguesas há 2.700 associações. Atendendo a esta realidade, é ingénuo queixarmo-nos do facto de o CCP não ser tomado a sério e de se encontrar reduzido à característica de alibi ao serviço dos Secretários de Estado das Comunidades, de si já sobrecarregados e com uma casa (Secretaria de Estado) que não conseguem pôr em ordem?Naturalmente que cada conselheiro vale o que vale mas só por si e pelos que o apoiam!

Enquanto representantes de emigrantes se continuarem a encostar às organizações do Estado reduzirão as suas potencialidades e repetirão, cá fora, o que a república faz lá dentro. Encontro-me desde 1980 nestas quejandas e constato que o discurso apenas se repete e a pouca diferença que tem revela-se apenas nas cores… muito empenho individual, sempre o mesmo activismo fundado no amor à camisola que se traz e ao gosto de correr. (Aquando da luta pela manutenção do Vice-consulado de Frankfurt sugeri que se ocupassem pacificamente as instalações consulares para que as acções recebessem caracter de poder e não apenas de conversa justa mas fiada; resultado: prevaleceu a conversa e com ela o encerramento do consulado.Apesar de tudo realizou-se uma manifestação em que as cortes partidárias se juntaram todas.) Tudo isto acontece porque as crianças exigem e só os grupos organizados se impõem. Na falta de eficiência fica o calor da fé onde se aquecer. Entre a razão e o sentimento de a ter, há porém distâncias infinitas.

Um outro problema grande, é o facto da imprensa portuguesa (não da emigração) se estar marimbando para a realidade da emigração e limitar a pouca informação a jornalistas de ideias já feitas. Um outro equívoco está em falar-se da realidade migrante quando nos deparamos com muitas realidades e o universo da diáspora portuguesa ser demasiado complexo para poder ser tratado por uma secretaria de Estado das Comunidades nas dimensões da nossa (só a sua vertente económica e cultural já daria pano para mangas!).

Naturalmente que é preciso apresentar caminhos alternativos aos de Lisboa; estes têm de surgir da realidade da vida das comunidades da diáspora e não de uma mera vontade política (partidária) que muitas vezes desmotiva pessoas não interessadas na cor da camisola. Infelizmente o sentimento de pertença a uma cor política ainda é motivo de segregação no organigrama partidário inferior. Os emigrantes portugueses na Europa não souberam libertar-se duma politiquice partidária bebida levianamente no 25 de Abril. A cor política da camisola tem determinado a confiança entre as pessoas, impedido, muitas vezes, a sinergia de esforços e o estabelecimento de redes consistentes; em termos de diáspora, a cor política só deveria ser relevante, a nível de integração política, nas comunidades de recepção. Uma comunidade portuguesa integrada nos partidos alemães e nas suas associações de cultura prestaria serviços incalculáveis para todos, a nível de futuro. Este deveria ser o centro de gravidade duma política de portugueses emigrados.

O problema mais grave com que a emigração se depara é o facto de, em Portugal, haver um ressentimento recalcado contra os emigrantes. A ausência dos 5 milhões de Portugueses, nos meios de comunicação social em Portugal, é o maior problema e este está na base das atitudes duma política de emigração comum a todos os governos. Neste contexto não haverá deputados nem conselheiros que tenham autoridade nem audiência justa.

O problema cívico crucial dos portugueses da diáspora situa-se na manutenção e fomento de associações. Deste não se fala porque seria de interesse nacional mas este transcende os interesses políticos. O trabalho mais eficiente revelar-se-á no empenho da criação de associações e iniciativas nas comunidades de inserção. Da inserção dos portugueses nas comunidades receptoras, seja a nível económico, cultural ou político, se aproveitarão os emigrantes e se aproveitará Portugal porque em cada associação em que se encontre um emigrante luso lá se encontrará um embaixador de Portugal.

Boa noite CCP, bom dia associações; a noite é longa e o dia ainda por levantar!

António da Cunha Duarte Justo

(Antigo Conselheiro Consultivo do Vice-consulado de Frankfurt)

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