ÉTICA ENTRE CONVICÇÃO E RESPONSABILIDADE – DO COMPROMISSO ÉTICO ENTRE IDEALISMO E REALISMO

Civilização ocidental em implosão e Civilização islâmica em explosão

Por António Justo

A chanceler alemã, na sua política de refugiados, é acusada de seguir uma ética de convicção (cristã) em prejuízo da ética de responsabilidade na qualidade de pessoa pública que deveria representar os interesses da sociedade alemã e da civilização ocidental.

Numa humanidade em desenvolvimento deparamo-nos, individual e socialmente, em confronto com duas forças e interesses complementares: o humano e o divino, o material e o espiritual, o individual e o político. Os evangelhos resolvem o dilema entre empenho subjectivo individual e empenho social, entre religião e política recomendando: «Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.» (Mateus 22:21). Daqui surge um certo conflito entre uma atitude baseada na consciência e uma atitude baseada nos interesses da polis.

A ética da responsabilidade é uma ética de grupo, aquela parte que corresponde ao ensinamento “a César o que é de César”- adequada à acção política, ao circunstancial e relativo, ao útil para a comunidade; a ética da convicção corresponde à segunda parte da frase “a Deus o que é de Deus”- é o reino dos absolutos, do útil para o desenvolvimento da alma humana.

A ética de responsabilidade “tem em conta a fraqueza”, não a preocupa a humanidade nem a perfeição, o que importa é o interesse do grupo, o útil numa perspectiva do circunstancial imediato. O motivo do agir não se fundamenta em nome da moral mas do interesse. As boas intenções de Merkel não justificam os problemas que criam porque embora humanas poem em perigo gerações futuras. Numa tal ética transportada para a polis, o crime e o fracasso tornar-se-iam desculpáveis. Assim uma atitude moral para Merkel pode tornar-se numa atitude imoral se prejudica os interesses do país e da civilização.

Não chega a boa intenção, como orientação moral, é preciso sabê-la situada na psicologia humana e na comunidade. O idealismo humanitário orientador da ética de convicção tem de ser aferido à realidade social que pressupõe uma atitude ética de responsabilidade que necessariamente condiciona o idealismo que possa estar por trás de uma moral de convicção. A confusão de ética de convicção com ética de responsabilidade é a causa de parte da moralitis do discurso político e social.

Ao contrário de Maquiavel que defendia que a missão da salvação da cidade era superior à da salvação da alma (fins justificam os meios), Max Weber procurou conciliar as duas posições distinguindo entre ética de convicção (na qualidade de sujeito – consciência individual orientada por valores absolutos e que obedece aos sentimentos sem ter em conta as consequências) e ética de responsabilidade (na qualidade de objecto de funções públicas avalia a decisão pelas consequências que provoca); Weber reconhece o dilema entre os determinantes consciência e interesses. Assim, o político encontra-se dividido entre uma ética livre pessoal de convicção e a ética de responsabilidade determinada pela ponderação no balance de interesses condicionantes; a decisão política a tomar impossibilita, muitas vezes, um juízo de valor pessoal, dado a política ser normalmente determinada por circunstâncias. Isto não deveria porém isentar a decisão política do reconhecimento de valores universais fundamentais como a defesa do valor da vida e da dignidade humana (inerentes à ética de consciência individual).

Ética contra a moral?

A política alemã na sequência de uma ética de convicção, que justifica a entrada descontrolada de refugiados de uma cultura rival e antagónica, pode ser contrariada pela moral de responsabilidade social que implica a defesa da própria identidade e cultura a longo prazo. Não chega a boa intenção, é necessário fazer uma boa balance das consequências sociais que tal atitude acarreta. Vários parceiros europeus, cientes da sua responsabilidade para com os seus cidadãos (ética de responsabilidade) obrigaram a Chanceler a arrepiar caminho. A realidade dos factos do fenómeno muçulmano, que se revela sem vontade e incapacidade de integração, põe em perigo os interesses de uma sociedade maioritária aberta (civilização ocidental) através de uma imigração descontrolada, de uma cultura hermética e encerrada em si mesma (civilização árabe caracterizada por não se integrar e só assimilar).

Uma sociedade aberta, como a europeia, para não ser posta em perigo por uma sociedade fechada terá de estar atenta às forças sociológicas de integração e assimilação para poder possibilitar nela um crescimento orgânico. Um crescimento orgânico pressupõe a abertura e a permeabilidade das duas partes. Realiza-se numa tensão saudável de uma dinâmica de complementaridade e inclusão da ética de convicção e de ética de responsabilidade: os dois polos da mesma realidade na polis.

Ética de afirmação dos interesses minoritários contra os maioritários?

Uma ética da responsabilidade  tem sempre em conta a defesa dos interesses das minorias numa sociedade coerente e consonante.

Dado, nas relações multiculturais e entre Estados, dominar uma ética de interesses, num processo de luta entre grupos orientados pelo princípio selectivo da afirmação do mais forte, não se pode aqui confundir uma ética pessoal de consciência moral relacional com a ética subjacente a grupos de interesses em que o determinante é a força do grupo ou do interesse e não o humanismo.

Uma atitude política movida apenas pela ética de convicção (consciência) ao pretender tornar-se critério de orientação para regular as interacções interculturais (politica) torna-se inadequada e infringe a ética de responsabilidade. O diálogo, a luta torna-se desigual porque confunde o objectivo (circunstancial) com o subjectivo (de caracter pessoal mas de valores universais), confunde o âmbito pessoal com o público. O palco em que se realiza é objectivo e como tal de relação de interesses já não entre sujeitos humanos mas entre objectos, de meros interesses de grupos (daqui surgiria a premissa da necessidade de uma negociação de interesses em termos bilaterais).

 Neste sentido, uma atitude baseada na consciência (que Ângela Merkel parece seguir) implementaria o grupo que segue a ética dos interesses e na realidade seria instrumentalizada (inconscientemente) para servir os interesses dos mais fortes (a lei da selva) neste caso os interesses minoritários à custa dos maioritários (de legitimação imprópria porque não aferida).

Dado a cultura islâmica ter em si um rescrito motivador da autoafirmação pela força e pela assimilação, sem o movimento de integração (não permite o processo orgânico de aculturação-inculturação só possibilitando o movimento unilateral assimilativo de auto afirmação na desconsideração do outro). Neste contexto, a sociedade ocidental tornar-se-ia fraca, a longo prazo, e vítima da própria ilusão humanitária e deixaria de ser um factor de promoção do humanismo no mundo. A sociedade ocidental encontra-se num momento muito problemático da história do seu desenvolvimento dado não estar consciente dos elementos constitutivos de identidade que lhe deram sustentabilidade e desenvolvimento; coloca-os à disposição em troca da afirmação económica que não pode, por sua vez, ser sustentável sem uma política de natalidade responsável e sem uma reflexão profunda do que lhe deu o ser, do que é, e do que pretende (precisa de orientação e sentido).

Sem a consciência da necessidade de afirmação dos factores de identidade, a Europa atraiçoa-se a si mesma ao pretender tapar o buraco demográfico abrindo incondicionalmente as portas à imigração islâmica que na prática se afirma, de uma maneira geral, contra a integração e beneficia também do factor da proliferação demográfica (Tenha-se em conta o exemplo europeu do Kosovo, Albânia, etc., que antigamente eram regiões de cultura heterogénea e transformadas, com o evoluir dos tempos, em monoculturas islâmicas; na Europa, as mulheres muçulmanas são motivadas a manterem os seus papéis patriarcais e a não se integrarem no mercado de trabalho, continuando, em grande parte, a exercer só a profissão de mães (abono de família na Alemanha 200 € por filho). Uma visão rápida sobre a história do desenvolvimento muçulmano testemunha o facto de as regiões onde este se implanta e se torna maioritário, com o tempo, essas regiões são transformadas em monoculturas islâmicas.

Onde falta a luz o caminho torna-se difícil e a meta impossível

Não apadrinho posições que defendem a enclaustração dos povos e culturas em si mesmas; é mais que claro que o desenvolvimento humano se deve à interligação e interacção orgânica entre indivíduos, espécies e culturas (factores osmose-integração-assimilação); o gueto pode tornar-se em cancro num corpo orgânico. O que está em via na Europa é porém um movimento de autodestruição da própria cultura (trauma do nazismo e do estalinismo fortalece o niilismo e as forças que fomentam a queda da civilização ocidental numa atitude mórbida de tanatofilia).

A civilização islâmica, ao seguir uma ética de interesses não orgânicos mas sistémicos e estratégicos está mais perto da lei natural da selecção e como tal mais preparada para ganhar a luta dentro de uma sociedade em processo de implosão.

A civilização ocidental não se encontra adaptada aos desafios do mundo de hoje e os princípios éticos que a engrandeceram deixaram de ser categorias políticas; segue apenas estratégias ditadas pela macroeconomia liberalista (subvenciona Estados para comprar as suas elites, com o dinheiro que volta a ela); a Europa encontra-se consequentemente em processo de implosão enquanto a civilização islâmica, centrada em si mesma, se encontra em processo de explosão. Nesta situação, uma e outra não podem assegurar garantias de futuro para a humanidade. A civilização islâmica definhará por julgar que a fronteira do mundo é a sua cultura (o desenvolvimento do mundo fruto da variedade e da diferença é reduzido à igualdade e monotonia do biótopo muçulmano) e a civilização ocidental deixará de ser ela por viver da ilusão que pode haver abertura sem limites num mundo que de facto é feito todo ele de biótopos culturais que para o serem têm de reconhecer as leis e forças que constituíram o seu habitat sem negar os princípios e forças da definição e identificação dos diferentes biótopos culturais no todo.

A cultura ocidental, que no passado foi o grande motor da história da humanidade, corre o perigo de atraiçoar definitivamente os ideais da sua filosofia de cunho cristão e com eles a sua identidade e a sua alma.

A Europa, ao seguir, a nível político e social o materialismo e o racionalismo niilista abdica de qualquer missão e de qualquer factor de esperança. Sem noção do sentido e sem uma meta teleológica não tem ideia do caminho a fazer e que só é possível à luz reflectida sob um tecto metafísico. Ao pôr-do-sol já falta a energia e o humor necessário e passa-se a procurar o agasalho no luar da noite!… Sem a construção de um solo comum não se pode andar em conjunto…

Deste modo a Europa, transformada em estrela em estado de implosão e que é ainda vista como modelo de desenvolvimento de outras sociedades, transforma-se em perigo também para estas, ao perder o que lhe dava a liderança espiritual. (Além disso, em política perdeu a visão global e em vez de colaborar com a Rússia na crise dos refugiados muçulmanos, fecha-se na sua arrogância e presunção colaborando só com a Turquia rival).

Encontra-se numa situação paradoxa: em política de imigração segue uma ética da convicção individual abrindo o flanco aos outros e pecando contra uma ética de interesses culturais próprios que se vêem reduzidos aos interesses económicos liberais e a uma liberdade abstracta já fora do contexto cultural. A irresponsabilidade política no que respeita à defesa dos interesses culturais do povo fomenta a agressão e a xenofobia no mesmo.

A civilização ocidental não pode, para defender os interesses dos países ricos, em nome da consciência que a fundamenta, pôr em causa os valores da própria identidade, para solucionar uma situação de interesses económicos em perigo por uma diminuta natalidade que se pretende compensada pela imigração de refugiados. O relativismo ético ocidental revela-se como o melhor instrumento de legitimação da política neoliberal e anti cultural em curso e, por outro lado, dá razão às forças hegemónicas que não toleram nada a seu lado (Neste contexto o relativismo cultural europeu serve as forças dogmáticas e hegemónicas que ameaçam a nossa sociedade). O relativismo contradiz-se a si mesmo porque, ao afirmar que tudo é relativo, transforma-se num absoluto. Sem verdade (ideal) não há ética sustentável porque então a matéria (materialismo) seria o único factor de validade.

Com o desenvolvimento de um liberalismo acervado, a ética da polis tenta emancipar-se da religião e, deste modo, do povo. A ética tende assim a abandonar o foro privado para ser reduzida a uma moral de interesses no campo económico (liberalismo) e político (democracia partidária) com a consequente atitude política alienada do povo subordinado à económica (capital); consequentemente, o produto do trabalho humano deixa de ter relação com o que o produz para se justificar em si mesmo no lucro tornando-se assim desumano e anti ético. O capital emancipou-se dos mecanismos de produção para se tornar senhor absoluto sem relacionamento; perdeu a alma e deste modo a capacidade de dar resposta. Em nome da economia e da tecnologia que paulatinamente substituem o Homem, o Ocidente vai-se tornando substituível e supérfluo.

O político cínico não se responsabiliza porque, ao arquivar a própria consciência em nome dos interesses do grupo que serve, não reconhece a culpa e deste modo não assume pessoalmente a responsabilidade; e isto porque baseia o seu juízo de valor apenas em termos de informações recebidas tomando assim decisões que considera objectivas e como tal intangíveis a nível de ética pessoal; o que lhe interessa é apenas a análise dos factos no momento e o acto de decisão não pode ser avaliado porque fruto da circunstância furtuita e coberta pelo povo anónimo. Num tal pragmatismo, onde o idealismo não tem lugar, a culpa, o arrependimento e o perdão são considerados fraquezas (veja-se a situação do Estado em Portugal!). Uma tal ética cultural tem os dias contados e só lhe resta abdicar.

Política do Postfacto

A Chanceler alemã responde aos ataques que a acusam de não considerar suficientemente a ética política (ética de responsabilidade baseada em interesses) dizendo: “Vivemos em tempos do post facto. As pessoas já não se interessam pelos factos mas seguem apenas os sentimentos”.

A questão é ambivalente: precisamos de uma política de atitude ética que responda não só aos factos mas também aos sentimentos. De facto os sentimentos também são reais e os factos podem ter um fundamento irracional. Para isso precisamos de Homens retos e com coluna dorsal, precisamos de pessoas dispostas a repensar a sociedade em termos do que dizia Paulo aos Gálatas: “Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. E o JC encontra-se mais ou menos escondido em cada pessoa humana.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo (História e Português)

Pegadas do Espírito no Tempo

 

REFUGIADOS – PORTUGAL COMPARTICIPA, PARA JÁ, COM 7,2 MILHÕES DE EUROS PARA A TURQUIA

Para uma política de diminuição do acesso de refugiados à União Europeia, a Turquia recebe da EU três mil milhões de euros na crise dos refugiados. Mil milhões são pagos directamente pelo orçamento da EU e dois mil milhões são pagos pelos 28 membros da EU.

Na sequência das obrigações assumidas com os países membros da EU, Portugal, além de receber uma quota de refugiados, paga 7,2 milhões de euros à Turqui pelo apoio que esta presta aos refugiados no seu país. Isto é consequência do acordo entre a União Europeia (UE) e a Turquia, e que entrou em vigor em Abril.

“Focus online” apresenta os números a pagar pelos diferentes países:

Alemanha: 427,5 milhões de euros
Reino Unido: 327,6
França: 309,2
Itália: 224,9
Espanha: 152,8
Países Baixos: 93,9
Suécia: 61,3
Bélgica: 57,6
Polónia: 57,0
Áustria: 45,6
Dinamarca: 38,4
Finlândia: 28,4
Grécia: 25,1
Portugal: 24,4
Irlanda: 22,9
Roménia: 21,5
República Checa: 20,4
Hungria: 14,7
Eslováquia: 10,5
Croácia: 5,9
Bulgária: 5,9
Lituânia: 5,2
Eslovénia: 5.2
Luxemburgo: 4.3
Letónia: 3,5
Estónia: 2,8
Malta: 1.1

António da Cunha Duarte Justo

NO RESCALDO DOS FOGOS REGIONALIZAR E DEMOCRATIZAR A ECONOMIA

Exigências sem Orçamento económico que as acompanhe são Fogo-preso

António Justo

Arouca ardeu, o povo sofre e protesta mas Lisboa não ouve, nem pode ouvir, porque se encontra demasiado longe da província e o governo está demasiado empenhado na plantação dos seus eucaliptais de ideologia. O povo, tal como a floresta, é passivo e portanto propício a ser sempre surpreendido pelas chamas dos interesses corporativos.*

O Fogo consome a Caça e o Povo é posto à Caça de Gambozinos

O OBSERVADOR refere que já em 2005 Arouca perdera 90 quilómetros quadrados devorados pelas chamas do fogo sem que, em consequência disso, algo importante acontecesse. Agora que arderam “170 quilómetros quadrados” de Arouca – uma catástrofe para a fauna-flora e turismo – surgiram iniciativas exigindo limites à plantação de eucaliptos.

Sem um conceito económico base, feito pela Câmara a acompanhar as reivindicações e sem uma política governamental de aproveitamento económica das florestas nem um programa do governo de investimento florestal que sustente as reivindicações, tudo não passará de mais umas folhas de eucalipto a estalar nos ares da informação.

As medidas de reflorestação exigiriam, para se tornarem eficientes, um programa concreto geral do Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento para investimento na floresta em parceria com os fundos europeus.

Propostas políticas que não tenham inerentes a elas um conceito económico que proporcione rentabilidade para lhes dar chances de aplicação serão destruídas pela briga política habitual que distrai do essencial para viver de regulamentações feitas em cima dos joelhos.

Concretamente, Arouca e o Governo, além dos industriais da zona deveriam elaborar um programa económico tendente a solucionar o problema dos incêndios na região. Esse programa poderia receber muitos milhões de euros dos fundos estruturais (e outros) da União Europeia. Para isso precisam-se, nas Câmaras, técnicos especializados em projectos de investimento que prestem apoio a iniciativas locais feitos em parceria com empresas ou proprietários locais e apoiados pela EU.

Aprender da Idade Média para democratizar a economia

Falo disto porque estou habituado a verificar que, na Alemanha, iniciativas culturais, ecológicas, de protecção de animais, de produção de energia renovável, etc. fazem acompanhar as suas exigências com propostas ou estratégias de aproveitamento económico ou são justificadas pela defesa do património histórico e cultural. Num tempo em que a economia é credo tornam-se inocentes medidas teóricas sem que mostre a possibilidade de servir a ecologia e a região sem proporcionar lucros económicos. Em cada Camara municipal terá de haver órgão conglomerador de iniciativas que reúna sob o seu tecto parcerias entre Camara, associações sem fins lucrativos e grupos económicos interessados em investimento. Projectos concebidos sob tal constructo têm imensas chances de conseguir meios económicos para as iniciativas que tomem em mão e implementem.

A ausência de uma política económica e ecológica para as florestas torna a discussão num lugar para o escape de sentimentos frustrados e um motivo de sorriso cínico para os Ministérios, se continuar na mesma óptica do passado. O corporativismo muito arraigado em Portugal e que se tem revelado muito útil para a maçonaria e para outros grupos, reverter-se-ia em benefício público se fosse organizado a nível camarário na tradição dos homens bons e de “Os 24 mestres do povo” que defendiam os interesses das profissões e das regiões. Talvez seja preciso voltar à Idade Média para democratizar a economia! Para isso há que tirá-la dos monopólios de corporações ideológicas para as disponibilizarmos em proveito do povo. Na Idade Média vimos na Casa dos 24 o surgir da ideia da democratização da economia (política regionalista) através dos interesses de uma burguesia surgente que se debatia contra os interesses monopolistas do clero e da nobreza.

Vamos nacionalizar e regionalizar os partidos!

Os políticos apoderaram-se do lugar do clero na sociedade e o grande capital ocupou o lugar da nobreza. Hoje para sermos modernos e para democratizarmos a economia será necessário reencontrar a ideia medieval da regionalização e da indústria regional, sendo, para isso, necessário acabar com os monopólios ideológicos que deixam a província arder enquanto se aquecem nas suas chamas no parlamento e nas centrais do poder. Os deputados das regiões terão de redescobrir o campo e a floresta e a não os trocarem pelos areais das ideologias partidárias com bom assento no parlamento.

Concluindo: No rescaldo dos fogos torna-se urgente democratizar e regionalizar a economia. Imagine-se que os representantes do povo passavam mais tempo em torno da terra e do seu povo e não se exilavam vivendo todo o tempo na capital em torno do partido e do parlamento.  A política que urge não é tanto nacionalizar bens e terras mas nacionalizar e regionalizar os partidos; então as ideologias abandonarão as suas honras e coutadas de interesses ideológicos para descerem ao povoado e se democratizarem e assim se possibilizar uma verdadeira democratização do povo e consequentemente uma democratização dos partidos.

Exigências sem um Orçamento económico que as sustente correm grande risco de se tornarem em espectáculos de Fogo-preso para agradar à vista muito longe de uma orto-praxia.

*O dinheiro que o Estado ganha ou pede emprestado é canalizado para os vales da administração, aquela que oferece sustentabilidade para os adeptos do partido. O dinheiro já não chega para pagar tantos empregados do Estado com horário de 35 horas nem para o pagamento das aposentações porque os funcionários do estado aposentados passaram a ser um número maior que os funcionários no ativo e a política do Estado não investe na produção real! Quem pode vai vivendo de quem pode menos, à imagem das labaredas dos fogos.

António da Cunha Duarte Justo

MANIFESTAÇÕES TURCAS NA ALEMANHA REVELAM 2 SOCIEDADES PARALELAS

Multicultura contra Intercultura – Turcos solidários com Erdoğan

Por António Justo

Em Colónia (31.07) quase 40.000 turcos participaram numa manifestação organizada pelas organizações DITIB e UETD (Organização lobby do AKP da Turquia), para apoiarem o presidente da Turquia (Erdoğan). 2.700 Polícias acompanharam a chuvosa manifestação que decorreu pacífica. Na Alemanha já tinha havido em diversas cidades manifestações pró- Erdoğan. A pretexto da multicultura afirmam-se guetos nacionalistas adversos à construcção de  uma sociedade intercultural. Esta é a plataforma para conflitos de maior envergadura no futuro.

 

A Alemanha está chocada ao presenciar tantos turcos nascidos na Alemanha a apoiarem um déspota que pretende transformar a Turquia num califado. A Alemanha já tem a experiência de um ditador de eleição democrática (Hitler) que se aproveitou da população mais simples para conduzir a nação à perdição; por isso é tão sensível ao que se passa na Turquia de Erdoğan e ao facto de associações turcas importarem para a Alemanha os problemas da Turquia.

Isto mais que a amostra dos turcos na Alemanha é a amostra da força das suas organizações e o fracasso dos esforços de integração (os valores de cunho árabe mostram-se resistentes aos valores da Constituição alemã). O comício deu-se sob o título de “Sim à democracia – Não ao golpe de Estado”! As associações DITIB e UETD (Organização lobby do AKP da Turquia), organizadoras da manifestação, no dizer de observadores críticos, entendem a luta e a denúncia como “um serviço à religião e ao país”. Levam em conta uma sociedade a preto e branco feita só de amigos e de inimigos. O Tribunal Constitucional Alemão não permitiu a transmissão em ecrã gigante de um discurso televisivo de Erdogan aos seus apoiantes em Colónia.

Um país onde “curdos, arménios e outras minorias e religiões são oprimidos”; um país onde os cristãos têm um número próprio que os identifica para serem discriminados; um país onde, depois da tentativa de golpe de 15 de Julho foram despedidos mais de 3.000 juízes e procuradores da justiça, mais de 3.000 oficiais das forças armadas, 1.389 soldados, 50.000 funcionários públicos e dezenas de jornalistas; um país onde em poucos dias também foram aprisionadas mais de 18 mil pessoas, grande parte delas por razão de suspeita e em que a denúncia e saneamento se tornaram desporto popular não pode ser suportado pela EU.

O que moverá tantos turcos a sair para a rua em manifestação Pro-Erdoğan e a apoiar quem está disposto a institucionalizar a pena de morte e se aproveita do “golpe” como pretexto para fazer o seu golpe de Estado? Porque será que, nas últimas eleições parlamentares da Turquia, o partido de Erdogan (AKP) teve maior percentagem de votantes turcos na Alemanha (60%) do que na própria Turquia?

Será este o resultado de 60 anos de integração? Erdoğan em anos anteriores já tinha dado a palavra de ordem à comunidade turca na Alemanha: “não se assimilem aqui”; a tática do poder é organizar sociedades paralelas numa esquizofrenia de lealdades. A lealdade à Turquia é mais forte que à Democracia. Isto torna-se compreensível num Estado islâmico que controla a religião e grande parte dos seus fiéis através de 600 imames (chefes de mesquitas) que envia todos os anos para a Alemanha e onde ficam, por cinco anos, ao serviço do governo turco.

A Turquia exige a livre circulação dos turcos na Europa e ameaça a EU a ter de permitir a isenção de vistos para turcos num prazo de três meses (o que significaria uma carta aberta também para refugiados turcos)! Resultado: A EU verá rescindido, mais cedo ou mais tarde, o acordo com a Turquia sobre os refugiados. O Estado turco não oferece confiança.

Há 24 anos houve na Alemanha ataques a residências de refugiados e em Mölln morreram 3 turcos numa casa incendiada por extremistas. Em Munique o povo alemão solidarizou-se com os turcos organizando uma cadeia de velas em que participaram 400.000 habitantes de Munique. A Alemanha ainda se encontra à espera da reacção muçulmana aos atentados efectuados por muçulmanos e sinais públicos de solidariedade com as vítimas. As comunidades muçulmanas ligadas a associações e mesquitas deveriam também manifestar-se publicamente para se distanciarem também com manifestações contra os atentados terroristas em nome do islão e para mostrar solidariedade com os cidadãos não muçulmanos. Doutro modo o matar inocentes em nome do islão não é compreendido como insulto ao islão pelas organizações muçulmanas.

A questão consequente que se coloca: onde vivem as associações muçulmanas, como reagem à violência que surge do seu meio?

Embora 30-40 mil turcos tenham demonstrado em Colónia entre os três milhões de turcos há muita gente turca que é moderada. Um outro aspecto a ter em conta é que Erdogan é fruto da democracia e pelos vistos os turcos querem uma democracia autoritária e problemática pelo facto de os três poderes não serem independentes. Actualmente, na Turquia, como em tempos de revoluções, facilmente se é herói ou traidor!

O secretário-geral da CDU Peter Tauber disse no Die Welt: “Quem aplaudiu a liquidação da democracia turca, não se encontra na plataforma da nossa Constituição”. (http://www.welt.de/debatte/kommentare/article157395025/Tuerken-in-Deutschland-muessen-ihre-Loyalitaet-klaeren.html)

Surgiu na discussão pública a ideia esporádica de se introduzir a opção de jovens turcos, em vez de serem possuidores da nacionalidade turca e da nacionalidade alemã, terem de se decidir aos 23 anos por uma ou por outra.

A desaprovação da violência terá de ser manifesta e combatida tanto por alemães como por muçulmanos; só assim se cria confiança, porque para se construir a paz e evitar violência e guerra não pode haver uma solidariedade só para os de dentro.

A sociedade tem uma vida colorida mas o problema é que cada grupo pinta com a sua cor. Não é conhecida a mistura das cores e por isso temos um quadro de sociedade berrante. Vivemos, cada um no seu mundo, uns ao lado dos outros, em vez de vivermos uns com os outros.

 

António da Cunha Duarte Justo

 

PORTUGUÊS DE MUNIQUE É O ROSTO DA SEGURANÇA – AMOK EM MUNIQUE – 1° ATENTADO ISLAMISTA EM ASNBACH

Por António Justo

 

O exemplo de um português a fazer carreira no Público alemão

Marcus da Glória Martins, luso-germano, porta-voz da polícia de Munique, foi considerado nos Media alemães, o rosto da segurança e da serenidade, na sexta-feira (22.07.16), dia em que o alvoroço se espalhava nas ruas de Munique e a insegurança se ia alastrando nas almas de uma Alemanha amedrontada pelo atentado (amok).

Enquanto o medo da morte corria pelas estradas de Munique e o caos se empilhava na estação do comboio, por toda a parte se via a polícia, sem pânico, empenhada na defesa do cidadão.

Neste cenário viu-se o rosto sereno e ouviu-se, a voz calma e suave do luso-descendente nas TVs a transmitir um sentimento de segurança.

O porta-voz Martins, pacato, concreto e soberano, respondia aos repórteres apontando só para os factos, objectando contra certos boatos rápidos que se espalhavam como o vento através do Facebook, Twitters  e dos Media interessados na informação apressada. Apesar de tudo, o luso-alemão, espontâneo e eloquente, não fugia às perguntas dos jornalistas, num momento difícil: o medo de que tudo poderia acontecer.

No Facebook, Marcus Martins, com a virtude da humildade e a consciência comunitária que fizeram  Portugal grande, respondeu com simplicidade, à chuva de louvores que recebia: ”Não se trata da minha pessoa. Sim, é verdade que fui o rosto. Mas o desempenho não me cabe a mim “.

O lusodescendente tem dois filhos e trabalha desde há 23 anos na polícia. Escolheu a profissão motivado pelo dinheiro mas depressa começou a ter alegria na profissão que exerce. Foi louvado também em todo o mundo pelo seu twitar durante o atentado no centro comercial Olimpia de Munique e no McDonald’s ao lado.

Glória Martins, pode ser um estímulo para muitos portugueses fazerem carreira na administração alemã e nos partidos políticos alemães!

 

O Amok de Munique

O massacre (Amok = “matar com fúria cega”, com acessos de loucura) foi preparado e executado por um germano-iraniano de 18 anos que matou 8 jovens, uma senhora e se suicidou, por fim. Executou o seu plano nas pegadas de Breivik que, cinco anos antes a 22 de julho, tinha feito 76 mortos na Noruega.

Filhos da loucura, alimentados por doutrinas loucas, matam inocentes semeando a dor nos corações de imensa gente.

Os assassinos (Amok) são pessoas que, geralmente, sofrem da falta de reconhecimento familiar e social. Ruminam a existência em torno da pergunta “Quem sou? Quem precisa de mim”. Muitos jovens não encontram resposta a estas perguntas e ao passarem por situações de estresse e de atitudes injustas, devido ao seu estado inseguro e depressivo, reagem à humilhação com a vingança. Em psicologia também uma criança que se tenha sentido o ídolo da família mas não tenha aprendido a tratar com as dificuldades também pode chegar ao suicídio.

A criminóloga Britta Bannenberg é de opinião que “os criminosos (amok) ampliam a sua auto-imagem narcisista e desvalorizam os seus semelhantes”.

Nota-se nas redes sociais e nos Media muita gente perdida à procura da culpa esquecendo que ela se encontra também debaixo da pele de cada um. A satisfação da culpa encontrada comunga muitas vezes da mesma agressão escondida, embora educada. A culpa é a dívida do remorso que aumenta a impaciência e com ela a infracção.

 

Em Ansbach  o 1° atentado suicida islâmico na Alemanha?

À beira do festival de Verão em Ansbach, na Baviera, no Domingo (24.07) deu-se a primeira tentativa de atentado suicida islâmico na Alemanha. Desta vez o criminoso é um refugiado sírio de 27 anos que vivia há dois anos na Alemanha. Não pôde entrar no areal do concerto com a sua mochila, por não ter bilhete de entrada, o que poupou a vida a muita gente. O terrorista activou o explosivos matando-se a si e ferindo 15 pessoas, três delas em estado grave.

No dizer do ministro do interior da Baviera o suicida anunciou o atentado num vídeo em nome de Alá e “Não há dúvida que se trata de um ataque terrorista de fundo islâmico e de convicção islâmica do criminoso” ; este tinha contacto com os salafistas.

O ministro do interior mostrou-se muito preocupado porque estas e outras podem levar as massas a colocar refugiados no rol de suspeita generalizada. A população cada vez tem mais medo de a política importar os problemas do Médio Oriente. A frustração contra o “estabelecimento” político cresce.

Um atentado na Alemanha tem mais consequências do que noutro país porque os partidos têm bastante “respeito” ao povo – sabem que do seu comportamento depende os votos nas eleições!

A Alemanha vive no problema entre as garantias constitucionais, leis vigentes e as exigências de um povo amedrontado que em grande parte vê a cultura de boas-vindas fracassada. Por isso cada vez se exige mais emprego de pessoal pelas instituições do Estado e um reexame de muitos casos de exilados. Os esforços da Alemanha neste sentido já se encontram desgastados, dado na Alemanha também haver muitos alemães a viver na pobreza e estes comparam-se muitas vezes com os refugiados! Não chega ter um Estado rico, é preciso ter um povo pelo menos remediado!

Este é o terceiro atentado na Alemanha numa semana; o primeiro foi em Würzburg onde um refugiado de 17 anos do Afeganistão feriu, num comboio, cinco pessoas com um machado; ele queria “matar os incrédulos „. Segundo o MMerkur.de, inquéritos mostram que, da população muçulmana jovem na Alemanha , um em cada cinco defende a aplicação  da violência na imposição do Islão.

As flores colocadas em homenagem às vítimas murcharão como as culpas atribuídas a isto ou àquilo até que surjam novas flores a testemunhar o odor da vida.

A sociedade assistirá cada vez mais a horas da violência, do medo e das lágrimas. Horas destas são gritos à vida, à misericórdia e ao amor

 

António da Cunha Duarte Justo