NA ESTRATOSFERA DA MENTE

A NOVA IDADE

 

Num palco moderno, tudo respira,

A dança dos media que o mundo admira.

Cada mente, uma pedra voadora,

Vê sem olhar, sempre de fora.

 

Nos picos da  cultura agora agonizante

Lobos uivam, alcateia assaltante!

Texto? Quem liga? Só interessa o sabor,

Dos factos transformados em vapor.

 

Num curto-circuito, sem origem nem fim,

A verdade é um jogo, um pobre arlequim. (postfactual!)

Círculos giram, interesses se enlaçam,

E o ego pequeno, a servir quem manda.

 

Humanos reduzidos à mera situação

Submissos à mente, longe do coração.

A cultura tornada fruto de uma mente vazia,

Onde o ego se dobra, em hipocrisia.

 

Neste reino de crime e injustiça velada,

Rebeldia é a luz, a esperança encenada.

Ironia dançante, oculta insubmissão

Na sombra da ordem, espera a salvação

António CD Justo

Pegadas do Tempo

http://poesiajusto.blogspot.com/

A POLARIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO ENVENENA A ATMOSFERA SOCIAL ALEMÃ

O despertar do povo incomoda muita gente

Na Alemanha e na França, elitistas e populistas não olham a meios na disputa do poder. Vive-se já numa sociedade que pensa em estereótipos e usa dois pesos e duas medidas na condução do discurso público, como já se torna fácil observar nos mass media.

Principalmente a partir da epidemia Covid 19 e da guerra geopolítica na Ucrânia, a classe política e os Media apostaram na polarização da sociedade e deste modo transportam a sua agressividade política para o meio do povo.

Desde que o aspecto ideológico tomou assento na actual coligação alemã, o ambiente social na Alemanha é cada vez mais desconfortável chegando mesmo a tornar-se insuportável: as pessoas hoje têm medo de dizerem o que pensam para não perderem amigos e não serem colocadas no canto dos que pensam bem (a esquerda) ou no dos que pensam mal (a direita). Apagaram-se as diferenciações e até a palavra conservador já não se usa passando a ser identificada com a direita e esta com a extrema direita! As mentes correm cada vez mais o perigo de se encontrem em curto-circuito. Jornais alemães e políticos incitam o povo contra a direita como se se a direita se identificasse com extrema direita; diferenciação é concebida a nível de esquerda, como se o meio da sociedade fosse constituído pela esquerda).

Isto cria medo nas populações porque à guerra militar geopolítica dos governantes vem juntar-se a guerra civil da opinio pública sem espaço para a razão nem para alternativas, a não ser a luta e a culpa democratizada. De momento vale tudo menos o discernimento e a diferenciação: em tempos de guerra “salve-se quem puder”! As elites governantes em vez de corrigirem o seu actuar preferem declarar como antidemocrata quem não está de acordo com as suas medidas.

O povo, para não ser hostilizado nem envolvido na luta social criada pela política e pelos media, só lhe resta a possibilidade de se refugiar na vida privada. Doutra maneira verá amizades destroçadas!

A sociedade crítica alemã vai assim tendo uma ideia da atmosfera social do seu tempo nazi e do tempo da Alemanha socialista (DDR). Os regimes quanto mais autoritários são mais se servem do medo, da censura e do controlo. As democracias que se quereriam exemplares (União Europeia e USA) encontram-se doentes.

Passo a testemunhar uma experiência feita na sociedade alemã nos anos oitenta e noventa. Então era eu o porta-voz do Conselho de Estrangeiros de Kassel  e minha esposa e eu organizávamos no nosso jardim encontros de convívio onde se reuniam africanos, muçulmanos, ateus, judeus e cristãos e membros dos diferentes quadrantes políticos alemães (De notar que então o partido dos Verdes era repelido pelo arco do poder tal como é hoje o partido AfD; no passado, porém, os Media eram mais neutros e por isso não havia ainda na sociedade a agitação popular). Eram festas em que se reuniam 40 pessoas empenhadas politicamente  e todos conviviam e falavam uns com os outros sem preconceitos e, sem atender a diferenças ou posições políticas; todos aplaudiam músicas feitas por judeus, afegãos ou da Índia e não se preocupavam se os participantes eram de direita ou de esquerda.

Pelo que me é dado observar, hoje a opinião pública da população alemã encontra-se em geral fanatizada e com ela também habitantes de outras etnias; a polarização política passou a dominar de tal modo a opinião pública que põe em perigo a paz social e as amizades.

Imagine-se o desplante da arrogância ideológica: A ministra dos negócios estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, declarou querer levar ao mundo uma política externa feminista. O feminismo considerado como símbolo do bem apregoado por um país onde a vontade de compromisso, a capacidade de diálogo e a empatia devem ser substituídas por “tornar-se eficiente para a guerra” parece ter muito mais de masculino do que de feminino.  Esperemos que este mal não se espalhe tão depressa pelos países menos expostos.

Deixou de haver direita e esquerda para se dar expressão à opinião única dos defensores do sistema identificado com a democracia contra a chamada extrema direita. Em geral, o discurso público não faz uso da palavra extrema no que toca aos da esquerda porque se parte do princípio de que esta se encontra na verdade e está consciente do poder virolento de palavras fortes. Também a China está a intervir no controlo da linguagem porque quem domina a linguagem domina o povo!

Os critérios usados para classificar uma pessoa como extrema direita são: questionar a agenda de género, ser contra o aborto, falar da existência de demasiados refugiados, da excessiva criminalidade de origem islâmica ou questionar o liberalismo globalista.

Na realidade trata-se de implementar uma nova cultura e o que está em causa é a deslocação do poder dentro do arco do poder (partidos que se alternam na governação) que, vendo o surgir de novos partidos com muito apoio popular, sente a sua posição de poder a oscilar  e por isso faz uso de todos os meios para os combater usando a estratégia de que a democracia está em perigo, quando o que está em questão são medidas governativas que sem consideração de prejuízos se afirma de maneira arrogante sem ver necessidade de justificar as medidas que toma, como se dá no caso dos Verdes na coligação de governo alemã

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

FRANÇA OSCILA ENTRE “EXTREMA” DIREITA E “EXTREMA” ESQUERDA

Le Pen e Mélenchon preparam dores de cabeça ao arco do poder da União Europeia

De acordo com as votações de 7.07 em França, o RN (Le Pen) obteve 37 %, o NFP de esquerda 28% e o partido Ensemble de Macron obteve 20 %. Devido ao sistema maioritário em França, o partido RN de Le Pen, embora tenha alcançado três milhões mais de votantes, do que a coligação de esquerda e o partido do Presidente Macron, não vê isso refletido na distribuição de assentos na Assembleia Nacional. Reagrupamento Nacional (o RN de Le Pen) recebe 143 assentos, Nova Frente Popular (NFP) 182 assentos; partido Ensemble de Mácron (centro) 168 assentos (1).

Não se trata de uma luta pela democracia, mas de uma luta das falanges que têm o poder e das falanges em formação que querem também elas determinar os destinos da Europa. Não é uma luta democrática, como afirmam os partidos do arco do poder, mas sim uma luta de esquerda contra direita e de direita contra esquerda em nome e à custa da democracia, quando na realidade o que está em jogo é o poder e interesses ligados a uma falange e a outra, e o povo tem que engolir tudo o transmitido como moeda verdadeira.

 As potências europeias na EU encontram-se em estado de alarme porque receiam ver aproximar-se o momento em que o povo coloque um travão às ideias globalistas que até agora têm sido conseguidas através de coligações que têm favorecido o poder da esquerda ao ser-lhe concedido, como área de acção o campo de batalha cultural na Europa.

Numa situação em que conservadores (nacionalistas) e progressistas (globalistas) se combatem de maneira categórica e absoluta com a mesma radicalidade que se observa no discurso  sobre luta militar que domina a Europa,  a política francesa parece vir a esgotar-se em lutas partidárias porque incapazes de fazer compromissos e coligações entre si.

Assim os partidos do arco do poder que se encontram bem instalados em centrais de informação e com os seus membros nas administrações do Estado empreendem uma luta cerrada contra potenciais partidos que furem o arco do poder e das instituições cedendo lugares a nível institucional de Estado  para novos quadros, o que lhe daria grande sustentabilidade futura.

Jornais alemães manifestam grande preocupação porque também a amizade-franco-alemã teriam muito que sofrer.

A esquerda usou todos os meios ao dispor para evitar que a Europa abdique do seu rumo à esquerda. Sintomático do fraco da informação é o frequente uso “de extrema direita “e não se usar a com a mesma convicção a designação de extrema esquerda nos Media em geral.

Na falta de uma coligação de maioria absoluta a França, fica entregue a lutas interpartidárias e em termos de governação, vai ter tempos muito mais turbulentos dado os três grupos concorrentes não terem maioria.

Jean-Luc Mélenchon da coligação NFP, que conta com 71 assentos no grupo em posição maioritária, é contra a ajuda da França à Ucrânia e em questões da NATO é também contrário a muitas das políticas aplicadas na União Europeia. O secretário do Partido socialista francês, Olivier Faure, é contra que o parceiro de coligação Mélenchon seja primeiro ministro.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Reagrupamento Nacional (o RN de Le Pen): 37,05% dos votos (143 assentos); Nova Frente Popular (NFP = 4 partidos,): 25,81% dos votos (182 assentos); Conjunto (coligação centro): 24,53% dos votos (168 assentos); os republicanos: 5,41% dos votos (66), etc.  A https://vorwaerts.de/meinung/was-das-ergebnis-der-frankreich-wahl-fuer-deutschland-bedeutet

 

O CULTO DO FUTEBOL E O CULTO RELIGIOSO

No Desafio da Vida os diferentes Rituais completam-se

Nos campos verdejantes de futebol e nos magníficos templos, a humanidade encontra as suas almas num espetáculo divino e secular. O torneio de futebol e o culto religioso compartilham mais semelhanças do que se pode imaginar à primeira vista nos rituais religiosos e nos rituais seculares ou em eventos culturais. São arenas sagradas onde corações pulsantes e fervorosos de diferentes devotos se reúnem, não só para celebrar a vida, mas para expressarem em comunidade, de maneira aberta e digna, as suas esperanças, receios e alegrias.

Imagine-se os estádios lotados como templos modernos, onde os fiéis se vestem com seus trajes rituais, não de túnicas e mantos, mas de vestimentas e cachecóis vibrantes, cada cor representando sua devoção inabalável a uma equipa, a um santo secular. Estes devotos fazem peregrinações de longas distâncias, enfrentando jornadas de fé, com o coração pulsante de expectativa, na esperança de testemunhar milagres de chuteiras. Eles ostentam não rosários, mas bandeiras, e em vez de velas, acendem as suas paixões com gritos e cânticos que ressoam como trovões, elevando-se aos céus num clamor que busca a graça da vitória.

Os cantores iniciadores de coros, os líderes dos adeptos, orientam os adeptos fiéis em hinos de louvor e devoção, transformando o estádio em um coro celestial. A multidão responde com interjeições de alegria e também gritos de arrependimento, num rito tão antigo como a própria civilização.

Os jovens acólitos (crianças), com olhares cheios de sonhos, acompanham, de mãos dadas, os seus ídolos até ao centro do altar verde onde, de alma e coração se apregoa o hino nacional. Assim, jogadores com “camisas” próprias, adeptos e crianças acompanhantes, expressam de maneira simbólica que em campo e em jogo se encontra toda a comunidade de vida.  Ali, sob os olhos atentos do árbitro-sacerdote, o ritual começa. Cada passe, cada finta, é uma oferenda; cada golo expressa uma epifania: aquele acto tão esperado de consumação e exaltação libertadora como se de teofania se tratasse onde ecoam os sons de trombetas de anjos e arcanjos arqueados em torno da baliza a dar ao golo um sentido superior.

Nos cultos religiosos, um Deus omnipresente recebe a adoração. No campo sagrado do futebol, os ídolos de carne e osso encarnam as esperanças de milhares. Mas em ambos os casos, há um elemento comum: a busca por sentido, a necessidade de um lar emocional-mental onde as almas possam expressar seus desejos e medos, onde possam mostrar sua veneração de forma palpável e, assim, libertar as diferentes energias que se acumulam nas vidas do seu dia-a-dia.

A beleza desses rituais, sejam eles em igrejas ou estádios, está na celebração da comunidade e na experiência coletiva da alegria. Há algo de profundamente humano que nos junta a todos para celebrar a festa da vida, numa de superar as intrigas mesquinhas, e nos reunir para cantar, rezar, gritar e apoiar juntos. Também a fé no pequeno David que desafia o grande Golias se manifesta em cada jogo onde a pequena equipe pode, contra todas as probabilidades, revelar-se vitoriosa. É a esperança que mantém os fiéis em ambos os domínios – a esperança de que, mesmo perante desafios gigantescos, o espírito humano pode triunfar. A esperança de que o humano deixe de ser mero rival e mesquinho para se tornar verdadeiramente humano.

O melhor rito é aquele que celebra toda a vida, no reconhecimento que cada acto e momento, seja religioso ou secular, contribui para o grande mosaico da existência. A vida é, afinal, um jogo, e a soma dos seus momentos é o que dá sentido à nossa jornada. Cada um de nós é o catalisador da sua própria vida, e nenhum momento deve desviar-nos do campo onde se joga a verdadeira partida: esse campo encontra-se dentro de cada um de nós e expressa-se numa vivência de comunidade.

Vamos todos celebrar, nos templos e nos estádios, nos cantos sagrados e nos gritos dos adeptos, a maravilhosa tapeçaria da vida. Ideal seria que cada um de nós encontrasse, na sua própria arena, a alegria e o sentido que buscamos e nos transcende numa de pensarmos e agirmos a partir do nós descoberto na nossa singularidade, o centro onde se realiza encarnação e ressurreição no mistério do encontro do divino com toda a humanidade.

Moral da narrativa e ideias inovativas: Qualquer pessoa que oponha os rituais naturais das pessoas uns contra os outros compreende mal o mundo, a humanidade e as pessoas e ainda não chegou a abranger os moventes mais profundos de todas as agremiações e instituições. Enquanto não superarmos o ciclo vicioso de afirmação e contra-afirmação, continuaremos a afirmar uma cultura da guerra sem notarmos que seria possível iniciar uma cultura da paz na complementaridade e na aceitação do erro como momento de superação; para isso haveria que sublimar a guerra e a agressividade humana em jogos, tal com acontece modelarmente no futebol (1). O futebol espelha a nossa vida natural.

A pressão do desempenho, o medo do fracasso, as imagens de masculinidade e, por outro lado, a paixão e a devoção absolutas são moventes bem presentes na arte do trabalho em campo. Tudo isto eleva os jogos a um lugar de ação e de culto. O futebol torna-se num catalisador onde se dissolve a tensão de energias positivas e negativas. Na esfera olímpica, porém, o deus futebol ameaça tornar-se demasiadamente absorvente, exigindo-se, por isso, cada vez mais capacidades de discernimento na maneira de determinar as prioridades orientadoras da própria vida.

O Campeonato Futebol (UEFA – FIFA) é também o exemplo de desfile e a expressão cultivada de uma sociedade dominada pelos homens que, com este tipo de ritual, exalta a matriz masculina que ordena o mundo segundo as características masculinas e ao mesmo tempo enfatiza os objectivos internos e os métodos de afirmação da natureza.

Não chega criar campeonatos de Futebol para mulheres no intuito de mitigar a matriz masculina do nosso modelo de sociedade.

Se nos rituais de futebol se sobrevaloriza a masculinidade secular nos rituais religiosos valoriza-se a feminidade em geral. Para se criar uma cultura humana de paz haverá que conceber pontes entre os polos das energias femininas e das energias masculinas, de maneira a que umas e outras entrem num diálogo de olhos nos olhos; isto para paulatinamente  se ir elaborando uma nova matriz de  equivalência entre características femininas e masculinas sem se cair  no erro de um igualitarismo superficial e masculino hoje dominante – pacote enganoso – que pretende masculinizar a feminilidade tornando-a apenas funcional e deste modo masculinizam ainda mais a agressiva matriz  masculina que domina a nossa sociedade a nível sociológico, antropológico e político-económico numa estratégia militarista.

Se partirmos da natureza humana e da observação da história dos povos, será de concluir que as sociedades continuarão a seguir a mesma matriz continuando a humanidade a ser uma oficina de reparação.  Neste sentido a sociedade irá continuar a enganar-se a si mesma; no palco humano prosseguirá a aliança de um mercado de transferências a nível desportivo, religioso, político, comercial, económico e da arte.

“Fomos, somos e seremos sempre todos nós. Acredita, Portugal”, apela Cristiano Ronaldo, de olhar no firmamento. De facto, quem pretende chegar à victória tem de aceitar com esperança o desafio da vida, consentindo também a prova de exercícios do erro para poder avançar numa sociedade feita ainda de vencedores e vencidos!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) alguns textos meus sobre jogos:

Diogo Costa: https://antonio-justo.eu/?p=9449

Análises de jogos de futebol: https://triplov.com/letras/Antonio-Justo/2014/alemanha.htm

Mulheres são Bolas de Jogo: https://redactormz.com/no-qatar/

Portugal Marrocos: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/jogo-portugal-marrocos

Ronaldo: https://www.mundolusiada.com.br/artigos/ronaldo-o-melhor-embaixador-de-portugal/

 

 

Pegadas do Tempo

 

(1) alguns textos meus sobre jogos:

Diogo Costa: https://antonio-justo.eu/?p=9449

Análises de jogos de futebol: https://triplov.com/letras/Antonio-Justo/2014/alemanha.htm

Mulheres são Bolas de Jogo: https://redactormz.com/no-qatar/

Portugal Marrocos: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/jogo-portugal-marrocos

Ronaldo: https://www.mundolusiada.com.br/artigos/ronaldo-o-melhor-embaixador-de-portugal/

 

O FENÓMENO DE JOGADORES MAIS VELHOS NO DESPORTO PROFISSIONAL

Pepe e Ronaldo são um milagre biológico do futebol assistido por uma Vontade forte

 O ortopedista e médico desportivo Dr. Gerd Rauch, em entrevista à HNA, descreveu o fenómeno Pepe e Ronaldo como um “milagre biológico do futebol”. Pepe com 41 anos e Ronaldo com 39, estão entre os jogadores mais velhos da história do Europeu.

Segundo o especialista, o que sobressai nos dois jogadores é “disciplina de ferro…treino extra, regeneração adequada com sono e sem álcool…  e corpos robustos, com muito músculo. É claramente o caso de Ronaldo e Pepe. São atletas excepcionais”.

As exigências físicas são importantes porque lesões complexas nos joelhos podem levar a osteoartrite prematura e, muitas vezes, levar ao fim precoce da carreira. Pepe e Ronaldo também tiveram lesões, mas a sua condição física aliada à sua arte, disciplina e vontades férreas fizeram deles grandes luzeiros no firmamento do futebol.

Naturalmente, a idade torna-se percetível e a dada altura o declínio no desempenho só pode ser interrompido pelo treino intenso e também pela vontade de suportar a dor, o que pode ser ajudado com um pouco de vaidade.

A velocidade no jogo, geralmente, diminui com a idade, e é por isso que as equipas optam cada vez mais por jogadores mais jovens dado o jogo se ter tornado incrivelmente rápido. “A bola já não está parada, mas é apanhada e retirada imediatamente.”

Os jogadores também recebem cuidados médicos ideais com cuidados ortopédicos, cardiológicos e médicos gerais; existe fisioterapia direcionada e treino atlético que atua na fáscia e nos tendões e alonga os músculos.

O futebol está também a tornar-se um negócio industrial. Até a cor dos sapatos de Ronaldo determina a vontade de comprar.

Ronaldo ainda é muito importante para Portugal pelo seu jogo de cabeça e pelo seu papel dentro da equipa agindo como estímulo  e  padrão de líder, como se nota na maneira como se dirige a colegas caídos em campo onde uma palavra dele parece fazer milagres; porém essas qualidades humanas não se notam na TV. 

Também é natural que no mundo das estrelas se torne difícil avistar o céu estrelado devido às cataratas dos problemas terrenos e ao fenómeno real das estrelas candentes!

O exercício da vontade ajuda a viver com sabedoria se não se quer passar ao grupo de uma reserva abandonada ao sobreviver: a vontade ajuda a sair do dilema do ganhar ou perder para se seguir a estratégia do perder para se ir ganhando! Trata-se de se optar por uma forma de vida simplificada ou mais complexa e exigente.

Ronaldo e Pepe são o exemplo do resumo ideal de tradição e inovação num mundo em apressada transformação.

A vontade só pode desabrochar da nossa consciência quando se tem um objectivo em mente e uma estratégia para o alcançar. Geralmente vive-se entre o querer da mente e o desejar instintivo do corpo faltando o estímulo da liberdade com a alavanca da esperança que dá lugar ao momento disciplinador da mente sobre o corpo para conseguir modelar as sensações num processo de emancipação.

A vontade, como impulso natural de dominar e se autoafirmar expressa-se legitimamente em Ronaldo começando pelo autodomínio adquirido através de autodisciplina, primeiro pressuposto para se chegar à victória; essa qualidade de caracter é hoje contrariada pelo espírito do tempo (Zeitgeist) interessado em fazer das pessoas meras consumidoras numa sociedade que se quer comerciável (tanto a nível capitalista como socialista) e para isso faz uso da ideologia do igualitarismo qualificando de arrivistas  pessoas e grupos que querem sair da cepa torta. Aquela atitude simplicista, embora parecendo progressista, torna-se de facto no maior inimigo das classes sociais menos privilegiadas porque mais apeadas à rotina e ao hábito.

Talvez por isso se levantem tantas vozes contra Ronaldo não entendendo que a pessoa humana é um projecto em continuo processo de habituação e tentativa de inovação, que implica a aceitação do erro como momento metódico. Um mundo em contínuo desafio aceitar a própria fragilidade como algo natural, mas sem que esta se torne objecto de virtude nem de fixação.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo