DOCUMENTA documenta dOCUMENTA (13)

Maior Exposição mundial de Arte Contemporânea

 

António Justo

Na provisoriedade de cada orientação, a dOCUMENTA (13) quer ser uma orientação desorientada. Serve a investigação artística aplicando-se às formas da natureza, do intelecto e da vida pretendendo informar sem formar. Também se quer sentir humana desde que  na pele do símio. Pretende estabelecer uma aliança entre os diferentes domínios que vão do sensual ao especulativo, da prática à teoria, do político à ecologia. Esta dOCUMENTA quer conhecer sem reconhecer, desejando assim ser integral sem se tornar integradora nem parte integrante. Contenta-se com a vaidade e o histerismo do momento.

 

Kassel, uma cidade de província da Alemanha, com 200.000 habitantes, consegue ser, de quatro em quatro anos, o centro de peregrinagem, por cem dias (desta vez, de 9.06 a 16.09.2012), dum público que ronda o milhão de visitantes; este confere, durante esse tempo, um ar exótico à cidade. Kassel quer-se metrópole ao tornar-se o templo, o lugar de estadia que procura conectar todos os espaços e expressões: do físico ao psicológico, ao cultural, ao histórico, ao tecnológico, do real ao fantástico.

 

Pretende ser o vínculo dos lugares e dos feitores da arte contemporânea a nível mundial. Numa palavra, para quem vive nesta linda cidade: pretende ser o umbigo do organismo artístico global. Um umbigo já elevado, atendendo ao estado avançado de gravidez, próprio de artistas e especialmente devido à posição da chefe absoluta da Documenta, Carolyn Christov-Bakargiew, que se encontra em contínuo de estado de graça e em “estado de esperança”. Nos seus enjoos de estado não admite parteiras na grande sala de parto. Segundo ela, os artistas não devem estar presentes na discussão pública para que os seus objectos de arte não sejam perturbados por outros objectos de atenção, salvo o seu papel de matrona.

 

De facto, a arte, como acto criativo, é um contínuo estado de parto, muitas vezes sem a responsabilidade de ter de se preocupar com o objecto parido nem com o seu sentido. É-lhe suficiente o momento da mudança e de conexão sem se fixar no lugar porque este poder-se-ia tornar em limitação física duma realidade que ultrapassa a possibilidade dos sentidos. Aqui arte e religião tocam-se mostrando-se aquela intolerante perante esta. (Recordar o conflito da escultura da torre, do artista Stephan Balkenhof, que na torre duma igreja estragava o conceito da Documenta 13.)

 

Daqui a necessidade duma orientação desorientada que, por mal dos seus pecados, tem de se socorrer de objectos de arte bem físicos mas aproveitados e alargados pelo intelecto. O intelecto torna-se aqui uma necessidade para que o lugar criativo tenha um tecto num lugar que se pretende considerar como o espaço universal onde toda a espécie de parto é possível.

 

Um problema da dOCUMENTA será não poder transpor o espaço e o tempo. O ser só se apreende situado, significando, por isso mesmo, no seu ser-aqui, limitação. O problema do acto criativo não está no acto criador em si mas no seu tempo e na sua roupagem… Temos de nos contentar com a roupagem e falar de roupas ganhando assim, nesse proceder, a impressão, de transcender o próprio vestido. Também por isso, o artista é um eterno insatisfeito, tendo de se reduzir a produzir o episódico, a gerar apenas História, podendo apenas imergir na sua roupagem, muito embora na procura do seu espírito.

 

A Direcção da dOCUMENTA, para criar mais fascínio, pelos objectos de arte expostos no exterior, associa-lhes histórias dirigidas à imaginação intelectual, dado o objecto nu, sem a roupagem intelectual, deixar falar apenas a própria nudez num mundo que se quer tudo mais. menos inocente. Aqui tudo se torna objecto, objecto para cobrir e encobrir. O observador, esse, é objecto de arte e o artista o seu complemento.

 

A História também se escreve com a arte e especialmente com o amor aos factos e aos objectos.

 

Na dOCUMENTA encontra-se muita arte, muitos artistas e também pensadores.

 

António da Cunha Duarte Justo

www.antonio-justo.eu

antoniocunhajusto@gmail.com

www.arcadia-portugal.com

Inauguração da Associação ARCÁDIA e Vernissage da Pintora Carola Justo

Inauguração da Associação ARCÁDIA e Vernissage da Pintora Carola Justo intitulada “A Terra é feita de Céu” (8 de julho de 2012)

 No dia 8 de Julho de 2012, pelas 16 horas, realizou-se a inauguração da “ARCÁDIA – Associação de Arte e Cultura em Diálogo” na Quinta “Outeiro da Luz” em Chaque (Branca) com uma vernissage de quadros da pintora Carola Justo. Estiveram presentes cerca de 150 visitantes, entre eles professores de universidades de Lisboa e Coimbra, a Engª. Doroteia Sã, representante da Câmara de Oliveira de Azeméis, a Dra. Rosa Tomás, vereadora da Cultura e da Educação da Câmara de Anadia, o presidente da Junta da Freguesia, Fernando Ferreira, e vários representantes de Comunicação Social e de várias associações locais e regionais. O presidente da ARCÁDIA, Dr. António Justo, apresentou a filosofia, as metas e projetos futuros da ARCÁDIA. A ARCÁDIA é uma associação sem fins lucrativos de projeção suprarregional. O Dr. José Augusto Fernandes fez a laudatio da exposição. Disse que a pintora tem um estilo muito original e inconfundível. “Os seus quadros têm um efeito terapêutico.” A pintora Carola Justo discursou brilhantemente sobre a “fonte da criatividade”. O enquadramento musical esteve a cargo dos guitarristas Rui Martins e Dr. Carlos Teixeira. A vice-presidente, Dra. Dulcineia Loureiro, moderou o evento. Os quadros da pintora alemã Carola Justo tiveram um eco muito positivo nos visitantes. A pintora, esposa do presidente e fundador da ARCÁDIA, já fez cerca de 50 exposições na Alemanha e em países estrangeiros, com muito boas críticas por jornalistas de jornais da especialidade e revistas. A exposição continua até 3 de Agosto. Encontra-se aberta ao público aos domingos das 10 às 12 e das 14 às 18 horas, às segundas e aos sábados das 9 às 12 horas e fora dessas horas segundo acordo telefónico: 963994458.

I

Discurso inaugural do presidente da ARCÁDIA

Minhas Senhoras e meus Senhores Caros árcades, prezados amigos: É com muita satisfação e alegria que em nome da “ARCÁDIA – Associação de Arte e Cultura em Diálogo” tenho a honra de saudar um público tão distinto e interessado e de agradecer a sua comparência. Bem-vindos à inauguração da ARCÁDIA e à Vernissage de Carola Justo. A Direção da ARCÁDIA saúda expressamente a Engª. Doroteia Sã, representante da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, a Dra. Rosa Tomás, vereadora da Cultura e Educação da Câmara Municipal de Anadia, o presidente da Junta da Freguesia, Fernando Ferreira, os representantes da imprensa e os representantes das associações: Dona Dália pela Probranca, José Marques pela Auranca, José Manuel Vieira pelo CDB, Dona Preciosa Camões Sobral, pelos Escuteiros, Dona Rosa Ferreira pelos Ecos da Memória, Dr. José Cerca pela Irmandade Santa Mafalda, Altino Pires, pela Comunicação Social, bem como o Professor Doutor Joaquim Teixeira, o Professor Dr. Horácio Peixeiro e o Professor Doutor Quadrado Gil. Um agradecimento especial a todos os membros da Direção da ARCÁDIA que se empenharam para que este evento se tornasse realidade e aos amigos que de longe aqui se deslocaram. Caros presentes: Como associação sem fins lucrativos queremos ser uma casa de todos, uma casa de porta-aberta onde se pretende contribuir para o fomento cultural e artístico numa estratégia de integração e projeção de pessoas, iniciativas, associações e coletividades a nível local, regional, nacional e internacional. Conscientes de que a cultura e a arte não são espaços economicamente privilegiados, a minha esposa e eu disponibilizam, gratuitamente, espaços da quinta para atividades da ARCÁDIA.

Pretendemos, por iniciativa própria ou em parceria, realizar ações, iniciativas, projetos e estabelecer pontes de diálogo nos sectores da arte e da cultura,
fazendo intercâmbio entre artistas e associações, localidades, instituições e multiplicadores da cultura e da arte. Pretendemos ser também uma plataforma de implementação pública de pessoas que privadamente criam arte ou iniciativas que mereceriam o reconhecimento público… No respeitante às artes plásticas, artistas de perto e de longe têm a oportunidade de exporem as suas obras na Galeria ARCÁDIA e no Ateliê. Para artistas de longe a ARCÁDIA tem o projeto Férias ExTra, que proporciona passar férias, trabalhar e expor (pintura, escultura, etc.). Seria interessante se conseguíssemos artistas do estrangeiro a expor em Portugal e artistas portugueses a expor no estrangeiro (Intercâmbio). Entre outras iniciativas temos “Serões Culturais” de cultura e arte ao vivo. Destes poderão nascer tertúlias musicais, literárias (poesia), teatro, etc. Pensa-se introduzir uma certa regularidade nos “Serões Culturais”. O próximo será aqui no dia 27 de Julho, pelas 21 horas. A Associação também tenciona organizar grupos de trabalho específicos ligados a projetos, iniciativas, conferências e atividades várias. Não queremos fazer tudo nem ser concorrentes de ninguém. Para isso já há muitas associações com trabalho importante. Queremos qualidade e dirigimo-nos especialmente a um público exigente e criativo, a um público que, mais que espectador, é agente e multiplicador cultural e social. Como exemplo de atividade que pretendemos realizar, refiro um projeto que tencionamos iniciar com o seguinte título: “Adolescentes e Jovens escrevem História”. Apoiados por um catálogo de perguntas os jovens documentariam a vida dos avós (e pessoas a partir dos 60) em que estes falariam das experiências da sua vida e diriam o que têm para nos comunicar sobre a vida (já que não lhes falta sabedoria para nos transmitir). Aqui, os jovens entrevistadores poderiam descrever também a sua vivência pessoal com eles e reuniriam fotos documentais. Textos e fotos seriam expostos aqui na Galeria Arcádia e, depois, em colaboração a combinar com peritos, com a junta de Freguesia, Câmara Municipal e Bancos, etc., poderia ser publicado um livro com os trabalhos escolhidos. Paralelamente ao projeto “Adolescentes e Jovens escrevem História” poder-se-ia elaborar um outro projeto, que seria: “Crianças escrevem histórias”.

Um outro exemplo de iniciativa a concretizar poderia ser o seguinte: fazer uma exposição conjunta de artistas que apresentam obras elaboradas a partir de produtos de reciclagem e convidar também professores e alunos de escolas e jardins de infância a visitarem essa exposição, com a finalidade posterior de crianças e jovens elaborarem obras a partir de coisas que se deitam para o lixo ou para o ferro-velho. Tal projeto realizar-se-ia aqui na quinta sob a orientação de artistas e membros da ARCÁDIA. Um outro projeto, semelhante ao primeiro que apresentei, seria mais complexo, a organizar mais tarde e depois de recolhido o conselho de departamentos municipais da cultura: “Os Traumas da Guerra do Ultramar”. Um outro projeto intermunicipal seria a organização de uma via artística em que os artistas de cada localidade participariam num projeto conjunto com exposições locais a serem visitados pelas pessoas das diferentes terras e com palestras em cada local relativas a cada exposição específica e ao conjunto das exposições.

A FILOSOFIA DA ARCÁDIA – Partimos de uma visão de vida integral, não fragmentada em verdadeiro e falso; encaramos a vida toda, pois a vida só no seu todo é verdade; isto pressupõe o esforço por uma vida fora de categorias ideológicas, de classe ou raça, num espírito de entrega ao Belo e ao Bem dos outros que são dádiva. Nos outros está cada um de nós também, num encontro de um eu e de um tu que nasce e se realiza no nós. Como base da ordem de trabalho da ARCÁDIA imagino uma mentalidade do “nós”. O “nós” é o ponto de partida e de chegada do nosso pensar e agir. Isto pressupõe uma atitude de vida em progressão, em que a dialética de autoafirmação pela contradição se pressupõe como estratégia num processamento de integração do que aparentemente parece contraditório. Passar da atitude e estratégia do “ou…ou…” para a atitude do “não só… mas também”, do “por um lado… mas por outro lado…” para uma visão nova integral, uma visão aberta da realidade e dos factos. A Palavra ARCÁDIA, formámo-la a partir das palavras iniciais AR (de arte) + CÁ (de cultura) e DIÁ (de diálogo): Arte e Cultura em Diálogo. A Arcádia histórica era uma academia que em Roma, em 1690, abrangia um círculo de poetas, cientistas, filósofos e escritores. Numa era em que o sentimento sufocava a razão, pretendiam os árcades voltar à simplicidade clássica nas obras de arte, no espírito do bem, do belo e da elegância, da tradição de Platão e Aristóteles sintetizada em Descartes. Também houve a Arcádia Lusitana, criada em 1756, que queria combater o “mau gosto” literário do séc. XVII. Almeida Garrett foi discípulo da Arcádia. Sentimos hoje, à nossa maneira, a preocupação dos antigos árcades, especialmente no que respeita ao espírito criativo inovador e ao respeito pelo biótopo cultural regional e nacional. Somos uma associação aberta e agradecemos as vossas sugestões e colaboração. Muito obrigado. António da Cunha Duarte Justo (Presidente e fundador da ARCÁDIA) www.arcadia-portugal.com http://www.facebook.com/arcadiaportugal

II

Laudatio do Pe. Dr. José Augusto Fernandes na Vernissage de Carola Justo intitulada “A Terra é feita de Céu”, na Galeria Arcádia da Quinta “Outeiro da Luz” (Chaque, Branca)

 A pintora Carola Justo nasceu em 1955 no Sul da Alemanha, na Baviera. Viveu a infância numa linda vila termal. O pai era decorador de casas e, por algum tempo, teve um segundo emprego como acordeonista. A mãe emigrou como refugiada da República Checa para a Alemanha, depois da Segunda Guerra Mundial. A beleza foi um valor constante e muito importante na família. Foi na idade de 13 anos que a Carola Justo começou a interessar-se pelas Belas Artes ao observar um dia uma pintura chinesa, que mostrava um simples ramo com um pardal nele pousado. O quadro impressionou-a profundamente. Refere acerca desse momento: “Foi a minha primeira experiência de arte.” Foi assim que, aos 13 anos, a Carola decidiu frequentar o primeiro curso de pintura, um curso para adultos. O pintor era expressionista e, segundo a mesma, ajudou-a a entender a arte. Aí começou a sua atração pelo impressionismo e pelo expressionismo. Os pais não apoiaram o desejo da Carola de seguir belas-artes na Universidade. Acabou por formar-se em pedagogia social e filosofia. Foi nessa altura que conheceu o António Justo, aquele que mais tarde se tornou seu marido. O casal Justo tem 4 filhos. Os 3 filhos adultos exercem todos profissões pedagógicas e todos desenvolvem algum talento artístico: ou música ou pintura. A filha mais velha é atriz, cantora e pedagoga de teatro. Entre 1982 e 1984 a Carola Justo formou-se também em terapia familiar. Algum tempo depois era coeditora duma revista regional, onde publicou igualmente artigos e contos da própria autoria.

Contemporaneamente ao serviço de docente de línguas na Universidade Popular, após o nascimento do terceiro filho, tornou-se também estudante em vários Cursos de Pintura durante muitos anos. Em 1997 começou a expor os próprios quadros. Até hoje tem já cerca de 50 exposições no seu portfólio. Com vários pintores a Carola Justo aprendeu sucessivamente as técnicas de pintura a óleo, a aguarela, a técnica de desenho e, finalmente, a técnica de pintura a tinta acrílica. Até 1996 pintou apenas quadros realistas. No entanto, já quanto era estudante de pintura, sempre desejou ultrapassar o realismo e encontrar um estilo próprio. Nas suas palavras, “o estilo próprio não é algo que se possa forçar. Ou vem ou não vem. É uma graça um artista encontrar o seu próprio estilo original.” E acabou por vir. Porquê ultrapassar o realismo? Sem dúvida que é admirável a boa arte de pintar fotorrealisticamente. No entanto, o realismo nunca pode transmitir a sensação do misterioso e não tem a capacidade de surpreender. Desde a invenção da máquina fotográfica, o realismo perdeu o seu valor. Deixou de ser necessário documentar pela pintura a realidade exterior. O verdadeiro papel da pintura é expressar a realidade interior, dando, sobretudo, acesso ao mistério e à surpresa. Foi esta necessidade que levou a Carola a abandonar o realismo. Acontece que, em 1992, a Carola Justo ficou completamente entusiasmada com uma exposição de pintura a acrílico de um pintor indiano moderno. Decisão imediata: “No futuro o acrílico será a minha tinta”. A partir daquele momento deixou de vez o óleo e mudou para a tinta acrílica. Foi nesse mesmo ano de 1992 que começou a surgir o estilo próprio que, pouco a pouco, se desenvolveu e aperfeiçoou até hoje. A óleo nunca mais pintou. Algumas palavras suas para elucidar esta mudança: “Uma experiência entusiasmante de arte pode tocar profundamente o coração e até mudar a própria vida. As grandes mudanças aconteceram comigo na infância e em 1992. Naturalmente que a porta da inspiração nunca fica fechada. Surge sempre quando se contemplam obras de arte inspiradas.”

Foi o que aconteceu ainda no ano de 1992, quando, numa exposição, contemplava quadros de um conhecido pintor austríaco, Hundertwasser. Estes quadros deram-lhe renovada coragem para exprimir o que já tinha no coração: cores fortes e paisagens de fantasia. No início, o estilo da Carola era algo semelhante ao de Hundertwasser, como aliás foi referido por jornalistas que comentaram a sua primeira exposição, que teve lugar na sede da Comissão Europeia em Bruxelas. Depois desenvolveu cada vez mais um estilo próprio, difícil de subordinar a estilos de outros. Tem elementos da Arte Nova, por vezes ainda com semelhanças a Hundertwasser ou Kandinsky, mas o seu estilo é mesmo original e, em grande parte das suas obras, é mesmo difícil de encontrar um percursor. Ressalvada esta porta de inspiração, sempre possível, através da contemplação de obras significativas de outros artistas, a inspiração de Carola Justo vem-lhe normalmente do ambiente em que se encontra no dia a dia. Embora o clima da região onde vive seja habitualmente chuvoso e escuro, a sua criatividade nada sofre porque vive das cores fortes que lhe vêm de dentro. Os passeios diários na natureza são mesmo fundamentais, tal como a meditação que também faz diariamente. Um parêntesis para uma arte de outro tipo da Carola. Além de pintora, também é docente de meditação na Universidade Popular de Kassel e dá inúmeros cursos de meditação em mosteiros. Nos quadros de Carola Justo nota-se bem a sua ligação e amor à natureza. Nas palavras de um historiador de arte, o Prof. Dr. Leo Weber: “O grande tema da pintura da Carola é a ligação (Vernetzung).” A ligação de tudo com tudo, especialmente a ligação do homem com a natureza. A Carola não gosta de falar diretamente do meio ambiente, mas sim da criação. Os homens, os animais e as plantas, para ela, fazem parte de uma grande família. A sua obra quer ser uma oposição clara ao desrespeito pelas pessoas, animais e plantas que graça em todo o mundo. A sua obra valoriza e acaricia toda a natureza.

A árvore, símbolo da vida, faz figura em muitos dos seus quadros. A árvore significa crescimento, enraizamento e alinhamento pelo céu. Podemos compreender os conteúdos dos seus quadros não tanto como simples figuras mas como símbolos. Por exemplo, a menorá, o candelabro judaico de sete braços, aparece frequentemente. Na menorá a Carola vê uma árvore, e vê também uma cruz escondida ou então sete braços que se esticam para o céu. Significa luz. A vela do braço do centro serve para acender as outras velas com a própria chama. Quatro dos seus braços também significam os pontos cardiais e os restantes dois braços significam a terra e o céu. A menorá, tal como a cruz, é a ligação da Terra e do Homem com o céu e é um símbolo que se usou nos primeiros tempos do cristianismo em ligação com o símbolo do peixe. A cruz também aparece mais ou menos escondida em muitos dos quadros da Carola Justo. Ela confidenciou-me que começa muitos dos seus quadros pintando uma simples cruz, partindo daí para desenvolver o motivo. A cruz, que para muitos se tornou apenas num símbolo de sofrimento e de morte, na realidade é um símbolo da vida. É duplamente símbolo da vida, primeiro porque significa Ressureição, e também porque exprime a união dos polos: do masculino e do feminino, do céu e da terra. Três dos seus quadros são muito verticais, muito estendidos para o céu (altura de 90 cm, largura 20 cm). Mostram cruzes que têm no meio um círculo vermelho: o coração ou o núcleo das coisas (“der Kern der Dinge”). O coração encontra-se no cruzamento do vertical com o horizontal. A tendência de Carola Justo para pintar muitas vezes o símbolo da menorá também tem a ver com a sua inclinação pessoal pelo número 7, número místico. Nos quadros encontram-se muitas vezes 7 linhas, 7 troncos, 7 pétalas ou 7 círculos. Não servirão certamente estas explicações para iniciar a contemplação dos quadros em exposição com a procura de pormenores como símbolos ou números. Observarão certamente cada quadro como um todo e esperarão que ele comece a falar-vos por dentro.

Esta exposição tem um grande número de quadros expostos e, por isso, não é possível contemplar intensamente cada um deles. É melhor escolher os que mais interessam e ficar algum tempo a contemplá-los. É sempre possível e aconselhável voltar num outro dia para observar e dar largas à contemplação dos quadros preferidos, em silêncio e com a guia pessoal da pintora. Como terão oportunidade de verificar, Carola Justo tem um estilo muito original e excecional. Estudou o fenómeno de criatividade não só na prática, mas também teoricamente e já fez muitas conferências sobre criatividade. Diz ela: “Quanto à maneira de ser criativo, há artistas que se orientam apenas pelo exterior: isto é: ou para agradar à maioria das pessoas ou para causar escândalos. Há artistas que olham para dentro de si mesmos até ao nível (auf die Ebene) da pura disposição e vontade (Lust und Laune) e não filtram nada. E há também artistas que olham para baixo até ao nível do reprimido, dos traumas, da raiva, do nojo, do patológico. Estes não têm a força de nos inspirar ou de nos elevar. Puxam-nos é para baixo. E, finalmente, há artistas que se deixam guiar pela força da inspiração, que é uma força que vem de dentro do coração, embora também venha de fora, no sentido de que escutam atenta e atenciosamente o sussurrar da inspiração, uma força que vem de baixo no sentido do fundo, duma fonte interior, e também de cima: do céu. Estes são os artistas que nos inspiram.” Nesta exposição está à vista de todos que a Carola é uma artista como estes últimos. Parabéns à Carola e um grande obrigado por ser uma destas artistas que mexe com a vida e nos inspira e anima a viver unidos entre nós humanos e com toda a criação. Desejo a todos uma contemplação profunda e deixem-se desafiar a reviver os laços originais de família com toda a natureza, sobretudo com os seres humanos que são a excelência da criação. Boa contemplação, proximidade, sintonia de alma! José Augusto Fernandes

III

Discurso de Carola Justo na sua Vernissage de 8 de Julho de 2012 na Galeria Arcádia da Quinta “Outeiro da Luz”

Excelentíssimas senhoras, excelentíssimos senhores, caras amigas, caros amigos, caros familiares. Obrigada por terem vindo de perto e de longe. Muito obrigada aos membros da presidência da ARCÁDIA que se esforçaram tanto para preparar esta exposição. Muito obrigada também ao Pe. Dr. José Fernandes pela laudatio e aos músicos Dr. Carlos Teixeira e Rui Martins. Gosto muito de entrar em comunicação com vocês, não só através dos meus quadros, mas também através da palavra. Há muita gente que quer saber que tintas é que o artista usa e que técnica, quanto tempo leva a pintar um quadro, etc. O que acho mais interessante é a pergunta: donde vêm as ideias? Qual é a fonte da criatividade? O grande pintor Vincent van Gogh escreveu ao seu irmão e patrocinador Theo: “Tu mal imaginas como é paralisante quando a tela branca olha para ti com um olhar fixo e quando a tela diz: tu não vais conseguir nada. A tela branca tem um olhar fixo idiota e hipnotiza o pintor. Muitos pintores têm medo da tela, mas a tela tem medo do pintor corajoso e apaixonado pela arte que invalida a sugestão de ‘tu não vais conseguir nada’.” Quando a tela branca ou a tábua de madeira branca olha para mim e me tenta desencorajar, não respondo com um plano. Respondo com tinta, espalhando pouco mais que uma cor na superfície – ou azul, ou verde ou vermelho. Assim o olhar fixo da tela é coberto. Depois não sigo um plano bem pensado, só tenho uma ideia vaga. Seguir um plano obedientemente mata a criatividade. A inspiração vem-me ao olhar para a cor. Um plano rígido é como uma camada de betão que não deixa aparecer a inspiração. Mas a planta da inspiração às vezes chega a furar uma camada de alcatrão. O cérebro constrói estas camadas, por isso é melhor, no princípio do processo criativo, não pensar demasiado, mas brincar, esquecer a lógica e revogar as leis naturais: o céu pode estar em baixo, o rio pode correr para cima, entre as nuvens podem passar barcos, os pássaros

podem ser maiores que as casas, o grande é suportado pelo pequeno e mais fraco. Tudo é possível e esta liberdade dá alegria. Mas criar obras de arte não significa pura alegria e liberdade, significa também disciplina, significa deixar-se guiar e ao mesmo tempo controlar, ser livre mas seguir regras, empurrar para trás o raciocínio, mas também inclui-lo. Como veem, a criatividade une em si contrastes. Eu nunca tenho a intenção de pintar árvores ou pássaros, montes ou casinhas. Eles aparecem. Olhando para a cor espalhada na tela, na madeira, vejo alguma coisa, o começo de uma cara, de uma árvore… e sigo. Vocês podem dizer: “então vem tudo do acaso”. As imagens não aparecem sem razão nenhuma. Tudo o que aparece vem de uma camada interior invisível, inconsciente, e é símbolo, às vezes um símbolo que eu mesma só entendo muito mais tarde. Entendi o significado do pássaro preto ou melro só depois de o ter pintado muitas vezes. Lembrei-me de que na infância, nas tardinhas quentes de verão, ouvia os melros cantar com o seu cantar muito especial. Só a estas horas cantam assim. É mais uma chamada do que uma canção. Nestes momentos, a chamada dos melros pareceu-me como uma chamada de um outro mundo, uma chamada do céu. O melro que aparece muitas vezes nos meus quadros significa a chamada desse outro mundo transcendente e significa também a saudade. Porque o que eu sentia como criança nessas tardes de verão era a saudade, embora nessa idade ainda não pudesse dar um nome a este sentimento. Sentia só qualquer coisa e dava-me uma sensação de felicidade diferente de outras sensações de felicidade e ao mesmo tempo um desejo forte e doloroso, sem saber de quê. Hoje sei que era saudade o que sentia. As imagens podem ser ambíguas. Por exemplo, os barcos que aparecem nos meus quadros podem às vezes ser vistos como ninhos ou berços. Os barcos são símbolos da viagem da vida ou de transição de uma fase da vida para outra; o ninho ou o berço pode ser símbolo do abrigo e da proteção, do lar. Tudo o que aparece nos quadros tem um significado, mas não é totalmente explicável. Muita coisa fica segredo, também para o artista. E é bom manter o segredo. Quando você mata a saudade, a saudade morre, quando você explica o segredo, o mistério deixa de existir. A palavra ‘segredo’ diz-se em alemão: Geheimnis. Esta palavra contém a palavra Heim, isto é, o lar. O segredo é a
nossa habitação. O filósofo alemão Gronemeyer disse: “Em vez de querer revelar o segredo devíamos habitá-lo.” Olhando para os quadros com o desejo de os compreender totalmente, só vai causar dores de cabeça e afoga o murmurar do quadro. Como o pintor não deve pensar demais para deixar surgir a intuição, a pessoa que vê obras de arte também não devia pensar demais para também deixar a própria intuição surgir. Deve esperar até que o quadro comece a falar consigo. Como eu estou habituada a seguir a minha intuição, corro menos o perigo de adaptar-me àquilo que todos dizem, que todos fazem e que todos apreciam. Por isso tenho a liberdade de negar o culto do feio, do negativo, do patológico – que hoje está na moda. Neste mundo, que é ao mesmo tempo bonito e doente, precisamos de uma mensagem positiva, precisamos da cor e da beleza que traz ordem e paz interior, precisamos da esperança e de ideais, para não nos tornarmos insensíveis perante a saudade do nosso coração. A minha pergunta inicial era: donde vêm as ideias? A esta pergunta não se pode dar uma resposta completa. Eu concordo totalmente com Fernando Pessoa que, falando sobre a inspiração literária, ficava admirado com aquilo que escrevia. Este fenómeno pode-se transferir aos pintores, escultores, a toda a gente que se abre para a intuição. Fernando Pessoa disse: “Depois de escrever, leio. Porque escrevi isto? Onde fui buscar isto? De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu. Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta com quem alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?” Esta é a experiência que artistas fazem de vez em quando, que a obra parece ultrapassar as próprias capacidades. São momentos de surpresa, momentos de gratidão pelo que se recebeu de alguém. O título desta exposição é: “A terra é feita de céu”. É uma frase de um poema de Fernando Pessoa. Todos nós sentimos às vezes, em momentos muito especiais e raros, que o mundo recebeu um brilho muito particular, as coisas parecem brilhar mais que o normal. Então parece como se o céu tivesse caído à terra, como se a terra fosse feita de céu. Desejo que este dia contenha para vocês esses momentos de brilho.

Carola Justo


ARCÁDIA – Associação de Arte e Cultura em Diálogo

Caros visitantes

Minhas senhoras, meus senhores,

 

Convido-os a clicar em www.arcadia-portugal.com e a dar uma olhadela ao seu blog.

 

Esta Associação, sem fins lucrativos, está aberta a toda a espécie de colaboração e de ideias.

 

No próximo dia 8 de Julho de 2012 às 16 horas realizará a sua abertura oficial com uma Vernissage. Se tiver oportunidade e disponibilidade não deixe de vir para ter uma visão mais concreta da ARCÁDIA e do que pretende.

 

Como presidente da ARCÁDIA aproveito para agradecer ao técnico David Ramiro Justo o facto de nos ter elaborado gratuitamente o site da ARCÁDIA.

 

Obrigado

António da Cunha Duarte Justo

Presidente da Associação

www.arcadia-portugal.com

http://www.facebook.com/arcadiaportugal

DOCUMENTA – A Exposição de Arte Contemporânea mais importante do Mundo

O Absolutismo na Arte

António Justo

 

De cinco em cinco anos peregrinam, de todas as partes do mundo, milhares de artistas e admiradores da arte contemporânea até Kassel, Alemanha. A documenta foi criada em 1955, em Kassel pelo artista Arnold Bode que pretendia, com a iniciativa, abstrair das ruinas da guerra e seguir novos horizontes ao serviço da abstracção. Na primeira exposição houve sobretudo obras de arte que tinham sido proibidas e perseguidas durante o regime nazi e intituladas de arte degenerada (“Entartete Kunst”).

 

A documenta alonga-se por 100 dias. Nesta altura a cidade transforma-se num mar de gentes de portes exóticos: um aspecto folclorístico que faz lembrar os mercados da idade média em torno das catedrais e, assim, forma, já por si, também uma obra de arte social. Kassel transfigura-se numa praça de arte que se estende por edifícios, parques e outros espaços públicos da cidade. A documenta apresenta uma perspectiva transversal da arte contemporânea e permite fazer o ponto da situação mundial em questões de arte e ocasionar uma certa orientação de perspectiva. Na sua história de 57 anos com 13 exposições, documenta as contradições e ambivalências do Homem e do tempo num currículo de realização e fracasso em processo de morte e ressurgimento.

 

A dOCUMENTA (expressão gráfica da documenta 13) vive da ambivalência e do escândalo na procura dum futuro prospectivo a partir dum presente impregnado de contradições e inconsistências que se expressam de documenta para documenta, numa manifestação de diferentes atitudes artísticas a que assistem diferentes filosofias, teorias, correntes políticas e sociais contemporâneas.

 

A documenta13, realiza-se de 9 de Junho a 16 de Setembro de 2012. A última documenta/2007 conseguiu vender 754.301 bilhetes. O objectivo da actual é atingir um milhão de visitantes. Ela é ao mesmo tempo o maior festival Open-Air. Kassel oferece possibilidades ilimitadas: o visitante tem a oportunidade de se alegrar e irritar sobre a arte.

 

A documenta (13), foi elaborada sob o lema “Colapso e Reconstrução” e tem como chefe/gerente a americana Carolyn Christov-Bakargiev apelidada por jornalistas de “Lady Gaga”. Ela situa-se nas pegadas e tradição das 12 documentas anteriores prosseguindo um espírito de continuidade de arte afirmativa e provocativa. Procura apresentar o válido como inválido e vice-versa, documentando assim as contradições da actualidade.

 

A direcção da documenta escolhe para chefe de cada exposição, um curador/chefe da documenta equipado de poderes absolutos; este pode pôr e dispor à sua vontade de maneira dogmática a própria filosofia. Na documenta, aqui em Kassel, a arte arroga-se alvores absolutistas. Carolyn Christov-Bakargiev encena-se como se fosse a sacerdotisa da arte, não lhe faltando a estola, o gesto religioso e o dogmatismo ostentado. O sensacionalismo em torno dela talvez venha do facto Carolyn Christov-Bakargiev querer, com idiotices mudar o nosso pensamento, através da documenta. Desta vez participam 297 artistas e grupos de artistas de todo o mundo.

 

“Direito de Voto para Cães e Morangos”

Em torno da dOCUMENTA 13 tem havido muita discussão na imprensa; a chefe tem-se revelado como bastante jacobina, não suportado mesmo nada que contradiga a sua ideologia/visão de arte. Para Josef Beuys artista “ é toda a pessoa”;  para a chefe da documenta, artista é toda a natureza, ponto.  Carolyn Christov-Bakargiev exige o direito de voto também para os morangos e para os cães; também há três cães da documenta treinados e colocados à disposição de visitantes que se deixarão conduzir pelos caninos; o sentido desta iniciativa é levar o visitante a ver a atitude do cão perante a obra de arte; intenção é inverter os valores colocando o Homem ao nível do cão e do morango. As suas posições radicais têm sido muito criticadas, muito embora a sua posição extremista possa ajudar uma sociedade surda-muda a notar que a natureza é sua companheira. A exposição paralela à documenta organizada na igreja católica St Elisabeth, onde o artista Stephan Balkenhol apresenta (na torre) uma instalação com um homem de braços abertos sobre um globo dourado, provocou os furores da chefe da documenta que não queria ver o Homem numa posição superior ao dos animais e das plantas. Sentiu-se “ofendida” por aquela instalação que questiona a sua intenção niilista não suportando o optimismo do Homem como senhor e corresponsável da natureza. Isto não passa dum ultraje invertido pois encontra na torre da igreja algo irritante para quem quer um mundo plano com tudo sem moldura, tudo abstrato, que desvie as atenções do humano.

 

A documenta quer ser um espelho da arte contemporânea mas negligencia grande parte da arte e em especial a pintura, o realismo, fotorrealismo, o realismo fantástico e o surrealismo. Por isso já houve movimentos anti documenta que foram imediatamente oprimidos. As pessoas não ousam opor-se ao espírito da documenta sejam cientistas da arte seja o povo. O doentio, o dilacerado tem sido tematizado em instalações e esculturas. Contrapõe-se o desastroso, o ameaçador em rituais negadores de ritos optimistas da religião e da sociedade. Um certo espírito da documenta quer afirmar-se como religião secular contra o religioso cristão e passar à margem das pessoas. Parece não reconhecer o facto de vivermos todos num mesmo mundo plurifacetado feito de muitos universos complementares.

 

Numa perspectiva cristã da arte o ser humano está chamado a mais do que a gritar. O Homem é o caminho de Deus e deve reconhecer-se como companheiro adulto da natureza mas sem abdicar de ser sua consciência. A religião e a arte devem ser os sismógrafos dos problemas. A arte também tem de se entender como resposta ao mundo na responsabilidade; por isso, também ela deve questionar os próprios conceitos. Por vezes tem-se a impressão, em certos meios ideológicos e de certa arte que a imagem de Homem constitui, já por ela, uma provocação. Esquecem que o olhar cego e vago da realidade é um olhar de governantes ou de quem se não quer envolver ou deixar tudo às forças duma natura sem cultura.

 

A arte abre novas visões mas precisa da condição humana para tornar não só a miséria humana visível mas também a parte nobre como a religião pretende afirmar. Também Dostoievski dizia “o belo libertará o mundo”. Quando se desiste da religião, o mundo torna-se em ameaça, como pretendem certas tendências ideológicas. Torna-se importante libertar a religião e a arte do medo e das ideologias.

 

A arte também é importante como catarsis, como crítica, sem ter necessidade de exilar a esperança. Não se podem tornar cúmplices com os senhores que roubam o mundo roubando a senhoria ao Homem tornando-o seu arrendatário e reduzindo-o a indivíduo anónimo numa imagem sem nós, como se uma árvore não estivesse incardinada num biótopo. Eu sou rei e escravo soberano, permaneço mistério e tanto a arte como a religião, como a ciência, a política, não conhecem um porquê da realidade. A arte e a religião protegem o mistério, aquilo que dá grandeza e perspectiva ao Homem e à natureza. Seria abstruso que arte e religião não reconhecessem o mesmo coração donde provêm, do epicentro da intuição que proporciona o sonho na empatia. Até ao séc. XVIII religião e arte viviam em relação amorosa, queriam modelar e tornar visível o mistério. Arte e religião questionam as compreensões imediatas. Com o racionalismo e o materialismo deu-se o divórcio do sagrado e do profano e dividiu-se o povo em sábios e ignorantes caindo-se num fundamentalismo de posições. Hoje torna-se óbvia também uma reculturização, uma nova consciência, à margem dum normativo racional que aprisiona a realidade em imagens e caixilhos religiosos, científicos, ideológicos, políticos, etc.

 

Na casa da arte, tal como “na casa do Pai” há muitas mansões; seria miopia expulsar a religião e o Homem do templo da arte e a arte da religião. Realidade e imagem são imagens!… Fazemos todos parte dum mesmo mundo, numa realidade complementar do não só… mas também…

 

António da Cunha Duarte Justo

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