LUSOFONIA A CHANCE DE FUTURO DOS PAÍSES LUSÓFONOS

Ontem submergiram às Colonizações das nações e hoje não resistem às das Civilizações

A Hora da Lusofonia está a chegar (3)

António Justo

Não, a Lusofonia não “ é a última marca de um império que já não existe” como quer António Pinto Ribeiro. (1) A construção de biótopos culturais /identidades nacionais não é contraditória à sua afirmação numa supraestrutura capaz de concorrer com outras supraestruturas mundiais.

 

Uma característica de quem se empenha na nobre tarefa da Lusofonia será, precisamente, através duma fábrica de pensamento, não adiar os problemas para o futuro mas sim encará-los com realismo para se antecipar a ele, numa estratégia de sustentabilidade. É necessário prever-se o perigo para termos a chance de lhe dar solução. Parte-se do status quo para se chegar ao que se deveria ser. Se queremos salvaguardar o bem-estar futuro, urge reformar o presente. A isto estão chamados, com conceitos e projectos concretos, os governos, as empresas, as universidades, as igrejas, os sindicatos, as associações e os cidadãos adultos interessados em construir um mundo adequado à dignidade humana e aos sinais dos tempos. A Lusofonia seria a realização de uma terceira via diferente.

 

Filosofia desejável para a Lusofonia

 

A Lusofonia não é nem foi, faz-se. Lusofonia poderá ser uma maneira diferente de ser e estar no mundo. Quer fomentar uma nova maneira de estar no tempo e no espaço, um novo modo de ver, agir e sentir o espaço geográfico-cultural lusófono e seus intervenientes. Essa maneira de estar já foi em parte exercitada, na miscigenação brasileira. A Lusofonia pretende fomentar a via especial dos povos lusófonos; uma terceira via diferente, não reduzível a um compromisso entre sistemas económicos/ideológicos (capitalismo e socialismo). Não se fica pelo pensamento bipolar. Raciocina, também, com uma lógica polivalente não fixada no “verdadeiro” e no “falso” mas reconhecendo no “possível” o elemento personalizador que leva a reconhecer a evidência da realidade. Não se fecha no “ou… ou” mas realiza-se numa prática e lógica aberta do “não só… mas também”, imbuída de complementaridade, enfim, uma via integral a-perspectiva. Também não rejeita a existência de padrões de comunicação: importante é a tentativa de integrar a posição do outro.

 

Os parâmetros filosóficos da Lusofonia incluirão uma consciência da complementaridade orientada pelo ideário de vida pensada e realizada a partir do nós, numa relação pessoal geradora de “eus” e “tus” adultos, gratos e gratificados. O “nós” será o ponto de partida e de chegada do pensar e agir.

 

Alternativa: ser satélites dos outros ou planetas do próprio sistema

Os países lusófonos têm que estar conscientes da alternativa do seu futuro: ou ser satélites anónimos de algumas potências ou tornarem-se eles mesmos os planetas do próprio sistema lusófono, tendo como seu centro a língua portuguesa e um ideário comum expresso numa relação mais que de cidadãos de irmãos. Não é assim que já nos tratamos quando falamos dos irmãos timorenses, brasileiros, angolanos, etc.? Se na palavra “irmãos” já temos um indicador de consciência fraterna e solidária, porque não investir nela a nível político, económico, cultural e humano? Já se esqueceu a solidariedade fruto dessa consciência lusófona, tida com Timor? A “Língua é a nossa pátria”! Unidos, ninguém nos destruirá e a Lusofonia (Comunidade Federal) transformar-se-á numa verdadeira potência de humanidade e fraternidade.

Como nações desorganizadas estaremos determinados a andar sempre atrás do progresso sob o ditame económico e político dos outros; como confederação lusófona (mais tarde federação) traria a si o poder de se autodeterminar e influenciar o futuro a nível global com uma política e economia próprias. Para tal pressupõe-se a união da inteligência racional à inteligência emocional, se não nos queremos perder deixar levar e perder na ditadura do factual e nos meandros duma emotividade nacionalista míope.

O movimento da lusofonia irmana a consciência de diferentes perfis antropológicos e sociológicos na resposta a dar aos sinais dos tempos como indicadores de futuro. Numa altura em que o imperialismo americano, chinês e europeu se aproveitam do globalismo para se imporem às nações e a grupos desacautelados, a resposta adequada será a organização das identidades lusófonas no projecto supranacional da Lusofonia: Um ecossistema cultural e humano à altura da nova reorganização civilizacional.

 

O conceito Lusofonia é realmente abrangente não podendo ser demasiadamente definido porque toda a definição bem contornada poder-se-ia revelar como limitadora do processo de desenvolvimento de identidades.

 

Já não chega uma boa relação entre os povos lusófonos; é preciso um sonho, um programa, uma vontade declarada de todos apostarem num ideário civilizacional comum, prometedor dum céu e duma terra para todos, com uma praxis de supremo respeito pela dignidade humana e pelo direito à diferença como valor.

 

Urge a Colaboração económica entre os países lusófonos

 

Trata-se realmente de unir, pessoas, povos e continentes para que da união surja uma força cultural, económica e política capaz de resistir a novos imperialismos. É importante apresentarem-se conceitos e estratégias capazes de alertar os governos para os perigos que se escondem por trás de acordos com firmas e potências que possam comprometer o seu futuro (a China, aproveitando-se da irreflexão europeia e da crise americana já conseguiu muito!). Os poderes das grandes potências camuflam-se através de influências anónimas que paulatinamente amarram governos, estados e nações. No futuro os Estados não terão sequer a oportunidade de corrigir os erros do passado com revoluções nem com nacionalizações. As intrigas internas serão controladas pelas grandes potências que não terão pejo de apoiar grupos contestatários de governos legítimos. No século passado as nações com pouca força económica ainda podiam optimar negócios jogando com os interesses concorrentes entre capitalistas e socialistas (USA e União Soviética), hoje, com a reorganização dos Estados em grupos de interesses económicos estratégicos e políticos torna-se dificílimo para os governos avaliar a longo prazo os compromissos que assumem com os grupos concorrentes (China, Liga Árabe, USA, EU, Rússia, etc.). Numa fase de ainda não consolidação duma união dos estados lusófonos, toda a África deveria, por razões estratégicas de futuro, privilegiar as relações com a Europa, precavendo um possível cenário que poderá ser o de os possíveis conflitos  entre a Ásia e a Europa se realizem na África, à imagem do que já aconteceu no passado em África relativamente aos interesses das nações e ao conflito da “guerra fria”.

 

Uma política favorecedora de colaboração com firmas e fluxos migratórios dos países lusófonos entre si revelar-se-ia como medida inteligentíssima contra o imperialismo económico que amarra o futuro das nações. É uma dor de alma ver como tantos académicos portugueses são aliciados por potências fortes, como a Alemanha, quando esses técnicos poderiam emigrar para os países lusófonos, contribuindo para o seu enriquecimento. É importante a salvaguarda de recursos humanos, étnicos, culturais e económicos numa cooperação multilateral que não avassale nenhum “biótopo” lusófono. A união faz a força. Cada país lusófono, no continente em que se encontra, constitui uma riqueza estratégica imensa.

 

A África continua em situação precária, sendo palco da cobiça e dos jogos de interesses ocidentais, árabes, chineses, russos, etc. Estas potências pretendem cimentar aí zonas estratégicas de influência. Ao contrário do autor inicialmente citado, sou do parecer que hoje a Lusofonia, à semelhança da posição de Portugal com a sua pretensão do Mapa Cor-de-Rosa na Conferência de Berlim (1884-85), pretende acautelar a defesa dos interesses das diferentes identidades étnico-culturais ameaçados por forças internacionais com mera intenção de domínio económico e estratégico. Às línguas estão subjacentes interesses de toda a espécie; em torno delas surgem as verdadeiras constelações do futuro. Hoje, tal como na Conferência de Berlim, as potências querem alargar as suas zonas de influência para depois, fazerem de terreno alheio e distante, o campo de batalha para as suas lutas de concorrência económica e política.

 

As zonas da lusofonia não seriam bem aconselhadas se, abandonadas à lei da inércia, sem organização, se deixassem enredar por problemas ideológicos e programas não aferidos à realidade actual.

 

Quem torpedeia a construção da Lusofonia, uma maneira moderna de dar resposta ao desafio do turbo-capitalismo e ao imperialismo comunista chinês, apoia precisamente aquelas forças e princípios imperialistas que o Mapa Cor-de-Rosa queria impedir (ao pretender salvaguardar o direito histórico e geográfico contra o direito da ocupação e repartição da África). Seria fatal se a lógica da ocupação económico-política seguida pelo ultimato inglês (1890) continuasse a imortalizar o princípio do mais forte. Não! Com a Lusofonia, trata-se de recorrer a um outro instrumento da evolução que não seja apenas o selectivo mas o da cooperação dos pequenos entre si, para poderem subsistir ao lado dos mais fortes.

 

Quer-se uma lusofonia construída na complementaridade partilhada por todos sem imposições dos mais fortes e acautelada de estratégias de afirmação por actos consumados de ocupação dos espaços económicos e culturais.

 

Naturalmente que Portugal não deve irradiar da sua consciência as barbaridades que cometeu em África nem desculpar-se com o preexistente comércio dos negreiros árabes. As suas brutalidades cometidas ao longo da história não são, porém, comparáveis à brutalidade sistemática doutros colonizadores, facto que não desculpa os erros cometidos mas prova uma outra mundivisão. Por vezes fala-se muito do colonialismo de ontem para se distrair das novas formas do colonialismo. Por outro lado, também seria ingénuo cair-se na cegueira de não reconhecer a luta da vida. A pequenez de Portugal e o seu caracter sonhador predispõe-no a ser conciliador, potenciando-o a ser um bom interlocutor no processo da Lusofonia. Por outro, Portugal, dentro da concorrência brutal em via na Europa sofre um ataque forte à sua instituição como Estado. Esta experiência poderia salutar se aproveitada nos espaços lusófonos como exemplo do que se dará mais tarde neles mesmos se não se prevêem.

 

Não é intento fazer do espaço da lusofonia um “império” mas um espaço global moderno de configuração a-perspectiva capaz de se manter e afirmar ao lado doutros constructos.

 

Também não se quer defender a ideologia dum luso-tropicalismo superior a outras civilizações, mas sim defender uma maneira de estar lusa ao mesmo tempo universal e respeitadora das culturas regionais. Portugal nunca assimilou mais que 1% da população colonizada. Havia a coexistência tolerante de culturas e hábitos (Cf. ideia da democracia racial em “Casa-Grande e Senzala” de Gilberto Freyre). De facto, desde o século XVI até Salazar (1940), não havia instituições coloniais nem um sistema de educação pública nas antigas províncias ultramarinas. Também a declaração da independência colonial em África não foi um acto contra Portugal mas o resultado de interesses económicos e ideológicos internacionais.

 

Já no 25 de Abril havia uma vertente da população portuguesa mais aberta à opção pelo ultramar do que à opção pela Europa. O espírito luso é arredio a ser encerrado num só país ou continente; ele é intercontinental, universal.

 

 

Encontramo-nos num momento de desenvolvimento histórico que não permite já a construção dum país pós-colonial. Os países foram uma forma anterior de socialização antes de se chegar aos constructos civilizacionais USA, EU, Liga Árabe, China, Rússia Índia…

 

Temos que ousar o salto de grupos étnicos ou nacionais para estruturas superiores. Doutro modo, os países, cada um por si, individualmente, sem um sonho nem um plano comum tornar-se-ão vítimas da cobiça das civilizações e potências fortes tal como aconteceu outrora.

 

É necessário equacionar-se os interesses de maneira convergente e não divergente. Já não nos encontramos no século XIX em que era ordem do dia a formação de nações. Hoje os sinais dos tempos apontam todos para a formação de órgãos/sociedades supranacionais. A experiência da formação da EU pode ser um exemplo de como se não deve proceder para criar um conglomerado. Apesar da génese e da filosofia ser baseada sobretudo pela concorrência e pelo poder, a EU afirmar-se-á. Muito mais prometedora e oferecedora de futuro seria a formação duma federação dos países lusófonos, no respeito dos biótopos naturais e culturais.

 

Seria um erro histórico crasso e constituiria um retrocesso se intelectuais africanos se afirmassem pela posição do contra, na intenção de construir uma identidade étnico-nacional.

 

O futuro já não se equacionará em termos de ideologias de esquerda ou direita nem de colonizadores e colonizados. A Lusofonia quer futuro e este só pode ser assegurado por uma terceira via diferente das outras. Temos realmente de construir uma nova matriz civilizacional.

 

Os Povos precisam dum Projecto novo e duma nova Bandeirância

 

Portugal iniciou outrora a grande aventura colonizadora hoje a Lusofonia poderá lançar-se na aventura humanizadora. A bandeirância que Portugal outrora assumiu como ponta de lança da civilização ocidental, na aventura colonizadora, terá de ser assumida hoje pela Lusofonia no sentido de construir um tecto metafísico possibilitador de relações humanas, económicas e culturais solidárias que sirvam de exemplo para a humanidade. As novas tecnologias podiam ser aproveitadas no sentido de superarem barreiras de aprendizagem e de mentalidades.

 

Sem sonho não há futuro. Sem mitos nem sonhos comuns deixaremos que as grandes potências económicas e os dinos do dinheiro repitam, de forma moderna e disfarçada, o que os países colonizadores conseguiram fazer de etnias outrora não unidas nem cristalizadas pelo tradicional processo de colonização interna. Neste sentido são necessárias fábricas de pensamento que preparem um projecto humano alternativo às tradicionais formas de domínio. O tempo do nacionalismo já foi ultrapassado pelo desenvolvimento histórico. Os novos contextos civilizacionais prescindem dele. A África não deve cair na tentação de procurar nos modelos nacionais ultrapassados do séc. XIX paradigmas para os novos Estados. Hoje, na ordem do dia estão as ligas, as uniões de estados pelo que a união dos estados lusófonos seria a consequência lógica duma estratégia actual e realista. Não reconhecer isto e apostar em nacionalismos é colaborar mercenariamente com potências estranhas. O que facilitou outrora a colonização foi o facto das tribos e grupos étnicos não se encontrarem unidos. Ontem não resistiram ao impacto das nações (Portugal, Espanha, Inglaterra, Franca, etc.) e hoje não resistirão ao impacto das civilizações (USA, Liga Árabe; China, Rússia, EU). Lógica: iniciar a alto nível conversações para uma confederação.

 

Os povos lusófonos precisam dum sonho, dum projecto próprio e duma Bandeirância que expresse a vontade subjacente. Não podemos deixar as etnias, os povos, as nações nas mãos dos oportunistas e dos jogos de grupos só interessados no proveito imediato. É preciso que os políticos dos países das lusofonias se juntem e procurem fazer das universidades alfobres de lusofonia, verdadeiros construtores de futuro e de progresso humano e fraternal. Criem-se parcerias com universidades; de não menosprezar universidades católicas devido à sua experiência internacional e à incardinação nos interesses do país, independentemente do credo. O gene da lusofonia reúne em si as melhores heranças biológicas e culturais que as civilizações legaram (Miscigenação, inculturação aculturação, uma ética alta e universal, etc.).

 

Promoção da Arte como Estratégia de Implementação da Lusofonia como consciência comum

 

A promoção recíproca da arte lusófona será a fórmula mágica duma estratégia, que a ser tomada a sério, se poderia tornar tão eficiente como a cristianização no século XV. Esta ideia terá de ser levada aos nossos políticos, que andam muito preocupados com as tarefas do dia-a-dia, sem tempo para poderem notar que por trás duma grande obra se encontra uma filosofia coerente e humana.

 

Uma grande tarefa a assumir igualmente por todos os estados lusófonos seria o fomento concreto da arte e da literatura dos parceiros para que esta se torne cadavez mais parte do sentir comum. Para isso será preciso que os Estados que anteriormente impuseram as suas matrizes culturais a outros povos implementem mais as artes daquelas culturas que antes reprimiram ou deixaram na letargia. Todos os órgãos dos Estados membros e as instituições da sociedade (universidades, igreja, partidos, sindicatos, associações) devem empenhar-se e dar expressão a tal intento, concebendo e apoiando projectos, com novas caravelas a afrentar os novos desafios, sejam eles económicos, tecnológicos culturais ou políticos. Há que apostar nos multiplicadores culturais e programas fomentadores das histórias nativas pré-coloniais.

 

Urge um estudo sistemático das semelhanças dos povos e construir-se uma sinopse das características antropologias e sociológicas que também em Portugal podem ser identificadas. Em todos os cursos universitários e especialmente nos de antropologia, sociologia, história e português não deveriam faltar cadeiras de lusofonia com as interferências interdisciplinares que a lusofonia implica.

 

O Acordo Ortográfico deveria ter sido obra acabada dos especialistas de diferentes países e de diferentes disciplinas e não condicionado por interesses económicos ou políticos.

Também o Instituto Camões ao pecar pela falta duma estratégia de promoção da cultura portuguesa, não sei se por intensão, se por fraqueza, poderá sinalizar precisamente uma atitude não colonizadora…

 

O dinheiro que Portugal poupa em conselheiros culturais deveria investi-lo na investigação e na implementação de programas interculturais a nível de universidades fomentadoras do espírito lusófono. O fomento de multiplicadores culturais da lusofonia efectuado pelo poder estatal, poderia ser contrabalançado pelo fomento de outros artistas, através de outras instituições e associações livres. Assim poderia estrategicamente proceder-se à proliferação de eventos musicais, literários, folclóricos dos países irmãos. Ministérios e comarcas poderiam pôr como condição de apoios financeiros às associações de arte e cultura a inclusão em seus programas de eventos de interculturalidade dos países lusófonos.

 

No novo enquadramentos histórico a lusofonia oferece a possibilidade da construção de novas identidades históricas abertas que não se afirmem umas contra as outras mas cresçam num espírito de complementaridade, ao serviço dum todo abrangente …

 

Precisa-se duma supraestrutura da lusofonia capaz de se afirmar na concorrência civilizacional: Uma Lusofonia como lugar das oportunidades das novas gerações de angolanos, brasileiros, guineenses, portugueses, moçambicanos, timorenses, cabo-verdianos e das diferentes etnias conscientes de só assim poderem sobreviver contra os novos desafios e imperialismos.

 

Será necessário pensar-se em espaços de séculos para nos não deixarmos subjugar por interesses imediatistas. No espaço cultural português e na alma portuguesa de hoje encontramos vestígios culturais, étnicos, que vão dos godos, fenícios, gregos, judeus, romanos bárbaros, árabes, africanos, etc., mas tudo isto só foi possível mediante um ideário e um sonho integrador acompanhado duma vontade política.

 

Seria ingénuo ignorarmos que o desenvolvimento histórico acontece à margem da formulação dos interesses económicos e culturais e abandonar a lusofonia aos interesses ocasionais de grupos económicos organizados. Não seria racional fixar-nos no fantasma dum colonialismo passado que nos distrai dos novos colonialismos em via. Importante é no meio de tudo isto manter a vontade emancipatória. Todos nós temos uma grande tarefa: fazer do património do mundo o património da lusofonia e fazer da lusofonia o património e a missão de cada país da lusofonia.

 

Lusofonia é um modo específico de estar humano, cultural, económica e política com expressão em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste que se deveria tornar numa política comum a todos os estados lusófonos. Se antigamente a unidade cultural se formava em torno da religião hoje pode ser implementada através do fomento da arte das subculturas em torno da língua. À volta da lusofonia não se pode abdicar dos elementos racional e emocional.

Do lusitano formou-se o português tal como do Angolano, do brasileiro, do moçambicano, do português, se pode formar o lusófono.

 

 

© António da Cunha Duarte Justo, www.antonio-justo.eu

antoniocunhajusto@gmail.com

(1) Esta parece-me uma abordagem da Lusofonia em termos arcaicos próprios duma lógica binária alijada ainda em mundivisões demasiadamente coniventes com ressentimentos étnicos e nacionais e do divide et impera. Seria fatal continuar a avaliar os tempos modernos com critérios e mentalidades de outros tempos.

Repatriação do Ouro – Um Aviso e um Alerta a Ricos e Pobres

Ouro em vez de Notas – Um Aviso e um Alerta

Repatriação do Ouro – A Alemanha dá o Exemplo

António Justo

Ouro no Mundo

Entre os países com maior reserva de ouro encontra-se, em primeiro lugar os USA com uma reserva de 8.133,5 toneladas de ouro; segue-se-lhe a Alemanha com 3.398,3 toneladas; a Itália com 2.451,8 toneladas; a França com 2.435,4 toneladas, a China com 1.054,1 toneladas; a Suíça com 1.040,1 toneladas; Japão com 765,2 toneladas. Portugal encontra-se em 13° lugar com 382,5 toneladas (Fonte: World Gold Council – Junho 2009).

Nos últimos cinco anos, a onça de ouro (31,1 gramas) passou de 600 para 1266 euros; no ano 2.000 a onça tinha um valor pouco superior a 200 euros. O ouro e a prata são muito procurados para investimento financeiro devido à inflação da moeda e para precaver bancarrotas. Também a China procura arrecadar a maior quantidade possível de Ouro para poder intervir melhor nos mercados financeiros e dar confiança à própria moeda.

No mundo há uma produção anual de ouro de 2.400 toneladas. Avalia-se que o ouro, até hoje promovido no mudo, é de 165.000 toneladas; deste encontram-se cerca de 79.000 toneladas aplicadas em jóias, uma outra parte em bancos centrais e no Fundo Monetário Internacional, uma outra, com mais de 18.000 toneladas, encontra-se aplicada em objectos de arte e cerca de 25 mil toneladas na mão de particulares sob a forma de barras, moedas e medalhas (cf. Goldankauf123.de).

Repatriação do Ouro alemão como medida inteligente de segurança

O povo alemão, que ainda tem peso nas decisões das suas elites, exigiu ao Banco Central Alemão, através do Tribunal de Contas, que fizesse um inventário do ouro que possui, uma análise da autenticidade das barras de ouro e o seu paradeiro. Os banqueiros mostraram-se incomodados com a exigência mas tiveram que começar a satisfazê-la. O Banco Alemão tenciona transferir para a Alemanha, até 2020, o correspondente a 27 mil milhões de euros. A repatriação custa 7,5 milhões de euros.

As reservas alemãs (3.398,3 toneladas) correspondem a um valor superior a 137 mil milhões de Euros. 45% dessas reservas encontram-se armazenadas no banco central dos USA (1.500 toneladas); 13% no Banco de Inglaterra em Londres; 11% em Paris (300 toneladas) e o resto no Banco Alemão em Frankfurt. Só a Inglaterra exige dinheiro pela guarda do dinheiro. O ouro repatriado, depois de examinado da sua autenticidade, é derretido para ser guardado em barras de 12,44 kg.

Esta medida também poderá ser, indirectamente, um aviso às instituições bancárias para não passarem créditos de posse de ouro que não exista.

Parte do ouro alemão foi colocado no estrangeiro, por razões de segurança, na altura da guerra fria entre ao Ocidente e a União Soviética e a outra parte provém da troca de dólares por ouro devida a excedentes comerciais adquiridos fora da Alemanha.

Portugal vende a “Prata da Casa” e com ela o Futuro

Numa altura em que os bancos centrais criam toneladas de dinheiro sem cobertura, a partir do nada, quem pode investe nos metais nobres. (Os que apostam na riqueza recomendam a quem tem dinheiro, que pelo menos um terço do capital deve ser investido em ouro/prata). Também os Estados deveriam fazer tudo por tudo para ter uma grande reserva de ouro. No caso de bancarrota ou de problemas de balança comercial, um Estado necessita de reservas em ouro para suportar a moeda nacional em caso de desequilíbrio orçamental. A insegurança do dinheiro virtual (fala-se que uma nota de cem Euros/Dólares tem apenas um valor base de 5 a 10 Euros/Dólares) e a crise internacional levou a China e comerciantes a procurarem assegurar o seu futuro com a compra de ouro, prata e outros produtos não virtuais. O mercado de prata oferece grandes potencialidades de subida.

Em questões de dinheiro a Corporação de Londres (City of London Corporation), um Estado dentro do Estado, com leis próprias, é o maior mercado financeiro do mundo, que alberga os maiores “cavaleiros” do dinheiro. Também o Goldman Sachs, banco de investimento e aconselhador de governos, está interessado na recolha de ouro e em acalmar o público para que este não compre ouro. Mais fica para o seu negócio especulativo. Um dos objectivos dos banqueiros da Goldman Sachs será conseguir um  estoque de ouro correspondente ao dos USA; então poderão intervir no mercado de maneira a provocar uma explosão ainda maior do preço do ouro. Por isso abastecem discretamente os seus estoques de ouro. A China pretende conseguir que a sua moeda se torne em moeda de reserva para melhor poder ser comercializada internacionalmente, como acontece com o Euro e com o Dólar.

O povo português possuía imenso ouro em mãos privadas (joias) e em reservas. Com a política inflacionária do regime do 25 de Abril, Portugal tem descurado esta tradição, esbanjando as reservas. Também tem aumentado a exportação do ouro do povo português (joias) de ano para ano; em 2009 exportou 102 milhões de euros em ouro e em 2011 exportou 520 milhões de euros. Devido ao sobre-endividamento dos portugueses estes continuam a vender o seu ouro. Vêem-se lojas e anúncios de compra de ouro por todo o lado. Portugal possuía uma das maiores reservas de ouro da europa; em relação a outos bancos centrais Portugal ainda é dos que possui, em proporção à sua economia, mais reserva acumulada durante o regime de Salazar. É triste verificar como o povo se vê obrigado dos seus bens (joias) para subsistir enquanto outros se assenhoreiam delas para ganharem rios de dinheiro com a especulação.

O mercado de metais preciosos continuará a revelar-se muito lucrativo para os especuladores. Embora os bancos centrais tenham de manter os juros das divisas baixos para que os Estados se financiem a créditos de juros acessíveis, os riscos de inflação e de bancarrota crescem devido às dívidas impagáveis.

O valor de uma moeda é determinado pela oferta e procura, pela confiança que se deposita nela e que se reduz a um valor estimativo, a um valor virtual. Por isso haverá sempre um risco na comercialização da moeda, menos nos metais nobres. Diz-se que o franco suíço é talvez a única moeda que tem um valor que corresponderia ao padrão de ouro.

Os Bancos Centrais asseguram o financiamento das finanças públicas dos Estados imprimindo notas promissórias com juros de quase 0% e por seu lado os Estados procuram controlar as suas dívidas através da inflação. Uma manipulação que torna o jogo dos especuladores financeiros mais atentos.

A fraqueza da economia portuguesa é proporciona à democracia. Quanto mais a oligarquia arrecada mais fraco é o povo! O trabalho mais urgente seria o da ressocialização das elites.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

www.antonio-justo.eu

Razões da Crise dos Estados na União Europeia

A Queda do Socialismo favoreceu a Degradação social ocidental (2)

António Justo

Com a queda do socialismo real da União Soviética, a Europa deixa de viver mortificada, na sua sombra. Com o passo da reunificação da Alemanha, a EU pretende ser uma grande potência, ao lado dos USA. Para isso, cria a Zona Euro, com uma moeda comum capaz de enfrentar o Dólar. O Euro torna-se num desafio ao Dólar e a quem ganha com ele.

A União Europeia quis a Concorrência e a Alemanha tomou-a a Sério

No ano 2000 os chefes do governo da União Europeia optaram, em Lisboa, por uma agenda de reformas tendente a fazer da Europa a “região mais competitiva do mundo com uma economia baseada na dinâmica do conhecimento”, até 2010.

O governo alemão do chanceler Gerhard Schröder (2003 a 2005) tomou a sério a decisão de Lisboa e elaborou a Agenda 2010 iniciando a “Reforma do Estado social alemão e do mercado de trabalho”. A Alemanha, com o pretexto de melhorar “as condições para um maior crescimento e mais empregos” e de querer “transformar o Estado social e renová-lo”, sob a coligação de esquerda SPD/VERDES, conseguiu envolver na Agenda 2010 as diferentes forças sociais da nação e impô-la ao operariado. Com esta agenda os trabalhadores perderam muitos dos direitos anteriores e iniciou-se um verdadeiro ataque à economia social de mercado.

Muitos benefícios foram excluídos do catálogo da segurança social. As contribuições previdenciárias para a reforma foram elevadas para 19,5% do salário bruto. Na reforma da segurança social em vez de ser combatido o desemprego passa a ser castigado o desempregado. A economia começou a florescer mas os salários não sofreram os aumentos adequados; por todo o lado a sociedade alemã sofreu cortes nas condições de bem-estar. Mesmo assim o nível social dos alemães manteve-se devido à política de manter os bens de consumo baratos e a uma exportação capaz de competição. Esta política colocou a Alemanha numa posição de relevo em relação a toda a Europa. As nações fortes da Zona Euro ao não aplicarem atempadamente um programa semelhante à Agenda 2010 cada vez se desestabilizam mais, vendo a Alemanha passar-lhes à frente.

Os trabalhadores alemães, que tinham suportado a renúncia a aumentos reais durante os últimos 12 não vêem com bons olhos economias menos coerentes sem tanta disciplinação; além disso não compreendem o desperdício de capitais da EU aplicados em sectores não produtivos das zonas da periferia. Acham atrevida a política duma Irlanda que por um lado recebe apoios financeiros da EU e por outro lado levanta poucos impostos às empresas o que leva empresários alemães a sediar-se lá para não pagarem tantos impostos.

O Estado paternalista questiona-se

Com o início da política de globalização, os Estados fortes reduziram os impostos dos ricos para estes se fortalecerem e afirmarem contra firmas concorrentes estrangeiras. Passou-se a não apostar no trabalho dos operários mas no capital. Este é investido onde há maior número de consumidores e onde os ordenados dos trabalhadores são mais baixos. Por seu lado, o Estado socializa a pobreza, favorece as condições de investimento às elites do capital oferecendo-lhe terrenos e uma camada social precária disponível com leis favorecedoras dos despedimentos. Favorece-se a riqueza anónima produzida por acções (dinheiro) e renuncia-se à capacidade de criar riqueza fruto da economia real. A classe média é oprimida com exagerados impostos; o trabalhador é obrigado a renunciar a bens sociais adquiridos e a aceitar novas contribuições. Por outro lado os Estados perdem muitos dos capitalistas que geraram porque muitos destes para não pagarem impostos radicam-se em paraísos fiscais como o Dubai, mandam fazer os produtos na China e comercializam-nos na Europa. O Estado abdicou perante o capitalismo neoliberal.

 

As Oligarquias do Capital agem e os Estados adaptam-se

As oligarquias económicas e ideológicas (à semelhança das famílias nobres de outrora) instalam-se nos lugares estratégicos das instituições da EU e estabelecem redes coerentes de influências a nível de governos, bancos, partidos, administrações etc. Conseguem subjugar os Estados através da corrupção solidária de seus responsáveis; conseguem impor-se nas universidades através do acordo de Bolonha, instrumentalizando os seus professores e disciplinando os estudantes; conseguem impor o neoliberalismo económico e consequentemente desautorizar os sindicatos que vêem os seus sócios cada vez mais reduzidos, devido à diminuição de empregos seguros (reestruturação das empresas) e à concorrência do operariado entre si; conseguem ainda fomentar a agressão contra instituições morais como a Igreja para melhor conseguirem impor uma moral rasteira acrítica, ao nível das necessidades primárias utilitárias. Estabelece-se uma oligarquia corrupta e solidária por toda a EU com o seu “quartel geral” em Bruxelas. Esta consegue cedências de soberania das nações (Estados) que o povo ainda não outorgaria. Também por isso Bruxelas não estava interessada no controlo dos empréstimos que fazia. A crise financeira de 2008 acordou a EU dum grande sonho.

Os países da periferia tinham-se deixado ir na corrente enquanto as suas elites se aproveitavam dos créditos da União Europeia, em parte, em proveito próprio. Quem se aproveitou da EU foi a camada média superior e a camada alta, encostadas ao Estado. Como a nação portuguesa não tinha mãos para sustentar estômago tão grande o Estado teve que ir à falência.

A Troica, em vez de exigir responsabilidade aos corruptos que se aproveitaram do Estado deixa-os à sota e castiga o povo. Agora, o povo reconhece-se entregue às feras e ladra e uiva. A opinião publicada fomenta a inveja latente no cidadão desviando as atenções dos perdedores para aqueles que ainda têm ordenados e empregos estáveis mais ou menos justos/humanos. Muitos pobres, mantidos por um estado paternalista interessado em impedir o desenvolvimento do descontentamento e do comunismo no seu seio, são agora colocados à chuva; não há nenhum sistema real capaz de contrabalançar o regime dominante. Não há modelos! O próprio comunismo chinês tornou-se num socialismo de estado capitalista! O Estado imprime dinheiro para dar aos bancos mas a inflação paga-a o consumidor. O crash financeiro que deveria ter penalizado os usurários do dinheiro serviu para empobrecer o cidadão e enriquecer a alta finança ligada aos bancos e aos seguros.

Urge a revolução dos honestos – Um Purgatório para todos

Antes a moral reservava o inferno para os ricos e o céu para os pobres: uma justiça adiada; hoje prefere-se a injustiça do dia-a-dia: as oligarquias ao tornarem-se as fabricantes da moral, já não lhes chega a terra, reservam-se também o paraíso para elas e banem os carentes, moral e socialmente, para o inferno. Até as democracias são usadas como plinto para jogos de influências possibilitadoras da organização criminosa, com impunidade civil e penal, a uma elite bárbara que utiliza o enredamento cúmplice de sistemas estatal, político, judiciário e empresarial para enriquecimento próprio. O compadrio entre irmãos, companheiros, camaradas e sócios destrói a independências dos poderes de Estado, Executivo, Legislativo e Judiciário. O quaro poder, os Media, não controlam; numa sociedade de concorrência entre ideais e interesses, cada vez se tornam mais dependentes das encomendas publicitárias e políticas. Os intelectuais críticos não ligados a uma facção ideológica ou política são marginalizados.

Constata-se que o dinheiro nas mãos dos poucos magnates financeiros desregulados não produz riqueza social; pelo contrário, destrói Estados, lugares de trabalho e empresas: a sua filosofia reduz-se à especulação, considerando também o trabalhador como mercadoria. Solidariedade e bem-estar para todos são-lhe palavras estranhas. Arruinaram a vida próspera do cidadão (economia social de mercado) e levaram a massa proletária à dependência do imediato, sem possibilidade de fazer planos económicos e familiares. Estão interessados em destruir a classe média, o braço direito dum estado florescente. De facto, quem não tem nada a defender não vai lutar pelo que não tem. O político transforma-se em mercenário do capital; procura também racionar tudo o que é despesa com trabalhadores públicos para que o que aí poupa seja canalizado para os magnates do capital, os únicos beneficiadores do que se poupa com o Estado e com o seu enfraquecimento. O Estado encontra-se assediado pela classe dos corruptos que com os seus afilhados preparam as leis parlamentares de maneira a servi-la.

O povo encontra-se numa situação tão depauperada (desorientação, analfabetismo político e social) que elege o palavreado daqueles que prometem o que ele deseja. As pessoas, desabituadas da solidariedade, pensam que não há solução para os problemas e contentam-se em criticar tudo e todos. O Estado encontra-se à pilhagem, o governo e o parlamento não têm legitimação ética nem competência para reorganizar um Estado que sirva uma nação honrada. Um pequeno exemplo: os governos depois do 25 de Abril assaltaram as Caixas de Previdência e ilibaram o Estado como entidade patronal de pagar contribuições para a Segurança social (CGA, ADSE) até 2005 (fala-se de um desfalque de 70.000 milhões de euros na Segurança Social). O buraco provocado tem de ser agora preenchido pelos empréstimos da Troika.

Hoje seria um dever patriótico dos Estados fazer uma revolução contra os Dinossauros do capital, e o saneamento da corrupção estruturada, o que pressuporia um golpe de estado dentro do estado. A maior revolução seria a mudança de mentalidade.

Os dinos continuarão a subir até que o povo descubra a solidariedade como única maneira de subir e competir com eles. Não se pode esquecer que a natureza tem duas maneiras de se afirmar: uma através da selecção (lei do mais forte) e a outra através da solidariedade/colaboração dos menos fortes entre si, contra as adversidades.

De que importa a limpidez das verdades que se reconhecem com a inteligência se o coração por onde passam se encontra turvo.

António da Cunha Duarte Justo

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A Queda do Socialismo favoreceu a Degradação social ocidental (1)

Da Economia social para a Desregulação capitalista liberal

António Justo

Os donos do dinheiro e do poder atacam sistematicamente o padrão da economia social europeia que permitia uma vida honrada e perspectivas de futuro com segurança para a maioria da população. Este sistema conseguiu gerar o milagre económico alemão e um bem-estar geral na Europa. Hoje é desmontado pela filosofia económica e social anglo-saxónica e pela visão asiática, aliada ao desejo duma EU que se quer afirmar em relação à América e à Asia.

Até 1998 a Europa tinha uma ordem económica de mercado social orientada para o bem-estar de toda a população. Possibilitava uma classe média abrangente e uma classe baixa remediada e uma classe alta reduzida de ricos mas com uma certa consciência social. O imposto sobre o consumo era insignificante; o imposto sobre os ricos era superior a 50% e as leis laborais tinham em conta a dignidade humana. Com a queda do socialismo (União Soviética) deixou de haver uma força concorrente que metia medo a um capitalismo desalmado e motivava os Estados ocidentais a tomar medidas económicas que possibilitavam a existência dum capitalismo de rosto humano. Na concorrência entre o bloco ocidental e o do leste, as elites económicas e políticas ocidentais estavam empenhadas em conseguir melhor nível de vida para os seus cidadãos e em demonstrá-lo; tinham de convencer com o melhor nível de vida dos seus cidadãos a sua superioridade perante o socialismo.

Emanuel Kant resumia toda a ética económica europeia ao princípio do “bem-comum” como princípio superior de acção. Ao contrário, o pragmatismo económico anglo-saxónico pensa resolver o problema do bem-comum através do ditado económico dum mercado que tudo regula.

A estratégia da União Europeia para se tornar a primeira referência económica do mundo e os exageros do paternalismo de Estado ajudaram os gangsters do dinheiro a impor ao Estado social um liberalismo económico selvagem.

A política social e económica, em nome de um racionalismo e utilitarismo absorvente, foi destruída, de dia para dia, e com ela a coesão social que antes havia. A solidariedade só pode ser cimentada por uma emotividade ética que leva à relação humana entre patronato e operariado. A redução do ideário nacional / individual ao mercado competitivo e a um código jurídico racional, que pretende substituir o ideário cultural/ético pela luta pelas necessidades básicas, não cria felicidade e leva à explosão da crise como se deu em 2008. As zonas periféricas do euro são o barómetro do estado dum sistema económico.

Com a Queda da União Soviética deixa de haver Concorrência no bem servir

Com a criação da zona euro e da economia globalista foi interrompida a economia social de mercado de prosperidade para todos. O trabalho digno dá lugar ao trabalho precário e desumano, flexível e temporário, a firmas emprestadoras de trabalhadores, baixos salários e ao mercado desregulamentado. O Estado, pressionado e comprometido com as forças económicas, deixou de impor um quadro regulador da economia, perdendo o controlo sobre os bancos e estes deixaram de ser os financiadores da economia real para se tornarem em casinos do capital de jogadores da bolsa. O poder financeiro começou a ser de tal ordem superior ao poder do Estado que tem a possibilidade de comprar também a política. Tudo se equaciona agora em termos mercantis. Deixamos de ter empresários de fundo humanista para termos capitalistas liberalistas desenraizados.

Corrupção económico-política coerente

Em qualquer sector que se observa lá se encontra uma rede corrupta de interesses de compadrio entre serviços públicos, partidos empresas e justiça. A corrupção encontra-se de tal modo orquestrada que nações como Portugal para poderem viver têm de recorrer à troica que legitima a corrupção. Em texto claro: vivemos num sistema económico coerente na corrupção. A corrupção estatal pede ajuda para sobreviver aos corruptos internacionais.

Até aos anos 90 havia uma relação de solidariedade entre patronato e operariado. Com a globalização, muitíssimas firmas que antes estavam ligadas a grandes famílias nacionais passam a pertencer a sociedades de accionistas internacionais só interessados no lucro da produção sem laços com o trabalhador. Fomentam relações de trabalho péssimas, importando-se apenas da especulação com firmas e com os trabalhadores: da colaboração mais ou menos condicionada passa-se à rivalidade.

Fomenta-se o radicalismo e desmonta-se uma democracia já de si doente

A poupança radical conduz ao desespero e asfixia a iniciativa. Como consequência, nas zonas de crise, acentua-se o radicalismo a todos os níveis sociais; o nacionalismo aumenta numa altura em que nações se encontram ameaçadas. O norte e o sul da europa têm mentalidades diferentes, não se entendendo a nível económico.

Entre a França e a Alemanha há discrepância na concepção da Europa. A França quer uma europa centralista (como ela) e a Alemanha uma europa federalista.

Egoisticamente a Alemanha exige uma política de poupança radical para o sul tal como a que praticou na sua crise dos anos trinta esquecendo que essa política foi a que possibilitou a subida de Hitler ao poder. É verdade que a Alemanha se tornou fiadora de um trilhão de Euros dos países em dificuldade e isso preocupa-a sobremaneira. Mas a EU não pode limitar a sua posição, em relação ao sul, a medidas meramente fiscais e mercantilistas. Sem margem de manobra para sanear as dívidas, devido a uma carga tributária já exorbitante sobre trabalho e energias, os governos limitam-se a adiar as soluções. A EU terá de perguntar-se porque é que foi interrompida a prosperidade para todos

A administração estatal precisava de ser expurgada de maus hábitos crónicos mas a economia precisa de espaço para criar alternativas fomentadoras de postos de trabalho.

Deixamos de ter empresários para termos capitalistas desalmados. Isto porque a rede dos políticos corruptos com assento e mordomias em empresas são os mesmos que preparam as leis que favorecem o compadrio.

António da Cunha Duarte Justo

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Privatização das Águas – Mais um Golpe contra o Povo

Portugal é a Cobaia dos Lóbis da União Europeia

Um Negócio do Futuro como o do Petróleo?

António Justo

Os donos dos interesses económicos internacionais encontram-se a caminho à procura de nichos e cúmplices que os sirvam nas administrações públicas.

Portugal precisa de dinheiro e os Dinossauros financeiros rondam como abutres sobre ele na procura de carne para lhe deixar os ossos. A privatização da água é um assunto muito delicado, não podendo ser promovida pela calada da noite. A água é vida e por isso exige condições de tratamento que não devem estar dependentes apenas do critério do lucro. O que se apresenta como um negócio para os municípios revela-se como um roubo aos cidadãos. É um facto que nas privatizações de grande alcance se encontram sempre abutres nacionais e estrangeiros com recursos de lavagem de responsabilidade para a parceria e de responsabilização para o cidadão através de acordos do Estado. Assistimos a um actuar contraditório do Estado português: por um lado privatização dos abastecimentos de águas que se encontram nas mãos das comunas e por outro carregar com contribuições os poços que cidadãos possuam nas sua propriedades. O Estado cede à pressão dos lóbis económicos da União Europeia que querem que se proceda com a água como se faz com a electricidade, petróleo, gás, etc.

Segundo o que a prestigiosa emissão televisiva alemã “Monitor Nr. 642 Informou, sob o título “Água operação secreta: Como a Comissão da EU transforma a água numa mercadoria”, a Comissão Europeia prepara uma directriz de concessão para a privatização da água na Europa. A Troica quer que o Estado português privatize o que dá lucro e o coloque à disposição de consórcios internacionais especuladores.

“Bruxelas solicitou que Portugal vendesse o abastecimento de águas e que fosse promovida a privatização das empresas nacionais de água “Águas de Portugal”. Quer transformar um bem comum, em objeto de especulação das multinacionais. Em Paços de Ferreira já se deu a privatização da água, contra a vontade dos cidadãos… que “agora têm de pagar quatro vezes mais pelo preço da água”.

Humberto de Brito presidente da freguesia de Paços de Ferreira resume: “As consequências da privatização, aqui em Paços de Ferreira, foram devastadoras. Tivemos aumento de preço de 400% em poucos anos. E, novamente, um aumento de preço ao ano de 6%. Isto é um desastre.

Na Alemanha há iniciativas contra o intento da Comissão Europeia. Em Berlim as iniciativas de cidadãos conseguiram obrigar a cidade a recuperar parte do que tinha privatizado no que respeita a águas.

A promessa de que a privatização tornará o preço da água mais barato é uma falácia atrevida. A prática mostra que as grandes empresas sob a pressão dos accionistas e através de cartéis aumentam os preços, como fazem com o gás e muitos outros produtos.

É notória e escandalosa a maneira como Portugal concretiza intenções da União Europeia envolvendo nelas interesses de nepotismo e protecção de interesses pessoais à custa dos impostos e contribuições dos cidadãos. Isto constitui prática constante, como se observa nas concessionárias das autoestradas, no negócio da ANA com o grupo francês Vinci e suas implicações com a Lusoponte, a Mota-Engil e o futuro aeroporto de Alcochete, etc.

“Agora cada vez se fecham mais fontes públicas e observa-se que fontanários públicos, sem qualquer explicação, são considerados impróprios para beber.

O acesso à água foi declarado direito humano pela Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Na realidade, porém, domina a lei da selva.

A política salva os seus interesses no mercado. A corrupção económica e a corrupção política são solidárias entre si e asseguram a limpeza das suas mãos tal como fez pilatos. A corrupção tem um lugar garantido nas caves do Estado. Por isso o povo tem de deixar de viver na paz da confiança e do “isso não é comigo” para acordar para uma realidade selvagem que o rodeia. Só podemos exigir políticos e elites responsáveis se assumirmos a nossa parte de responsabilidade. Confiança sem controlo revela estupidez.

Diz o ditado: “Queres conhecer o vilão mete-lhe a vara na mão”.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@gmail.com

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