O Papa falou à Consciência dos Deputados do Parlamento Europeu

A EU precisa de um Enquadramento que “faça prevalecer a Lei sobre a Tirania do Poder”

António Justo
A Europa encontra-se à disposição de um capitalismo feroz e de ideologias que não respeitam a dignidade humana nem as nações. Neste contexto, Francisco I veio falar à ágora da Europa onde não faltam os vendilhões.

Ontem (25.11.2014), o Papa falou em Bruxelas aos 751 deputados do parlamento europeu que representam mais de 500 milhões de cidadãos.

Referiu-se, indirectamente, ao perigo dos acordos (TTIP) que estão a ser preparados entre a EU e os USA; estes constituem um atropelo aos países membros que passarão a ser economicamente controlados por poderes económicos e burocráticos internacionais sem que o Estado possa intervir. Seria fatal uma dupla moral que traz na boca a solidariedade europeia mas cede às multinacionais privilégios e direitos que deveriam ser inalienáveis do povo. De facto, as democracias encontram-se ameaçadas pela “pressão de interesses multinacionais não universais, que as enfraquecem e transformam em sistemas uniformizadores de poder financeiro ao serviço de impérios desconhecidos. Este é um desafio que hoje vos coloca a história.”

A dignidade humana encontra-se ameaçada pela discriminação e por interesses económicos desmedidos. “Que dignidade é possível sem um quadro jurídico claro, que limite o domínio da força e faça prevalecer a lei sobre a tirania do poder?” Apelou à solidariedade e subsidiariedade.

Uma Europa que obriga os jovens a prepararem-se para o trabalho até aos 18 – 25 anos e deita ao abandono 6 milhões de jovens desempregados, perde o crédito, ao deixá-los à porta da sociedade e da vida, sem trabalho nem perspectiva. Daí, para o Papa, a urgência de se “promover as políticas de emprego” e a necessidade de “ devolver dignidade ao trabalho” pois «quanto mais aumenta o poder dos homens, tanto mais cresce a sua responsabilidade, pessoal e comunitária».

Francisco verifica que a Europa se tornou um continente cansado e envelhecido: : “De vários lados se colhe uma impressão geral de cansaço e envelhecimento, de uma Europa avó que já não é fecunda nem vivaz”. A EU tem vindo a ceder os seus ideais ao “tecnicismo burocrático das instituições”, tem criado estilos de vida caracterizados pela “opulência indiferente ao mundo circunstante”. “O ser humano corre o risco de ser reduzido a mera engrenagem dum mecanismo que o trata como se fosse um bem de consumo a ser utilizado, de modo que a vida – como vemos, infelizmente, com muita frequência –, quando deixa de ser funcional para esse mecanismo, é descartada sem muitas delongas, como no caso dos doentes terminais, dos idosos abandonados e sem cuidados, ou das crianças mortas antes de nascer.”

A Europa está velha porque alberga muitos Junckers, Sócrates e oligarcas sem alma europeia. Francisco I sofre com o desmoronamento duma Europa que, com uma política que endurece na elaboração de regras, não se preocupa seriamente com o futuro, perdendo os seus ideais em favor da burocracia e do mercado. Criticou o pensar consumista e egoísta que se espalha como um nevoeiro pela Europa.

Admoestou os países ricos, criticando o curso de poupança da Troica que castiga especialmente os países do sul, tendo o problema surgido do fomento da flexibilização de um mercado liberal que “não respeita a estabilidade nem a segurança das perspectivas de trabalho”.

Solicitou mais solidariedade com os refugiados. É um escândalo ver-se o Mediterrâneo transformado num cemitério para muitos que procuram refugio. O problema da migração tem de ser resolvido em conjunto questionando assim as Directrizes de Dublin.

“Uma das doenças que, hoje, vejo mais difusa na Europa é a solidão, típica de quem está privado de vínculos”. “Vemo-la particularmente nos idosos, muitas vezes abandonados à sua sorte”, bem como nos “jovens privados de pontos de referência e de oportunidades para o futuro; vemo-la nos numerosos pobres que povoam as nossas cidades; vemo-la no olhar perdido dos imigrantes que vieram para cá à procura de um futuro melhor”. Os deputados também devem: “cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas” e estarem atentos à «cultura do descarte» e do «consumismo exacerbado».

Falou também do abandono a que a política deitou as “minorias religiosas, especialmente cristãs, em várias partes do mundo. Comunidades e pessoas estão a ser objecto de bárbaras violências: expulsas de suas casas e pátrias; vendidas como escravas; mortas, decapitadas, crucificadas e queimadas vivas, sob o silêncio vergonhoso e cúmplice de muitos.”

Apelou para a importância da defesa da ecologia e da natureza de que somos “Guardiões, mas não senhores. Por isso, devemos amá-la e respeitá-la; mas, «ao contrário, somos frequentemente levados pela soberba do domínio, da posse, da manipulação, da exploração”; a par duma ecologia ambiental, é preciso a ecologia humana, feita do respeito pela pessoa.

Resumiu o ideal europeu recorrendo à seguinte imagem: “Um dos mais famosos frescos de Rafael que se encontram no Vaticano representa a chamada Escola de Atenas. No centro, estão Platão e Aristóteles. O primeiro com o dedo apontando para o alto, para o mundo das ideias, poderíamos dizer para o céu; o segundo estende a mão para a frente, para o espectador, para a terra, a realidade concreta. Parece-me uma imagem que descreve bem a Europa e a sua história, feita de encontro permanente entre céu e terra, onde o céu indica a abertura ao transcendente, a Deus, que desde sempre caracterizou o homem europeu, e a terra representa a sua capacidade prática e concreta de enfrentar as situações e os problemas.”

Recordou que o que gera a violência não é a glorificação de Deus, mas o seu esquecimento». Deus preserva-nos do domínio das modas e dos poderes do momento.
Recordou também um autor anónimo do século II que escrevia: «os cristãos são no mundo o que a alma é para o corpo».

Chegou a hora de construirmos juntos a Europa que deve girar, não em torno da economia, mas da sacralidade da pessoa humana e dos valores inalienáveis. Concretizando: precisamos de uma nova geração de políticos e de executivos que não se tornem pastores dos lobos mas que defendam as ovelhas dos lobos!
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
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JOSÉ SÓCRATES O BERLUSCONI PORTUGUÊS?

 O caso insólito de uma Nação inteira em Orgasmo fora do Lugar

António Justo
José Sócrates – o Berlusconi português – parece um figo maduro a gingar na figueira 25 de Abril. Esta tem muitos outros figos prontos a cair e outros ainda a amadurecer, neste jardim outonal de brandos costumes “à beira mar plantado”. Será que Portugal se quer restabelecer? Por enquanto, ainda se encontram muitos outros figos melados bem agarrados à figueira já murcha por tanto chupar e pela já sumida terra do jardim. Mas Portugal se se quer salvar por algum lado há-de começar.Do húmus dos figos caídos talvez a terra se torne fértil.

O Ministério Público na sequência de investigação de casos de crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais mandou deter, José Sócrates (ex-primeiro ministro) para interrogatório judicial, e também um sujeito ligado ao grupo Lena, outro à empresa de Carlos Santos Silva e um outro representante da empresa multinacional farmacêutica Octapharma, de que José Sócrates é empregado desde 2013, segundo informou o jornal Sol.

Muitos “inocentes”, ficaram escandalizados pelo facto de Sócrates ter sido preso no aeroporto de Lisboa às 22H, à chegada de Paris, e lá já se encontrarem as câmaras de TV, caso que os leva a especular sobre “fugas de informações”.

Fuga de informações?! Quando é que as não houve em Portugal? Isto parece conversa encomendada para desviar do assunto principal (a corrupção institucionalizada) para coisas marginais. A opinião pública portuguesa é geralmente encharcada com coisas que falam ao coração para desviar da mente e assim desobrigarem a atenção duma corrupção tanto da esquerda como da direita mas que se quer manter anónima nas caves da nação. Também a justiça e os órgãos do Estado precisam do folclore das detenções para se irem safando; a corrupção também banha as suas praias; não vivêssemos nós num Portugal tão pequenino de amigos e vizinhos.

Também se fala de “Justiça versus Política”! Isso também não, nunca houve; o que sempre houve foi uma política telenovela para o povo português e muitíssimos mações e amigos bem posicionados também na justiça que bem sabem contribuir para a desinformação. Justiça atenta à política seria completamente impossível, no nosso Portugal moderno, atendendo à actividade da maçonaria (de timbre inglês e francês) e outras forças, fomentadoras da promiscuidade política, financeira, dos Media e da Justiça, que manobram a partir de um Portugal subterrâneo, onde se encontram em erupção, desde as Invasões Francesas.

O problema da interferência e conivência entre os poderes é já antigo, é um legado republicano que vem não só da politização da justiça mas da “judicialização” da política que se deve a um Estado minado por organizações fortes, num país pequeno onde todos os grandes se conhecem e se julgam ser a casa do povo de um país ordinariamente partidarizado porque despolitizado. Defender uns para atacar outros implicaria reduzir a questão à alternativa: Lúcifer ou Belzebu; o que significaria continuar a fomentar um pensar bipolar que leva a pactuar com a corrupção!

A Democracia portuguesa está já saturada de corrupção; é de recordar, entre outros, os casos dos diamantes em torno de Soares, dos projectos para um novo aeroporto, das parcerias público-privadas (PPP), da Casa Pia, dos Submarinos, dos vistos gold, de José Sócrates, etc.; tudo deu em águas de bacalhau; tudo isto revela apenas a ponta do icebergue, num Portugal de esquerdas que se tornaram milionárias quando queriam acabar com as direitas milionárias.

Chegou a hora em que seria óbvio salvar a honra da República e devolver a dignidade ao povo, deixando de continuar a pensar apenas no tradicional sistema bipolar. Seria chegada a hora de saudar e apoiar as forças do Ministério Público e de Juízes que mostrem caracter e boa intenção, para que se comece a arrumar com o suborno e a corrupção encostada ao Estado Português; em vez disso enxovalha-se o juiz que precisaria da força de uma opinião pública renovada, para se atreverem a iniciar outros processos. Muitos acólitos dos diferentes senhorios ficam medrosos e logo se apressam a desculpar a corrupção vigente, com o argumento que personalidades do outro partido também são corruptas, segundo a máxima: os meus são ladrõezitos e os dos outros são ladrões. Nesta lógica, do salve-se a ladroeira, legitima-se toda a corrupção e o país em vez de se regenerar continua a masturbar-se, como sempre.

A coragem do juiz poderia ser um sinal de que a honradez e a justiça de muita gente desorganizada mas honrada querem ter palavra em Portugal. Naturalmente, também a Justiça deveria, para se tornar credível, proferir um mea culpa e deixar de se servir de direitos reservados para deputados, secretários de estado e ministros; não o faz porque acima da Justiça imperam certamente outros interesses e outras ordens.

Se o povo não está atento, e não pode está-lo, esta será a hora dos operadores subterrâneos do Estado que desconversarão sobre esta “tragédia pessoal” de grande quilate, de modo a ficar tudo na mesma, com tudo a favor da contínua tragédia de um povo indefeso. Partidarizar o discurso é justificar a corrupção que em Portugal é institucional, como já foi constatado publicamente.

Sem a mudança radical da justiça portuguesa, Portugal não toma emenda. Portugal não tomará emenda enquanto continuar a analisar a sua vida sob as perspectivas partidárias.

A prisão de José Sócrates parece um acto desesperado no sentido de recuperar alguns créditos na confiança popular. Naturalmente, para engavetar este tubarão teriam de engavetar muitíssimos outros e estes não deixam porque são todos amigos entre si e a rede que os assiste foi feita à prova de corrupção. Em Portugal, e em países frágeis, em vez de se engavetar os criminosos engavetam-se os processos.

A questão é de tal modo enredada e a luta das famílias tradicionais e das famílias partidárias é tal, num Portugal pequenino mas dos grandinhos, que não deixa espaço para uma solução satisfatória. Enquanto em Portugal, para se subir, for preciso entrar em instituições parasitas do Estado, não será possível formar-se uma alternativa honrosa.

Sócrates, ex-primeiro ministro português, agora o número 44 da Prisão de Évora, é uma grande oportunidade para toda a nação pensar sobre as razões que levaram Portugal e as instituições portuguesas a chegar ao ponto extremo onde chegaram.
António da Cunha Duarte Justo
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Vistos dourados e a Corrupção que os assiste

Invista um milhão e adquire o direito de residência em Portugal

António Justo
Portugal criou os vistos gold em 2012. Este programa corresponde a semelhantes práticas de outros países europeus.

O regime de emissão de autorizações de residência, para estrangeiros que queiram viver legalmente em Portugal, contempla a concessão ou renovação de “vistos dourados”. A aquisição do direito de residência implica que o estrangeiro faça uma “transferência de capital num montante igual ou superior a 1 milhão de euros, criação de pelo menos 10 postos de trabalho ou compra de imóveis com um valor mínimo de meio milhão de euros” como oficialmente se refere na página: http://www.ccilc.pt/pt/pedido-de-visto-dourado-tem-de-ser-feito-presencialmente-em-portugal#sthash.VUBmpwmq.dpuf

O destinatário do visto de ouro tem de permanecer, pelo menos, sete dias por ano em Portugal. Entretanto já foram concedidos 1.600 vistos no valor de mil milhões de euros, dos quais 972 milhões foram na aquisição de imobiliário.

O visto confere o direito de livre circulação no espaço Schengen. O pedido de visto de ouro tem de ser feito pessoalmente.

No contexto da União Europeia, a medida de introdução dos vistos dourados é boa, porque atrai os investidores a Portugal mas é duvidosa no que respeita à compra de imobiliários. Importante seria investir na produção e não na especulação imobiliária que talvez só venha a favorecer os especuladores do grande capital estrangeiro.

O pedido de vistos dourados é, na sua esmagadora maioria, de chineses, seguindo-se a Rússia, o Brasil e Angola. Chineses compradores exigem às imobiliárias ou mediadores uma espécie de “renda garantida” de 6% a 8% sobre o valor de compra, durante 5 anos. Esta é uma percentagem elevadíssima atendendo à barateza do dinheiro na Europa. Também haverá o perigo de branqueamento de capitais…

O investimento no imobiliário revela-se muito rendoso, a longo prazo, atendendo à facilidade com que bancos da moeda imprimem notas que, cada vez mais, têm um valor quase só virtual. O problema para Portugal vem do facto de investidores internacionais do imobiliário comprarem os objectos mais rentáveis ou servirem-se dos leilões de bancos portugueses que geralmente beneficiam o comprador e não as pessoas hipotecadas (como me confidenciava um amigo com experiência no assunto e metido em assuntos de investimento de capital alemão).

Na sequência de investigações feitas em vários ministérios, contra funcionários corruptos no caso da venda de vistos a investidores estrangeiros, o ministro do interior, Miguel Macedo, tropeçou e caiu. Não podia manter o seu rosto levantado pelo facto de, na sua administração, serem detectados casos de corrupção, entre outros de suborno (cinco dos 11 arguidos ficaram em prisão preventiva, três deles são chineses).

O caso das investigações do Ministério Público a instituições políticas e a órgãos do Estado revela uma boa intenção no sentido de se obstar à corrupção e ao oportunismo vigente especialmente desde o 25 de Abril. O sistema democrático de Abril tem muito a recuperar neste sentido.

O facto de muitos actores do 25 de Abril terem refeito a democracia em Portugal não os legitima a dispor de Portugal nem a usufruir de uma cultura de corrupção por eles urdida.

António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
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À procura do Pai no Universo

A Nave espacial Philae com a Sonda Rosetta “acometa” depois de dez Anos

António Justo
A 13.10.2014 a nave Philae acometou, depois de dez anos de viagem, em Tschuri. O cometa desloca-se a grande velocidade, a uma distância de 5000 milhões de km da Terra.

O objectivo do projecto espacial é analisar a composição do núcleo do cometa, a temperatura, e a natureza do seu solo, para, deste modo, se conseguir informações sobre a origem do sistema solar.

A nave de desembarque Philae (1), como o nome indica, revela o esforço por decifrar o texto do universo, numa tentativa de descobrir a origem do cosmo e da vida.

Como pode a técnica do homem (brinquedo dele), por meio dela, descobrir Deus no seu brinquedo que é o Universo?

O projecto é arrojado; é como tentar encontrar o Espírito divino, no provisório do tempo (no corpo morto de Cristo). A intenção é útil e o projecto também, porque, para lá das diferentes velocidades a que andam as inteligências humanas, o facto reúne-nos a todos no encruzamento do espaço e do tempo, naquele entremeio/intervalo, onde começa o nevoeiro interstelar feito de mistério. Aqui, para lá de constelações e opiniões, encontramo-nos todos no início da mesma viagem.

Na experiência do universo, tal como na da ressurreição, o tempo pára, a vida flui, só se ouvindo o ecoar do divino por todo o universo – um eco no coração do Homem a repetir-se na eterna pergunta: Pai, onde estás?

Na repetição desse eco outros ecos se ouvem no receio de uma resposta órfã vinda da técnica para filhos órfãos, na sombra da vida… Os cientistas permanecem presos em campos magnéticos, em distâncias e em conjecturas que partem de um pressuposto próprio. De facto um deus que se pudesse atingir não seria Deus. O que está por trás de tudo isto e tudo puxa e ordena, não lhes interessa. Cada um, cada criatura encontra o que pretende, parece também isto ser uma lei da natureza. O homem moderno corre o perigo de se dissipar no útil e factual perdendo a capacidade de sentir o pulsar de um poder superior na natureza.

Entre Deus e a sua obra corre o fluido do nada calado, a deixar espaço para perguntas a que o acaso ajuda mas não responde. Onde se encontra o eterno tecelão, que, da sua fantasia, fia a vida com os fios duma ordem misteriosa e perturbadora, de tal modo ordenada que se perde a meta e o sentido?

O desamparo do Homem, na procura do Pai (das origens), gira na órbita entre dúvida e convicção. A decifração da vida precisa não só da luz fria da razão mas também do calor da fé. Doutro modo a vida gelaria ou seria reduzida a um pesadelo num palco obscuro que em vão tentaria coar o brilho do Sol.

Neste mundo tudo gira na procura de uma meta! No emaranhado dos movimentos, a fé gera asas que o ateu não tem. A viagem da sonda Rosetta, materializa a fé da ciência na procura dos sinais da vida, tal como a viagem da fé, na procura do sentido do sentido, tenta dar sentido ao sonho que a vida é.

Todos, no mesmo espaço, viajamos em diferentes velocidades e órbitras mas num sentido comum de um céu estrelado com as energias das leis da física, da moral e da razão, tudo alinhado no seguimento das pegadas do mistério no universo. Todos nós, indivíduos e culturas, estamos na nave Philae.

Cada época, cada cultura, cada pessoa tem o seu centro de gravidade – o seu Sol – em torno do qual giram sentimentos e pensamentos que determinam uma acção própria no decorrer do mesmo empreendimento de desenvolvimento e descoberta.

Philae perdeu as forças, esvaziou as baterias depois de dois dias. Resta-lhe esperar pela luz do Sol que lhe carregará as baterias para seguir a viagem da esperança.

Procuramos nos testemunhos da órbitra do tempo o que se encontra fora dessa órbitra. A procura é para o homem o que é para a sonda a velocidade da nave.

Na vivenda do mundo
A nave Philae
Com coragem vai
Em busca do Segredo
Na Sala de Parto
À procura do Pai!
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

(1) Pedra de Roseta é um fragmento, em três línguas, descoberto em 1799 no Egipto e que, juntamente com a descoberta de um outro fragmento, na ilha Philae, possibilitou a decifração dos hieróglifos egípcios.

Hidroterapia e Promoção de Termas e Lugares de Cura

Um Exemplo para Portugal e para a Lusofonia: Bad Wörishofen

António Justo
Bad Wörishofen pode considerar-se um modelo em questões de integração de inteligências e interesses complementares no âmbito da saúde, da política, da economia, da formação e da cultura; os diferentes sectores da cidade desenvolvem estratégias comuns, investindo, de maneira complementar e cooperativa, reagindo assim, de maneira adequada, às potencialidades do meio, aos gostos do tempo e à procura do mercado. Aqui se vê o testemunho de que a matéria-prima mais rica, que um lugar tem, é a inteligência e a vontade de o transformar.

Quando, em 1975, estive em Bad Wörishofen e, por curiosidade, pratiquei alguns exercícios de aplicação de água fria nos braços e nas pernas, nas instalações dos parques públicos, recordei-me de uma curiosidade de espírito semelhante, que tinha verificado em Portugal. Em 1972 encontrava-me como orientador de alunos de Izeda, numa colónia de férias da praia da Areosa, a norte de Viana do Castelo. Fiquei então surpreendido quando vi, no lusco-fusco da manhã, mulheres vestidas, agarradas às pedras da praia sofrendo o embate das ondas frias sobre seus corpos. Foi-me então explicado que o faziam por razões de saúde.

Em Bad Wörishofen impressionou-me verificar como, o simples facto da diferença de temperatura de águas, aliada às ideias e experiência de um visionário (“Pároco Kneipp”), ter transformado uma aldeia de vacas numa vila que se pode considerar a sala de visitas de toda a região com renome internacional. Quando penso em Portugal, lugar privilegiado no mundo pela diversidade de riqueza de suas águas termais, já há dois mil anos exploradas pelos romanos, surge-me um sentimento de melancolia e uma ideia brilhante de um Portugal em florescência.

Por isto e por outras, todo o pessoal de termas deveria visitar Bad Wörishofen para ver como aqui se conseguiu unir em torno de uma ideia, o saber, as necessidades, as pessoas, a natureza, os balneários, os parques, a cura, a cultura, as caixas de previdência, a repartição de turismo e as finanças, no sentido de uma indústria da cura e do bem-estar físico e psíquico geral. Bad Wörishofen juntou a tendência das necessidades individuais e sociais com a inteligência económica, vivendo, hoje, toda a cidade, dos frequentadores das “termas”, tornando-se actualmente também num lugar de fixação de pessoas idosas abastadas. Esta pequena cidade com quase 15.000 habitantes tornou-se, segundo a apreciação da revista TIME, numa das 12 cidades da Alemanha mais dignas de visita.

Hidroterapia e Dietética do Naturista Sebastian Kneipp

Sebastian Kneipp (Stephansried, 17 de maio de 1821 — Bad Wörishofen, 17 de junho de 1897) foi um sacerdote católico, defensor do naturismo, que se dedicou ao estudo e promoção da terapia através da água, revolucionando a medicina alternativa. Foi director das termas de Bad Wörishofen e criador da Terapia Kneipp, uma estratégia hidroterapêutica e dietética com muito sucesso.

Filho de uma família pobre do sul da Alemanha, trabalhava como pastor das vacas da sua aldeia mas quando a casa da família ardeu e com ela as suas árduas poupanças de 70 Gulden, abandonou a aldeia para trabalhar fora, na condição de criado.

Como era inteligente, um capelão ensinou-lhe o latim, preparando-o para a frequência do liceu. Durante os estudos, tomou contacto com o herbalismo (uso e estudo das plantas medicinais)

Era estudante de teologia quando adoeceu de tuberculose e como conhecia o livro “Lições do Poder de Cura da água fria” de Johann Siegmund Hahn, banhou-se repetidamente por alguns momentos na água gelada (entre 5 e 10 graus) do Danúbio, ficando, depois disso, curado. Este acontecimento impressionou-o de tal modo que o encorajou a fazer aplicações diárias com amigos que sofriam de tuberculose e que se viram também curados.

Em contacto com a “Associação Amigos da Água”, que se ocupava do tratamento com água, mais se motiva a dedicar-se à cura pela água. Um farmacêutico levantou uma queixa em tribunal contra ele, pelo facto de violar a lei do comércio (curar sem credenciais, sem licença para isso); foi então condenado a pagar 2 Gulden por “crime contra a proibição de curar”; esta lei ainda vigora hoje, sendo necessário para o exercício de curar, um título ou diploma. O pároco Kneipp foi várias vezes processado pela medicina escolar. Dado ele não levar dinheiro pela cura e só tratar casos declarados como impossíveis de cura pelos médicos, foi-lhe então permitido curar os tais casos dados como perdidos pelos médicos.

Wörishofen recebe o título de estância termal (= Bad)

Na altura grassava na região uma epidemia de cólera e ele, ao ver tanto sofrimento e miséria, desrespeitou a lei curando 42 pacientes, sendo, por isso, apelidado de “capelão da cólera”.

Em Agosto de 1889, Wörishofen já não tinha capacidade para albergar os 4.000 candidatos à cura; dois anos depois já eram 6.000 e em 1893 Bad Wörishofen já contava com 33.134 clientes hóspedes de cura e mais de 100.000 outros visitantes. Constroem-se muitos balneários e surgem então associações Kneipp.

A Câmara municipal interessa-se pela exploração da cura em Bad Wörishofen; Kneipp exigiu então à Camara a criação de um departamento de caridade para órfãos e doentes carentes com direito a serem tratados gratuitamente e a um médico. Em 1892 é contratado um médico de termas para tratar gratuitamente pacientes pobres.

Kneipp viajou por muitos países a expor o seu método terapêutico com a água. Hoje o seu método encontra-se aplicado internacionalmente em muitos lugares de cura. O filantropo viu a sua acção coroada ao ser recebido pelo Papa e nomeado Camareiro secreto pontifício.
Em 1920 a cidade Wörishofen recebeu o título Bad=lugar de cura, passando a designar-se Bad Wörishofen. Na Alemanha há hoje 600 associações Kneipp com cerca 160.000 membros.

Aplicação do Método Kneipp nas Termas / Lugares de Cura

Sebastian Kneipp tinha um pensar holístico e dizia: “A natureza deu-nos em abundância tudo o que se precisa para ficar saudável.” Considerava o ser humano integrado no seu biótopo, advogando um estilo de vida em equilíbrio e em unidade de vida com o seu ambiente natural; propagava, nessa qualidade, as curas naturistas e a medicina preventiva.

Os cinco pilares da sua filosofia eram: água, plantas, movimento, alimentação e balance (equilíbrio na acção).

Corpo e alma encontram-se numa relação estreita de equilíbrio com os elementos da natureza, água, plantas, movimento (“A movimentação aumenta a paixão pela vida e ajuda o homem através do fortalecimento do seu corpo”) , nutrição (“Enquanto não houver uma mudança drástica no nosso sistema alimentar, não podem ser resolvidos os danos de que a humanidade sofre; não resolvidos, ainda se tornará pior.”, etc.

O padre que tratava toda a gente por tu, não exceptuando sequer o imperador, dizia: “Nada se pode tornar mais prejudicial para a saúde do que o modo de vida dos nossos dias. Deve ser encontrado um equilíbrio, a fim de revigorar os nervos supertensos e manter a sua força”.

“Para mim, se há um meio de cura, esse será a água”, dizia o Cura Kneipp

A Água
Através de esguichadelas de água (estímulos, de leves a fortes) provoca-se o fortalecimento dos poderes de auto-cura do corpo. A energia que surge da aplicação externa de água de temperaturas fria e quente, estimula a circulação sanguínea, promove o metabolismo corporal e a desintoxicação do organismo.

Há cerca de 120 aplicações da água, entre elas, lavagens, banhos de ervas, banhos alternados com água quente e fria, “esguichos relâmpago de água”, embrulhar em roupa. Uma delas, a imersão dos braços em água fria, também chamada “O café de Kneipp” revigora o corpo e actua contra a fadiga mental.

A aplicação mais conhecida de Kneipp é a pisa da água fria. “O ‘jacto de água fria lançado no joelho’ torna-se eficiente contra os pés frios, fortalece o sistema imunológico e ajuda quando se têm pernas pesadas, varizes, agindo ainda como anti-inflamatório” (Cf. http://www.kneipp.de/de/kneipp_philosophie/wasser.html).

As Plantas
A fitoterapia (medicina à base de plantas) conhece, para cada sofrimento, uma erva correspondente.

Das 45 plantas que Kneipp usava, segundo ele, a mais querida era a erva arnica que operava maravilhas contra hematomas, contusões, entorses, dores musculares e doenças venosas.

Alecrim estabiliza a circulação, Junípero (a fertilidade), erva-doce, alho (anti envelhecimento, afrodisíaco) e cardamomo. Aléo Vera – o “cactus das feridas”- relaxa, limpa a pele e fortalece o sistema imunológico.

O emprego das ervas medicinais (“medicina monástica”) sempre foi usado nos mosteiros e era mantido na tradição dos jardins dos mosteiros.
São bem conhecidas as propriedades curativas de ervas e plantas seleccionadas, tal como o emprego da argila praticado e transmitido em muitos conventos, como já recomendava o nosso papa médico português João XXI na sua obra “Tesouro dos Pobres” onde descreve o tratamento com produtos medicinais vegetais, animais e minerais. Nela se encontram receitas tanto para abortar como para fomentar a fecundidade. Hoje empregam-se, de forma eclética, os mais diferentes modos de terapia.

O Movimento:

Comparava o corpo com uma máquina de ferro que exposta ao tempo, sem movimento, ganha ferrugem. Nos seus exercícios, à moda do tempo, recomendava cortar lenha e a debulha, caminhar descalço, nadar, etc. “Tudo a seu tempo e tudo na medida certa”. “O que faz bem à mente, não pode prejudicar o corpo”.

A Alimentação:

Uma vida saudável implica que se desfrute com todos os sentidos. Para isso é importante uma atenção especial ao estilo de vida e aos hábitos alimentares. Água, plantas, exercício físico e a alimentação são os elementos que colaboram para o balanço da vida saudável e fomentam o entusiasmo pela vida. (Cf. http://www.kneipp.de/de/kneipp_philosophie/ernaehrung.html)

Não é preciso fazer dieta para se sentir bem; para Kneipp é importante uma alimentação equilibrada e reduzir a gordura; é útil moderar o consumo de carne em favor do peixe e consumir muita fruta e vegetais; beber muito (2 litros) especialmente águas minerais e chá de ervas ou fruta. Um grama de gordura animal tem o dobro de calorias de um grama de carboidrato ou de proteína. Recomenda o pão integral, cereais, painço e espelta. É de suma importância o equilíbrio da saúde física, emocional e energética.

Aplicações e tratamentos

O mais conhecido dos cinco pilares da filosofia da Sebastian Kneipp é a aplicação de água fria e quente, que é feita através de esguichadelas, banhos de braço, banho com mangueira a partir do pé e subir para a perna e vice-versa, banho do joelho, banho do corpo inteiro, embrulhamento depois do banho, pisa da água e andar descalço. As aplicações causam efeito sobre o sistema imunológico, a pele, e muitos outros processos metabólicos.

Indicações terapêuticas

Deficiência imunológica, Resiliência, Bronquite, sintomas respiratórios, infecções dos seios, sinusite rinite crônica, doenças otorrinolaringológicas crônicas, doenças urinárias ou ginecológicas; calafrios, crises de gota; doença cardiovascular, má circulação, cólicas menstruais, dor nas costas, lombalgia, dor nas articulações, tensão, dor ciática, doença degenerativa das articulações, osteoporose, irritação articulações, músculos; reumatismo, mal-estar, fadiga, cansaço físico e psicológico; distúrbio metabólico, doenças de pele, eczema, Estresse, reforço da resistência, distúrbios vegetativos, insónias, mau humor, doenças de órgãos funcionais; doença venosa, varizes, problemas circulatórios, tinnitus, flebite, Indigestão, constipação e distensão abdominal, condições espasmódicas na área abdominal. Como prevenção: doenças da idade e estilo de vida, infecções, resfriados, estresse.

À Laia de Conclusão

Bad Wörishofen fez de Kneip  o escudo da terra, a marca dos seus reclames e do seu sucesso.

As riquezas naturais da mais-valia das termas portuguesas poderiam ser ainda mais enriquecidas com o conceito, métodos e técnicas que se reúnem em torno de Bad Wörishofen e da filosofia de Kneipp. Imaginemos os potenciais económicos e de mercado que se encontram no âmbito do turismo, de tratamentos e também de aposentadoria para pessoas abastadas de proveniência internacional.Imagine-se uma acção concertada com os países da Lusofonia! Aí se encontram investidores e clientes com vontade de realizar uma via própria da lusofonia.

O potencial da economia termal para o desenvolvimento local e da hotelaria e do turismo nacional, já nos é indicado desde o Império romano, em que a classe alta romana frequentava as termas de Portugal.
Unir o termalismo e os lugares de cura a uma política de promoção do regionalismo e a uma cultura do bem-estar e do turismo da saúde, são objectivos que poderiam atrair rios de dinheiro da União Europeia; para isso são necessárias concepções e projectos bem fundamentados com perspectivas económicas. (A dedicação a estes projectos, pelos nossos deputados provenientes das regiões, justificaria grande parte da sua acção!…). Temos de deixar o jogo das escondidas das conversas para se passar a uma política e economia de acções concertadas. A conversa nunca é certa se deixa espaço para reticências. Uma sociedade avançada atesta-se nas obras.

 

Portugal tem condições excepcionais para se tornar, a nível europeu, na vanguarda termal e com excelentes lugares de cura. Precisam-se, para isso, investidores e políticas viradas para o fomento dos recursos locais. Precisam-se inteligências livres e fábricas de pensamento que, a nível local/regional, consigam projectos envolventes que as autarquias depois concretizem em colaboração com os diferentes parceiros.

Torna-se necessária e oportuna a aplicação da directiva comunitária Europeia nº 24/2011 relativa aos cuidados de saúde transfronteiriços. Não chegam congressos, precisam-se acções concertadas dos políticos da região, de investidores nacionais e internacionais (Capital de Angola!), médicos, técnicos da saúde e do turismo, com o apoio das universidades locais como motores do fomento económico e regional…. No sector da formação poderia haver formação e intercâmbio de práticas de cura promovidos pela UE…

Seguir o desenvolvimento da hidrologia, a nível prático, tornar-se-ia muito eficiente no combate às doenças crónicas, perturbações funcionais e doenças da civilização. O investimento na indústria da saúde será a aplicação mais rentável para as próximas gerações.
Qualidade e humanidade são critérios muito atraentes para diferentes públicos com exigência/posse.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu