As Escolas Espelho da Nação
O Ensino está cronicamente doente em Portugal. Este doente crónico reflecte o estado das elites que temos, por ele preparadas! Um ciclo vicioso!
Uma política pedante incapaz de trabalho sério a nível de concepção, de remodelação, de programação, de estratégias e de empenho limita-se a estar presente na praça, de maneira desqualificada. Como é já tradição, o Ministério da Educação vai regularmente distraindo o povo apenas com ruídos polémicos provenientes do “tronco”. O último, no novo projecto do estatuto da carreira docente, é do seguinte teor: “Cada encarregado de educação individualmente vai fazer uma avaliação do trabalho dos professores que dão aulas aos seus filhos…”. A apreciação dos pais será depois tida em conta, na subida de escalão dos docentes. O novo estatuto deve entrar em vigor a partir do dia 1 de Janeiro de 2007. Políticos de quarta classe, na impossibilidade de conceberem e agirem, delegam nos pais a própria fraqueza, de que todos somos vítimas. Procede-se à desqualificação da formação dos professores pela qual o estado é responsável.
Em teoria, esta legislação seria óbvia e viável se o povo se encontrasse já num estado de desenvolvimento superior ao dos nossos próprios governantes.
A ingenuidade, o oportunismo e a fraqueza política, manifestas no presente projecto, só podem conduzir a situações caóticas: aos alunos é atribuído um papel de testemunhas absolutas, in causa propria, nos pretensos falhanços dos professores. Um malentendido e uma agressão dum aluno contra o professor chega para movimentar pais, a não ser que se dê, também a estes, o direito – dever de irem assistir às aulas…
Torna-se evidente uma contradição absoluta no nosso sistema democrático partidário: políticos, representantes duma democracia representativa cada vez mais alérgica ao povo, querem, irresponsavelmente, impor elementos de democracia directa aos outros… Ou será que quererão sorrateiramente fortalecer o poder de intervenção das suas estruturas partidárias a nível local? Ou querem apenas impor “justiça popular” aos outros quando para eles se reservam “a de Castela”. Talvez apenas o jogo do rato e do gato!
Continua a ser noite em Portugal!…
Uma certa ideologia socialista errada procurou, por todo o lado, desmiolar o ensino e desautorizar o professorado para criar sistematicamente a rebaldaria e para à sombra das ruínas melhor poder esconder a sua incompetência e implementar uma imagem de “sociedade à la carte”. Para isso apoderaram-se do ensino e da administração. Em pleno dia, à sombra dos ministérios, as cigarras continuam a viver e a cantar à custa das formigas. Apesar da sua longa sesta, a nação dá-se ao luxo de não acordar!
Os anónimos do poder, sem conceitos nem responsabilidade pelo bem comum deitam tudo abaixo destruindo uma sociedade organicamente estruturada, que se encontra doente devido a intervenções ininterruptas meramente ideológicas e ocasionais. A sua oportunidade é a rua e a sua mais valia está na cópia de ideias peregrinas já ultrapassadas mas para eles imunes por terem sido lidas algures no estrangeiro. Assim destroem uma nação e abusam dum povo a quem quebraram a espinha dorsal depois de tantas épocas de preponderância e de irresponsabilidade. Em vez de meterem mãos à obra duma restauração, ainda por fazer, e que para ser séria terá de começar por eles, atiram areia para os olhos do povo que querem sem alma, à sua imagem e semelhança. Em tempos de crise chega destruir sistematicamente a autoridade, neste caso a dos professores.
A melhor prova de que a nossa escola precisa duma reforma profunda é o facto de produzir responsáveis assim. Estes delegam o saber e a responsabilidade na rua mas o poder querem-no só para eles.
Esta medida desautoriza as comissões de pais já existentes bem como as organizações de alunos nos diferentes grémios escolares. Porque não reformam todo o sistema e não fortificam estes grémios em vez de esconderem a incompetência por detrás de novos remendos?
Querem apenas um sistema de automatismos que prescinda da pessoa. Querem uma formação para o anonimato e para a docilidade para com um estado partidário dum povo reduzido a votante ocasional. Para isso bane-se da escola o esforço, a autoridade, a responsabilidade. Pretende-se fazer da escola um “sistema social”, um estado de graça. Também os professores para não serem incomodados deverão distribuir mediocridade, oferecer boas notas na defesa da sua nota!…
O ensino público cada vez está mais deteriorado apesar do excesso duma formação – indoutrinação contínua sub-reptícia de professores através da intervenção ministerial – partidária com formadores à maneira em equipas de disposição administrativa ou partidária também no sentido de aproveitar verbas – desperdício da União Europeia. Haja formação e avaliação de professores mas com regras bem definidas e transparentes, com objectividade e com rigor.
Ontem “em nome da nação” hoje “em nome da democracia”! Um equívoco?…
A escola e a política mudam-se ao sabor dos tempos e das vontades! Hoje, o povo porém, embora com mais tempo a aquecer os bancos da escola, e um pouco de mais sopa e pão, está cada vez mais na mesma!… Nos outros tempos a escola do Estado Novo era mais científica, mais exigente. Era naturalmente mais selectiva e mais repressiva, preocupava-se sobretudo com os resultados, com “os melhores”. O seu carácter científico e selectivo criava espíritos mais livres e independentes, mas em serviço!… Hoje a escola é mais social, nivela o ensino pelas bases, sem tanta exigência cria mais adaptados. A submissão deu lugar a subordinação. As elites que antigamente governavam o povo partiam dum povo dócil sem grandes exigências: eram prisioneiras de si mesmas. A concorrência dava-se sobretudo a nível científico, no meio académico, nas camadas média e privilegiada. As melhores cabeças da camada operária tinham apenas a oportunidade de subir através da Igreja. À frente do estado e da sociedade estavam consequentemente “os melhores” da respectiva classe.
A democracia partidária inverteu os termos a nível de estratégias. Mas manteve os princípios semelhantes a nível de cúpulas: servir-se do Estado! Agora é a hora da construção dum estado partidário, pior ainda dum povo partidário! O que antes estava reservado a poucos passa agora, pelo menos teoricamente, a estar à disposição de todas as classes sócio-económicas. Um erro na mudança do sistema foi prescindir-se da qualidade. Massificou-se o ensino, socializando-o pelo princípio do menor esforço das bases. Se antigamente o acesso aos bons lugares era efectuado através da burguesia instalada, hoje é efectuada através dos partidos e correligionários instalados na administração e em lugares reservados. Se no tempo de Salazar os privilegiados eram chamados a ocupar postos “em nome do bem da nação”, hoje são nomeados politicamente “em nome da democracia”. Se antigamente a disciplina escolar dava à burguesia capacidade de acesso às cúpulas, o serviço militar era a escola da nação para o povo simples… hoje a liberdade de opinião confere a alguns o acesso às cúpulas e a propaganda partidária possibilita o acesso àa uma verdade para o povo. Se antigamente a escola era caracterizada pela disciplina e pela selecção conduzindo ao conformismo, e à satisfação dum lugar ao sol, hoje a escola é mais libertina e social levando mais ao oportunismo, à frustração, ao desrespeito, à revolta e também a um lugar ao sol. Será que só as moscas é que mudam?!
Ontem os afilhados hoje os filiados!
Com o 25 de Abril entrou-se no experimentalismo, no provisório duma sociedade cobaia sempre na procura de novas teorias e oportunismos. A verdade não existe nem acontece, conquista-se!…
A escola sem meios, deve sarar as doenças que a sociedade laxista e a política irresponsável criam: tudo menos escola na escola.
Os professores devem ser tudo: pais, criados, psicólogos, assistentes sociais, tudo menos professores! Sim porque a sociedade está doente! A escola como panaceia para as doenças da sociedade continua a fixar fatalmente o pobre à pobreza e a impedir a criação duma nova consciência.
Parece que se quer um Estado cada vez mais partido, mas auto-suficiente que pretende um povo súbdito conformista e adaptado à verdade ideológica e ao seu oportuno aparelho administrativo; um estado patrão que faz do povo quintal cobaia, dos pais progenitores e da família rival. Se os de antes queriam o Estado Novo, os de hoje pretendem o Novo Estado! Ontem os afilhados hoje os filiados!
A classe dos professores embora socialmente relevante quer-se desprezada e molusca à disposição política.
Para que competências quer o sistema de educação que se eduque? Não parece estar interessado em preparar para a vida e para a autonomia nem que os alunos aprendam a saber pensar e fazer. Também os representantes da nossa democracia parecem estar só interessados em formar ovelhas e não pastores. Quanto aos desamparados querem-se remediados mas pobres de espírito!
Quando surge o 25 de Abril para todos? Para que o futuro do Povo português não continue a ser adiado de geração em geração, é preciso uma nova consciência e uma nova ideia de homem e de sociedade!
António da Cunha Duarte Justo
António da Cunha Duarte Justo