PORTUGAL EM 3° LUGAR NO ÍNDICE GLOBAL DA PAZ

Países Lusófonos a Caminho – Europa: a Região mais pacífica do Globo

António Justo

O Instituto para Economia e Paz (IEP) apresentou o Índice Global de Paz (IGP 2017), baseado na análise de 163 países e coloca Portugal em terceiro lugar no Ranking das nações mais tranquilas.

Países Lusófonos

A classificação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é encabeçada com o 3°. lugar para Portugal, seguida do 53°. para Timor Leste; 61°. para Guiné Equatorial; 78°. para Moçambique; 100°. para Angola; 108°. para o Brasil; 122°. para Guiné Bissau.

Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe não entraram na análise.

Segundo IEP Portugal passou do quinto para o terceiro lugar, ultrapassando a Áustria na classificação da posição mundial, devido, sobretudo, a uma recuperação constante na sua crise financeira, o que levou a uma maior estabilidade interna para o país.

Critérios para a classificação dos países

Como factores para a classificação dos países, os cientistas servem-se dos seguintes grupos de indicadores: 1. Os conflitos no país e no exterior: número e duração de conflitos com outros países, e o número de mortes por violência organizada; 2. Segurança Social: instabilidade política e probabilidade de manifestações violentas e do número de detidos nas prisões; 3. Militarização: quanto dinheiro disponibiliza o país para as suas forças armadas, número de soldados disponíveis e se tem armas nucleares.

Os 10 países com mais paz e menos violência

1.Islândia, 2. Nova Zelândia, 3. Portugal, 4. Áustria, 5. Dinamarca, 6. República Checa, 7. Suíça, 8. Canadá, 9. Japão, 10. Irlanda.

Entre outros: 16. Alemanha, 23. Espanha, 38. Itália, 41. Reino Unido (ainda sem o recente ataque terrorista), 51. França, 137. Índia, 151. Rússia, 161. Iraque, 162. Afeganistão,163. Síria.

Na carta apresentada pelo IEP a Rússia encontra-se com a cor vermelha tal como a Síria; até o Egipto tem um melhor índice de paz que a Rússia, o que parece questionável.

O relatório coloca a Europa como a região mais pacífica do mundo. O projecto União Europeia tem sido, certamente, um factor de garantia de paz. Apesar da guerra na Jugoslávia e do bombardeamento da Sérvia, nos anos 1990, a paz tem-se estabilizado, apesar de certos indícios de insegurança e medos a aumentar.

Apesar do cancro da guerra em muitos países e do terrorismo islamista a esperança é maior que o medo!

O facto de alguns se afogarem na praia não justifica que se traga colete salva-vidas na banheira.

O importante é assegurar a paz sem que isso aconteça à custa da exploração de outros. O Estado, as instituições e os indivíduos terão de se empenhar no grande projeto de criar uma cultura de afirmação pela paz.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A DIGNIDADE HUMANA É O ALICERCE DOS DIREITOS HUMANOS

União Europeia – Uma “Comunidade de Valores” sem Sustentabilidade?

António Justo

Não é a autonomia da pessoa que fundamenta os direitos humanos, mas sim a dignidade humana que fundamenta a sua autonomia. O Homem é um ser situado e como tal feito de eu, tu e nós, de espaço e de tempo (é mais que as suas circunstâncias). Nele a transcendência dá perspectiva e continuidade à chama da realidade (1).

Querer basear os Direitos humanos apenas no Direito político (no direito e na moral), como tenta a União Europeia, quando se procura identificar e definir como “Comunidade de Valores” (por ordem decrescente a nível de popularidade: “direitos humanos”, “democracia”, paz, “estado de direito”, “solidariedade” “respeito por outras culturas”, “respeito pela vida humana”, “igualdade”, “liberdade do indivíduo”, “tolerância”, “autorrealização” e “religião”), significaria um encurtamento, uma regressão no processo do desenvolvimento (humano, histórico e sociológico). Ao mesmo tempo corresponderia ao abdicar da sua função teleológica (das causas finais ou finalidade – propósitos e motivos que estão por trás do viver e do agir) e a conformar-se com o fim da História. Implicaria uma amnésia da história passada e consequentemente uma renúncia ao futuro (em vez de sujeito assumiria o papel de ser apenas  objecto da História: ser um objecto entre outros; renuncia à própria consciência de sujeito para viver oportunisticamente numa posição hipócrita de igualdade artificial com outras culturas: relativismo cultural!).

Pretender reduzir a tradição europeia ao iluminismo sem reconhecer que este só foi possível na continuação da Idade Média e do Renascimento e da doutrina cristã e grega corresponderia a desfamiliarizar-se à imagem do filho pródigo. Os valores da comunidade não a justificam por si mesmos; com o tempo tornar-se-iam numa roda de hamster sem missão nem sentido e sem objectivo abrangente.  Ontem como hoje legitimam-se guerras e injustiças em nome da defesa de valores e direitos individuais, religiosos e políticos. Os direitos e interesses das partes concorrentes determinam o agir à custa da dignidade humana (2).

Entre o imperativo categórico da razão e o imperativo integral do divino

Nessa “Europa dos Valores”, o barómetro da validade dos valores dependeria, pontualmente, do sentimento expresso em determinada época ou tempo.

O desejo corre atrás da falta. O mimetismo das leis e costumes na luta pela sobevivência que cria esperanças não dá sentido nem pode satisfazer a Esperança. O bem-comum e a democracia são demasiado circunstanciados para poderem ser apresentados como garantes de futuro ou como princípio ético global (Exemplo de do filósofo Sócrates e de Jesus Cristo que foram mortos em nome da lei por defenderem a dignidade humana que transcende a própria lei e moral: ao não seguirem a moral da massa ficaram fora da lei e da sociedade). A polis, a democracia, em nome do povo,  legitima a morte do indivíduo pela lei embora este, como testemunha Jesus e Sócrates, seja fiel a uma consciência ética individual e social superior à da massa; numa perspectiva da polis, ao indivíduo fica reservado o mal se não segue a masssa. Na consequência podemos concluir que não chega o reconhecimento do grupo ou da sociedade como prémio ou como saisfação de uma necessidade para legitimar um acto ou uma lei geral. O facto de se pressupor um ideal absolto e de ele ser impossível no tempo, devido à falta, não justifica a sua negação ou sentido.

O desejo realizado apenas no âmbito social  reduziria a vida a uma mera necessidade de autoafirmação presente na natura e na cultura mas sem perspectiva de sentido final. A liberdade e a dignidade humana são  mais do que a lei produz. A esfera da moral é criada pela lei mas esta deve deixar margem para poder ser secundada pela consciência.

A vontade da lei – expressão do momento – seria determinante independentemente do sentido e da finalidade do Homem, da história e da natureza, que apontam seguir no sentido de uma meta e de uma caminhada de aperfeiçoamento comum (a natureza e o desenvolvimento antropológico e sociológico seguem na peugada de um chamamento). A teleologia explica a realidade em termos de causas finais e a teologia explica a realidade em termos de primeiro motor e de causas finais, na perspectiva humano-divina.

O imperativo categórico da razão não pode obstar ao imperativo integral do divino, que é uma constante a manter-se; a ética da responsabilidade é um bom orientador para regular a vida da pessoa na cidade (sociedade) mas não é suficiente, precisa também da virtude moral pessoal (convicção) que assente num imperativo divino (esfera mística e ideal já apresentada por Platão na alegoria da caverna). Não é suficiente a narrativa da comédia e da tragédia da vida para a explicar; a vida humana necessita-se também da filosofia e da espiritualidade como procura da verdade. (Naturalmente que aqui falo como cristão, mas como cristão consciente de que todas as doutrinas e éticas se interrelacionam e se necessitam na caminhada comum de realização e descoberta do mistério).

Substituir o olhar de Deus pelo do Estado secular seria condicionar o cidadão irremediavelmente à polis (cidade) tal como em tempos anteriores o servo da gleba tinha sido condicionado à agricultura. Seria dar o passo da Religião para a Ciência de maneira irreflectida, porque esta não aceita reconhecer nem ver a ideologia que a sustenta. Nesta via reduzir-se-ia tudo a educação, psicologia  economia e sociologia, fazendo dos professores os novos sacerdotes ao serviço de uma subalternidade que humilha a pessoa.

A dignidade humana (de gene divina) ultrapassa o estatuto da moral e do direito; ela é que os fundamenta e garante: neste sentido, todo o Homem é filho de Deus independentemente da sua crença e mundivisão. Com a morte de Deus, a Europa perderia o seu passado e com ela o sentido do seu futuro. Seria antieuropeu e anti-cultura-ocidental, se os seus representantes continuassem a negar o Deus dos cristãos (o Cristianismo fonte do seu ser e projecção e sentido da missão no mundo de se dar “a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”) porque ao matar Deus matam a cultura e negam a continuidade da história. Todo o Homem ocidental consciente da cultura europeia, independentemente de ser ou não crente, reconhece a importância do cristianismo como matriz da cultura ocidental que soube integrar nela  o espírito grego e romano numa dinâmica de aculturação e inculturação com outras culturas; de facto são instituições como o Catolicismo e outras comunidades que, na abertura, permitem garantir a sustentabilidade de uma civilização que herdou delas a dignidade humana e os direitos humanos numa dinâmica de se reinventar e refazer continuamente.

O direito é algo externo e como tal não tão vinculativo como a dignidade humana porque, mesmo o Estado de direito que se entende justo, tem um sistema jurídico fruto da força dos mais fortes e que os beneficia, com maior ou menor desvio, de cultura para cultura: a dignidade humana essa é uma constante acompanhada por valores (direitos e deveres) variáveis. A dignidade humana, por mais ultrajada que se encontre num sujeito, transcende o direito (quando este dispõe do homem como objecto); a dignidade humana responsabiliza o ser humano no foro externo e interno; não se subjuga à ponderação de interesses imediatos (individuais ou grupais) que a determinem.

A instituição e o órgão não se podem sobrepor à pessoa (dignidade humana). O Estado embora promova o direito é ao mesmo tempo seu objecto e a vontade do povo é legitimadora das leis na medida em que as condiciona à dignidade humana. Doutro modo temos uma sociedade de direito, mas de legitimidade muito limitada.

De que me valeria ser justo se a minha justiça contribuísse para a sustentabilidade de um estado de injustiça?

Para Aristóteles o fim da acção é a felicidade (fim teleológico)

 

Na vida individual e social, a uma força biológica causal junta-se uma força intencional (um objectivo a longo prazo, impossível de ser observado num momento determinado dado o observador fazer parte do processo).

Sem uma visão teleológica da realidade e da própria história, os valores e os direitos humanos (e um possível catálogo de princípios éticos acompanhantes) careceriam de sentido e propósito, não podendo por si sós tornar-se em motivação de acções e de valores.  Um agir motivado apenas pelo direito teria como consequência um utilitarismo egoísta ad hoc porque até o princípio ético da justiça não passaria de um argumento para se produzir um contínuo estado de guerra desesperada contra quem tem ou é mais ou até incrementar um estado de guerrilha de indivíduos e de grupos na sociedade (à imagem dos jhiadistas muçulmanos).

Se observamos, o ser humano, a natureza (biologia) e a História na sua caminhada (antropológica e sociológica) verifica-se não só a caminhada mas que o caminhar se orienta para uma meta (força motivadora e intencional; o argumento de uma possível lei de adaptação é insuficiente por excluir o fim aberto da metafísica; não chega a força da necessidade para justificar a criação do órgão nem o salto das espécies para explicar o desenvolvimento nem tão-pouco uma ordem; por trás da necessidade há um impulsionador que possibilita a própria ordem, a orienta e a satisfaz e a que se poderia chamar felicidade ou perfeição – realização final (dinâmica da trindade). (Nesta perspectiva torna-se óbvia a colaboração das várias ciências como achegas complementares na tentativa de desvendar o mistério da vida e do mundo que é maior do que o âmbito que cada sector abrange: não chega ficar-se pelo materialismo nem pelo espiritualismo como modo de explicar o mundo e o Homem (sua origem, composição, finalidade e sentido; também não é suficiente perder-se em explicações); um e outro têm de se dar as mãos para solidariamente servirem a Humanidade. Com efeito, uma autoafirmação no ser contra e através da negação do outro (alteridade) corresponderia a um impulso primitivo de elementos inconscientes, sem ipseidade própria nem sentido.

A Dignidade Humana é a   logomarca da história intelectual e mística europeia

A dignidade humana dá consistência à autonomia dos direitos humanos, legitimados por uma convicção moral. De facto, não chega a tentativa de um enquadramento da consciência europeia em variáveis jurídicas e morais para fundamentar o valor de uma cultura ou fundamentar a dignidade humana; a moldura é variável, como se verifica ao longo da História e na comparação das culturas. (Uma fundamentação e explicação meramente ética procura a sua origem na filosofia Kantiana, em concepções utilitaristas ou relativistas). São, porém, insuficientes. O acto político humano circunstancial (democrático), expresso na elaboração de uma Constituição, não é suficiente para fundamentar um direito vinculador do comportamento, porque não reflecte o ser do Homem, o Homem todo, a sua ipseidade de caracter divino.

Não chegam conceitos morais para fundamentar os diretos humanos; uma ética responsável é sempre pessoal; como referi, a “dignidade humana”, de identidade cristã e de filiação judaico-geco-romana precisa de manter instituições que preservem a memória e a vivência a ser transmitida de geração em geração (cristianismo e seus desafiadores como guardiães do direito natural, do direito positivo e do direito espiritual). A Dignidade Humana é a   logomarca da história intelectual e mística europeia e baseia-se na” Imagem de Deus” apesar das mais diversas expressões e ao abuso do mais forte; abuso sempre presente na história religiosa e profana pelo facto de estes não deixarem de ser portadores dos males inerentes ao ser humano.

Embora o cristianismo não tenha elaborado um catálogo específico sobre os direitos humanos e o seu fundamento na Dignidade humana, toda a sua espiritualidade (ser-humano feito de terra e céu, o protótipo Jesus Cristo, o embutindo na relação pessoal trinitária, as bem-aventuranças, tudo isto cria um uma relação substancial de elevação natural da dignidade humana. O cristianismo é mais que uma religião, por isso, a dignidade humana é definida independentemente da religião…e como tal global e válida para toda a crença e descrença.

A dignidade humana é mais que um direito; ela é a rainha de todo o direito! A honra humana é inerente ao Homem independentemente do estado social e da sua avaliação ao longo do tempo. Para Paulo não há grego nem romano. O Homem deve velar pela sua dignidade perante si, perante os outros e perante Deus implicando isto o seguimento de um chamamento de perfeição.

A dignidade humana e a admiração por todos os seres prestam-se como alegação universal para o direito e a moral de todos os povos.  A dignidade humana é o fundamento religioso e filosófico mais apropriado dos direitos humanos; uma tentativa de colocar os direitos humanos como fundamento leva ao equivoco, dado o direito e a moral que os assistem serem demasiadamente localizáveis, condicionadores e condicionados ao lugar e ao tempo, para poderem servir de fundamento último de mundividências ou atitudes. A mera lei como orientação mata as asas do sonho, aquilo que nos torna Homem.

Pena de morte – Um Direito contra a Dignidade humana

 

Consequentemente, a dignidade humana não é compatível com a legitimação da morte de embriões nem de pessoas em estádio último, muito embora o direito se expresse diferentemente em circunstâncias diferentes. Tentar definir a dignidade humana corresponderia a equacioná-la e condicioná-la em termos de sistemas ideológicos ou mundivisões ela é o valor em si porque, o valor a priori anterior à formulação do direito público e do direito privado.

 

Corre-se o perigo de haver uma degradação da orientação baseado num processo de transferimento do pensar da filiação divina, para o pensar racional e ultimamente para o pensar utilitário-financeiro. De facto, na formação dos juízos de valor deparamo-nos com a influência da economia em termos de câmbios correspondentes a trocas de valores equivalentes a produtos em igualdade

Basear os direitos humanos apenas na acção de legislação política corresponderia à elaboração de um sistema social com pés de barro como na predição de Nabucodonosor . Com o tempo o homem deixaria de ser sujeito e senhor para passar a objecto e escravo.

A Dignidade Humana e o respeito perante a vida (todo o ser) são os garantes da paz e do desenvolvimento dos povos.

A lei da pena de morte, vigente nalguns países, é o exemplo mais acabado de como uma determinação legal, embora democrática, transgride a dignidade humana e o respeito pela vida ao conferir a uma instituição o direito de colocar a sua norma acima da Dignidade humana.

©António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) Faço esta reflexão que provem de uma observação do agir e legislar da União Europeia, consciente de que muitos dos seus timoneiros não estão à altura de perceber a matriz da cultura europeia e do seu sentido e significado para os cidadãos e para o mundo. Em vez de viverem a própria cultura, incorrem num zelo jacobino masculino de imporem a outros povos a sua “democracia”, com um constructo dos “valores europeus” em que os valores da pessoa, da família e da comunidade deram lugar aos valores do mercado que para se tornar absoluto aposta no egoísmo humano, longe de Deus e do povo. Não me preocupa a crença; o que me preocupa é uma Europa só corpo que perdeu a alma e que por isso não parece saber o que quer nem o que faz.

(2) Hoje torna-se óbvia, mais que nunca, uma discussão desemperrada sobre a cultura europeia atendendo ao seu caracter aberto e à afirmação crescente da cultura árabe no seu meio como gueto. Neste sentido não é suficiente uma Constituição dado se afirmarem à custa da cedência de bens culturais europeus sem que eles cedam também nos seus; de facto, a abertura cede ao fechamento sem nada em contrapartida.

QUE SERIA DOS ESPERTOS SE NÃO FOSSEM OS BURROS!

A Inteligência e a Burrice da Nação espelham-se nos Governantes e vice-versa

António Justo

Quando se desce à rua, seja em África, Venezuela, Brasil, nas alas do governo ou da oposição, tem-se a impressão de vivermos numa sociedade doente e de atmosfera infectada. Nela, frequentemente,  a alegria de uns constitui a tristeza de outros e o que sobressai na população é a tosse da acusação e da queixa.

Em sociedade o que mais conta é a luta de interesses de grupos numa estratégia de afirmação de uns contra os outros.  O povo é o tapete onde os interesses se jugam e realizam. Cada grupo organizado puxa na corda a que se agarra e o que passa a valer é a corda e o que ela arrasta, por isso a sociedade, como todo, pouco adianta.

Uma mentalidade cultural baseada em vencidos e vencedores legitima o direito do vencedor a desrespeitar o vencido que se encontra sempre na massa anónima, que é povo repartido!

O povo repartido na perspetiva da sua parte acusa a injustiça que vê da outra parte. Daí não poder haver revolta popular contra o sistema político que apenas se reveza na luta da insatisfação repartida e na consequente distribuição da presa à clientela vencedora (Esta parece ser, por enquanto, a lei do progresso!).

É legítima a exigência de que se mudem as regras de jogo na luta social e política, mas ineficiente porque o poder vive do princípio da divisão “Divide se queres imperar” e isto porque o todo é feito de partes (grupos que se afirmam numa dinâmica do contra, de interesses contra interesses e por isso não ganha o todo, mas sim o interesse da parte mais forte).

A alternativa seria diminuir a burrice de maneira à esperteza se ter de transformar em inteligência. Mas também a inteligência pressupõe ver mais longe e como tal passa também ela a viver e usufruir do privilégio do avanço que a caracteriza e que o povo, numa das suas partes, legitima.

A parte que ganha vive do benefício da posição da força de interesses maioritários que a legitimam a explorar o grupo perdedor e ao grupo que perde resta-lhe o apelo à moral e ao barulho da praça. (Cada um parece só ter para dar e receber o que é do outro sem pensar nem prover pelo que é nosso!) Em termos reais o povo é que paga a conta.

Às vezes fica-se com a impressão que o povo (grandeza anónima) funciona para muitos espertos como uma offshore.  Um exemplo perfeito do que acontece a nível de economia temo-lo nas Offshores (Panama Papers: aprender a roubar em cinco minutos) onde o profissionalismo da corrupção e do roubo é institucionalizado pelos bancos, com a bênção da política (onde se lava o dinheiro, se cria anonimidade e os vestígios dos criminosos são safados).

O sistema favorece os espertos e os corruptos, mas esse sistema é fruto de um povo que gera o governo e o possibilita do nível de corrupção ou de transparência que merece (por isso também há grande diferenca entre os povos e os governos das diferentes nações!).

Para a prática da corrupção pressupõe-se a existência de energia criminosa mais ou menos latente em cada pessoa. Em geral, a corrupção de cima é mais evidente e mais execranda que a de baixo, mas a caracterização da diferença depende também do caracter e da possibilidade que o grau do posto proporciona. Também “a oportunidade faz o ladrão”! A diferença qualitativa do corrupto de baixo da do corrupto de cima vem do grau de consciência, da necessidade e das consequências que provoca (um talvez roube para matar a fome e o outro para esbanjar, com a fome dos outros).

Em nome da generalização se condenam as acusações placativas aos políticos e em nome do povo enriquecem os predadores da sociedade. O político corrupto além de corrupto é traidor… além do compromisso de servir o bem-comum e de ser exemplar, ele tem o poder e o dever de mudar as coisas a um nível que a pessoa privada não tem.

 

As regras de jogo são feitas por espertos para os espertos que as usam sendo justificados por um povo plateia que estimula o jogo. Eles têm o proveito e o povo fica com a satisfação de ir vivendo ao sol do debate sobre moral. A esperteza junta-se à burrice na anonimidade! Que seria dos espertos se não fossem os burros!…

Na “matilha„ não importa a dignidade humana o que conta é o osso.

O problema não está na carroça, mas sim nas “bestas”! “Ai dos vencidos”!

 

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

Fátima: Lugar de Oração e de Meditação

Maria acentua o lado feminino da Devoção

António Justo

Fátima e a reza do Terço proporcionam, a muita gente, um acesso especial a Deus: um acesso que se poderia classificar de via natural ou feminina (Cf.: Curar é Santificar: https://antonio-justo.eu/?p=1350  ; Meditação e Respiração: https://antonio-justo.eu/?p=1354; Fátima Lugar do Encontro: https://antonio-justo.eu/?p=4244 ); Fátima: Técnica contra a experiência sensitiva?: https://antonio-justo.eu/?p=1330).

 

Na devoção a Maria e na reza do Terço mistura-se o céu e a terra, junta-se o Pai-nosso à Ave-maria e em Fátima verificam-se também ligações subcutâneas anteriores ao cristianismo. Na devoção mariana, expressa em visões e aparições, encontra-se o homem todo: a fé unida à superstição.

 

Em Maria, a feminidade, assume um caracter divino que incardina nele também a parte humana da Redenção; é uma espiritualidade própria, uma via para chegar a Jesus.

 

Em Fátima, observam-se cenas não edificantes, como joelhos sangrentos a rastejar, o que provoca compaixão, arrepios e até crítica por parte de círculos mais esclarecidos ou elitistas.  O agradecimento, de um pedido-promessa a Maria em Fátima, torna-se, muitas vezes, numa abstracção onde a transcendência diminui a dependência de uma situação existencial e social carente. A situacao é espiritualmente sublimada numa visão transcendente que não humilha nem julga a condição de necessitado; por outro lado a condição do pedinte é dignificada pela nobreza do interlocutor espiritual (Maria).

 

Isto não pode, porém, legitimar, socialmente, uma devoção em que transmite a impressão de que Deus parece ser tornado num comerciante que proporciona uma troca de mercadorias e interesses: dou para que tu dês. Esta seria uma visão tão pobre como a daqueles que se julgam superiores desprezando e condenando os peregrinos, sem compreenderem a sua ipseidade nem lhes darem chance para se explicarem. O facit da crítica não passa muitas vezes de autoafirmação e definição à custa dos outros.

 

Deus é amor transbordante e por isso não precisa de entrar no negócio; quem precisa, porém, ao encontrar-se numa situação sem saída e de emergência, recorre aos meios que lhe são próprios e que tem, como meio para se ajudar a si mesmo a chegar ao lugar do amor, onde, fora do julgamento, das contas e da física, experimentará o reconhecimento e a admiração, numa contemplação de amor em hosmose do “eu estou aqui e Tu estás aí”!

 

Na Terra não há nada puro, não há corpo sem alma nem alma sem corpo, por isso a tolerância também será aqui chamada, seja ela de índole mais masculina ou feminina; como na natureza há coisas, pessoas, costumes e culturas mais ou menos puras.

 

Fátima faz parte de um povo e de uma cultura com diferentes nuances e de uma devoção com muita expressão simbólica; há que reconhecer que não se pode ter simultaneamente, no mesmo organismo social ou numa pessoa, ao mesmo tempo, os diferentes estádios (infância, adolescência, juventude e adulto). Independentemente da fase em que se encontre a pessoa, o mais importante a descobrir nela é a sua procura e o desejo de transcendência, independentemente da sua expressão. “Não julgues e não serás julgado”. Em Fátima expressam-se atitudes nossas, do nosso povo que oferecem à Igreja uma oportunidade privilegiada para evangelizar.

 

Muitas vezes fiquei surpreendido ao encontrar na fé simples de minha mãe e na sua reza diária do terço, uma fonte de sabedoria e critério (clarividência, simplicidade e tolerância) que, por vezes, não se encontra em pessoas doutoradas. Com a reza do terço em conjunto acabavam-se as animosidades do dia.

 

Um certo elitismo masculino, intelectualista e iconoclasta revela-se, muitas vezes como antimariano e como tal desconhecedor de uma via importante de acesso à realidade.

 

Em Maria o céu e a terra uniram-se de forma que só o mistério se revela como chave da vida. O sim de Maria é um sim à terra e ao céu, um sim à esperança como germe de vida (masculinidade e feminilidade); em Maria realiza-se de forma prototípica o compromisso e a capacidade livre de dizer sim a Deus e à existência no rio da vida. Maria tornou-se no domicílio da divindade; com ela e nela a mulher continua a concretizar a esperança da humanidade.

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo,

FÁTIMA LUGAR DO ENCONTRO – MEDITAÇÃO MARIANA

Ciência confirma Efeitos curativos através da Oração e da Meditação

 

António Justo

As áreas científicas da medicina, da teologia, da sociologia e da psicologia cada vez se complementam e interferem mais umas nas outras.

 

A ciência através de investigações feitas na universidade de Pádua, pelo cientista Luciano Bernardi, descobriu, experimentalmente, que a forma meditativa e rítmica na reza do Terço alternada sintoniza os ritmos biológicos do corpo, cria harmonia e estabiliza a saúde da pessoa a nível corporal e espiritual. A oração abre rotas e perspectivas importantes para o corpo e para a alma.

 

Tanto a recitação da Ave-Maria como de jaculatórias meditativas e ladainhas provocam o retardamento da frequência respiratória, o que fortalece o coração e os pulmões. Os fôlegos (inspiração – expiração) do adulto têm uma frequência de 12 a 20 por minuto.

 

Verificou-se que durante a reza alternada da Ave-maria – Santa Maria, a frequência respiratória chega a baixar a seis fôlegos por minuto. A baixa frequência respiratória conduz-nos à sintonia orgânica do corpo através da influência da frequência cardíaca da regulação da tensão arterial e da ressonância harmónica com o universo a um nível já espiritual.

 

É notório que em diferentes culturas as palavras, espírito, respiração, atmosfera, ambiente, se encontram etimologicamente interrelacionadas.

 

O medo, a ansiedade, a depressão, o stress, a excitação, aceleram o ritmo da respiração e com ela perturba-se o ritmo cardíaco e a tensão arterial. A interferência na actividade respiratória provoca a regulação do metabolismo da ligação do oxigénio e dióxido carbónico no sangue, mudando-se assim, com ela, a química do sangue. A técnica da respiração, usada também na reza do terço, une a parte superior do coração – razão com o abdómen – criando assim uma frequência de vibração orgânica facilitadora da sintonia e interacção matéria-espírito.

 

Oração e Meditação na Reza do Terço – Técnica

 

No exercício da oração/meditação, o medo e o sentimento de impotência dão lugar a uma mudança que pode proporcionar um sentimento de satisfação e de realização.

 

A Reza do Terço em grupo e em privado desvia-nos do ritmo do dia-a-dia e introduz a pessoa numa frequência ritmada que possibilita, através da respiração abdominal e da concentração, a um estado de paz e o acesso à vida interior e ao equilíbrio psicossomático. Para o efeito entram em sintonia: coração, cérebro, pulmões, alma e espírito. Através da respiração consciente, no abdómen, no peito, nos ombros sentem a tensão e distensão do inspirar e expirar unido ao coração e ao sentimento espontâneo. Aqui se interfere a acção do corpo e do espírito em colaboração e interferência mútua. Assim se contribui para o equilíbrio da vida. Se alguma parte do nosso corpo está dolorosa podemos, através do pensamento dirigir para lá a respiração, o espírito divino, para que também esta parte seja, de forma dirigida, incluída no jorro da vida, no amor.

 

O saber religioso, de que a respiração unida à palavra, conduz à unidade no sentido original da religião: re-ligar, que é um património de toda a humanidade. A consequente paz interior é um efeito acessório.

 

A reza do terço, no sentido católico, não se deixa reduzir a um método de higiene corporal nem mental. As diferentes técnicas das diversas culturas, porém, sem o espírito de entrega, e sem a diferenciação dos espíritos, poderiam ficar apenas por uma experiência sentimentalista equívoca (1 Cor 19).

 

Curioso é o facto da recitação do terço, na igreja católica, ser conduzida, por dois grupos, de maneira alternada, correspondentes à inspiração e à expiração. Enquanto o padre, o dirigente ou um grupo recita, dum folgo, “Ave-maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”, o grupo responde “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen. “

 

Também, na reza individual, a primeira parte corresponde à expiração e a segunda à inspiração. A reza sintoniza as forças através da respiração ritmada que une o exterior ao interior e fomenta o ritmo cardíaco natural e a concentração da inteligência, resultando daí o bem-estar que predispõe a pessoa para a recepção de mensagens religiosas, para a percepção intuitiva, e pode preparar para uma eventual entrada em contemplação. Sentir o fervilhar do sentimento e da intuição no toque com o mistério não é ainda contemplação.

 

Na devoção popular, além da recitação do Terço são métodos comuns de acesso à contemplação o uso da repetição de palavras, frases em voz alta, em voz baixa ou simplesmente em pensamento. Cada pessoa, segundo o seu estado e mentalidade, encontra inconscientemente a palavra, jaculatória que melhor lhe corresponde.

 

Na pastoral juvenil usa-se também o canto no passeio, a observação do pôr / nascer do sol, da natureza, juntando-lhe o elevar das mãos como formas de acesso ao mistério. Em oração inspiro o sol da vida e expiro o descanso da noite. Então o mundo respira em mim e eu respiro o mundo.

 

Nesta atmosfera fomenta-se o acontecer da harmonia da “mens sana in corpore sano.” No cristianismo há diferentes espiritualidades, geralmente ligadas a tradições monásticas ou a congregações religiosas, praticando-se aí as mais diversas formas de meditação, geralmente também aferidas ao meditador / orador.

 

Nos ortodoxos está muito generalizada a prática da concentração no coração e de, na inspiração, dizerem “senhor Jesus Cristo” e na expiração “tem compaixão de nós”. No cristianismo, em geral, além de jaculatórias mais ou menos individualizadas é frequente o uso da palavra “Jesus” na inspiração e da palavra “Cristo” na expiração. Cada circunstancia pode solicitar uma palavra comum característica, tal como podemos verificar a alegria da época pascal na expressão: “Oh, Aleluia”

 

Na escolha das palavras predilectas, geralmente usa-se a palavra ou parte da expressão mais curta na inspiração e a mais longa na expiração. Outras formas de meditação praticadas nos conventos são: a meditação através do andar, dos gestos, do canto monótono (gregoriano, etc.), do silêncio, esvaziamento de pensamentos, de ladainhas e de outras palavras surgidas do coração ou da tradição religiosa, ligadas à respiração.

Uma forma concreta e eficiente de iniciar a oração ou meditação pode ser: concentração na respiração abdominal, para, na percepção do corpo, se passar depois à palavra. Posso começar pela jaculatória, ou mantra “Oh tu (ao inspirar), Maria (ao expirar)” para assim entrar na sintonia psicossomática e espiritual. Aqui se unem corpo e espírito a caminho do meu centro. Passo a ensimesmar-me de modo a sentir o jorro da energia universal, o amor, em mim e assim tornar-me parte vibrante de um todo em relação mútua (comunidade corpo místico de cristo, etc.).

 

Uma outra jaculatória pode ser “Respira em mim, tu Espírito Santo”. Com o tempo podemos nós passar a respirar nele. Uma pessoa não religiosa poderá usar, entre outras, a fórmula “Respira em mim, tu elan vital”. A repetição individual, como a reza alternada em grupo, com o correspondente eco monótono criam o ambiente propício à dissolução das ideias e emoções do dia a dia.

 

A ligação da palavra à respiração abdominal e, ocasionalmente, à cantilena daí resultante amplificam a possibilidade de viver o momento presente. Aí deixo de ser estrangeiro para fazer parte do Ser integral, presencializado na relação com um Tu. O mesmo se diga da oração privada.

 

A Deus, à ipseidade pode chegar-se também através do vibrar do som (produzido, por exemplo na reza do Terço, no canto gregoriano ou outro apropriado). O ritmo da palavra e da respiração libertam-nos do pensamento, possibilitando-nos o acesso a outras esferas da realidade, mesmo à contemplação.

 

Naturalmente que estes métodos não podem ser fins em si mesmos, doutra maneira não passariam de uma forma sofisticada de atingir experiências semelhantes às da droga. Trata-se de encontrar a alteridade em relação com a ipseidade, a divindade em nós e entrar assim na ressonância divina. O Mestre Eckehart testemunhava esse processo com as seguintes palavras: “Deus está em nós, mas nós estamos fora de nós. Deus está em casa em nós, mas nós estamos no estrangeiro.” A oração ou meditação poderão constituir um momento gratificante no processo criação, incarnação e ressurreição em que estamos envolvidos. A realidade trinitária torna-se em princípio e fim de toda a oração que com o tempo se pode transformar numa unidade do “ora et labora”..

 

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

 

“Pegadas do Tempo”,