PORTUGAL EM 3° LUGAR NO ÍNDICE GLOBAL DA PAZ

Países Lusófonos a Caminho – Europa: a Região mais pacífica do Globo

António Justo

O Instituto para Economia e Paz (IEP) apresentou o Índice Global de Paz (IGP 2017), baseado na análise de 163 países e coloca Portugal em terceiro lugar no Ranking das nações mais tranquilas.

Países Lusófonos

A classificação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é encabeçada com o 3°. lugar para Portugal, seguida do 53°. para Timor Leste; 61°. para Guiné Equatorial; 78°. para Moçambique; 100°. para Angola; 108°. para o Brasil; 122°. para Guiné Bissau.

Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe não entraram na análise.

Segundo IEP Portugal passou do quinto para o terceiro lugar, ultrapassando a Áustria na classificação da posição mundial, devido, sobretudo, a uma recuperação constante na sua crise financeira, o que levou a uma maior estabilidade interna para o país.

Critérios para a classificação dos países

Como factores para a classificação dos países, os cientistas servem-se dos seguintes grupos de indicadores: 1. Os conflitos no país e no exterior: número e duração de conflitos com outros países, e o número de mortes por violência organizada; 2. Segurança Social: instabilidade política e probabilidade de manifestações violentas e do número de detidos nas prisões; 3. Militarização: quanto dinheiro disponibiliza o país para as suas forças armadas, número de soldados disponíveis e se tem armas nucleares.

Os 10 países com mais paz e menos violência

1.Islândia, 2. Nova Zelândia, 3. Portugal, 4. Áustria, 5. Dinamarca, 6. República Checa, 7. Suíça, 8. Canadá, 9. Japão, 10. Irlanda.

Entre outros: 16. Alemanha, 23. Espanha, 38. Itália, 41. Reino Unido (ainda sem o recente ataque terrorista), 51. França, 137. Índia, 151. Rússia, 161. Iraque, 162. Afeganistão,163. Síria.

Na carta apresentada pelo IEP a Rússia encontra-se com a cor vermelha tal como a Síria; até o Egipto tem um melhor índice de paz que a Rússia, o que parece questionável.

O relatório coloca a Europa como a região mais pacífica do mundo. O projecto União Europeia tem sido, certamente, um factor de garantia de paz. Apesar da guerra na Jugoslávia e do bombardeamento da Sérvia, nos anos 1990, a paz tem-se estabilizado, apesar de certos indícios de insegurança e medos a aumentar.

Apesar do cancro da guerra em muitos países e do terrorismo islamista a esperança é maior que o medo!

O facto de alguns se afogarem na praia não justifica que se traga colete salva-vidas na banheira.

O importante é assegurar a paz sem que isso aconteça à custa da exploração de outros. O Estado, as instituições e os indivíduos terão de se empenhar no grande projeto de criar uma cultura de afirmação pela paz.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

TEMPOS DE MUDANÇA – VIAGEM DE TRUMP SIMULTÂNEAMENTE LIÇÃO E CATÁSTROFE

As Marcas da Viagem de Trump

 

António Justo

 

Encontramo-nos na era das emoções, aquele tempo que precede a guerrilha. Assistimos aos nacionalismos a chegar, Trump a obrigar a Europa a voltar para ela, o povo a querer mudança no estilo e na filosofia dos governos da União Europeia e o Papa a apontar para o caminho.

O perigo é bilateral – A Europa odiou o candidato Trump e o presidente Trump despreza a Europa

 

Quando Merkel, fala sem dar possibilidade a grandes interpretações é porque a coisa é mesmo séria: Merkel disse, referindo-se à Europa, num comício do seu partido: “Está na hora de tomarmos o nosso destino nas mãos”.

O agir do presidente Trump, na Europa, faz apelo sobretudo às emoções embora o agir de Trump pareça ser só movido pelos interesses económicos, aqueles de que vive o resto, mais ou menos, em surdina.

A Europa, no tempo da propaganda para as eleições americanas declarou-se contra Trump. Toda a Europa fez propaganda, mesmo a alto nível contra Trump e em favor de Clinton. A EU perdeu a aposta! Trump, um presidente com os nervos à flor da pele, desforra-se sem olhar a perdas! A Europa recebe agora o retoque bilateral.

Trump, ao declarar-se contra o Irão, sabe que este é um regime antiquado que apostou na luta das civilizações e que mais cedo ou mais tarde terá uma revolução interna. Nesta perspectiva, Trump quer apressar os dias dessa revolução…

O perigo é bilateral! Tanto a Arábia Saudita como o Irão são dois terrenos lodosos em que não se pode construir futuro porque só têm visão para o seu futuro. A estratégia antiterrorista seguida até agora não oferece razões suficientes para a continuar. Nela parece só ganharem os traficantes e os intermediários. Porque não se privilegiar as relações com a Rússia? Então deixaríamos de ter de favorecer corruptos ainda maiores como Arábia, Irão e Turquia.

Trump traz a classe política europeia a saltar na corda bamba! Os interesses das elites económicas, políticas e sociais europeias podem vir a ser ainda mais responsabilizadas se forem criados outros cenários de política internacional.

As Marcas da Viagem de Trump

A viagem de Trump foi uma lição e uma catástrofe. Começou bem, apresentando-se como homem de Estado, na Arábia Saudita (no covil do leão,) com um discurso, sem acidentes, dirigido ao mundo muçulmano. Apregoou maior ligação ao islão sunita da Arábia Saudita e de Erdogan e criticou o islão xiita do Irão que tem andado a jogar às escondidas com a energia atómica e as nações  e empobrecendo o povo (Trump esqueceu-se que a Arábia Saudita apoia os homens-bomba!); em Israel lançou a esperança de que, com um negócio entre Israel e os Palestinenses, se consiga a paz para toda a região (esqueceu certamente que toda a região é um vulcão aberto com poucas possibilidades  de extinção!); na Europa deixou a desilusão e a mensagem da mudança, e, na qualidade de super-comandante, aproveitou a oportunidade para ler os levíticos à Nato;  na Cimeira G7 deixou os parceiros desapontados e de queixos caídos porque habituados à cortesia (não o consideram um dos deles porque além do mais não aprendeu o jogo da diplomacia, assumindo o  comportamento dos homens do povo! Enfim um homem que desaponta os homens do sistema económico e político que para conduzirem o rebanho precisam de estabilidade para orientarem o negócio!); os parceiros da G7, para além de uns exorcismos ao terrorismo, às questões da imigração, da proteção da natureza a G7  e do magro apoio à fome na África (apenas 30% dos 6,9mil milhões de dólares que pretendia o “Apelo de ajuda da ONU”), ficou apenas com o desaponto e a espectativa.

Talvez o fumo do Etna tenha contribuído para Trump não aceitar o plano italiano para fazer face à crise dos refugiados;  resta a esperança que Trump aproveite as semanas que faltam para a próxima Cimeira G20, em Hamburgo, para ler os textos que o Papa lhe ofereceu, especialmente, o seu texto sobre a  “nossa Casa comum” uma verdadeira “Constituição da ecologia” .

Resultado: A Europa terá de se se redefinir, de se tomar a sério e de olhar mais para o Japão, China e Canadá.

“Está na hora de tomarmos o nosso destino nas mãos”; penso que, no caminho para lá chegar, está também a Rússia.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

A DIGNIDADE HUMANA É O ALICERCE DOS DIREITOS HUMANOS

União Europeia – Uma “Comunidade de Valores” sem Sustentabilidade?

António Justo

Não é a autonomia da pessoa que fundamenta os direitos humanos, mas sim a dignidade humana que fundamenta a sua autonomia. O Homem é um ser situado e como tal feito de eu, tu e nós, de espaço e de tempo (é mais que as suas circunstâncias). Nele a transcendência dá perspectiva e continuidade à chama da realidade (1).

Querer basear os Direitos humanos apenas no Direito político (no direito e na moral), como tenta a União Europeia, quando se procura identificar e definir como “Comunidade de Valores” (por ordem decrescente a nível de popularidade: “direitos humanos”, “democracia”, paz, “estado de direito”, “solidariedade” “respeito por outras culturas”, “respeito pela vida humana”, “igualdade”, “liberdade do indivíduo”, “tolerância”, “autorrealização” e “religião”), significaria um encurtamento, uma regressão no processo do desenvolvimento (humano, histórico e sociológico). Ao mesmo tempo corresponderia ao abdicar da sua função teleológica (das causas finais ou finalidade – propósitos e motivos que estão por trás do viver e do agir) e a conformar-se com o fim da História. Implicaria uma amnésia da história passada e consequentemente uma renúncia ao futuro (em vez de sujeito assumiria o papel de ser apenas  objecto da História: ser um objecto entre outros; renuncia à própria consciência de sujeito para viver oportunisticamente numa posição hipócrita de igualdade artificial com outras culturas: relativismo cultural!).

Pretender reduzir a tradição europeia ao iluminismo sem reconhecer que este só foi possível na continuação da Idade Média e do Renascimento e da doutrina cristã e grega corresponderia a desfamiliarizar-se à imagem do filho pródigo. Os valores da comunidade não a justificam por si mesmos; com o tempo tornar-se-iam numa roda de hamster sem missão nem sentido e sem objectivo abrangente.  Ontem como hoje legitimam-se guerras e injustiças em nome da defesa de valores e direitos individuais, religiosos e políticos. Os direitos e interesses das partes concorrentes determinam o agir à custa da dignidade humana (2).

Entre o imperativo categórico da razão e o imperativo integral do divino

Nessa “Europa dos Valores”, o barómetro da validade dos valores dependeria, pontualmente, do sentimento expresso em determinada época ou tempo.

O desejo corre atrás da falta. O mimetismo das leis e costumes na luta pela sobevivência que cria esperanças não dá sentido nem pode satisfazer a Esperança. O bem-comum e a democracia são demasiado circunstanciados para poderem ser apresentados como garantes de futuro ou como princípio ético global (Exemplo de do filósofo Sócrates e de Jesus Cristo que foram mortos em nome da lei por defenderem a dignidade humana que transcende a própria lei e moral: ao não seguirem a moral da massa ficaram fora da lei e da sociedade). A polis, a democracia, em nome do povo,  legitima a morte do indivíduo pela lei embora este, como testemunha Jesus e Sócrates, seja fiel a uma consciência ética individual e social superior à da massa; numa perspectiva da polis, ao indivíduo fica reservado o mal se não segue a masssa. Na consequência podemos concluir que não chega o reconhecimento do grupo ou da sociedade como prémio ou como saisfação de uma necessidade para legitimar um acto ou uma lei geral. O facto de se pressupor um ideal absolto e de ele ser impossível no tempo, devido à falta, não justifica a sua negação ou sentido.

O desejo realizado apenas no âmbito social  reduziria a vida a uma mera necessidade de autoafirmação presente na natura e na cultura mas sem perspectiva de sentido final. A liberdade e a dignidade humana são  mais do que a lei produz. A esfera da moral é criada pela lei mas esta deve deixar margem para poder ser secundada pela consciência.

A vontade da lei – expressão do momento – seria determinante independentemente do sentido e da finalidade do Homem, da história e da natureza, que apontam seguir no sentido de uma meta e de uma caminhada de aperfeiçoamento comum (a natureza e o desenvolvimento antropológico e sociológico seguem na peugada de um chamamento). A teleologia explica a realidade em termos de causas finais e a teologia explica a realidade em termos de primeiro motor e de causas finais, na perspectiva humano-divina.

O imperativo categórico da razão não pode obstar ao imperativo integral do divino, que é uma constante a manter-se; a ética da responsabilidade é um bom orientador para regular a vida da pessoa na cidade (sociedade) mas não é suficiente, precisa também da virtude moral pessoal (convicção) que assente num imperativo divino (esfera mística e ideal já apresentada por Platão na alegoria da caverna). Não é suficiente a narrativa da comédia e da tragédia da vida para a explicar; a vida humana necessita-se também da filosofia e da espiritualidade como procura da verdade. (Naturalmente que aqui falo como cristão, mas como cristão consciente de que todas as doutrinas e éticas se interrelacionam e se necessitam na caminhada comum de realização e descoberta do mistério).

Substituir o olhar de Deus pelo do Estado secular seria condicionar o cidadão irremediavelmente à polis (cidade) tal como em tempos anteriores o servo da gleba tinha sido condicionado à agricultura. Seria dar o passo da Religião para a Ciência de maneira irreflectida, porque esta não aceita reconhecer nem ver a ideologia que a sustenta. Nesta via reduzir-se-ia tudo a educação, psicologia  economia e sociologia, fazendo dos professores os novos sacerdotes ao serviço de uma subalternidade que humilha a pessoa.

A dignidade humana (de gene divina) ultrapassa o estatuto da moral e do direito; ela é que os fundamenta e garante: neste sentido, todo o Homem é filho de Deus independentemente da sua crença e mundivisão. Com a morte de Deus, a Europa perderia o seu passado e com ela o sentido do seu futuro. Seria antieuropeu e anti-cultura-ocidental, se os seus representantes continuassem a negar o Deus dos cristãos (o Cristianismo fonte do seu ser e projecção e sentido da missão no mundo de se dar “a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”) porque ao matar Deus matam a cultura e negam a continuidade da história. Todo o Homem ocidental consciente da cultura europeia, independentemente de ser ou não crente, reconhece a importância do cristianismo como matriz da cultura ocidental que soube integrar nela  o espírito grego e romano numa dinâmica de aculturação e inculturação com outras culturas; de facto são instituições como o Catolicismo e outras comunidades que, na abertura, permitem garantir a sustentabilidade de uma civilização que herdou delas a dignidade humana e os direitos humanos numa dinâmica de se reinventar e refazer continuamente.

O direito é algo externo e como tal não tão vinculativo como a dignidade humana porque, mesmo o Estado de direito que se entende justo, tem um sistema jurídico fruto da força dos mais fortes e que os beneficia, com maior ou menor desvio, de cultura para cultura: a dignidade humana essa é uma constante acompanhada por valores (direitos e deveres) variáveis. A dignidade humana, por mais ultrajada que se encontre num sujeito, transcende o direito (quando este dispõe do homem como objecto); a dignidade humana responsabiliza o ser humano no foro externo e interno; não se subjuga à ponderação de interesses imediatos (individuais ou grupais) que a determinem.

A instituição e o órgão não se podem sobrepor à pessoa (dignidade humana). O Estado embora promova o direito é ao mesmo tempo seu objecto e a vontade do povo é legitimadora das leis na medida em que as condiciona à dignidade humana. Doutro modo temos uma sociedade de direito, mas de legitimidade muito limitada.

De que me valeria ser justo se a minha justiça contribuísse para a sustentabilidade de um estado de injustiça?

Para Aristóteles o fim da acção é a felicidade (fim teleológico)

 

Na vida individual e social, a uma força biológica causal junta-se uma força intencional (um objectivo a longo prazo, impossível de ser observado num momento determinado dado o observador fazer parte do processo).

Sem uma visão teleológica da realidade e da própria história, os valores e os direitos humanos (e um possível catálogo de princípios éticos acompanhantes) careceriam de sentido e propósito, não podendo por si sós tornar-se em motivação de acções e de valores.  Um agir motivado apenas pelo direito teria como consequência um utilitarismo egoísta ad hoc porque até o princípio ético da justiça não passaria de um argumento para se produzir um contínuo estado de guerra desesperada contra quem tem ou é mais ou até incrementar um estado de guerrilha de indivíduos e de grupos na sociedade (à imagem dos jhiadistas muçulmanos).

Se observamos, o ser humano, a natureza (biologia) e a História na sua caminhada (antropológica e sociológica) verifica-se não só a caminhada mas que o caminhar se orienta para uma meta (força motivadora e intencional; o argumento de uma possível lei de adaptação é insuficiente por excluir o fim aberto da metafísica; não chega a força da necessidade para justificar a criação do órgão nem o salto das espécies para explicar o desenvolvimento nem tão-pouco uma ordem; por trás da necessidade há um impulsionador que possibilita a própria ordem, a orienta e a satisfaz e a que se poderia chamar felicidade ou perfeição – realização final (dinâmica da trindade). (Nesta perspectiva torna-se óbvia a colaboração das várias ciências como achegas complementares na tentativa de desvendar o mistério da vida e do mundo que é maior do que o âmbito que cada sector abrange: não chega ficar-se pelo materialismo nem pelo espiritualismo como modo de explicar o mundo e o Homem (sua origem, composição, finalidade e sentido; também não é suficiente perder-se em explicações); um e outro têm de se dar as mãos para solidariamente servirem a Humanidade. Com efeito, uma autoafirmação no ser contra e através da negação do outro (alteridade) corresponderia a um impulso primitivo de elementos inconscientes, sem ipseidade própria nem sentido.

A Dignidade Humana é a   logomarca da história intelectual e mística europeia

A dignidade humana dá consistência à autonomia dos direitos humanos, legitimados por uma convicção moral. De facto, não chega a tentativa de um enquadramento da consciência europeia em variáveis jurídicas e morais para fundamentar o valor de uma cultura ou fundamentar a dignidade humana; a moldura é variável, como se verifica ao longo da História e na comparação das culturas. (Uma fundamentação e explicação meramente ética procura a sua origem na filosofia Kantiana, em concepções utilitaristas ou relativistas). São, porém, insuficientes. O acto político humano circunstancial (democrático), expresso na elaboração de uma Constituição, não é suficiente para fundamentar um direito vinculador do comportamento, porque não reflecte o ser do Homem, o Homem todo, a sua ipseidade de caracter divino.

Não chegam conceitos morais para fundamentar os diretos humanos; uma ética responsável é sempre pessoal; como referi, a “dignidade humana”, de identidade cristã e de filiação judaico-geco-romana precisa de manter instituições que preservem a memória e a vivência a ser transmitida de geração em geração (cristianismo e seus desafiadores como guardiães do direito natural, do direito positivo e do direito espiritual). A Dignidade Humana é a   logomarca da história intelectual e mística europeia e baseia-se na” Imagem de Deus” apesar das mais diversas expressões e ao abuso do mais forte; abuso sempre presente na história religiosa e profana pelo facto de estes não deixarem de ser portadores dos males inerentes ao ser humano.

Embora o cristianismo não tenha elaborado um catálogo específico sobre os direitos humanos e o seu fundamento na Dignidade humana, toda a sua espiritualidade (ser-humano feito de terra e céu, o protótipo Jesus Cristo, o embutindo na relação pessoal trinitária, as bem-aventuranças, tudo isto cria um uma relação substancial de elevação natural da dignidade humana. O cristianismo é mais que uma religião, por isso, a dignidade humana é definida independentemente da religião…e como tal global e válida para toda a crença e descrença.

A dignidade humana é mais que um direito; ela é a rainha de todo o direito! A honra humana é inerente ao Homem independentemente do estado social e da sua avaliação ao longo do tempo. Para Paulo não há grego nem romano. O Homem deve velar pela sua dignidade perante si, perante os outros e perante Deus implicando isto o seguimento de um chamamento de perfeição.

A dignidade humana e a admiração por todos os seres prestam-se como alegação universal para o direito e a moral de todos os povos.  A dignidade humana é o fundamento religioso e filosófico mais apropriado dos direitos humanos; uma tentativa de colocar os direitos humanos como fundamento leva ao equivoco, dado o direito e a moral que os assistem serem demasiadamente localizáveis, condicionadores e condicionados ao lugar e ao tempo, para poderem servir de fundamento último de mundividências ou atitudes. A mera lei como orientação mata as asas do sonho, aquilo que nos torna Homem.

Pena de morte – Um Direito contra a Dignidade humana

 

Consequentemente, a dignidade humana não é compatível com a legitimação da morte de embriões nem de pessoas em estádio último, muito embora o direito se expresse diferentemente em circunstâncias diferentes. Tentar definir a dignidade humana corresponderia a equacioná-la e condicioná-la em termos de sistemas ideológicos ou mundivisões ela é o valor em si porque, o valor a priori anterior à formulação do direito público e do direito privado.

 

Corre-se o perigo de haver uma degradação da orientação baseado num processo de transferimento do pensar da filiação divina, para o pensar racional e ultimamente para o pensar utilitário-financeiro. De facto, na formação dos juízos de valor deparamo-nos com a influência da economia em termos de câmbios correspondentes a trocas de valores equivalentes a produtos em igualdade

Basear os direitos humanos apenas na acção de legislação política corresponderia à elaboração de um sistema social com pés de barro como na predição de Nabucodonosor . Com o tempo o homem deixaria de ser sujeito e senhor para passar a objecto e escravo.

A Dignidade Humana e o respeito perante a vida (todo o ser) são os garantes da paz e do desenvolvimento dos povos.

A lei da pena de morte, vigente nalguns países, é o exemplo mais acabado de como uma determinação legal, embora democrática, transgride a dignidade humana e o respeito pela vida ao conferir a uma instituição o direito de colocar a sua norma acima da Dignidade humana.

©António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) Faço esta reflexão que provem de uma observação do agir e legislar da União Europeia, consciente de que muitos dos seus timoneiros não estão à altura de perceber a matriz da cultura europeia e do seu sentido e significado para os cidadãos e para o mundo. Em vez de viverem a própria cultura, incorrem num zelo jacobino masculino de imporem a outros povos a sua “democracia”, com um constructo dos “valores europeus” em que os valores da pessoa, da família e da comunidade deram lugar aos valores do mercado que para se tornar absoluto aposta no egoísmo humano, longe de Deus e do povo. Não me preocupa a crença; o que me preocupa é uma Europa só corpo que perdeu a alma e que por isso não parece saber o que quer nem o que faz.

(2) Hoje torna-se óbvia, mais que nunca, uma discussão desemperrada sobre a cultura europeia atendendo ao seu caracter aberto e à afirmação crescente da cultura árabe no seu meio como gueto. Neste sentido não é suficiente uma Constituição dado se afirmarem à custa da cedência de bens culturais europeus sem que eles cedam também nos seus; de facto, a abertura cede ao fechamento sem nada em contrapartida.

ATAQUE SUICIDA NO CONCERTO DE ARIANA GRANDE EM MANCHESTER CAUSA 23 MORTOS

O Ritual da Política e dos Média repetido depois de cada Atentado

 

António Justo

O bombista-suicida, fez-se explodir à porta do Concerto Pop  (às 23.30H, 22.05) levando com ele 23 pessoas pacificas e inocentes e deixando 59 muito feridas que só queriam celebrar a festa. Em declarações através de Twitter já horas antes era anunciado o atentado como acto de “terror justo”.

A Guerra das civilizações (A. Huxley) já começou há muito (especialmente desde que Ayatollah Khomeini tomou posse do Irão e especialmente desde o atentado de 9/11 na América). A propaganda política estabelecida procura fazer-nos querer que se trata apenas de acções passageiras à conta de cabeças desmioladas para não terem de rever a política. Fazem tudo por desviar as atenções dos factos procurando ocultar vestígios que à posteriori os contradigam ou que a priori manifestam a sua negligência.

O fanatismo muçulmano não se preocupa sequer com os danos de imagem que tais actos provocam, em relação à própria religião; parte do princípio que onde estão se encontram em sua casa e de que muçulmanos não se manifestam contra terror. Deste modo, os terroristas sentem-se apoiados pela conivência das massas muçulmanas na Europa, sabem que não protestam nem organizam manifestações contra os irmãos tresloucados. Esta apatia das comunidades muçulmanas em relação ao proceder dos irmãos é compreensível dado o Islão ter conquistado o mundo com a espada acompanhada de uma política económica de rapina, corso, escravização (e cobra de impostos e discriminação dos não muçulmanos) e propagação através da reprodução e de uma ideologia político-religiosa que lhe dá consistência. Como filhos do deserto compreendem a vida sobretudo como luta, conscientes de que só sobrevive o mais forte.

Para os extremistas só existe a sua causa, sem consideração tratam apenas do seu negócio. Não reconhecem a culpa vêm-na nas circunstâncias. O mote” fazei amor e não a guerra” deixam-no para os que vivem nos prados onde corre o leite e o mel, pois para os jihadistas tudo isso é miragem, real só é o paraíso.

Enfim, continuaremos, no meio do nosso canto a ouvir também a voz das bombas. As vítimas serão motivo para uns continuarem a cantar e outros a matar. Surge, porém, um problema na política e na sociedade:  o facto de vítimas se irem tornando no sustentáculo da nossa esperança.

Os atentados passam a fazer parte da narrativa, o problema é não haver predisposição nem tempo para chorar as vítimas. Países com muita imigração islâmica encontram-se mais expostos…

A cena islâmica domina as notícias negativas enquanto parte da opinião pública procura justificar os acontecimentos como fazendo parte da normalidade cívica de uma sociedade que se quer aberta por razões económicas, demográficas e políticas. Temos uma sociedade aberta, sem fronteiras, mas sempre surpreendida pelo facto de não estar preparada para a abertura que propaga e sem se preocupar em criar o acompanhamento necessário para quem entra… O ritual da discussão, política e pública pós atentados, parece esgotar-se sempre na mesma praxe: quem era o assassino, terá sido apadrinhado pelo EI, é imigrante ou refugiado, há reivindicação de responsabilidade, terá a polícia cumprido devidamente a tarefa de impedir o atentado, o pobre coitado cometeu certamente o atentado por ser discriminado pela sociedade no gueto onde vivia e por fim vem a política com uma lamentação rezadeira e com a recomendação que o povo esteja atento; de facto o Estado encontra-se sobrecarregado pelo terrorismo não podendo garantir a defesa dos cidadãos. Os atentados são em principio aceites; o importante é fazer a sua explicação.

A política e a economia querem uma Europa de tipo casa aberta sem portas nem janelas. Por isso quem paga a factura são as vítimas e os herdeiros. Consequentemente os nossos políticos negam-se a ser porteiros; dão a impressão de aceitarem a situação com benevolência, porque enquanto o seu povo se ocupa com tais problemas não lhe vem à ideia a exigência de construir uma sociedade ainda melhor à que teve há 40-50 anos.

A tolerância tem o seu preço que, por vezes, se confunde entre verdade dita e atentados perpetrados. O problema vem do facto de o terror ser aceite e coberto pela sociedade islâmica e explicado e aceite pela sociedade acolhedora e pela palavra discursiva de uns e outros; também não é possível meter todos os terroristas e salafistas extremistas numa ilha isolada e as incitações à intolerância e à violência em livros religiosos ainda são ingenuamente aceites e propagadas como se não fizessem apenas parte da natureza humana, mas também da sua cultura e propaganda.

Os Media e a política continuarão, num rito já repetido, a falar do envolvimento do IS e da perturbação psíquica dos terroristas que não passam de coitadinhos, e, deste modo, a fazer propaganda por ele. Enfim, a vida continua, uns fazendo o negócio da guerra e outros falando dela.  

Neste jogo de guerra, o islão militante afirma-se, e a presença islâmica também, conseguindo traumatizar muita gente numa sociedade já de tal modo traumatizada que perdeu a capacidade de ver donde vem o problema e de recorrer a meios adequados e humanos de o impedir…

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

NACIONALISMO SURGENTE – UM SINTOMA DE CRISE E DE INSTABILIDADE

Salvar a Europa ou as suas Nações? 

 

António Justo

 

Na Europa assiste-se a uma onda de indignação contra a onda do nacionalismo crescente que indignado reage contra transformações políticas, económicas e sociais, sentidas como ameaças à própria identidade e aos bens adquiridos. A União Europeia insurge-se contra os europeus e os europeus insurgem-se contra a Europa.

 

Concorrência no mercado das opiniões

 

A ideologia socialista que num primeiro momento da industrialização se revelou oportuna precisaria de uma revisão radical, para se não tornar prejudicial, num momento da História que precisaria de maior tempero e equilíbrio na rapidez do progresso para se proporcionar um desenvolvimento sustentável mais adequado às pessoas e aos povos. O mesmo se diga do capitalismo liberal!

 

A ideologia nacionalista, como sintoma de crise e de instabilidade económica e social, corresponde à maré vazante depois de uma maré cheia anterior (de melhor bem-estar económico e social) demasiadamente aberta, virada para fora, para a expansão e desacautelada em relação ao próprio centro (os interesses do próprio Estado, da cultura e da economia nacional foram negligenciados e a imigração muçulmana, incontrolada e, em parte, incontrolável, atenta contra a unidade cultural continental). Uma cultura prematuramente aberta e apressada questiona o próprio desenvolvimento orgânico e ordenado, a que poderia chegar com mais eficiência em ritmo menos acelerado.

 

O nacionalismo começou a ganhar maior expressão com a revolução francesa e especialmente com a revolução industrial inglesa que desestabilizou a ordem social, ao provocar a emigração dos lavradores e dos aldeões para as cidades.

 

De aldeão para cidadão

 

Com o abandono da terra e do campo e com a consequente concentração do povo nas cidades deixa de valer a estabilidade de uma economia de caracter familiar para se passar para uma economia de caracter individual mais acentuada no capital. Passa-se das famílias alargadas para as famílias pequenas – estas condicionadas por uma economia de proletariado agarram-se a novas mundivisões).

 

A insegurança do indivíduo na cidade e a instabilidade política citadina teve como consequência o fomento do individualismo que passa a procurar a segurança na nação (Um certo patriarcalismo familiar desaparece e o indivíduo, longe dos seus, procura o seu substituto na nação). A emigração do povo do campo para a cidade leva-o a deixar a igreja na aldeia e a desvalorizar a importância da família alargada (actualmente até a família pequena é posta à disposição dos maiores ataques). Nas cidades as torres da Igrejas começaram a ser atafegadas pelas chaminés das fábricas e pelas torres dos bancos. Mudam-se os costumes mudam-se as mentalidades.

 

A concentração das pessoas na cidade cria um novo tipo de pessoa: surge o cidadão a tecer novos sonhos que posteriormente se revelam, também eles, sem asas, com as naturais desilusões.

 

A família, a geografia, o campo e a agricultura deixaram de ser garantes de valores duradouros e de estabilidade a nível individual e social. O indivíduo distancia-se e afirma-se perante a família: destrona-se o pater famílias, destrona-se o rei; o nós das famílias transpõe-se para o nós nacional.

 

Surge o indivíduo isolado, com menos laços; o que vale agora é a força de trabalho e o capital que ela produz; o citadino, procura agora a estabilidade social e afectiva em novas ocupações e organizações; a vida da polis, a organização laboral e do Estado, fomentam nele o sentimento nacional.

 

A República vai-se afirmando como barco no mar revolto e o cidadão já não vê outra perspectiva senão agarrar-se ao nacionalismo, quando as ondas da economia tumultuosa do século XIX e do início do século XX assolaram as cidades.

 

Uma crise económica e social na Alemanha, na sequência do acordo de paz de Versailles (imposto à Alemanha em 1919), revela-se como acordo fomentador do nacionalismo porque ao estagnar a economia alemã cria instabilidade social que leva ao nacionalismo que preparou a segunda guerra mundial.

 

A solução é ambivalente: Salvar a UE e/ou salvar o destino dos países

 

A crise económica e financeira de 2008 transbordou de tal modo que castigou a classe média e média inferior, aquela que é a base da sustentabilidade das sociedades nos Estados.

 

O Brexit é a consequência e expressão séria do nacionalismo que por todo mundo efervesce. De facto, os políticos da EU que representam os interesses das organizações e relações internacionais encontram-se num beco aparentemente sem saída. Efectivamente, a Europa encontra-se numa situação ambivalente entre os interesses nacionais e os interesses civilizacionais continentais (em concorrência com outras civilizações).

 

Muitos representantes das nações sentem que para resolverem os problemas nacionais teriam de quebrar com as relações da UE (como faz o Reino Unido). A situação é desesperada porque a tentativa de resolução de uma situação pressupõe o ataque à outra de que também se depende. Por um lado, o desenvolvimento da civilização ocidental exige de si uma organização supranacional;  por outro lado, o não desenvolvimento de muitíssimos países no sentido de consciência nacional, de povos nação (típico europeu) exigiria um abrandamento no desenvolvimento do centralismo europeu até agora seguido no sentido de formação de um bloco coeso; o abrandamento teria como consequência o fortalecimento das culturas nacionais a nível mundial e  proporcionaria mais tempo de formação da consciência nacional a países a que o sentimento de Estado-povo-nação não é próprio, devido a uma socialização de tipo mais regional e tribal e a uma outra velocidade civilizacional.

 

As nações não podem sobreviver sós. Surge a ambivalência: salvar a União Europeia ou salvar o destino dos países. Por outro lado, em situação de crise quem difama a ideologia nacionalista esquece que o convívio internacional tem o seu substrato e legitimação nas nações. As relações internacionais e mundiais baseiam-se numa estrutura social e geográfica de um mundo que consta fundamentalmente de nações e a sua destruição conduziria a um internacionalismo caótico que só favoreceria ideologias extremas de uma esquerda improdutiva e ao atropelamento do desenvolvimento de povos (por ex., países africanos delineados pela régua e regras de protectorado) que ainda não sofreram os processos de desenvolvimento social e políticos  a que esteve sujeita a Europa na sua longa história de cultura, conflitos e concorrências que a levaram ao que se tornou no pós-guerra.

 

No meio de tudo isto, e para colocar algumas achas na fogueira do nacionalismo, temos os estados soberanos em dívidas e uma Alemanha, que, em nome da EU, obriga os estados membros a receberem os refugiados muçulmanos que além de gastos trazem consigo problemas exclusivos e o aumento da ameaça. O agir da economia e da política favorece o nacionalismo e este, por sua vez, legitima o autoritarismo e a intolerância. Uma política da ambivalência gera dependentes e fanáticos.

 

A acentuação do imperialismo na EU tem desrespeitado uma digna autodeterminação das nações; para as nações economicamente menos fortes o mercado livre e aberto vai contra os interesses nacionais porque não têm capacidade tecnológica de concorrerem com os mais fortes nem capacidade competitiva na concorrência com economias mais fracas devido a ordenados e estatuto de trabalhadores mais baixos.

 

A classe dominante ocidental queixa-se do nacionalismo russo e chinês e vê-se confrontada com a cultura árabe de caracter hegemónico. Levada pela força da inércia não muda de estratégia e adia o encontro de soluções aferidas e válidas.

 

O nacionalismo e a ideologia hegemónica legitimam o autoritarismo e até a ditadura como se observa no fenómeno Erdogan e Turquia. São fenómenos que incrementam a desconfiança contra o vizinho e, como tal, tornam-se nos melhores armeiros do futuro. Cada sociedade tem a sua economia e as suas crises e gera em cada tempo a ideologia do mainstream e ideologias acompanhantes; de momento garça o nacionalismo de um lado e o esquerdismo do outro, as melhores forjas do fanatismo e do dogmatismo da opinião.

 

A Europa já sente o rumor do nacionalismo no seu ventre. Os EUA, para legitimar novas tomadas de posição, puxam agora do trunfo nacionalista na luta contra a concorrência chinesa que tem beneficiado da economia liberal que deu origem a um grande défice comercial americano em relação à China.

 

Grupos extremistas são os beneficiados de guerras, crises e do caos. Importante é que governantes e governados não percam a cabeça porque o nacionalismo é um tubo de escape em situações de crise; afinal, uns e outros formam a mesma nação; o que seria mais apropriado para uns e outros seria um patriotismo moderado.

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo (História e Português)

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