A Cultura Portuguesa – Um Bem a Inserir na Constituição Portuguesa

Carta aberta a Sua Excelência o Presidente da República:

Senhor Presidente da República Prof. Dr. Cavaco Silva

Excelência!

Solicitação: A Cultura Portuguesa – Um Bem a Inserir na Constituição Portuguesa

Hoje como no século XVIII e XIX as elites parecem usar o discurso como subterfúgio do pensamento em que a ideia continua ao serviço da forma. Longe do “saber de experiência feito” e da reflexão, a nação continua no seu miasma geral do privilegiado saber teórico dogmático sempre submerso a tudo o que vem de fora.
O 25 de Abril falhou em muitos aspectos porque se limitou só a uma revolução política conquistando apenas a rua. A revolução de Abril, justa nos objectivos, foi conduzida por ideologias mal mastigadas nas mãos de mercenários. Portugal encontra-se agora emperrado numa máquina de estado monstruosa e encalhado no turbo-capitalismo. A nação sente-se insegura.
O povo tem sido, desde há séculos, reduzido a palco para os mesmos protagonistas, os traficantes de ideias e de “drogas”, os beneficiados das revoluções.
O que mais urge é uma revolução intelectual e moral, uma mudança de mentalidades. É óbvio que um tratamento adequado terá que começar por se ocupar com a identidade e a cultura portuguesas. Nesse sentido urge incrementar o respeito pela cultura nacional, como liturgia do dia a dia numa língua com valores, hábitos e mentalidade próprios. Consequentemente seria de inserir na Constituição Portuguesa um artigo em que se declare a cultura nacional como um valor a defender… A nossa época já não se pode contentar com os profetas marxistas nem com os ardinas do dia a dia. Pelo contrário terá de redescobrir a grande herança judaico-crista sempre a ser renovada e os valores que tornaram a nação grande. A vontade e a fé, a fé nas teses e em teorias aferidas conduzirão ao progresso. Os Portugueses foram no século XV os pioneiros na aplicação da grande descoberta – a terceira dimensão da realidade – a lei da perspectiva (Leonardo da Vinci) que levou o Homem à descoberta do espaço (aos descobrimentos). Portugal conseguiu então ser a expressão do espírito, a nova consciência. Hoje teremos que estar atentos ao novo salto qualitativo no desenvolvimento da consciência humana, à nova consciência do tempo como quarta dimensão da realidade (união tempo-espaço) – teorias da relatividade e dos quantas – que nos obrigará a uma nova maneira de estar no mundo e a arredar definitivamente do materialismo do século XIX e daqueles que teimam em conduzir Portugal com essas muletas. Tal como o Infante D. Henrique temos que nos dedicar ao estudo da física, da biologia e da mística.
Tal como é comum nos artistas em relação à arte, Portugal tem de reencontrar o seu específico, o inconfundível do nosso povo e da sua história.
Numa estratégia de futuro, para o fomento da identidade nacional, faz falta a elaboração duma fenomenologia, duma exegese e duma sinopse do ideário e da praxis nacional portuguesa, ao longo dos tempos, em comparação com as outras nações, especialmente com os Estados Unidos da América, a Franca, a Inglaterra e a Alemanha. Assim se tornariam mais evidentes virtudes e vícios do nosso ser, num esforço de diagnosticar e de elaboração de estratégias.
Todos juntos, podemos reconstruir o nosso barco renovado com as madeiras do pinhal de Leiria. Trata-se de nos baptizarmos no Douro e recomeçar uma vida nova para assim chegarmos a Belém, à foz do Tejo na descoberta do mundo. Não podemos continuar a adiar o futuro. Na história, na literatura e no nosso povo temos um fundus, uma mina sem limites, um médium de humanismo, portuguesismo e de universalismo.
Não queremos um país de Bela Adormecida nem de ardinas. Queremos um país dinâmico e crítico onde o espírito se expressa na voz do mar que é ao mesmo tempo eco e ânsia dum povo por justiça, fraternidade, solidariedade, bem-estar, eternidade e transcendência.
Senhor Presidente da República solicito a V. intervenção no sentido do referido. Auguro-lhe muita força e saúde no exercício de tão nobre cargo ao serviço do cidadão, no serviço do Homem!
Junto envio um texto que expressa espontaneamente o sentir da necessidade duma discussão sobre a cultura portuguesa e a inserção da sua defesa num artigo da Constituição.

Atenciosamente
António da Cunha Duarte Justo
Alemanha

António da Cunha Duarte Justo
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Cada país tem uma missão a realizar!

A Cultura Portuguesa – Um Bem a Inserir na Constituição
Na pista das falhas do 25 de Abril!

Portugal sofre de mal crónico geral. As crises sucedem-se de geração em geração. Já Alexandre de Gusmão dividia os portugueses em dois grupos: Os que esperam pelo Messias e os que continuam a esperar por D. Sebastião. Com a decadência que se seguiu aos descobrimentos perdemos também de vista o realismo característico da nossa antiga sociedade dos concelhos em que homens bons e os vizinhos se dedicavam directamente à resolução dos problemas do concelho numa atitude preparadora de futuro, que culminou no apogeu da nação no século XVI, sublimemente cantado por Camões.
Com a emancipação burguesa económica e intelectual a cultura desgarrou-se da vida. Perdeu-se o sentimento ecológico, o espírito da nação. Este país não nascera da raça mas da vontade. Foi o patriotismo, a vontade, que fez dos portugueses a primeira nação europeia com um rosto próprio: um povo unido que não perdera da memória histórica o império romano e conseguira manter a herança goda e uma ligação romântica à terra (p.ex. nas Cantigas de Amigo). Nesta tradição coadunava-se a ligação à terra com a visão católica universal, a vontade ligada à organização concelhia com as freguesias, o que é específico português. Longe das contínuas convulsões dos povos europeus em luta, Portugal consegue manter vivo o espírito latino e até uma certa autonomia em relação a um espírito católico centralista. Recorde-se o privilégio do rito litúrgico bracarense. Enquanto que a Europa Medieval inicial era construída em lutas contínuas sobre as ruínas do império romano sofrendo duma amnésia em relação ao passado cultural, sob a influência dos ataques bárbaros e enquanto o génio latino e o génio germânico se debatiam, o actual Norte de Portugal vivia tranquilo, nem sequer os árabes conseguem impor a sua cultura.
Aquela saudade tão caracteristicamente portuguesa, radica na terra (aspecto ecológico) e no sonho que reflecte também a cor local das culturas que deram ressonância ao tal sentimento natural uma perspectiva universalista. Um sentimento próprio ao mesmo tempo naturalista e racionalista, simultaneamente politeísta e monoteísta, a ingenuidade e o requinte, onde coincide o romano, o godo e o árabe… Esse sentimento é como que um colectivo das ruínas do tempo (das culturas) cristalizadas na Saudade, um dos específicos da alma portuguesa. Os Portugueses foram no século XV os pioneiros na aplicação da grande descoberta – a descoberta da terceira dimensão – a lei da perspectiva (Leonardo da Vinci) que levou o Homem à descoberta do espaço (aos descobrimentos). Portugal conseguiu ser a expressão do espírito, a nova consciência.
A partir dos Descobrimentos, a dicotomia cultura-terra, capital-agricultura fomentou uma consciência de elite desenraizada que cultiva um certo eruditismo desprezador da terra, do povo simples e do trabalho. Investe-se um pouco numa cultura intelectual de subsistência. Este pouco e uma actividade mental submissa tornam-se suficientes para a auto-afirmação no dia a dia e perante um povo sem exigências. A natureza amena e mãe não parecem estimular o seu espírito que se refugia no divergir do mar infinito de costas viradas à terra.
Hoje, ainda mais do que em séculos passados, as elites da praça parecem usar o discurso como subterfúgio do pensamento em que a ideia continua ao serviço da forma. Os poucos pensadores que se têm são ignorados. Longe do “saber de experiência feito” e da reflexão, a nação continua no seu miasma geral do privilegiado saber teórico dogmático (sentimental) sempre submisso a tudo o que vem de fora. Este estado de dependência da autoridade exterior tem origem na amenidade do clima, na ingenuidade popular, na falta de realismo, de auto estima, de auto-consciência e na ausência de disciplina mental. Embora no estrangeiro, pude observar de longe este fenómeno durante 30 anos, na frequência das acções de formação para professores: de facto, ainda uma teoria mal tinha sido pronunciada num chamado país desenvolvido logo era experimentada irreflectidamente em Portugal. Projectos, sem a partilha de experiências, saberes sem convicções, a que falta a legitimação da experiência das bases, são levados a efeito, por um reduzidíssimo número de pessoas muito sábias, muito perto do poder político, mas a quem falta uma prática reflectida em função dum projecto de futuro coerente. A ausência duma política global de língua e cultura é sintoma, causa e efeito da mentalidade subjacente ao actuar ad hoc em causa, podendo-se transpor esta situação para os vários sectores da vida da nação, que, sem qualquer “agenda” sectorial ou nacional, apenas reage. É um Portugal que vive ad hoc, do momento para o momento, de acções para ir buscar fundos. Uma elite cultural portuguesa que parece reduzida à classe política encontra-se sempre de antenas viradas para o estrangeiro, aliena-se e alienando, sempre disposta a seguir-lhe as vozes, sem tempo para reflectir o próprio, incapaz de escutar a voz profunda dum povo, por isso mesmo reduzido a cobaia. Assim se continua a adiar o futuro no medo de edificar Portugal sobre os fundamentos do passado. Nas últimas décadas os ideólogos dos anos 70 constituíram uma referência demasiado vincada para a nossa sociedade. Estes, fiéis da “mudança da cultura” apostam mais na ideologia, na moda, do que no trabalho sério e no duradoiro.
Naturalmente que o que menos precisamos é dum Portugal retrógrado ou de um Portugal cobaia. A nação não pode andar sempre atrás do comboio da história nem tão-pouco pôr o carro à frente dos bois. Desastroso seria se continuássemos a ser os ardinas das ideias dos outros, os ecos do comboio que passa.
Vive-se mais do e para o crer do que do e para o saber. O saber parece continuar a estar condenado ao doutrinarismo longe do ser do homem e do povo. Também isto se vê confirmado na nossa História. Portugal precisa de um momento de reflexão. Seria fatal se o pensamento português, bem como o melhor do povo, fosse obrigado à dissidência, à emigração. O restauro da portugalidade terá de partir da vontade de querer mudar e da análise do nosso ser colectivo, dos nossos costumes e mentalidade. Não chega o espírito moçárabe.
Para se dar resposta à crise que domina os sectores mais relevantes da vida nacional não chega uma reforma nem uma revolução política. Também não chega olhar para a Europa porque dela parece interessar-nos, mais que a reflexão e as ideias, os seus erros. O 25 de Abril falhou em muitos aspectos porque se limitou só a uma revolução política conquistando apenas a rua. Uma revolução popular sem o povo. Este foi atrelado à coleira da ideologia mediante uma agitação colectiva inicial, seguindo-se depois a fatalidade do dia a dia na luta pelo pão. A revolução de Abril, justa nos objectivos, foi conduzida sobretudo por ideologias mal mastigadas, por mãos de mercenários estrangeirados que se apoderaram dos dinheiros públicos e da administração. Ao velho regime seguiu-se o novo. Portugal encontra-se depauperado e emperrado numa máquina de estado monstruosa e encalhado no turbo-capitalismo. Apesar da remessa diária de 6,2 milhões de Euros dos emigrantes para Portugal e de 8 milhões provenientes da EU a economia portuguesa encontra-se de rastos. A cronicidade da doença portuguesa transcende os seus regimes políticos. Tem sido uma constante ao longo dos últimos séculos. Não parece ser possível haver alternativa entre a apagada e vil tristeza do “honradamente sós” e a tradicional prostituição ideológica estrangeira ao serviço de interesses muito individuais e de clientelas. Constante na sociedade portuguesa tem sido o seu carácter de palco em que a crise é invariável e os mesmos actores se repetem ao longo dos séculos mudando apenas as roupagens das ideologias. Enfim, apenas se têm trocado os papéis num jogo de caracteres sem carácter próprio. Porque é que uma nação com um povo tão honrado e trabalhador e com uma cultura riquíssima terá de continuar a andar encostado? Outras nações mais pequenas conseguem mais. Não será também uma das causas a existência duma “burguesia vaidosa” seguidora de modas, sem tempo para a reflexão e para pensar, esgotada em accionismos e na política do dia a dia?
O povo tem sido, desde há séculos, reduzido a palco para os mesmos protagonistas, os traficantes de ideias e de “drogas”, os muitos auferidores de postos e de honorários. As honrarias e “confrarias” parecem viver da honra do povo. Todos se preocupam com o tratamento dos sintomas quando a raiz do mal está na maneira de ser do ser colectivo português, em cada um de nós portugueses, na alma de Portugal, e em especial na maneira de agir dos seus actores. Um tratamento sério dos nossos males exigiria, mais que placebos, uma reflexão cultural, política e histórica. Portugal precisa duma revolução intelectual e moral, duma mudança de mentalidades. De resto continuarão alguns beneficiados do sistema a viver da provisoriedade de falsos diagnósticos e das receitas ao doente; tal como no passado continuam a adiar o futuro.

Política ao serviço do capital – Inteligência nacional ao serviço da política

A ideologia e os seus oportunos tentam viver do que o momento dá e do conformismo individualista subjacente. Não acreditam na missão civilizadora da nossa cultura. Procuram instaurar uma cultura do provisório, subordinada ao consumismo ideológico e de produtos. Desestabilizam a moral popular apresentando apenas como alternativa moralismos ocasionais propícios para clientelas. Superficiais, destroem a consciência portuguesa. A nação não é tabula rasa e uma revolução responsável não pode ser contra a ordem, a disciplina e a justiça nem continuar a afirmar-se no relaxamento dos costumes ou na aposta em ideologias. Um tratamento adequado terá que começar por se preocupar com a identidade e a cultura portuguesas, com o seu espírito, superando o ditado do dia a dia e da ideologia multiculturalista que se orienta pelo bel-prazer arbitrário e pela mediania. A inteligência da nação terá que ressurgir no respeito pelo passado e na responsabilidade pelo futuro, não se pode deixar tentar pelos moralismos e pelo cantar das sereias ideológicas ao serviço de alguns. O nosso grande protótipo é Ulisses. A consciência da nação terá de ressurgir primeiro nos professores de universidade e nas personalidades da economia e da cultura. Estes não podem continuar a viver na dependência e atrelados à política na subserviência de postos. As universidades e as escolas terão de se tornar independentes e de se libertar dum burocratismo conservantista. Se os políticos ocupam cargos importantes passageiros e se perdem no momentâneo, pensando apenas em categorias de períodos de legislatura, o professor, o intelectual dá continuidade e perspectiva pensando em termos globais, em termos de passado, presente e futuro, em termos de povo e de nação com projecto e com uma vocação histórica. As elites, para o serem, não se podem limitar a administrar a miséria e a viverem dela. Já chega de mediania. Também a Igreja administra demasiado a rotina sem intervenção crítica, também a seu respeito… É preciso ter-se coragem, mesmo coragem para errar. Não chega uma sociedade de bem comportados. Precisam-se homens, mulheres com coluna vertebral de “antes quebrar que torcer” na abertura aos ventos do tempo sem a eles sucumbirem. Não chega a vontade de inovar! Esta tem de ser acompanhada da renovação e da restauração. É uma questão de se estar de serviço. O povo, a nação já esperam há muito! “Quem espera desespera” e o agir sem esperança aliena. Urge mais que uma “agenda” uma reforma profunda! Já no século XIX um português exemplar, um luso do nosso álbum, Antero de Quental, tocava na ferida portuguesa ao dizer: ” Esta reforma, tanto tempo adiada pela inércia e pelo egoísmo, impõe-se agora irresistivelmente”. Mudaram-se os tempos mas a mesma realidade permanece. O fim trágico de Antero é simbólico do acto de desespero dum povo que continua de desilusão em desilusão a não se tomar a sério, a emigrar.
Hoje não há coragem e a liberdade deu lugar à arbitrariedade. As pessoas simples e os intelectuais tornam-se cada vez mais iguais no medo e no cálculo. Assiste-se à socialização da vulgaridade. Esta é também implementada por uma TV sem programas que a transcendam e que transcendam o vulgar, numa sociedade à la “big brother”. Por onde andam os homens livres? Será que a nossa sociedade só produz dissidentes, adaptados e terroristas? Qual a nossa razão de ser como ser colectivo? Hoje as nações cada vez fazem mais lembrar rebanhos sem pastores em que cães, sem orientação, mantêm o rebanho junto sem objectivo nem destino. O fim e destino históricos dum país parecem estar limitados ao cheiro do curral que se reduz, por vezes, à súmula do cheiro da ovelha mais próxima e ao medo de eventuais ferradas caninas.
A cultura e a história continuam a ser instrumentalizadas no sentido de se fomentarem cidadãos adaptados, com hábitos e crenças ideológicas de trazer por casa. Da tradição só passa a interessar o político, o utilitário. A cultura da nacionalidade é relegada para o museu. Assim da cultura só interessam alguns lugares comuns e na falta de reflexão importam-se acriticamente do estrangeiro ideias oportunas, ideias tapa-buracos sem respeito pelo processo a elas inerentes.
No projecto de sociedade vigente só parece haver lugar para aplicadores, para prosélitos… O saber foi substituído pela opinião. Despe-se da história o manto da dignidade e do rigor. Faz-se dela uma disciplina, uma pedagogia específica para formar cidadãos à medida e reduzem-se os professores a aplicadores de didácticas ou a meros assistentes sociais. A História científica e crítica, como nossa memória, ajudar-nos-ia a melhor compreender o presente e a construir o futuro. Não chega só o presente, como querem alguns desenraizados. Este precisa da rampa do passado e duma alma que contenha nela o germe e a garantia do futuro. O nosso presente será o passado do futuro e este quer perspectiva. Dum passado à disposição só se recorda dele o ideologicamente utilizável, talvez as páginas escuras para assim se desviarem as atenções dos defeitos do presente ou se apanhar alguns incautos para a própria ideologia. Nesse sentido urge fomentar o respeito pela cultura nacional, como liturgia do dia a dia numa língua com valores, hábitos e mentalidade próprios. Esta situa-nos no grande contexto universal. A história universal, e a história europeia não poderiam ser explicadas sem a história portuguesa nem esta sem aquelas. Da cristianitas surgiu a nacionalidade, a consciência da nação e das nacionalidades surgirá a cidadania europeia, a cidadania dos direitos humanos que provêm da primeira.
Uma ideia universalista peregrina em muitas cabeças do “pensar correcto”actual reduz o futuro a um sonho com práticas progressistas numa estratégia de auto-afirmação pela contradição, numa atitude polémica (não crítica) contra o passado e na sua difamação fora de contexto. Estes seguem o mesmo equívoco no seu projecto de construção da sociedade nacional contra a família encostando-se à EU que se tem orientado mais por aspectos estratégicos e económicos contra os interesses dos povos europeus. A tomada de posição francesa contra o projecto de Constituição Europeia alerta para que não se esqueçam do povo e da sua alma. Para lá da moderna superstição do progresso terão que permanecer os ideais de fraternidade, liberdade e igualdade, na consciência que das ruínas das ideologias surgirão as melhores ideias e as melhores virtudes.
Socialistas e Conservadores necessitam de repensar a sua política e estratégias para actuarem na base dos valores nacionais cristãos e europeus. Não chega seguir servilmente a EU. Não chega a concentração nas leis do mercado como reguladoras da sociedade e do futuro. A classe política tem abdicado da sua responsabilidade de regular o capitalismo. A insegurança geral aumenta e manifesta-se num populismo antidemocrático já bastante notório na América Latina. Um capitalismo que não respeita a nação leva os povos a grandes convulsões sociais e tem como consequência final a socialização da economia de tipo dirigista. O furacão da globalização tem levado a sociedade a concentrar-se apenas no económico à custa dos valores de identidade do povo e em nome dum internacionalismo desalmado.
Seria um equívoco fatal continuar com uma ideologia internacionalista à custa do povo e da nação. É preciso criar o equilíbrio entre o internacionalismo e o nacionalismo. Para isso a economia de mercado tem que se tornar social e ecológica, tem que respeitar a pessoa, as regiões e as nações. Doutro modo desenvolver-se-ão extremismos de direita e de esquerda. O meio-termo seria o patriota por estratégia; o patriota que tem por casa a nação e por tecto o mundo. Este não é antiliberal mas também não põe a nação à disposição, nem se envergonha da terra. É um ecologista cristão (Uma qualidade bem portuguesa dos tempos da nacionalidade!). Sábio, reflecte as ideologias aferindo-as ao seu sistema cultural e não vice-versa. Neste sentido, Portugal precisa dum debate sério, para lá das trincheiras partidárias e das ideologias, sobre a identidade nacional e a sua cultura. O processo de socialização europeia é muito diferente do das Américas.

Baptizados no Douro para partir de Belém, do Tejo, à descoberta do mundo

Já passou a época em que um liberalismo e um socialismo envergonhados da nação podiam ganhar pontos na luta contra a pátria na luta por valores internacionalistas. Já é demasiado longo o tempo da difamação da nossa cultura e do cristianismo. Chega de quimeras dum progresso falso. Uma cultura em que os valores não exigem compromisso fomenta a criminalidade e os extremismos de direita e de esquerda. Uma cultura que só suporta ardinas, e valores menores, conduz ao desmantelamento dela mesma, à queda duma civilização. Produz deserdados e desenraizados.
Hoje quem está ameaçada é a pátria, a cultura da nação, os seus valores; falta-lhe um tecto transcendente e uma perspectiva. A cultura dominante de que somos portadores é um grande bem a preservar. A grande herança greco-romana, judaico-cristã, com o seu humanismo e um certo iluminismo, aos quais está subjacente uma imagem de homem e de sociedade com os inalienáveis direitos humanos, não precisa de ter complexos nem de se temer perante o futuro. Esta cultura civilizacional com a sua imagem de Homem e o consequente modelo político é única em termos comparativos mundiais tendo de tornar-se cada vez mais um termo de referência na relação com os povos. Naturalmente que terá de ser purgada dos egoísmos, dos exageros colonialistas e dum capitalismo desenfreado que instrumentaliza o ser humano. Uma casa não pode constar só de portas e de janelas. Uma sociedade aberta como a europeia precisa duma referência cultural sólida e sem complexos. Esta é a judaico-cristã, sempre a ser renovada, que integrou a cultura greco-romana e se aculturou no seio dos outros povos. Não pode aceitar-se que, num país ocidental, um pai muçulmano, por razões de fé, proíba a sua filha de frequentar as aulas de desporto. Um país democrático, que se declare pelos direitos humanos e pela igualdade entre homem e mulher não pode permitir isso legalmente. Uma consequência lógica seria a inserção de um artigo na constituição nacional, em que se declare a cultura nacional como um valor a defender e não à disposição.
Os pontos altos da nação e as festas populares terão que ser mais que actos de desobriga a nível de calendário. Estes actos domingueiros, como o festejo do 25 de Abril, politicamente usado, e outras iniciativas culturais terão de primar pela densidade de conteúdo em que acontecimentos, autores e personalidades celebrados deixem de ser usados apenas como bombos de festa ou objecto de discursos empolados sem uma relação com a vida actual, apenas na complementaridade de um pouco de Fátima, Fado e Futebol.
Há que redescobrir e consciencializar a essência do ser português e a nossa maneira de estar no mundo. Logo nos alvores da nacionalidade houve a defesa dos interesses regionais e a casa dos vinte e quatro onde poderíamos reatar tradições e purificar mesmo outras importadas. O espírito romano prevalecia em relação ao bárbaro. Para a nossa época já não chegam os profetas marxistas nem os ardinas do dia a dia, instalados por toda a parte. Não são suficientes os escritores que os nossos compêndios escolares promovem por vezes ao serviço do “pensar correcto” e do Zeitgeist. É preciso cristalizar autores e marcos centenários da nossa cultura, para que entrem na memória do povo e se tornem fontes de referência. Urge recuperar o tempo perdido, recuperar Portugal. A força da União Europeia dependerá da vitalidade das nações. Não são suficientes os mercenários bem pagos para a construção da EU embora também estes sejam necessários no processo de fomento da superstrutura.
Para a vitalidade de um povo não chegam alguns sentimentos patriotas ocasionais nem tão-pouco um código de valores razoáveis consolidados numa Constituição. Tudo isto é corpo apenas, a que falta a alma da nação que o modernismo tem desprezado. A cultura, a literatura, a ciência, o cristianismo e a arte constituem uma base e uma oportunidade para o reencontro. Portugal precisa de se reinterpretar porque tem andado à deriva. É preciso, na empatia com o passado viver o presente e assim construir o futuro, numa engrenagem que dê sentido e no diálogo com todas as culturas e nações recebendo e dando impulsos a integrar de modo específico por cada povo e por cada cidadão. Desenvolver a capacidade de se criar o novo na inter-relação pessoal, cultural, temporal e espacial. Neste sentido haverá também que redescobrir a tradição bíblica da dignidade humana e consequentes direitos de que liberdade, fraternidade e igualdade e são expressão.
Portugal não pode permitir-se o luxo de deixar o espírito português na dissidência, na migração ou nalguns actos folclóricos, por muito importantes que sejam. A migração bem como a juventude podem dar-lhe grandes impulsos. Tal como é comum na arte e na poesia, Portugal tem de reencontrar o inconfundível, o inconfundível do nosso povo e da sua história na realização dum ideal comum. Só na personalização nos realizaremos como pessoas, como povo e como nação. Dentro dum todo, cada um no seu enquadramento, com um panorama próprio de alma e corpo tem uma necessidade específica de realização e de salvação. Neste sentido, um apelo a estudiosos, artistas e a mecenas: fazerem uma fenemenologia, uma exegese e uma sinopse do ideário, do desenvolvimento e da praxis nacional portuguesa, nos seus diversos ramos, em relação e comparação com as outras nações, especialmente com os Estados Unidos da América, a França, a Inglaterra e a Alemanha.

Na Reconquista de Portugal continuar o Pinhal de Leiria, o espírito ecológico
A tradição cristã (greco-romana), a língua e o agir comum constituem a alma do ser português, uma alma não clerical, não jacobina, uma alma livre e aberta. No amor pela língua e na saudade do ser português viveremos o presente na construção dum futuro sempre diferente. Esta saudade porém tem de ser purgada dum sebastianismo, aquele resto árabe que nos impede de ver a realidade e conduz à tentação de se definir na contradição. Aqui terá também Portugal de se purificar dum anti-clericalismo primitivo, dum secularismo fanático e duma religiosidade meramente folclórica e tradicionalista. Não chega ser-se devoto numa prática religiosa que torna o cristianismo irreconhecível! Não se trata de viver na recordação nem no futuro mas no agora presencializador de passado e futuro teleológico. Isto exige uma sinergia de forças na convergência de todo o país. Para isso não se poderá poupar a religião, a pátria, o governo nem o povo. Tudo sem tabus, porque tabu só há um: o da dignidade humana de cada pessoa. Não estamos ao serviço de sistemas mas dum povo; só assim podermos situar-nos responsavelmente no mundo. Todos juntos, podemos reconstruir o nosso barco com as madeiras do pinhal de Leiria, a que não falte o mastro firme a que possamos amarrar as nossas velas e assim chegar a porto seguro. Mesmo de coração partido por tantas tempestades e incertezas não nos faltará o senso comum nem a coragem. A nação e o povo não merecem que os continuemos a imolar. Portugueses em Portugal e na diáspora são uma grande força que pode ser canalizada na construção honrosa duma sociedade mais humana. Neste momento em que o extremismo muçulmano parece determinar os títulos dos jornais e os sentimentos das pessoas, impondo-se pelo medo, mais se torna visível a acção civilizadora do cristianismo. Esta terá que ser renovada na descoberta do homem e do povo. O cristianismo foi o salão de entrada de Portugal e de todas as nações europeias na cultura ocidental e mundial. Ele é um bom exemplo de globalização e de continuidade, com altos e baixos. Trata-se de nos baptizarmos no Douro ousando uma vida nova, para assim chegarmos a Belém, à foz do Tejo na descoberta do mundo. Nas ondas do tempo, sem complexos, dá-se a resposta às exigências da vida desde a erótica mais vivida até à mística mais profunda, tal como faziam os nossos descobridores. Para isso é preciso voltar a descobrir a vontade, a vontade, o grande mastro que possibilita o ser e a sua viagem. Trata-se de desenvolver um modelo próprio de considerações do mundo que se transponham a si mesmas. (Não podemos continuar apenas a reagir, só abertos a modelos levianos não aferidos ao génio português). Na história, na literatura e no nosso povo temos um fundus, uma mina sem limites, um médium dos valores de portuguesismo e de universalismo. No tempo da dúvida, da incerteza, da alienação torna-se importantíssimo descobrir as questões mais relevantes do nosso tempo e centrar-nos nelas para reencontrarmos o vestígio da história do futuro. Esta repete-se continuamente. Não se trata só de dar resposta a questões de injustiça social, de emancipação ou de economia. A cultura portuguesa tem uma paisagem muito variada e típica na natureza, na história, na religião, folclore, tendências, hábitos e modos de vida. Portugal é um todo em que as contradições poderão funcionar como catársis dum povo a dar à luz. Por companheiros temos um Camões, um Quental, um Pessoa, um Cristo (também os Cristos abandonados) e tantos outros. É preciso reatar-se o fio condutor que esteve na base da formação e organização da nação, dos concelhos (homens bons e vizinhos) e tentar regenerar a sociedade portuguesa, como defendia já Alexandre Herculano, através da sua exigência de revitalização do municipalismo de inspiração medieval. (Hoje poderíamos fomentar a regionalização da política através da divisão de Portugal em três regiões). O estudo do espírito, da vontade e dos mecanismos que levaram à formação e ao auge da nação portuguesa poderá levar à descoberta do seu fio condutor e do sentido do carácter específico de ser português e a maneira de o concretizar. Só assim o país poderá ser governado pelo próprio país e não apenas por pessoas distantes num parlamento em que os deputados se submetem muitas vezes às coacções das Fracções, de blocos e de lobbies. Trata-se de voltarmos ao espírito dos “homens bons” guiados não apenas pela inteligência, mas provados pela honestidade e pela dedicação. Na altura em que o centralismo europeu se faz mais sentir é urgente fortalecer as regiões e estabilizar a política, livrá-las de compadrios e de qualquer servilismo partidário. Esta caminhada levaria a um redescoberta da natureza e a uma diminuição da ideologia que ao viver da cidade e para a cidade a favorecem em detrimento do campo, da província, em contradição com o espírito condutor dos “homens bons” e da “assembleia de vizinhos” medievais.
Nas condições reais concretas que nos são dadas resta-nos realizar a felicidade. Por vezes sob a luz vestida de melancolia como nos é bem próprio na nossa saudade. Saudade dum futuro que nos vem duma realidade vivida. Apesar dos tempos difíceis em que vivemos não nos falta a vontade de viver, de viver a vida toda, duma maneira livre e apaixonada. Trata-se de dar oportunidade a um misto de devoção e crítica, na convergência dum consenso dos extremos ao serviço dum povo a caminho. A sua identidade assenta no fundamento cristão e português. Ignorar isto significaria cair na esquizofrenia, uma constante que tende a acentuar-se na nossa sociedade moderna. O falar e o agir são a expressão, do fogo que está por baixo das cinzas da vida e da história. O calor que nos abrasa pode tornar-se numa fogueira em Portugal, no mundo, a arder. Importante é que cada cidadão descubra o que está por baixo das cinzas da nossa história e aí acender a mecha e transmitir, esse fogo na construção duma comunidade sempre nova, sem os coletes apertados das ideologias ou dos ismos (vivendo respeitosamente também com eles), fortalecidos por uma vontade corajosa de auto-realizacao na concretização da pátria a caminho. Trata-se de reconciliar o romantismo com o realismo, a estética com o establishment, a democracia da esquerda com a democracia da direita, o passado com o futuro, num presente promissor. Não queremos um país de Bela Adormecida nem de ardinas. Queremos um país dinâmico e crítico onde o espírito se expressa na voz do mar que é, ao mesmo tempo, eco e transcendência, que expressa a ânsia dum povo por justiça, fraternidade, solidariedade, bem-estar e eternidade. Há que reavivar um debate em torno de uma ideia para Portugal. Tal como no século XV conseguimos ser expressão da descoberta da terceira dimensão que revolucionou o mundo de então, também hoje teremos que estar atentos à nova consciência do tempo como quarta dimensão da realidade (união tempo-espaço) – teorias da relatividade e dos quantas – que nos obrigará a uma nova maneira de estar no mundo e a arredar definitivamente do materialismo do século XIX. Com as muletas dum socialismo materialista não chegaremos longe. Tal como o Infante D. Henrique os nossos jovens têm que se dedicar ao estudo da física, da biologia e da mística. Vamos restaurar Portugal, vamos regenerar a sua democracia!

António da Cunha Duarte Justo
Pedagogo e Teólogo
Alemanha
Conferência proferida em Abril
Publicada também como artigo

António da Cunha Duarte Justo
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Juízes no papel de maus pais

Um Dia Negro para o Supremo Tribunal da Justiça

Uma educadora acusada de maltratar menores deficientes com palmadas nas crianças e de as fechar em quartos escuros quando se recusavam a comer, foi absolvida pelo Supremo Tribunal da Justiça em Portugal. A decisão do tribunal é questionável. O fundamento da decisão é vergonhoso e anacrónico. O tribunal parece partir do equívoco de que poder, força é igual a direito, justiça
O tribunal abusa do direito ao recorrer a uma generalização ofensiva para muitos pais portugueses para justificarem a sua decisão, com como se vivêssemos numa sociedade repressiva, no Portugal do século XIX. O Supremo Tribunal ao legitimar castigos corporais com argumentos pedagógicos duma “ pedagogia negra” esquece o direito à dignidade da pessoa humana, ignora a psicologia da criança e não tem em conta a sua honra.
O acórdão do Supremo tribunal vai longe demais ao afirmar: “Qual é o bom pai de família que, por uma ou duas vezes, não dá palmadas no rabo dum filho que se recusa a ir para a escola, que não dá uma bofetada a um filho…ou que não manda um filho de castigo para o quarto quando ele não quer comer?” O Supremo perdeu uma boa ocasião para estar calado. Não se trata aqui de se defender uma pedagogia repressiva ou permissiva. Aqui estarão em questão o ânimo leve com que se argumenta, uma mentalidade problemática, a falta de informação de profissionais que nas suas decisões deveriam recorrer ao parecer de peritos.
Bater é grave. Bater no rabo pode conduzir a fixações sexuais ou levar a crónicas tensões musculares e mais tarde a sofrimento de dores nas cruzes e a perturbações sexuais. O rabo está em relação com o sexo. A reacção de contracção do rabo por medo tem consequências psicossomáticas.
A decisão está na linha de comportamento do bater porque tem que ser sem considerar as más consequências que daí advêm.
Uma criança, e mais ainda, uma criança deficiente mental não vê a conexão entre o seu agir e o castigo. Pais e educadores que se vejam na necessidade de castigar deveriam primeiro reflectir se essa necessidade lhes vem da raiva, da vingança ou da fraqueza. A maior parte das vezes actuam sob o sentimento da raiva ou da vingança. Os castigos têm um valor muito limitado porque a crianças não reagem por compreensão mas por medo. Uma criança em situação de castigo não reflecte, apenas reage emotivamente e sente o sentimento do castigador. Por isso o castigo não pode actuar adequadamente. Em vez de se castigar deve-se levar a criança a sofrer as consequências do seu agir. Quem se recusa a comer não deve tomar alimento até à próxima refeição.
O castigo fomenta o medo e até a teimosia e pode reforçar a atitude porque a criança através do castigo cria uma relação com o educador. O educador, ausente e ignorador do outro, passa assim a estar presente embora de forma negativa. A dedicação negativa é melhor que nenhuma dedicação.
Certamente que já observaram a cena em que amigos ou familiares adultos se divertem e conversam à mesa esquecendo-se das crianças ao lado. De repente uma criança deixa cair um copo sem querer. Os adultos reagem mal, criticando ou compreendendo. Esta acção inconsciente da criança pretende castigar a atitude dos adultos que a ignoraram. Estes porém, em vez de compreenderem a intenção que está por baixo daquela acção, reagem só emotivamente ao castigo sem compreenderem a mensagem que estava naquela acção. Tal como o copo que caiu sem intenção também o comportamento indesejado, por exemplo, mentir roubar, fazer xixi na cama, agressividade, etc. tem sempre motivos inconscientes. A atitude das crianças que actuam inadaptadamente têm um sentido mais profundo e por isso o castigo é, em princípio, inconveniente. Castigos são de uma maneira geral desresoponsabilizadores para as duas partes. Em vez de proporcionarem um relacionamento pessoal e de levarem ao auto-domínio fomentam o distanciamento e a superficialidade. Ninguém se leva a sério. Isto tem consequências catastróficas para a nossa vida social. Não se age, apenas se reage! O mais forte leva o outro apenas a calar mas depois de ter perdido a razão. Passou-se a uma relação de objecto-objecto, contra qualquer identificação. Da situação surge apenas a experiência de que força e direito se identificam. O verdadeiro educador prescinde da força. Esta despersonaliza e provoca agressividade ou hipocrisia ou uma sociedade de adaptados de potencialidades criativas apagadas. O mau educador reage ao acto mas não à verdade que está por trás desse mesmo acto. A criança sente-se abandonada e incorrespondida. Educador e educando assumem os papéis de objectos que não os de sujeitos. Segue-se uma cadeia de reacções despersonalizadoras. As crianças refugiam-se no seu cativeiro da imaginação, da solidão…e reagem segundo a sua personalidade e a sua relação com os interlocutores. O amor e a estima, fundamento de toda a educação são ignorados. O amor e a admiração adquirem-se por identificação e não por castigo. Dão-se por internalização e imitação das atitudes e dos valores do outro, compreensão.
O infractor procura atenção que só pode ser mantida no diálogo. Uma educação adequada pressupõe uma consciência forjada não no medo mas na confiança, na autodisciplina e na própria dignidade. O educador tem de partir do princípio de que o educando actuou como actuou porque pensava agir bem. Há imensas razões para agir assim. Talvez tenha sido levado mais por um sentimento do que por uma razão esclarecida. Para fomentarmos a voz da consciência na criança temos que seguir as pegadas ténues da razão e esta acontece longe de qualquer afectividade e na resistência à cólera própria que turva a nossa capacidade de juízo. Esta forma-se sem moralismos, sem sermões nem exigências inoportunas e fora do lugar e do tempo, no distanciamento aos próprios medos e receios em relação às potencialidades futuras. A cólera do educador e o medo do educando embora irmanados no mesmo equívoco desencaminham e não reagem a argumentos. Para a criança chega-lhe o peso do presente não estando aberto ao futuro; o educador sucumbe ao peso do futuro não compreendendo o presente.
O educando procura muitas vezes o castigo inconscientemente por sentir que os educadores não o amam suficientemente. Para educadores a pena serve para descarga da cólera, de sentimentos negativos e de sentimentos de culpa e de frustrações. O castigo desobriga o infractor conduzindo ao equilíbrio entre pais e filhos, entre educadores e educandos. O medo do castigo evita e reprime o sentimento de culpa e os remorsos de consciência, os verdadeiros meios de escaramento. Por um lado o castigo liberta ou cria reconciliação por outro lado faz parte dos actos convencionais que levam as pessoas a não se levarem a sério e a estabelecerem um relacionamento impessoal (embora de carácter emocional positivo ou negativo).
O exemplo de vida dado pelos familiares ou educadores e a confiança neles são fundamentais para a determinação da educação. O educando sabe que o grau de amor dos educadores depende também do seu comportamento e de desenganos. A criança não quer renunciar ao amor pondo-se na disposição de mudar. O distanciamento corporal temporário dum educador dá tempo para reflectir e tem grande efeito no educando. Aqui os pais não castigam mas sentem amorosamente. A privação (pouco tempo) momentânea de amor (distanciamento local da pessoa para que as duas partes dominem os seus sentimentos negativos) é extremamente efectiva porque se realiza na manifestação de sentimentos feridos. Aqui a criança recorda a nível inconsciente o medo da separação dos pais no período de aleitação movendo nela mecanismos compensatórios e reacções gratificantes. Cada um, educando e educador é um ser condicionado às necessidades interiores e inconscientes. Muitas vezes os educandos pagam a factura de incapacidades, insatisfações e fracassos da vida.
Louvor, como manifestação de amor e simpatia em combinação com a privação momentânea de amor são os melhores meios de educação e tornam o castigo supérfluo. Aqui funciona a relação pessoal de Eu-Tu-Nós e não a de pseudosujeito-objecto. Todos nós somos mendigos de amor e alérgicos à crítica e ao castigo. O amor cria proximidade corporal e afectiva.
A falta de objectividade e de distância emocional e talvez a falta de pessoal e de formação profissional serão motivos para desculpar a educadora em causa. A compreensão duma situação não pode porém acontecer à custa da outra.
Neste julgamento do Supremo Tribunal tenho a impressão que os juízes se comportaram como bons pais para com a educadora e argumentaram emocionalmente em desfavor da criança tal como fazem maus pais.
Ama verdadeiramente e então podes fazer o que quiseres!

António da Cunha Duarte Justo
Pedagogo e teólogo

António da Cunha Duarte Justo
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As Relações entre os Estados Unidos da América e a Europa – Dois continentes num só destino!

O que a Europa deveria aprender da América e vice-versa
O Medo da Guerra leva à Guerra do Medo.Nada fácil o papel dos Estados Unidos da América no Mundo. Nos países árabes os EUA são vistos como o reino do diabo, na América Latina e na África como opressores; na Europa como rivais e imperialistas. Apesar da Alemanha ter sido libertada e economicamente apoiada pelos americanos verifico no povo e nos alunos grande afectação contra os americanos e grande aversão contra Busch.
Naturalmente que Busch não ajuda nada a desfazer preconceitos e os media só espalham o problemático. Dá-se uma instrumentalização de Busch para efeitos políticos internos e um aproveitamento político do terrorismo, mediante uma explicação mono-causal que apresenta os atentados apenas como consequência da política americana. Com Ângela Merkel no governo talvez o clima se mude um pouco.

Identidade nacional à custa da promoção de preconceitos?
A identidade europeia não pode ser fomentada à custa da promoção de preconceitos contra os americanos. Esta necessidade de identidade europeia, os exageros do governo de Busch e o azedume duma esquerda que viu derrubados os seus sonhos do real-socialismo parecem justificar a aversão propagada contra os EUA. A coligação Verdes/SPD alemã alimentava-se da aversão contra a administração americana ao querer ganhar perfil perante a oposição e perante os países europeus. Em contexto de coligações internacionais de futuro seria miopia para os estados europeus e para os USA uma política rival.
No povo, quase toda agente se sente perita em questões americanas atribuindo todas as atrocidades a Busch no Iraque ou à sua guerra contra os terroristas. A referência às atrocidades de Saddam Hussein que, entre outras, mata, com armas biológicas, 5.000 curdos em 1988 é referida à margem e contra a vontade. (Naturalmente que a guerra nunca é justificável! Nem a do Cossovo nem a do Iraque!). Por outro lado conduzem a argumentação sem referência aos terroristas como se estes fossem pobres diabos que agem em legítima defesa; conduzem a discussão como se vivêssemos num espaço vazio sem necessidade de dar resposta para a solução dos problemas.
Islamistas resolvem todos os problemas internos atribuindo a culpa ao Ocidente. Sentem-se cronicamente ofendidos pelo mundo ocidental. Nunca se viu, porém, que a Umma se pronunciasse contra o barbarismo nas suas fileiras, nem aplicasse penas justas aos autores de atentados. O ignorar estes e outros factos na argumentação justifica indirectamente o terror.
Para contrabalançar tanta agressão contra os agressores agredidos, vou mencionar, neste texto, aspectos esquecidos e que nos podem levar a uma discussão mais equilibrada sobre os americanos. Sou do parecer que os grandes destinos da Europa para se tornarem realizáveis estão condicionados a uma estreita relação e colaboração americano-europeia e a uma redescoberta da filosofia e da tradição dos valores judaico-crisãos.

A Quarta Guerra Mundial
A 9.11.1989 deu-se a queda do muro de Berlim depois duma revolução pacífica no seio de alguns povos do leste europeu. Com este acontecimento dá-se o fim da terceira guerra mundial que foi a guerra-fria. Com o desfazer-se da cortina vermelha encerra-se propriamente um século violento, mesmo brutal na Europa e esvanecem-se ao mesmo tempo os sonhos do socialismo marxista, o que provoca, por outro lado uma grande instabilidade mundial. Por toda a parte surge então o fenómeno da guerrilha armada e intelectual. Dos antigos dois blocos resta apenas os EUA como centro de referência para a guerra e para a paz.
Enquanto que a Europa, para já, se encontra pacificada a nível regional, a América encontra-se desde 11.09. 2002 em guerra, devido ao traumático atentado às suas torres, símbolo do poder ocidental. Com o 11 de Novembro começou a quarta guerra mundial. (1)
Os Americanos desejam que os Europeus se tornem aliados de guerra contra o terrorismo. A Europa vivendo já as consequências da guerra cultural no medo e na contenção da opinião, apesar dos atentados de Madrid e de Londres prefere não falar de guerra, prefere a incerteza e a ingenuidade do não saber. Domina ainda uma atmosfera criada pela geração de 68 que legitima, em grande parte, tudo o que leve a desestabilizar a civilização ocidental.
A América plural consegue ser um país de consenso, ao contrário da Europa. Na América não há oposição contra o orçamento para a defesa que é o maior. A nação é orgulhosa da sua potência. A experiência dos Estados Unidos, depois das guerras, foi, duma maneira geral positiva. Na Europa, a experiência, depois de tantas guerras sangrentas, é contrária. A cultura da recordação bélica está muito presente, em especial a das duas primeiras guerras mundiais. Estas tornaram a Europa depressiva, insegura, desorientada e descrente. Estrategicamente continua encostada aos Estados Unidos da América mas na alma dividida entre socialismo e capitalismo. Se a América vive voltada para o futuro a Europa vive voltada para o passado. Se a cultura americana é uma cultura de esperança, a cultura europeia cultivada na praça pública é uma cultura do medo, da culpa e do ressentimento. A Europa cada vez se distancia mais da tradição universalista judaico-cristã.
A América permaneceu uma nação religiosa. Religião e liberdade andaram sempre de mãos dadas; nunca houve uma religião de Estado, também nunca houve o laicismo nem o anti clericalismo. Nos USA as religiões, comunidades religiosas, vivem na e da concorrência, tendo cada uma que se esforçar pelas graças dos seus clientes. À sexta-feira os parques de estacionamento estão cheios à volta das mesquitas muçulmanas; ao Domingo dá-se o mesmo nos parques ao lado das igrejas cristãs. A emancipação dá-se com a religião. Ao contrário na Europa o movimento de emancipação deu-se contra a religião e contra a igreja. De lembrar as lutas jacobinistas na Europa, o laicismo e as lutas religiosas. Nos Estados Unidos há uma separação institucional entre Igreja e Estado mas na vida as pessoas são religiosas. Na Europa, a sociedade livre é de maneira geral materialista agnóstica, ateia ou militante contra o cristianismo. Tenham-se presentes os objectivos dos iluminados da revolução francesa. Na USA há uma consciência religiosa civil. Todos os seus presidentes eram religiosos, enquanto que na Europa ministros da esquerda se negam a aceitar a referência a Deus no acto de juramento (ex. Chanceler alemão Schröder). A Europa tem uma identidade mais instável. Aqui sociedade civil e sociedade religiosa concorrem em vez de darem as mãos.

A Reeducação dos Povos no Sentido da Democracia
76% dos americanos deseja ver a América na chefia do mundo. Os americanos vêem a liberdade como uma oferta de Deus e sentem-se orgulhosos pela sua democracia que é o centro de atracção de pessoas de todo o mundo e um exemplo da convivência de raças e religiões sob a identidade americana. Assim têm uma relação positiva e gratificante com o sentimento patriótico. Os americanos querem liberdade, prosperidade e bem-estar para todo o mundo. Esta deve ser alcançada através da democracia em todo o mundo. As democracias não fazem guerras umas às outras! São contra o fascismo islâmico e contra as monarquias autocráticas. Embora geneticamente não tenhamos sido criados para sermos democratas os americanos acreditam na reeducação, e sentem-se confirmados com o sucesso obtido na reeducação do povo alemão. Querem exportar a democracia como os portugueses queriam exportar o cristianismo para as novas terras a descobrir.

Política de Imigração Inteligente nos USA
Enquanto a América continua a crescer em termos económicos e de população, a população europeia diminui e duma maneira catastrófica. Enquanto que a América recebe os imigrantes de países cristãos, sem problemas de identidade, a Europa recebe os imigrantes dos países islâmicos, tornando a sua identidade cada vez mais instável, atendendo que estes não se tornam europeus.
A América é uma sociedade de proprietários. Aí os imigrantes integram-se. 48% dos latinos têm casa própria e os chineses têm quase a mesma percentagem de casas como os americanos.
A emigração para a Europa é, em grande parte, uma emigração para as instituições sociais ou para serviços desqualificados, criando a concorrência a nível das camadas mais baixas da sociedade. Aqui a burguesia é a única que é servida com a imigração, podendo usufruir de criadas de servir baratas, de clientes nos consultórios médicos e nos consultórios dos advogados; com a imigração também os assistentes sociais e os professores têm mais lugares de emprego. Não há uma consciência de nação. Os partidos conduzem um discurso mais partidário do que nacional. Enquanto que uma direita está mais interessado na assimilação a esquerda fomenta mais uma política do gueto baseada na defesa de direitos de culturas estrangeiras à custa dos direitos individuais. (Um exemplo: na Alemanha as meninas muçulmanas são dispensadas de aulas de ginástica pelo facto de estas serem mistas). A imigração também é instrumentalizada como compensação duma política anti-família. Uma ideologia internacionalista, aliada aos interesses imediatos capitalistas, usaram-se dos imigrantes para os seus fins económicos ou ideológicos. Uma esquerda sonhadora ressentida contra a nação apaixona-se pelos estrangeiros na praça pública mas deixando-os sozinhos na vida, entregues à família e a quem aparecesse. Não estavam interessados em cidadãos mas sim em clientela. Irresponsáveis fomentam e defendem uma imigração de forma descontrolada. Em vez de apoiarem os imigrantes individualmente ou de seguirem uma vocação de solidariedade internacional com a camada proletária, mediante a transferência de capital e tecnologia para os países pobres ou exploradores de pobres ajudam a estabilização de regimes injustos dando guarida a incómodos ou a pobres desses países. Por um lado ajudam incondicionalmente os regimes a oprimir o povo com o apoio e a venda de tecnologia e por outro, para disfarçar a culpa fomentam o refúgio a exilados. (Recordem-se os apoios alemães e franceses com a venda de tecnologia, até bacteriológica que Hussein empregou para liquidar o povo curdo, por outro lado recebem-se de braços abertos os curdos perseguidos). Numa Europa em que os partidos não têm um sentimento patriótico aberto mas ideológico como querem os mesmos políticos que os estrangeiros se identifiquem com a nação? Um contra-senso, uma hipocrisia! Na América há uma multicultura que funciona. Lá os políticos dos vários partidos primeiro são americanos; só depois são republicanos, sociais-democratas, etc. Neste ambiente um latino sente-se latino com identidade americana. Todos os povos imigrados, mesmo os irlandeses e alemães se integraram. Na Europa é urgente a intercultura e não a multicultura, atendendo à realidade europeia com uma cultura da luta cultural (Kulturkampf).
Um dos fundamentos do progresso americano é o seu espírito criativo e religioso
A América cada vez está mais conservadora e afirma-se no cultivo de valores conservadores que a mantêm à frente do mundo. (Uma espécie de meio-termo num mundo retrógrado!) É interessante que um país conservador faz mais pelo progresso do mundo e dos povos do que os apologistas de políticas proletárias e do que os países do real-socialismo falido. Parece estranho mas na América o aborto é considerado assassínio. O democrata Clinton fala da tragédia do aborto. Se a mulher diz que a barriga é dela, então o Estado não a protege. É curioso que o presidente Busch tenha tido mais votos dos pretos e mais votantes católicos do que o presidente católico (Clinton). O aspecto religioso dos americanos torna-se visível na sua orientação para o futuro. Ninguém se envergonha de estar desempregado. Por outro lado a economia de mercado americana é mais viva do que a europeia. Os americanos são mais anárquicos. Ao contrário dos europeus os americanos vêm o governo do Estado como uma parte dos problemas e não como sua solução. Até 2040 as caixas de reforma contam com saldo positivo enquanto que na Europa, devido ao envelhecimento da população, se conta com grandes problemas; na Alemanha já querem a reforma a partir dos 67 anos e daqui a 20/30 anos a reforma passará a constituir apenas 45% do ordenado regular!
Aos Europeus falta-lhes o realismo: os políticos europeus já fazem festa quando verificam que o seu avião com patente europeia consegue voar!…
A Europa tem naturalmente uma via mais pacífica e mais social para as camadas sociais mais carenciadas. O caminho porém terá que passar pela restituição da alma europeia ao povo europeu. Um povo sem alma perde a sua identidade e destrói-se com o tempo. Não chega só viver o dia a dia nem o ressentimento relativamente ao passado, para se dar resposta às necessidades dum povo. O povo precisa de pão e dão-lhe ideologia. Também não é necessário que todos se confessem anualmente ou que vão à Igreja aos domingos. Importante é que descubram a sua dignidade de povo digno, de homens livres e não de escravos seja de qual ideologia for, seja de que poder for. Na sociedade cristã não pode haver escravos, só há filhos, só há irmãos; ela não conhece apenas os sócios, os camaradas, os parceiros accionistas; todos são próximo. Todos fizeram erros, igrejas, estados, ideólogos e políticos. Não se trata de dividir valores ou de os marralhar. Todos são necessários numa Europa reconciliada a construir numa tentativa de nos tornarmos mais Homens, mais sociedade, diria mesmo uma comunidade, uma comunidade de vida partilhada a todos os níveis, no respeito pelas ideias e formas de vida.
A Europa só tem hipótese no futuro seguindo o caminho da reconciliação entre o povo europeu e o americano. O problema é que algumas potências europeias ainda se dão ao devaneio de cultivar o anti-americanismo, motivo de orgulho e galhardia que não passa de miopia. O que é preciso é um diálogo crítico mas convergente. O SPD e os Verdes conseguiram ganhar consecutivamente duas vezes as eleições na Alemanha com propaganda anti-americana. Uma estratégia de auto-afirmação e de construção da própria identidade numa atitude antagónica perante os outros, ou na reacção do contra não é digna da herança judaico-cristã. Aqui tem dado bom exemplo a Polónia que não tem tido medo de se declarar amiga dos americanos, o que não implica abdicação da crítica. Os europeus são demasiadamente fracos para se poderem colocar à mesma altura nas relações de diálogo em mesa redonda com os americanos. Por outro lado são demasiado orgulhosos para seguirem o mesmo caminho. Os europeus não querem ser os polícias do mundo, querem apenas o proveito. O sub-servilismo europeu tem a ver com a sua dependência do petróleo obrigando a Europa a engolir cobras e lagartos nas relações com os árabes. Os americanos têm uma relativa independência do petróleo e são um povo jovem. Os europeus atormentam-se também com a má consciência no que respeita ao colonialismo. Qualquer discussão séria actual, na falta de argumentos, não abdica da difamação do passado europeu, aterrando sempre nas cruzadas ou no colonialismo. Perguntai a qualquer criança algo importante sobre a história. Não saberá! Em compensação não faltará um saber emocional sobre bruxas, as crueldades só dos cruzados e as barbaridades dos descobrimentos e colonizações. Enfim, a História ao serviço de ideologia contra a nação e contra o pensar judaico-cristao. A nação precisa mais de patriotas do que de ideologias. A luta contra o fantasma da Nação deveria já estar superada com umas aulitas de história sobre a época do absolutismo e das lutas liberais e sobre a guerra-fria entre o socialismo e o capitalismo.
O significado da luta das culturas
O terror islâmico constituirá o problema comum dos próximos quarenta anos (depois virá a China!). Ele é mais que a guerra dos pobres. Na Europa surgirão grandes problemas sociais atendendo a uma política irresponsável para com as camaradas jovens, à ingenuidade de camaradas e companheiros e a um turbo-capitalismo desumano. Uma contradição: este turbo-capitalismo global fará, porém, muito mais pelos povos pobres do terceiro mundo do que todos os programas de ajuda ao desenvolvimento que até agora se praticaram.
Os europeus andam à deriva seguindo o espírito da época. Mais nacionalistas que patriotas as nações europeias encostam-se à Europa, não por convicção mas por razão. Inclinados ao moralismo, invejosos do pragmatismo americano inclinam-se mais ao discurso elitista irreal na desconsideração de tudo o que é povo, falando embora em seu nome.
O problema do futuro para os americanos e para os europeus será o desenvolvimento da China que se arma cada vez mais podendo tornar-se potenciais parceiros ou adversários. Uma via possível do futuro não poderá continuar a ser a via dialéctica, a divergência entre as culturas, a rivalidade entre a Europa e a América, mas sim a via da convergência, da mística. A força judaico-cristã com a sua capacidade integradora e de aculturação poderá, numa nova redescoberta que passará pela mística, tornar-se a força motriz desta civilização, actualmente tão sem alma, sem um tecto transcendente. Então as nuvens negras que se descortinam no horizonte dissipar-se-ão e talvez a quarta guerra mundial se dissipe como a terceira, acabando-se então com os muros das culturas, como se acabou com o muro de Berlim.
Como mãe sem pai a Europa orienta o diálogo e os americanos fazem a política. Dialogam e oferecem conversações mas não têm nada para oferecer.
Os EUA e a EU terão que se unir no esforço duma política de normalização como foi feito com a União Soviética nos anos setenta. Só assim a guerra-fria das culturas poderá ser superada. Europeus e americanos têm de se tornar conscientes do seu papel civilizador no mundo. Uma cultura em que todo o ser humano passa a ser próximo e não rival.

António Justo
a.c.justo@t-online.de

(1) Esta guerra de culturas durará até que os países islâmicos dêem um grande passo em frente no desenvolvimento da sua sociedade, tal como aconteceu com a Europa no século 16. O humanismo Islão será provocado pelas classes intelectuais dos muçulmanos da diáspora, pela democratização do ensino nos países árabes, por uma certa independência dos países do ocidente, mediante uma política de promoção de energias alternativas ao petróleo. A verdadeira revolução islâmica será então levada a efeito pela mulher que acordará da longa letargia e obrigará a cultura árabe a reconhecer a mulher, a mãe-terra e assim criar um equilíbrio entre o princípio masculino e o princípio feminino. À sobra das lutas culturais entre a cultura ocidental e a muçulmana a China crescerá e afirmar-se-á. A Rússia entre a Europa e a China terá um grande papel nos desígnios do futuro.

António da Cunha Duarte Justo
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