“VATICANO” DOS MUÇULMANOS ISMAELITAS EM LISBOA

O Imamato Ismaelita é liderado por Aga Kahn

Por António Justo

A sede mundial Ismaelita (Imamat Ismaili), que em Portugal é representada pela Fundação Aga Khan, “vai ser no palácio onde hoje funciona parte da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa”, vendida pelo “Governo Geringonça” de Costa por 12 milhões de euros, livres de impostos. Pelo acordo assinado entre o Estado português e o Imamat Ismaili, a rede Aga Kahn terá em Lisboa a sua sede mundial com um estatuto semelhante ao do Vaticano na Itália.

Aga Khan, título religioso do actual imam Xá Karim Al Hussaini, é o líder muçulmano de 20 milhões de xiitas Ismaelitas Nizaris espalhados em 25 países, principalmente na Índia, Paquistão, Afeganistão, Tajiquistão, Síria, Iémen, Irão, Omã, Bahrein e no leste da Turquia; em Portugal vivem 8.000 ismaelitas Khoja (India, Moçambique). Karim Aga Khan IV é descendente (não comprovado) de Maomé; é o 49º imam nizari e pretende ser a avant-garde no Islão. Os ismaelitas procuram ser em todo o lado a “avant-garde do progresso” embora nos seus antepassados se encontrem os Assassinos, os modelos dos jihadistas homens-bomba de hoje. Nizaris -Ismailis eram conhecidos na Europa da Idade Média como Assassinos (homens das adagas, haxixe, na tradição romana dos sicários, “ascensor asini”, e outros vêem o termo Assassin derivado do árabe “asas” que também é empregue na maçonaria no sentido de Assis, “guardiões „ da herança, guardiões dos segredos, etc.).

Os ismaelitas confessam o testemunho islâmico da chahada de que “Não existe nenhum outro deus senão Alá e Maomé é o Seu profeta” e o Corão como palavra eterna de Deus.

De mentalidade moderada querem um islão socialmente empenhado (escolas, hospitais, etc. e ajudam os lavradores e comerciantes a organizarem-se concedendo créditos através dos seus bancos). A revista de negócios americana “Forbes” elogia o Aga Khan como um “Venture Capitalist para Países em Desenvolvimento”. Uma estrela da alta sociedade que consegue unir a ideia do islão à modernidade. Aga Khan é um homem esperto que aposta no negócio, o grande factor que arrasta a educação, a mundivisão e o progresso.

Os ismaelitas crentes, que podem, cedem, 10% do seu ordenado, à Fundação Aga Khan. Nazim Ahmad é o representante da rede Aga Khan em Portugal. Rahim Firozali Ahmad é o director-geral da empresa de seguros Combined Insurance em Portugal. Como é comum entre muçulmanos, têm um grande espírito de cooperação e de solidariedade entre os membros da própria religião. Na Fundação Aga Khan em Portugal, e no Centro Ismaelita de Lisboa trabalham 600 ismaelitas gratuitamente.

O gordo título da notícia “Acordo milionário para Portugal” da VISÃO de que fora assinado o “acordo entre o Estado português e o Imamat Ismaili trará para Portugal investimentos de centenas de milhões de euros” não será tão cândido como parece. Contudo, a necessidade obriga, o ouro encanta e o sucesso económico convence!

Aga Khan, o papa dos ismaelitas, tem uma fortuna estimada, no mínimo, em dez mil milhões de euros; ele é um dos principais accionistas de vários grupos internacionais, incluindo Grupos Fiat e Lufthansa e também é dono de bancos, jornais, minas de pedras preciosas, companhias aéreas, raças de cavalos e cadeias hoteleiras; está bem especializado no management mundial e pretende forjar novos pensadores e representantes de um Islão esclarecido. (Contudo haverá suspeitas de membros da religião financiarem grupos terroristas).

A Aga Khan Foundation (Fundação Aga Khan) é uma organização não confessional, uma organização de desenvolvimento não-governamental, que foi fundada em 1967 por Karim Aga Khan IV na Suíça e tem filiais em 15 países para a promoção especialmente na Ásia e na África Oriental. Como homem versado e inteligente sabe que a arte é um meio privilegiado para se criar ouvido e aceitação; por isso investe também em museus e eventos de arte.

Como outras organizações de cooperação para o desenvolvimento, a Fundação Aga Khan, com o seu corpo diplomático, arranja acordos de parceria (1) entre países desenvolvidos (2) e países subdesenvolvidos ou emergentes. Os países desenvolvidos precisam de mediadores para efectuarem o pagamento dos dinheiros que cada país disponibiliza em apoio dos países subdesenvolvidos. A Fundação Aga Khan é a maior organização de desenvolvimento privada do mundo. A sua empresa ganha por ano mil milhões de euros.

Aga Kahn conseguiu de Sarkozy a isenção de impostos na França (em particular imposto sobre o rendimento) e terá, para isso apoiado financeiramente Sarkozy, aquando da sua propaganda para as eleições.

Os ismaelitas são fundamentalmente uma elite religiosa e inteligente que se dedica sobretudo ao comércio, advocacia, engenharia, medicina e imobiliário; A instituição religiosa tem direito de imunidade e isenção de impostos. Gostam da discrição e cultivam o segredo, tal como a maçonaria. Em https://www.publico.pt/sociedade/noticia/ismailitas-a-elite-muculmana-da-diplomacia-e-dos-negocios-1728365 pode ler-se muitos pormenores sobre o grupo discreto que se apresenta de rosto brilhante vindo do capital. Expressam uma forma pacífica e diplomática do Islão.

Um problema fundamental nas relações com entidades muçulmanas está o seu princípio da Taqiyya (“Engano e ofuscação”) dos não crentes como método da diplomacia. O Islão é uma fé, um modo de vida e um movimento para a criação de ordem islâmica no mundo. Esperemos que Aga Kahn, se torne de facto, contra a tradição islâmica num islão moderno e aberto.

Nos tempos que correm Aga Kahn parece ser um homem que reconhece os sinais dos tempos e os grupos de interesses que os lideram.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do tempo

  1. Também fazem negociações com os Ministérios do Desenvolvimento dos países dadores e os governos dos países recebedores a cooperação em projectos de desenvolvimento industrial e de infraestruturas. As empresas e mediadores envolvidos nos negócios entre parceiros doadores e recebedores conseguem grandes lucros, dado estes negócios envolverem grandes empresas e empreendimentos geralmente de milhões.
  2. Por trás desta ajuda económica a países emergentes encontra-se também o interesse dos países doadores criarem novos mercados para as próprias exportações a nível militar, económico, político, etc.) e países que recebem apoio para o desenvolvimento por países dadores, para cooperam com países desenvolvidos em projectos de desenvolvimento dos quais também usufruem.

ATÉ À VISTA NO ALÉM

A Consciência humana é infinita

Por António Justo

A experiência da quase-morte (ou EQM) e do depois-morte (EDM) são uma constante histórica testemunhada nas diferentes culturas. No evangelho de Marcos, capítulo nove, é narrada a experiência do depois da morte, uma nova maneira de ser para além do estar, e na segunda carta aos Corintos, capítulo 12, Paulo descreve a experiência da quase-morte, isto é, uma experiência fora do corpo em que a consciência (alma) se revela sem limites por participar da infinidade divina.

A morte não tem a última palavra a dizer, como se vai constatando também na investigação científica que, cada vez mais, se dedica ao estudo dos fenómenos em torno da morte. A experiência, com moribundos ou com pacientes em coma, motivou médicos e outros cientistas a investigar as causas e o significado desses fenómenos: presença de um “ser de luz”,  “emancipação da alma”,  “experiência fora do corpo”,  “desdobramento espiritual”, “contacto com o além”,  “aparelhos imobilizados”, etc..

A crença materialista científica, das ideologias do século XIX, agora também posta em dúvida pela física quântica, começa a abandonar as cercas da sua certeza, para admirar o que se estende para lá delas. Perante o resultado de estudos feitos, vão deixando de se fixar na qualificação de tais fenómenos apenas como alucinações causadas pela falta de oxigénio no cérebro. No passado, muitos cientistas tinham medo de manifestar as suas experiências para não serem ridicularizados ou para serem conformes ao credo da ciência materialista. Charles Chaplin dizia “Não creio em nada e de nada descreio. O que concebe a imaginação aproxima-nos tanto da verdade como o que pode provar a matemática”! De facto, a experiência do inefável (Deus) deixa de crer para saber, sem poder provar a vivência, porque esta é acontecer.

A consciência do ser humano existe independentemente do cérebro

Segundo a visão materialista, com a morte cerebral deveria morrer a consciência de ser. Muitos cientistas da medicina e da biologia chegam agora à conclusão que a consciência humana não se extingue com o apagar-se do corpo mas que continua a existir.

Raymond A. Moody, psiquiatra e filósofo investigou sistematicamente o que acontece depois da morte clínica; o mesmo se diga da psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross e de muitos outros. Eben Alexander descreve agora o que experimentou depois do cérebro deixar de funcionar. Uma experiência que pode tornar-se numa luz para quem só está habituado a avistar a matéria.

Eben Alexander, especialista do cérebro, esteve 7 dias em profundo coma com uma grave meningite bacteriana com uma chance de sobrevivência de 3% mas apenas como gravemente incapacitado. Sem funções cerebrais activas teve, apesar disso, a experiência extracorporal de uma consciência sem limites (Livro “Prova do Céu“). Neste estádio encontrou também familiares desconhecidos que depois veio  a conhecer e familiares falecidos e amigos. Passados sete dias aconteceu o impossível na medicina: o neurobiólogo regressou da visagem com novas forças e experiências. Eben Alexander teve a experiência de que a consciência humana existe independentemente do cérebro.

Não há que ter medos. Deus é maior que as nossas morais aritméticas e do que os nossos conceitos e ideias de justiça. No fundo do túnel escuro a luz brilha em ti para te incrementar o sentimento de segurança, amor e felicidade, a experiência do antes e do depois num presente eterno.

Conclusões possíveis de tirar com base também nas novas investigações: pensar a vida a partir do fim, a partir do nós, do outro. A morte só é uma estacão, no caminho para Deus, onde a infinidade eterna se torna o espaço da nova consciência. Morte e vida, Deus e materialidade encontram-se resumidos em Jesus Cristo e no mistério da trindade!

O amor é o laço que une para lá da morte e que permanece na nova maneira de ser para lá das finitudes temporais. O amor é o folgo de Deus em tudo e em todos, a relação que mantém também o cosmos.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

 

MULTA POR INSULTO NO FACE BOOK

 

Um turco, na Alemanha, foi condenado a pagar 600 € por ter designado de “Puta” à deputada Dagdelen. Um outro foi condenado a pagar 700 € por ter chamado “Filho da Puta” ao chefe dos Verdes, Özdemir.

 

Um tribunal de Berlim impôs multas a pessoas que insultaram no Face Book dois deputados alemães de origem turca que tinham aprovado no Parlamento uma resolução que qualifica a liquidação dos arménios pelos turcos como holocausto.

A Internet não é um espaço isento de Direito! Por vezes causa tristeza lerem-se tantos insultos contra pessoas que pensam de forma diferente. Em vez de argumentos assiste-se muitas vezes a sentenças proclamadas do alto tribunal da opinião armada em tribunal de última instância!

Este e um assunto que mereceria uma profunda discussão. Há que conciliar os direitos da Liberdade de expressão com o da Dignidade humana! Um outro ponto de discussão a ter-se em conta seria o problema de um Estado que se intromete cada vez mais na esfera que pertenceria ao foro privado.

O RESPEITO pela dignidade humana e o RESPEITO pela liberdade de expressão! Dois valores que actualmente se usam um contra o outro!

António da Cunha Duarte Justo

 

MULTA PARA IMAMES QUE EFECTUEM CASAMENTOS COM CRIANÇAS

O jornal ZEIT informou que, uma iniciativa do Ministério do Interior dirigida ao governo federal alemão e ao Grupo de Trabalho dos estados federados, prevê uma multa a pregadores islâmicos (imames) que realizem casamentos de menores de idade.

Imames não poderão efectuar rituais de casamento de menores de idade, nas mesquitas. A proposta de lei a discutir prevê multas até mil euros.

Na sociedade ainda se encontram muitos costumes de povos e culturas que são colocados acima dos direitos humanos consignados na Constituição. O casamento com menores é um abuso da personalidade humana e dos seus direitos. É estranho que uma sociedade se preocupe tanto com a não discriminação e menosprezo através de palavras, insurgindo-se contra expressões como Zigeunerschnitzel (costeleta cigana) e por outro lado não elabore leis que proíbam em princípio a exploração sexual de crianças tolerando o casamento antes dos 18 anos.

 

O problema agudiza-se pelo facto de nas mesquitas se realizarem casamentos à margem da lei. Muitos realizam o casamento religioso islâmico mas não efectuam o casamento civil alemão para deste modo poderem usufruir de apoios aos estudos ou sociais que veriam reduzidos se vivessem num agregado familiar e não tivessem domicílio independente.

 

António da Cunha Duarte Justo

A IDADE DIGITAL INICIA A ERA PÓS-FÁTICA – O SENTIMENTO É QUEM MAIS ORDENA

Coisas da Democracia: Trump ganha e Democratas queixam-se da Democracia

António Justo

O dia das eleições é aquele em que todos os cidadãos são iguais. No dia seguinte volta-se à divisão dos grupos de interesses do costume, na disputa do terreno público: os que ganharam e os que se sentem com direito a ganhar. Por vezes é custoso aceitar que em democracia quem ganha tem razão, embora nela a verdade seja sistémica, encontrando-se repartida e disseminada por diferentes grupos de interesse.

Uma sociedade de franco-atiradores abandonada a si mesma

O estado da nossa democracia é cada vez mais amedrontador, numa sociedade provocada que provoca também; as pessoas cada vez se sentem mais desamparadas e sem fala, não se sentindo em casa na própria terra. A desilusão é tanta que, como na América, as pessoas, sem alternativas válidas, já chegam a agir segundo o mote: “mal por mal Marquês de Pombal”. Nos EUA o povo elegeu Donald Trump, não por causa das suas expressões sexistas e xenófobas mas porque o sofrimento e a falta de esperança que sente é tal que os levou a elegê-lo apesar disso..

Não chega rejeitar o discurso do medo, do ódio, da intolerância e da cisão; é preciso iniciar-se uma cultura que não se fique pelo discutir das causas que deram razão a Trump mas que provoque a mudança de atitude e de agir da classe política dominante.

Elites arrogantes incapazes de notar os sinais dos tempos

Os comentadores do mundo já não entendem o que se passa; por isso preferem ficar-se pela coutada que os favorece. No discurso público é comum a arrogância dos que, na falta de argumentos, explicam os fenómenos declarando de estúpidos e populistas quem representa interesses que não os seus. Os eleitores de Trump são declarados bobos e parvos como se não soubessem o que fazem e o que querem nem tivessem direito a defender os seus interesses e a Democracia também não lhes pertencesse. Trump mobilizou os sentimentos dos que geralmente se calam porque não têm oportunidade perante os grupos de interesses da arena política; os Mídias usaram a mesma técnica de Trump ao apelarem aos sentimentos negativos das populações contra Trump em vez de analisarem o que estava por trás da sua posição em relação ao globalismo e à responsabilidade mundial a assumir pela Europa. Não souberam ver que Trump é o símbolo de uma nova época que se anuncia e como tal trará consequências positivas e negativas decisivas para a Europa e para um mundo mais complicado e difícil. Assistimos à sabotagem da opinião pública e, de repente, o povo espectador sente-se desenganado por uma realidade não propagada e como tal não esperada.

Chega-se a ter a impressão que os usuários do sistema político e económico europeu, habituados a viver reconfortados, sem grandes perturbações sob o mandato do pensar politicamente correcto da esquerda, se aproveitam de Trump para fomentar os seus preconceitos contra os americanos ou para indirectamente atacarem uma democracia não forjada à sua imagem e semelhança. O mesmo já se viu na discussão sobre o Brexit! Em vez de analisarem as causas do terremoto americano de que enfermam também, as elites europeias, optam por criticar e difamar o eleito e quem o elegeu e com a sua falta de discernimento serrotam o próprio galho em que se encontram. A própria presunção leva-os a difamar, como inimigos da democracia, outros grupos de interesse surgentes que se organizam, como eles, democraticamente. Preferem falar da maléfica atitude de demagogos do que da própria má vida e da corrupção que é o húmus da demagogia. Esquecem que quando apontam um dedo para os outros têm pelo menos três a apontar para si.

Na era digital o sentimento popular é quem mais ordena

O maculado Trump inicia a derrocada do sistema estabelecido e é um aviso à corrupção das elites dos países da União Europeia que nadam em ideologias e em dinheiro e cada vez deixam mais população a nadar no charco.

Trump é realmente um fenómeno, até qui inédito em democracias consideradas adultas, dado ele ser expressão da nova idade digital que inicia a era pós-fática. Nesta era, como podemos verificar nos resultados das eleições e na opinião pública europeia, o sentimento é quem mais ordena! O sinal de que há uma desfasamento e até contradição entre os interesses ideológicos e económicos  estabelecidos e os do sentir do tempo popular, deduz-se também do facto das empresas das novas tecnologias terem apoiado a campanha de Clinton com 35 milhões de Dólares e a de Trump com 300 mil Dólares!… A mesma contradição parece haver numa política até aqui considerada racional afirmada contra as razões de uma política também sentimental..

A discussão pública parece querer ignorar que vivemos numa sociedade em luta e repartida entre os diferentes grupos de interesses, vivemos numa sociedade formada de grupos de interesse a viver uns dos outros e de uns contra os outros; até agora temos vivido em democracias de pensamento bem penteado mas bem divididas entre os que vivem ao sol e os que vivem na sombra: os lá de cima e os cá de baixo. No meio de tanta poeira no ar os beneficiados do sistema nem notam que a democracia já legitima as barbaridades (ordenados horrendos de banqueiros, futebolistas, benefícios vitalícios de políticos, etc., se comparados com os salários mínimos e depois vêm falar ao povo de moral, de justiça e de decência) que condena em regimes autocráticos e antidemocráticos. Desta vez o povo perdedor do sistema, ao ir às urnas, demonstrou que o que se sente também faz parte da realidade. Os sentimentos criaram um facto: Trump como presidente, um homem que pensa através do corpo e da nação e como tal não tão puro como o quereriam formatadores elitistas que só conhecem a realidade filtrada pelos interesses do seu pensamento, que não parece comportar o conhecimento da dinâmica de causas e efeitos; querem tudo menos reformar o próprio sistema; tocar nele significaria autenticidade e a própria renúncia a privilégios, que se tornaram em verdadeiros atentados à democracia e ao bem-comum (em nada inferiores aos das elites do passado e que têm a descaramento de criticar).

Actores sem remorsos produzidos por uma elite sem vergonha

Trump ergueu-se, da parte sombria, num horizonte dominado por raios e coriscos, e confessou querer defender os interesses dos USA, os interesses dos conservadores, os interesses individuais, os interesses de grupos a viver na precaridade. Usou de uma retórica agressiva e discriminadora, mostrou, sobretudo a sua face narcisista imprevisível e deste modo dividiu emocionalmente uma nação politicamente já dividida. Trump não sentia remorsos de consciência ao revelar-se como discriminador de grupos porque se sabe num regime que discrimina mas se branqueia e legitima atrás da maioria. Como pessoa entendida em questões de poder afirmou querer defender os interesses da América e nesse sentido querer domar a globalização e analisar os acordos internacionais para ver em que medida servem a América. Conseguiu juntar a si o grupo dos perdedores de uma globalização que não respeita a pessoa, a cultura nem a nação. Tocou o nervo da maioria da população insatisfeita do mundo ocidental. Tem duas coisas que o não ajudarão: o seu caracter impetuoso e o partido republicano dividido em dois. (Se não se acautela ainda o matam antes de tomar posse como presidente. Tanto é o medo de ideologias e economias que se sentem ameaçadas com o pouco que disse de relevância política).

O descontentamento brada aos céus num firmamento nublado

Os mantedores do sistema dominante encontram-se desapontados. Parecem ignorar que na luta não se limpam armas e menos ainda na era digital e que depois da luta tudo vai ao duche e se apresenta asseado. Trump usou na sua retórica os princípio que parecem orientar grande parte da política estabelecida: os fins justificam os meios; na luta vale tudo, só depois vêm os argumentos! Desta vez a maioria silenciosa teve uma efusão de alegria perturbadora das minorias detentoras do sistema. No dicionário da classe estabelecida só parece haver lugar para a linguagem erudita, sem lugar para a linguagem sentimental do calão ou da linguagem considerada populista. Trump, soube verbalizar o descontentamento de muitos que com a globalização se sentem expropriados embora na América só haja cinco milhões de desempregados, o que não é nada em comparação com o desemprego na Europa.

Independentemente dos defeitos de Trump, ele tornou-se no contestador da corrupção do regime político que nos governa. Depois de uma campanha dolorosa fez-se sentir a voz da maioria silenciosa e daquela parte da população que também na Europa não se atreve a manifestar a opinião para não se expor e não ser tachada de populista ou para não ser prejudicada na carreira. A arrogância do pensamento das elites europeias parece não deixar espaço para poderem compreender o aviso americano ao quererem reduzi-lo a uma questão de populismo, a uma onda de emoções que passam e se expressam num homem desvairado. Esta arrogância cega de representantes do sistema não deixa sentir os novos ventos que correm e, por isso, persistem em querer manter o espírito na sua garrafa, e também o monopólio da interpretação que não ouve o clamor interno nem o medo dos pequenos cidadãos; estão mais preocupados nos deslizes de Trump do que nos motivos dos suspensos do sistema que o elegeram. Corrijam-se os erros do sistema para pessoas como Trump se tornarem supérfluas. Em Trump, um homem que vem das elites, assistimos a uma verdadeira revolução contra o rígido Estabelecimento das elites e as ideologias que representam. O desespero ganhou largas: todos falam dele mas dizem que não o conhecem. Depois das eleições Trump já disse: “Agiremos de forma justa com todos”; a justiça depende porém da mão dos mais fortes.

Porque é que a Europa tem medo de Donald Trump

A europa encontra-se preocupada com a Eleição de Trump porque este não é fruto dos quadros da política; porque terá fraquezas de caracter usando palavras sexistas, xenófobas e reage à crítica com agressividade; porque quer travar o globalismo no sentido do nacionalismo, quer permitir métodos de tortura contra terroristas e querer expulsar 11 milhões de imigrantes ilegais, e não reconhecer os problemas das mudanças do clima. O anunciado proteccionismo da economia americana é uma questionação radical ao globalismo. A sua intenção de rever no sentido dos EUA os acordos de livre comércio implica para já um não às negociações TTIP. Não quer continuar a exportar democracia. Não quer pagar os soldados americanos que defendem a Europa. Quer apoiar o presidente Sírio como o legítimo detentor do poder; é contra o aborto. A China confia na nova administração apesar de Trump ter dito que quer uma política comercial menos liberal. O melhorar as relações com Putin embaraça a política da EU que tinha adoptado alguns caminhos impróprios. Com Trump a Nato será reestruturada e a EU obrigada a organizar e assumir a defesa dos próprios interesses estratégicos o que implicará para a EU o assumir de relações amistosas com a Rússia e responsabilizar-se pela organização caríssima do aparelho militar. A maior regulamentação e intervenção nacional no processo da globalização terá consequências muito graves para a economia alemã. Numa altura em que a EU se preocupa por unir e responsabilizar mais os seus membros, o facto de Trump e com ele a América querer mais patriotismo e menos globalismo obriga a um novo baralhar das cartas da política. Com a nova América Putin ganhou e a esquerda perdeu.

Quando a América espirra a Europa adoece

Tudo isto não será tão mau como parece. Os USA têm sistemas constitucionais que se controlam mutuamente e o Congresso tem muitos representantes republicanos que não seguem a linha de Trump (partido dividido em duas facções) e o aparelho do governo tem milhares de cargos e estes têm muito a dizer. A Europa já ridicularizou Ronald Reagan, por ser um actor e ele conseguiu um acordo de desarmamento com a União Soviética, exultou Obama como um messias e na sua administração houve mais guerras no mundo do que noutras anteriores. Trump provoca uma mudança no ideário internacional mas terá de seguir a perícia e a inteligência da administração.

Ângela Merkel já puxou as orelhas a Trump dizendo que quer colaborar com quem respeite os tradicionais valores ocidentais. A europa quer ver na Nato uma comunidade de valores mas isso não é tão lineal como parece porque, em política e economia, na base dos valores estão os interesses. Na Europa há muitos Estados que têm uma relação estreita com os USA e isso implicará um contrapeso a Bruxelas: Trump está para o mundo como o Reino Unido para a EU. A Europa terá de organizar uma estratégica própria em colaboração com a Rússia e não na confrontação se não se quiser esgotar economicamente na militarização da sociedade, além do mais tem de reconhecer os erros que obrigaram o Reino Unido ao Brexit.

Moral da história: a classe política europeia deveria reconhecer a base dos seus valores na sua cultura e não ir vivendo do improviso de valores abstractos fabricados ao sabor de ideologias ou dos tempos. Quem quer a globalização deve ter os pés na terra e reconhecer os interesses da própria cultura, aquela que lhe dará sustentabilidade. O progresso e a inovação são muito necessários mas não poderá ir além do comprimento das pernas que temos.

O povo é que paga as favas: paga-as quando alimenta as classes privilegiadas demasiado gordas e paga-as quando estas se queixam de que ele é estúpido. A democracia não se adequa a ter donos, sejam eles partidos ou autocratas. Com a tecnologia digital iniciou-se a era pós-fática em que o sentimento é quem mais ordena!

Resta-nos ficar com a atitude de esperança do Vaticano em relação a Trump: a promessa de rezar por ele e a jaculatória “Que Deus o ilumine” !

António da Cunha Duarte Justo

Reflexão incómoda