SAUDADE

SAUDADE DE SER

Hoje sou ontem, sou o dia de amanhã,

Nos olhos carrego imagens que se vão,

Vivo a dor de um começo sem fim,

Como rio que corre, sem mar na visão.

 

Sou filho de mãe, de pais que são filhos,

A surgir no estar, sem nunca ser,

Uma nuvem perdida nos mares tranquilos,

Retalhos de vida, sem ter o que ter.

 

Que resta do mar, senão o bramir

Do braço na espuma, que não quer partir?

O destino de existir num ser sem cessar,

É dor de saudade, de ser sem chegar.

 

Sombra que busca a luz, sem razão,

No mistério do ser, no engano da visão.

Palmilha do eterno, que sou afinal,

Uma nesga de vida, à procura de alvará?

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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A PALAVRA/VERBO E OS SEUS COMPLEMENOS

“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus… e ela se fez Carne.”

Deus começou por falar fora do tempo; um “tempo” divino em que a Palavra era um processo em potencial, capaz de ganhar forma, mas ainda não formatada; um estado em que ser e existência não se diferenciavam no devir latente. O ser e a existência coexistiam, indissociáveis, no kairós do tempo sem tempo. Para que o ser se tornasse existência, era necessário moldá-lo em espaço e tempo. Foi nesse surgimento que a Palavra encontrou o seu eco no espaço e no tempo.

A palavra de Deus começou a ressoar na natureza, na voz do homem e dos povos, nas várias línguas e biótopos da natureza e da cultura. Foi então que o eco de Deus se tornou existência, e a existência tornou-se o Eco de Deus.

O som da linguagem está na origem de todo o devir. No entanto, o devir só se completa quando o som retorna à Palavra que o gerou. Em todo o humano e em todo o universo, ouve-se e sente-se o eco da Palavra divina original, em constante expansão. Diante de tão grandioso Eco, a alma humana procurou resolver o hiato entre a palavra e o eco, entre o Criador e a criação, encontrando-o no modelo e padrão da realidade humana e cósmica: Jesus Cristo (a Palavra encarnada e a carne tornada Palavra).

A linguagem humana, como elemento de ligação e diferenciação, contém em si a energia primordial do caos, que, através da afirmação da contradição, tenta dar forma à Palavra, recorrendo à analogia numa tentativa de compreender o enigmático.

O destino fatídico da humanidade parece ainda não ter percebido que o eco da Palavra se manifesta de maneiras diferentes, assumindo, em cada ser, lugar e tempo, um som distinto. Esse som (eco divino) expressa-se na frequência do coração, do intelecto, da ciência, da religião, da política e de cada indivíduo, como uma ressonância única de um mesmo som. O trágico da questão é que cada eco se confunde, tomando-se por Palavra, em vez de reconhecer que é apenas uma ressonância da frequência de uma realidade que nos ultrapassa.

Encanta-me sentir a ressonância de um som brilhante ao amanhecer e sombrio ao anoitecer! Para mim, tanto a nível pessoal quanto alegoricamente para toda a humanidade, acredito que a fórmula de toda a realidade, tanto no nível da Palavra (o espírito) quanto no nível do Eco (a criação), é Jesus Cristo.

Em Jesus Cristo, o ser e a existência, o espírito e a matéria, reúnem-se. O eco que lhe dá forma é o amor, aquele paráclito que possibilita unir o conteúdo à forma, o criado ao não-criado, superando assim a dualidade que a condição humana e nossa linguagem expressam. De outro modo, continuaremos todos a viver sob a sombra dos escombros da Torre de Babel.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

Ver versão poética em http://poesiajusto.blogspot.com/

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A MENSAGEM

MENSAGEM

 

No princípio, era o verbo, a palavra sagrada (1),

Uma voz no vazio, onde o tempo era nada.

Deus, em sua essência, começou a falar,

Num tempo sem tempo, de tudo por criar.

 

A palavra divina, num eco a vibrar,

Começou a moldar o que viria a se formar.

O ser e a existência, sem qualquer divisão,

Eram um só, no abraço da criação.

 

E então, no espaço e no tempo a correr,

A palavra de Deus começou a conceber.

Na natureza, no homem, em línguas e tons,

Ressoava o eco divino, em distintos sons.

 

O som da linguagem, no início do devir,

Num devir só completo, quando ao som voltar,

À palavra que o gerou, no princípio do ser,

Ecoando no universo, sem nunca se perder.

 

E depois na alma humana, uma busca começa

Para unir o criador e a criação, numa aliança

Em Jesus Cristo, o verbo encarnado,

A Palavra se faz carne, o divino é revelado.

 

A linguagem humana, com sua dualidade,

Procura entender o mistério da verdade. (trindade)

Na contradição, na tentativa de entender,

O eco do divino, busca compreender.

 

Mas o destino fatal, a humanidade não vê,

Que o eco da palavra se expressa em cada ser.

Cada som é distinto, em cada coração,

Na ciência, na fé, na política, na razão.

 

O erro está em pensar que o eco é o verbo,

Quando na verdade é apenas um reflexo,

Da frequência divina que nos faz vibrar,

Uma realidade maior, difícil de alcançar.

 

Encanta-me o eco, ao amanhecer brilhante,

E ao anoitecer, num tom mais distante.

Para mim, a chave, a fórmula universal,

Está em Cristo, o verbo, na união total.

 

Em Cristo, o ser e a existência se fundem,

O espírito e a matéria, num amor profundo.

O eco que une, o amor que dá forma,

Superando a dualidade, transformando a norma.

 

Se isto não percebermos, continuaremos a viver,

Nas sombras dos estroços (Babel), sem entender.

Porém na Palavra, no Verbo encarnado, está a solução,

Para unir o que é criado (o Eco) ao que é Criação (Palavra).

 

Esta é a ideia, da outra civilização,

Onde a palavra e o eco, em perfeita união,

Nos guiam, nos iluminam, nos fazem ver,

Que em Cristo, a verdade nos faz renascer.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Ideias minhas que levaram à formulação poética:

MENSAGEM acessível a uns e outros para uma Outra Ideia de Civilização

“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus.”

Deus começou por falar fora do tempo; um “tempo” divino em que a Palavra era um processo em potencial, capaz de ganhar forma, mas ainda não formatada; um estado em que ser e existência não se diferenciavam no devir latente. O ser e a existência coexistiam, indissociáveis, no kairós do tempo sem tempo. Para que o ser se tornasse existência, era necessário moldá-lo no espaço e no tempo. Foi nesse surgimento que a Palavra encontrou o seu eco em espaço e tempo.

A palavra de Deus começou a ressoar na natureza, na voz do homem e dos povos, nas várias línguas e biótopos da natureza e da cultura. Foi então que o eco de Deus se tornou existência, e a existência tornou-se o Eco de Deus.

O som da linguagem está na origem de todo o devir. No entanto, o devir só se completa quando o som retorna à Palavra que o gerou. Em todo o humano e em todo o universo, ouve-se e sente-se o eco da Palavra divina original, em constante expansão. Diante de tão grandioso Eco, a alma humana procurou resolver o hiato entre a palavra e o eco, entre o Criador e a criação, encontrando-o no modelo e padrão da realidade humana e cósmica: Jesus Cristo (a Palavra encarnada e a carne tornada Palavra).

A linguagem humana, como elemento de ligação e diferenciação, contém em si a energia primordial do caos, que, através da afirmação da contradição, tenta dar forma à Palavra, recorrendo à analogia numa tentativa de compreender o enigmático.

O destino fatídico da humanidade parece ainda não ter percebido que o eco da Palavra se manifesta de maneiras diferentes, assumindo, em cada ser, lugar e tempo, um som distinto. Esse som (eco divino) expressa-se na frequência do coração, do intelecto, da ciência, da religião, da política e de cada indivíduo, como uma ressonância única de um mesmo som. O trágico da questão é que cada eco se confunde, tomando-se por Palavra, em vez de reconhecer que é apenas uma ressonância da frequência de uma realidade que nos ultrapassa.

Encanta-me sentir a ressonância de um som brilhante ao amanhecer e sombrio ao anoitecer! Para mim, tanto a nível pessoal quanto alegoricamente para toda a humanidade, acredito que a fórmula de toda a realidade, tanto no nível da Palavra (o espírito) quanto no nível do Eco (a criação), é Jesus Cristo.

Em Jesus Cristo, o ser e a existência, o espírito e a matéria, se reúnem. O eco que lhe dá forma é o amor, aquele paráclito que possibilita unir o conteúdo à forma, o criado ao não-criado, superando assim a dualidade que a condição humana e nossa linguagem expressam. De outro modo, continuaremos todos a viver sob a sombra dos escombros da Torre de Babel.

 

António da Cunha Duarte Justo

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DESPEDAÇADOS

Também a Arte se torna Vítima da Política

No “berliner tagesspiegel” de 1/08/2024 li que o escritor ucraniano Andrei Kurkov considera que os laços culturais entre a Ucrânia e a Rússia estão cortados. “Este laço está completamente destruído, tanto dentro da Ucrânia como, claro, especialmente para os escritores na Rússia”. A literatura ucraniana em língua russa também já não existe. “Os escritores que continuam a escrever em russo na Ucrânia são ignorados ou atacados verbalmente…”

Também em países da União Europeia, como a Alemanha, artistas, escritores e cultura russa passaram a ser discriminados, a não ser que sejam declaradamente contra Putin!

O que o escritor Andrei Kurkov diz deixa antever, nas entrelinhas, a situação.

Quer-se a arte e a cultura ao serviço do sistema para termos cidadãos convencidos e não se encontrarem sós. Este é, porém, um vírus sem identidade nem passaporte que se pode encontrar em estados democráticos e não democráticos. Tudo deve ser feito em benefício do próprio regime até porque a verdade não tem pernas longas e só parece querer chegar até à própria fronteira. Hoje encontra-se muita gente cega que para não ver nem perceber o que se passa prefere falar da estupidez de tempos passados lavando assim a de hoje com a de ontem.

Muitas pessoas serias já não confiam nas suas percepções porque o mundo se tornou tão estranho.

Porém, quanto mais se examina, mais se vê e menos dependente se fica; a informação que nos é oficialmente apresentada não passa muitas vezes de uma realidade pós-factual, já remastigada.

Parte-se do pressuposto que os pensamentos sujos protetores de negócios sujos não fazem mal e que o discurso feiticeiro ajuda!

Há que ter cautela ao nadar-se no rio de muita informação, pretensamente factual, porque há demasiadas bactérias no fluxo de informação.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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CORRIDA AO ARMAMENTO COMO NO TEMPO DA GUERRA FRIA

Estratégia americana para assegurar a influência e controlo de meio mundo

Os EUA tencionam estacionar na Alemanha mísseis guiados de longo alcance direcionados à Rússia. A Alemanha e os EUA acordaram, sem o parecer da NATO, o estacionamento de mísseis na Base Aérea de Ramstein que a partir de 2026 deve ser apetrechada com sistemas de armas dos EUA:  Tomahawks que são mísseis de cruzeiro com um alcance superior a 2.0000 km para atacar alvos na Rússia e SM-6 que são mísseis multifuncionais. As armas hipersónicas dos EUA voam a cinco vezes a velocidade do som e têm um alcance de mais de 2.500 km. O estacionamento de mísseis de longo alcance dos EUA justifica a ocupação indireta da Europa pelos EUA. Neste conflito, a Europa é que perde, e não os EUA, ao permitir o estacionamento e uso de armas norte-americanas com capacidade atómica.

Notícias relatam que mercenários polacos, georgianos, britânicos e franceses estão a lutar na invasão ucraniana da região russa de Kursk. Uma tal acção dá a impressão que também a NATO poderá querer utilizar armas nucleares. Até agora todas as linhas vermelhas foram ultrapassadas e torna-se difícil definir quem é o Lúcifer e quem é o Diabo!

Uma Alemanha que perdeu a guerra ao invadir a Rússia vem agora reativar o seu espírito militarista a pretexto da guerra na Ucrânia, não se mostrando interessada numa política de conversações. Só será de lamentar que de uma Alemanha meio ocupada passemos a uma Europa toda ocupada a pretexto de uma guerra que não é nossa! Temos, porém, de reconhecer que os nossos governantes estão dependentes da vontade dos grandes e não da nossa (mas que de facto não se expressa!)

Os EUA estão demasiado longe do tiro! O argumento da contraofensiva da invasão da Rússia para conseguir contrapartidas para os ajustes no pós-guerra pode sair-lhe o tiro pela culatra pois no caso de uma guerra atómica Europa será destroçada. Membros da NATO não podem estar de acordo com tal medida (dos EUA e da Alemanha) atendendo à escalada de armamento nuclear que está em jogo.

Deste modo a Alemanha e os EUA asseguram o domínio sobre a Europa. Num mundo a passar de monopolar para bipolar e numa perspectiva de multipolaridade, a Europa fica de mãos atadas e condicionada a ser uma mera acólita dos EUA vendo a sua margem de manobra do comércio limitada aos interesses dos EUA, ao não poder comercializar directamente com qualquer país.

A vontade de guerra é tanta que qualquer pessoa que deseje a paz e defenda conversações entre as partes é difamada como apoiante de Putin ou como membro do movimento russo. Chegou-se a tal ponto da discussão pública que se poderá concluir: Se quer estragar o seu dia, ocupe-se com política!!! Nestas coisas precisam-se nervos fortes!

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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