A LIÇÃO DA G20 EM HAMBURGO – PRÉ-ANÚNCIO DA RADICALIZAÇÃO DE TODA A SOCIEDADE?

Poder de cima e Poder de baixo no Ajuntamento

 

António Justo

A Cimeira G20 congregou em Hamburgo os chefes de Estado dos 20 países industriais mais importantes e de países emergentes para tratarem dos temas clima, comércio, migração, luta contra o terrorismo; teve 10.000 participantes, dos quais cerca de 5.000 eram jornalistas. O custo da cimeira G20 foi de 130 milhões de euros .

 

Poder contra poder

 

Hamburgo juntou 70.000 manifestantes , vindos de toda a Alemanha e do estrangeiro, para protestar contra a exploração do Homem e da natureza e contra os excessos do capitalismo financeiro.

Em acção estiveram 19 helicópteros, 3.000 veículos, 20.000 polícias e não conseguiram proteger a cidade. Resultado: 476 polícias feridos, 144 militantes aprisionados e 51 detidos na prisão (entretanto já 13 em liberdade), carros incendiados, lojas devastadas e roubadas, corpos explosivos e pedras atiradas dos telhados, habitantes desorientados. Os manifestantes do G20 do campo do Bloco Negro e da Esquerda Autónoma castigaram os habitantes da cidade e estragaram a festa.

Uma das táticas dos autónomos foi o disfarce,  organizar-se em pequenos grupos e mudar de roupa para não serem identificados. O excesso de brutalidade de muitos demonstrantes (pelo menos, 1.500 radicais violentos) levou o ministro do interior a dizer:” Não eram manifestantes. Eram anarquistas criminosos”. Apesar de tudo, o Prefeito da cidade já pediu desculpa à população por a política não ter estado à altura de poder impedir tanta violência da rua.

O ministério das finanças avançou que as vítimas dos extremistas serão indemnizadas. A polícia organizou centros de reclamação para os cidadãos; A polícia criou uma comissão composta por 110 investigadores de Hamburgo e 60 de fora para avaliarem milhares de vídeos e fotos.  Muitos danos serão suportados pelas companhias de seguro em consequência de vandalismo (possuidores de autos só com “seguro de responsabilidade civil” (Haftpflichtversicherung) não teriam direito a indemnização porque este seguro só cobre danos causados pelo próprio; por outro lado em casos de força maior os seguros costumam cobrir os estragos.

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Extremistas de esquerda e de direita na Alemanha

A G20 juntou em Hamburgo, os poderosos do mundo e a cena da esquerda militante: uma sociedade atrevida e uma agremiação de atrevidos.

Segundo afirma a Polícia de Proteção Constitucional, na Alemanha há 28.500 extremistas de esquerda, e destes 8.500 são dados à violência, especialmente os Autónomos. A mesma repartição calcula em 22.600 extremistas da direita e em 12.100 o número de extremistas com semelhante potencial de violência.

A revista de tendência esquerda DER SPIEGEL, n° 27/1.7. 2017 já previa a violência e fornecia ao mesmo tempo o logo dos extremistas de Hamburgo apresentando na primeira página, em letras garrafais, o seguinte: “Globalização fora de controle!  ATREVEI-VOS!   Pensar radical, agir com decisão – só assim o mundo pode ser salvo”. Embora a humanidade, a política, a ciência e a economia precisem de repensar e de mudar de atitude para resolver os problemas da humanidade nada justifica um título que pode ser considerado um apelo indirecto ao radicalismo à maneira do islamismo.

Simpatia clandestina no que toca ao radicalismo de esquerda

Na opinião pública é cultivada uma certa ingenuidade perante o extremismo de esquerda e por isso a estratégia de defesa não esteve à altura da cena da esquerda que se sentia em casa.

A violência de esquerda tem sido banalizada. O Estado e a sociedade terão de estar tão atentos à violência dos radicais de esquerda como à dos radicais de direita. Na sociedade há uma “simpatia clandestina”, supõe o político Wolfgang Bosbach, e por isso os Estados europeus não têm os mesmos instrumentos e táticas contra as maquinações da esquerda radical como têm na luta contra as maquinações da extrema direita.

 “Flora Vermelha” o epicentro do extremismo de esquerda

Hamburgo tem no seu centro há 28 anos a Rote Flora – um centro cultural dos autónomos que funciona como catedral da oposição da esquerda radical contra o poder do Estado; o mais curioso é que desde 2014 a Rote Flora tem o estatuto de fundação da cidade.

O advogado porta-voz de Rote Flora (Flora Vermelha) disse que não puderam ter mão nos tumultuosos porque os “os militantes estrangeiros” não seguiriam ordens (uma desculpa barata porque é próprio dos autónomos não aceitarem jerarquias!). ” Nós, como autónomos e eu, como porta-voz dos autónomos temos certa simpatia por tais acções, mas por favor, não no nosso próprio bairro onde vivemos. ”

 

Conclusão

A G20 dos chefes de Estado em Hamburgo teve sucesso em relação à abertura dos mercados, a mais dinheiro para África, ao encontro bilateral de Wladimir Putin e Donald Trump com o acordo de cessar-fogo no sudoeste da Síria e às alterações climáticas (os USA não aprovaram este ponto).

Há quem considere eventos como os de Hamburgo desnecessários, quer para os chefes de Estado quer para os demonstrantes. Os encontros de chefes de Estado poderiam tornar-se mais eficientes se se reunissem em pequenos grupos do que num grupo de mamutes. Em tempo de internet e de videoconferências e com o movimento de protesto já expresso na internet, talvez já esteja atrasada esta maneira de se demonstrar o poder de cima e o poder de baixo.

 

Em Hamburgo revelou-se um fenómeno explosivo que revela o estado doentio da política e da sociedade; o Estado deixa de ter o monopólio do poder: ao extremismo de fora vem juntar-se o extremismo de dentro. A Alemanha demonstrou que não consegue dominar o extremismo de esquerda como não consegue dominar o extremismo muçulmano: uma “cortina de fumo” impede a visão.

Grande parte da população pensa baixinho que já vai sendo tempo de os Estados deixarem de educar para a esquerda, descuidando o centro, de que vive.

Em Hamburgo a extrema esquerda mostrou que precisa das mesmas medidas do Estado como as que existem contra a extrema direita; doutro modo proporcione-se-lhe um estágio na Coreia do Norte. No seu fulgor parecem confundir justiça social com igualdade social. Para não se brincar com a inveja haverá que ter em conta que as pessoas são desiguais face aos seus talentos, habilidades, competências e motivação. Importante é impedir as fontes de desigualdades estruturais e fomentar possibilidades aos mais débeis; se o Estado não garantir isto dar-se-á lugar a situações de guerrilha nas cidades.

Em Hamburgo tudo pôde e pode; podem os governantes da G 20, podem os radicais da extrema esquerda, pode a polícia e, no meio de tanto poder, para o confirmar, só não podem os habitantes que querem paz. A violência passou nua; uma vergonha para a Alemanha e um aviso para outros países. Apesar das razões que haja para demonstrar contra cimeiras (violência sub-reptícia presente nas estruturas económicas e políticas) nada justifica a violência brutal praticada nas ruas de Hamburgo.

© António da Cunha Duarte Justo

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

2 comentários em “A LIÇÃO DA G20 EM HAMBURGO – PRÉ-ANÚNCIO DA RADICALIZAÇÃO DE TODA A SOCIEDADE?”

  1. A montanha pariu um rato , Esquerda ou direita tornaram-se palavras ocas, como podemos observar. Em Hamburgo há ” Blankenese” onde os ricos ostentam as moradias luxuosas e vivem como lhes agrada. Os chamados de esquerda, autónomos, alternativos vivem no dia a dia pacíficos como os outros: tratam de arranjar dinheiro para comer e beber, levam os filhos aos inantários, comem salsichas ou ´ervinhas e alguns contestam em termos ideológicos as negociatas das armas, guerras , xenofobismo e outros ismos. Nestes dias conturbados da cimeira G20 procurou-se apanhar mutos coelhos com uma cajada e tudo saiu ao contrário. Tal como li numa parede do centro….
    …alternativo. Somos radicais de esquerda, mas nao somos parvos. No bairro todos convivem e até se tornou um lugar in para os entediados habitantes dos outros bairros de moradias milionárias, sem falar nas rendas astronómicas que se pagam no chamado bairro violento.Tudo muito empolado e muito relativo.
    Rosa Castro Baarros
    FB

  2. O problema não é o povo de coração mais à esquerda ou mais à direita. Todos nós, como a sociedade, temos uma perna direita e outra esquerda, senão não poderíamos andar. O problema não vem das pernas. O problema vem dos (mais esquerdos ou mais direitos) que fazem o negócio, na esquerda ou na direita (os oportunos que fazem a sua pesca), baseado na desumanidade, utilizando, para isso, a violência, física, económica, ideológica.

    Claro que tanto a gente da direita como da esquerda é boa: o problema é nuns e noutros, como em cada humano, a parte escura que não vê e projecta nos outros! O conceito de “direita ou esquerda” são muletas do preconceito que generaliza prentensas características e as ata a um grupo para se orientar. O importante é que quer a pretensa esquerda e a pretensa direita possam viver como melhor lhes agrade sem ferir nem explorar o outro. Assim podemos todos andar sem a necessidade de mancar!

    Na questão entre bairros é visível o problema do sistema económico com os extremismos a que chegou: um problema a ser seguido enquanto o Homem for lobo do homem e seguir as leis darwinistas da evolução. Um problema que nem a democracia resolve com satisfação porque é feita de grupos de interesses em competição e por um “resto” de massa reduzida à força individual. A violência não se encontra nos bairros, ela é uma característica mais ou menos activa em cada humano. A humanidade vive no equívoco de que é possível separar o “bem” do “mal” e na própria cegueira tende a reconhecer o “bem” em si e o “mal” fora de si e isso acompanha-nos a todos quer esforcemos mais a perna esquerda ou a perna direita. Em tudo precisamos de medida e reconhecer que no meio está a virtude que nunca é um polo ou um direito mas o ponto de encontro.

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