Apressada a Era das Energias Regenerativas
António Justo
As centrais nucleares para produção de energia baseiam-se numa tecnologia humana agressiva que não respeita a terra: aqui e acolá, revelam-se como bombas atómicas caladas e proporcionam-se a atentados terroristas. A catástrofe de Chernobyl em 1986, a maior de todos os tempos, ainda continua a fazer vítimas. O acidente no reactor nuclear de Harrisburg (1979 USA) ainda irradia na memória. Fukushima no Japão, onde as centrais atómicas eram tidas como as mais seguras do mundo, causa agudas dores de cabeça à política e aos produtores de energia. Um busílis: um problema tecnológico não resolvido a par dum mundo que para o seu desenvolvimento precisa cada vez mais energia.
Actualmente existem no mundo mais de 400 centrais atómicas.
O perigo sempre imanente da dependência do petróleo árabe fez esquecer os medos. Fugas de radioactividade e o risco dos resíduos radioactivos das centrais atómicas foram abafados. Até hoje não se encontra solução tecnológica para o lixo atómico. Os modelos de segurança têm-se reduzido ao mínimo que a lei exige e não ao máximo da segurança que uma tecnologia poderia desenvolver. No Japão o Tsunami atingiu 23 metros o que facilitou a inundação por cima dos muros de 18 metros que protegiam as centrais atómicas. Sabe-se que já em 1896 (HNA 29.03.2011) um Tsunami no Japão tinha atingido 38 metros de altura. Negligência!
As eleições no Estado de Baden-Vurtemberga mostraram que o povo alemão é definitivamente contra a política atómica até agora seguida. Um só ramo da política passou a determinar o sucesso do partido Os Verdes. O país transforma-se mas não se torna melhor! Os alemães querem uma tolerância zero para os riscos. Ao medo dos cidadãos, perante o perigo das irradiações, segue-se o medo dos políticos perante o povo. Tudo reacções em cadeia!
Sob a pressão da população, a Chanceler alemã, Doutora Ângela Merkel, criou uma Comissão Ética para rever, em três meses, a sua política atómica. Sete centrais atómicas devem ser desactivadas e as outras 10 devem tornar-se supérfluas, com o tempo. Manifesta-se consenso, entre os partidos, da necessidade de se desistir das centrais nucleares. Os Verdes já atiraram com a data da desistência para 2017. O antigo governo de Schröder apontava para 2020. A Chanceler, sob o susto do cismo, reage: “Se nós conseguirmos atingir o objectivo mais rapidamente ainda melhor!”
Os cidadãos continuam cépticos e receiam, no meio de tanto activismo, táctica política. A questão que se põe é da rapidez com que se quer realizar a mudança e com preços pagáveis para os consumidores.
A energia atómica só é mais barata pelo facto dos riscos não serem incluídos nem assegurados nos preços. No caso de desastre, quem os suporta é a população. Em 1992 o Instituto Prognos calculou em 5.000 bilhões de Euros (62.000 euros por habitante) os danos materiais duma hipotética catástrofe nuclear (GAU) na Alemanha.
Em comparação o Projecto Desertec (Centrais de energia solar no deserto), destinado a fornecer energia limpa, foi avaliado em 400 mil milhões de euros, isto é 572 euros por europeu e cobriria 15% das necessidades de consumo energético na Europa. O grande obstáculo inerente a este projecto é que continuaríamos sob o controlo e dependência árabe e este não oferece confiança nenhuma.
De facto as centrais nucleares são como autos sem travões. O lucro não pode continuar a ser o critério promotor principal. Para tonarmos o nosso planeta mais amável e humano, teremos de mudar de mentalidade e, neste sector, recorrer às energias regenerativas. Um director da EON diz que seria possível substituir o Urânio, o petróleo, o Carvão e o gás por vento, água, sol e massa biológica até 2030.
Exige-se uma nova política de energia. A percentagem da energia produzida por centrais nucleares alemãs, no consumo alemão, é de 20%. O recurso às centrais de Carvão corresponde a grandes emissões de CO2 com o consequente aquecimento da atmosfera. A desistência da produção de energia através de centrais nucleares significaria num primeiro momento um grande impulso de centrais de gás e das energias renováveis, especialmente as eólicas e fotovoltaicas.
A Central nuclear Biblis na Alemanha gera 13.000 GWh (horas Giga watt) de energia por ano. As 21.000 instalações eólicas que existem na Alemanha produzem um total anual de 38.000GWh. Isto significa que para gerar a energia correspondente à da Central Nuclear Biblis são precisas 7.200 instalações eólicas.
Hoje na Alemanha 17% da energia é ganha de fontes renováveis, presumindo atingir-se em 2020 os 35 até 38%. O maior problema da energia solar e eólica está na sua irregularidade. Segundo a revista Der Spiegel 12/21.3.11 a energia eólica, nalguns dias de outono, é suficiente para tornar supérflua a energia nuclear mas na maior parte dos dias do ano é insignificante. Também os painéis de energia solar fotovoltaica produzem em alguns dias de verão mais energia do que toda a Alemanha precisa, mas geralmente produzem pouco atendo ao céu enevoado! O vento no mar é quase constante o que encoraja produtores a construírem instalações eólicas no mar. Fornecedores alemães de energia tencionam até 2020 conseguir aí um rendimento constante de 10.000 Megawatts o que corresponde a um oitavo do gasto máximo alemão.
Os 4 maiores fornecedores de energia da Alemanha têm um lucro de 20 mil milhões de Euros.
A debilidade e sonolência dos povos podem ser constatadas na reacção popular à catástrofe de Fukushima. Tem-se a impressão de as centrais nucleares se terem tornado perigosas a partir da tragédia de Março. Na sua tarefa de exploração da terra e do mar, a política, a economia e a sociedade agem sem saberem uns dos outros. Sob o escudo do dinheiro e do progresso, tudo tem valido para andar para a frente!
O físico Hans Joachim Schellnuber resume a problemática da actualidade dizendo “ Nós saqueamos ao mesmo tempo o passado e o futuro para o excesso do presente – isto é a ditadura do agora”.
O Homem tem-se revelado um mau administrador da natureza e da sociedade. Tudo o referido pressuporia que se crie um novo modelo de vida e uma correspondente mentalidade. Para isso será preciso começar a sentir-se com a natureza, com o passado e com o futuro.
As gerações futuras têm direito a ter melhor tempo, menos calor e menos tempestades. Não as podemos reduzir a herdeiras dos perigos da energia atómica e de outras tecnologias, nem tão-pouco torná-las herdeiras das nossas dívidas. Para isso seria óbvio que as gerações futuras fossem defendidas na lei fundamental da nação por parágrafos que obriguem a política e a economia a agir responsavelmente. A abundância de uns é a fome de outros o presente de uns é a ausência de futuro para outros!
Os conflitos do futuro serão conflitos em torno da energia e das migrações.
António da Cunha Duarte Justo