A POLÍTICA ENGANA O POVO QUE PREFERE SER ENGANADO
António Justo
O Governo não pode revelar o estado da nação ao povo não só por razões de interesses próprios como também pelo facto do povo não estar preparado para aguentar a verdade.
Se José Sócrates dissesse que o seu activismo, em questões de ensino, trabalho, saúde e de finanças, não passou de paliativo para se aguentar na administração da miséria, acontecer-lhe-ia como aconteceu ao primeiro-ministro húngaro, quando em 2006 disse que o seu governo não passou duma farsa. Então o povo saltou para a rua em demonstrações e lutas contra a polícia.
Os políticos dançam o tango costumado porque lhes faltam as ideias e a coragem para fazer algo diferente. Impotentes, agem todos sob a batuta anónima internacional, contentando-se, pessoalmente, com a representação! Ninguém se atreve a dizer que o rei vai nu! Dado a situação a resolver ser contextual global, só lhes restaria a amargura ou a resignação! Limitam-se, por isso, a políticas de clientela e de guerra ideológica a nível de costumes em torno do sexo e quejandas, para irem distraindo o povo. Sabem que as soluções que apresentam para os problemas já não correspondem às do século XXI, que é um mundo cada vez com menos recursos naturais e com multidões de pobres que querem atingir o nível de vida do mundo ocidental, o que a natureza não pode dar, nos termos de trato e exploração actual. Embora cada país saiba que, num mundo tornado global, a solução não é nacional, cada povo procura puxar a brasa à sua sardinha, consciente embora que já não estamos no tempo da brasa mas das labaredas! A continuarmos assim já se podem prever guerras e guerrilhas de grande dimensão. Não é adequada uma política de empobrecimento das massas populares ocidentais enquanto a ganância dos andares superiores continua desregrada. Urge o início duma cultura da modéstia e duma sociedade empenhada na realização da dignidade humana. O problema é de mentalidade e de sistema de pensamento!
Vivemos de necessidades e de produtos desnecessários. Porque não pensamos, não actuamos numa perspectiva duradoira construída na base da dignidade humana e do respeito por animais e pessoas. Ao abandonar-se a tentativa duma ortodoxia para passar-se a outra, renuncia-se automaticamente a uma ortopraxia. Fere mais pensar do que trabalhar! Como consequência temos uma política do activismo que segue atrás da banalidade factual e dos ventos do oportuno ocasional. Como consequência temos uma crise duradoira a nível económico, político e cultural. Deixa-se a reflexão e a meditação para os conventos e para alguns movimentos esotéricos. Vende-se o recheio da casa para não se ir para a rua!
À Espera de Godot
Neste sistema o desemprego aumentará continuamente e a escola não garantirá emprego. Alguns trabalhos tornaram-se impagáveis com vencimentos horrendos enquanto que o salário carente proletário é cada vez mais precário com consequências terríveis para a vida actual e para a reforma.
O exército de académicos desempregados é enorme. Académicos sem trabalho metem-se em novos estudos na esperança de virem a ter um emprego. Constrói-se ilusão sobre ilusão. Quem puder que se salve! Adia-se a vida num Estado não interessado numa verdadeira formação escolar e profissional. As escolas formam pessoal para uma sociedade que o não precisa e despreza. Elas tornam-se cada vez mais em instituições de conserva, à disposição da nação, num Estado que não sabe que fazer e constrói sobre a areia. Antigamente tínhamos os soldados da reserva, hoje temos os operários da reserva e os estudantes da reserva. Tudo à espera de Godot!… O problema é que o próprio tempo de espera se tornou banal porque o objecto da espera é alienação pura. Quando esta massa acordar para a realidade e não se limitar com as migalhas que caem da mesa dos grandes, será fácil recrutar a revolução e a anarquia! O que vale ainda aos que ocupam os postos do Estado é o facto de terem um sistema de ensino que educou para a apatia e ensinou os alunos a adaptar-se mas não a agir nem a pensar, ensinou a obedecer mas não a ser!
No melhor dos casos uma sociedade pensante poderia criar “fábricas de pensamento”, facultadoras duma revolução interior com projectos de sociedade que tenha por base a natureza e por fim o Homem, numa praxis concretizadora da dignidade humana e da dignidade das relações com a natureza e com os biótopos sociais.
Não podemos permitirmo-nos continuar a aprisionar a natureza nas fábricas, a encarcerar os trabalhadores nas repartições de trabalho, a aprisionar a inteligência em instituições escolares e a viver dos reservados do pensamento dos ministérios e ao mesmo tempo a degradar a natureza e o povo. Isto é vida em segunda mão, é servidão de sistemas para os seus aproveitadores. Chega de alienação política e cultural!
O mercantilismo dos valores asfixia-nos o horizonte e destrói-nos o futuro.
© António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
Caro Justo,
Suas palavras estão certíssimas. Concordo. Mas os que falam assim são considerados inconvenientes ou derrotistas. Estamos numa época de um discurso enganador, onde uma minoria vive à custa milhões.
"Dói mais pensar do que trabalhar" ou o contrário, talvez?! Francamente não estou certa.
Mas realmente o que interessa a uma sociedade "cega"como a nossa é puxar a brasa à sua sardinha. Embora as brasas fiquem só para alguns!
Contudo eu ainda acredito na cultura como forma de vencermos a injustiça e despertarmos consciências. Um grupo como este, pode parecer de brandos costumes, mas podemos ter um papel importante na luta por uma sociedade mais justa e mais respeitadora da multiculturalidade.A lusofonia pode ser tudo isso e é tudo isso.
Por este motivo é temida pelos tais cuja ganância continua desregrada. A lusofonia coerente e coesa é uma força de resistência às ameaças. O exercício de convívio com os povos ou entre povos nos ensina e nos fortalece.
Por isso que insisto em nos aproximarmos de todos os que ocupam o espaço do mundo que fala português ou crioulos de base portuguesa, como os cabo- verdianos,portugueses, brasileiros, sao tomenses, angolanos, moçambicanos, timorenses, goeses e gente de Damão, guineenses, galegos e o povo de Malaca . Não só pela afinidade na língua mas, principalmente, pelas ligações psicosociais e identitárias.
Aprendemos juntos. Vale a pena tentar.Esta a minha aposta.
Margarida Castro
Prezada Margarida Castro
Identifico-me totalmente com o que acaba de dizer.
A luz motora do ser humano é a razão mitigada pelo coração ao contrário do animal que apenas tem o instinto como meio de orientação.
É verdade que o mundo estabelecido vive de preconceitos e do que declara como preconceito. Quer a sua verdade petrificada para com ela atingir os telhados dos outros.
Somos processo e quantos mais estiverem envolvidos nele mais democráticos, no nosso caso de lusofonos, quanto mais nos ouvirmos uns aos outros mais humanos somos. Como bem diz o mundo que fala português ou crioulos de base portuguesa, como os cabo- verdianos,portugueses, brasileiros, são tomenses, angolanos, moçambicanos, timorenses, goeses e gente de Damão, guineenses, galegos e o povo de Malaca, constitui, uma grande família, a nível de expressão lusofónica.
Num tempo em que se procura destruir a família natural devemos fazer tudo por tudo para que esta seja enobrecida e ajudada. Ao fazê-lo estamos a fomentar o espírito da lusofonia, uma expressão extraterritorial e como tal universal, a construir futuro, a construir humanidade, independentemente de mentalidades, cor e opção pessoal!
No dia em que deixarmos de aprender morremos! A verdade dos outros é um chamamento a mais verdade!
Um abraço amigo
Justo