Os Modelos da Classe Política para a Nação são agora os Imperdores
António Justo
O Partido Comunista Chinês controla as cinco “religiões” reconhecidas na China: Budismo, Taoismo, Islão, Catolicismo e Protestantismo. À frente de cada religião encontra-se uma instituição correspondente, uma “união patriótica chinesa”, subordinada ao “Secretariado estatal para Assuntos religiosos” e este depende, por sua vez, da “Repartição – Fronte da Unidade” do Partido Comunista Chinês.
Perante a constatação de que a religião é inexterminável, o partido comunista chinês procura novas saídas para poder manejar a religião. Tolera as religiões como um mal menor. Daí as andanças da religião na China:”O que hoje é permitido amanhã é proibido e depois de amanhã tolerado”! Para o regime, Marx e Mao já não são tidos como modelos do Estado mas sim os imperadores antigos. Segundo o sociólogo Richard Madsen, a política religiosa dos detentores do poder orienta-se pelo princípio: “o governo guia, a religião segue”. Já o imperador Kang-xi (1661-1722) era do parecer: “é mais económico construir templos, do que alimentar pobres”! O regime socialista reconhece que Religiões, igrejas e templos são imprescindíveis para assegurar a harmonia na sociedade. Um problema insolúvel para o regime está no facto de o seu socialismo ter sido importado, não correspondendo, no que tem de ideológico e dialéctico, ao espírito da alma asiática nem do povo em geral.
A China tem-se aberto a reformas económicas. Maior bem-estar cria condições para o surgir duma consciência aberta aos direitos e deveres cívicos. A abertura económica pressupõe a abertura política.
A política não tem acompanhado o desenvolvimento económico e social conduzindo, por isso, à instabilidade revolucionária. Partes do povo, sentem-se na dissidência, como revela o caso do Nobel da paz Liu Xiaobo. O regime socialista tem fracassado em todo o mundo porque não retribui ao indivíduo, ao povo, o que lhe rouba. Rouba-lhe a dignidade para a supor num abstracto, o povo massa, massa proletária! Nos próximos anos, o regime chinês será medido pela sua capacidade de transformar a China numa grande prisão ou de dar oportunidade ao povo de se desenvolver no processo democrático.
O partido é quem mais ordena! De momento, o Nobel da Paz é um factor de distúrbio e, como a melhor defesa é o ataque, as autoridades chinesas, pressentindo nele indícios duma doutrina social cristã, passaram a atacar mais os católicos.
O grande problema para o regime chinês está no facto da religião católica defender direitos e valores universais (liberdade de consciência individual, colocada acima do Estado e da Religião) o que vem a colidir com interesses nacionalistas e partidários. A massa não tem personalidade, tem nomenclaturas. A estas basta-lhe oportunistas, espias e o medo.
De facto a proclamação dum mesmo Deus, Pai – Mãe de crentes e ateus, vem estragar a ideologia nacionalista e questionar o negócio dos partidos que se julgam inteiros. Um Deus cúpula sobre tudo e todos e um povo de Deus rebelde, em que a última instância não é a instituição mas a consciência individual, causa muitas dores de cabeça a quem quer poder, custe o que custar. Um Deus para todos pressupõe direitos e deveres universais; este Deus revela-se um estorvo com a sua matriz de pensamento. O carácter global da religião cristã estorva o espírito nacionalista chinês, que também não tolera alguém de fora (um estrangeiro, o Papa) a fazer-lhes sombra, mesmo que apenas no foro religioso. Para governar, o socialismo só precisa de saber um pouco de pedagogia, pedagogia de caserna.
Sistemas hegemónicos não toleram o humanismo e perseguem-no, sem respeito pelo cidadão que querem súbdito!
Na China há bispos católicos confirmados pelo Papa, outros por organizações patriotas do Estado e ainda outros confirmados por Pequim e por Roma. Nos últimos cinco anos deu-se a sagração de 11 bispos católicos com o acordo comum do Papa e da “Repartição – Fronte da Unidade”. Este ano o regime Chinês fez nomear um bispo sem a anuência de Roma. A divisão em nome de sistemas prejudica a propagação do cristianismo. Na prática, mais que a discussão de lealdades importa evitar vítimas do Homem e das suas instituições como quer a Boa Nova.
Somos todos feitos da mesma massa e habitantes do mesmo universo. Vive-se num mundo tão dividido e degradado e numa humanidade tão feroz contra si mesma!… A paz é um dom a fomentar por todos para todos. Todas as formas de governo, no mundo, tal como todas as revoluções, até hoje, se revelaram anti-povo: uns poucos reservam para si o acto de governar, considerando-o um privilégio, servindo-se para isso da exploração violenta ou suave. No século XXI, Estados e religiões, regimes e ideologias, não podem limitar-se, como no passado, a administrar a carência e a viver dela; urge mudá-la, urge que o cidadão se torne senhor. Geralmente, a pobreza de espírito encontra-se em cima a governar e a pobreza económica em baixo a obedecer. A supremacia e a subordinação são contra a dignidade humana e impedem a humanização do Homem e da sociedade. A responsabilidade é individual e colectiva pressupondo um esforço de superação individual e colectivo. A missão de quem governa responsavelmente será auscultar o coração do povo todo e servi-lo. A palavra ministro vem da palavra servir! O cidadão é rei! Rei para os monárquicos e presidente para os democráticos. Até agora têm governado os filhos da ‘escrava’!
António da Cunha Duarte Justo
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